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Para execução do componente empírico deste trabalho foi necessário o apoio de uma adequada discussão metodológica (CARVALHO, 1992). É através dessa que o pesquisador pode alcançar os objetivos que norteiam a investigação, corroborando ou refutando a premissa central do estudo. Este capítulo reúne os procedimentos metodológicos que forneceram as bases desta dissertação.

7.1. Delineamento da Pesquisa

O plano metodológico resultou da combinação de abordagens quantitativas e qualitativas.

Teve o caráter descritivo, que segundo Vergara (1998) não tem compromisso de explicar os fenômenos que descreve, mas serve como base para tal explicação. Assim, realizou-se um estudo de caso sobre a percepção dos principais atores organizacionais usuários do modelo de gestão compartilhada do uso da água no âmbito do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Pirapama quanto à cobrança do uso da água, debate introduzido pelo Estado a partir de 2000.

Foi efetuada coleta de dados e pesquisa de campo junto ao Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Pirapama (COBH-Pirapama), em especial, junto aos principais atores organizacionais usuários dos recursos hídricos participantes do Comitê. Em seguida, analisou- se a proposta da Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH) para gestão da água do Rio Pirapama e a proposta estadual de cobrança pelo uso da água; foi avaliado o quadro atual de uso da água na Bacia do Pirapama, a partir do “desempenho” dos principais usuários; apresentando a posição de cada grupo de usuários em relação à cobrança pelo uso da água ou suas formas alternativas de compensação e identificando-se mudanças de atitudes dos usuários em relação ao manejo dos recursos hídricos da bacia do Pirapama, a partir da disposição do Estado de introduzir a cobrança pelo uso da água.

7.2. Definições utilizadas

No intuito de tornar claros os elementos centrais utilizados nesta pesquisa, expõem-se as definições utilizadas:

• Atores organizacionais

Organizações diversas (empresas privadas, organizações governamentais e civis, representantes de classes, associações), que detêm recursos de poder, utilizando-os nas relações que se estabelecem junto a outros atores (HALL, 1984; HOLANDA, 2003).

Foram mapeados pela identificação das principais organizações envolvidas no modelo de gestão compartilhada do uso da água no âmbito do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Pirapama.

• Conflitos

Divergências de interesses entre os atores, podendo provocar reação das partes (MORGAN, 1996).

Foram identificados a partir dos discursos dos entrevistados, procurando verificar suas reações e descontentamentos frente proposta quanto à cobrança pelo uso da água, debate introduzido pelo Estado a partir de 2000.

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7.3. Estratégia de Pesquisa

Este trabalho constitui-se como estudo de caso, uma vez que está focando numa experiência de gestão participativa de recursos hídricos orientado para a cobrança pelo uso da água em Pernambuco, dentro de um contexto particular, no caso o Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Pirapama (COBH-Pirapama). Espera-se que os resultados aqui obtidos possam ser aproveitados na análise de fenômenos semelhantes (YIN, 2002).

Conforme Yin (2002), uma investigação empírica pesquisa um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto de vida real, especificamente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente definidos.

7.4. Critérios para Seleção do Caso

Como a pesquisa não busca uma generalização estatística, a amostragem probabilística “não é necessária, nem mesmo justificável” (MERRIAM, 1998). A escolha de amostra foi intencional, com o objetivo de explorar um caso rico em informações. O pesquisador escolhe uma amostra com a qual ele mais possa aprender e, com base nela, elabora uma generalização analítica, com base na teoria, não propondo uma generalização para população.

Segundo Denzin (1989), a seleção de caso, em um sentido amplo, deve considerar os seguintes critérios: caracterizar o fenômeno como uma experiência viva; representar fatos densamente contextualizados; ser histórica e relacionalmente embasada; possibilitar a compreensão de aspectos processuais e interacionais; incorporar um atendimento a priori do fenômeno; produzir entendimento e ser inacabada.

Esses critérios parecem de grande valia para a proposta deste trabalho, que é avaliar a percepção dos principais usuários do modelo gestão compartilhada da água do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Pirapama quanto à cobrança pelo uso da água.

De acordo com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente existem em Pernambuco nove comitês de bacia hidrográfica devidamente instalados − Pirapama, Pajeú, Moxotó, Jaboatão dos Guararapes, Mundaú, Ipojuca, Una, Goiana e Capibaribe. Dentro dessa população foi escolhido o caso do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Pirapama para aprofundamento, por ter sido o primeiro Comitê instalado em Pernambuco, assim como estarem ali mais avançadas as ações e discussões sobre o uso dos recursos hídricos de modo sustentável.

7.5. Instrumentos de Coleta de Dados

Quanto aos instrumentos e técnicas de coleta de dados, foram utilizados dados secundários, através de pesquisa documental junto ao Governo de Pernambuco, nas secretarias de Recursos Hídricos (SRH) e de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (SECTMA) e demais órgãos relacionados à questão dos recursos hídricos, como a Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH). A pesquisa bibliográfica incluiu ainda o material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, acessíveis ao público em geral (VERGARA, 1998).

Dentre os materiais secundários tomou-se como base o “Diagnóstico ambiental integrado da Bacia do Pirapama” e o “Estudo de cobrança pelo uso da água na Bacia Hidrográfica do Pirapama” ambas as publicações da CPRH, Department for International Development (DFID) e Enviroment Resource Management (ERM). Também importantes fontes de consulta foram as Atas de reuniões do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pirapama, no período de 2003 à 2007.

Os dados primários foram obtidos através de entrevistas semi-estruturadas com os principais atores organizacionais e usuários de recursos hídricos participantes do Comitê da

Bacia do Rio Pirapama, além de informantes-chave11 que forneceram documentos sobre a temática.

7.6. Amostra dos Entrevistados

Para coleta de dados primários, contava-se a priori com uma população de 32 (trinta e dois) membros no COBH-Pirapama. A partir daí definimos alguns critérios para seleção, tais como:

• Os membros deveriam ter participado entre 2003 a 2007 (julho), de pelo menos 50% do total das 13 reuniões ocorridas;

• As entrevistas deveriam incluir representações dos membros Governamentais (estadual, municipal) e a amostra dos membros da sociedade civil incluir representantes do segmento empresarial, associações, ong’s e câmara municipais

Dessa forma, atendendo os critérios pré-estabelecidos obteve-se uma a amostra de 14 membros do COBH-Pirapama, distribuído por segmento institucional como mostrado na Tabela 2.

Tabela 2 – Número de Entrevistados por Segmento de Representação do COBH-Pirapama

Representação dos Entrevistados Nº de Entrevistados

Governo Estadual 4

Governo Municipal 1

Sociedade civil, segmento Empresarial 2 Sociedade civil, segmento Associações e ONG’s 6

Câmaras Municipais 1

TOTAL 14

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados secundários, 2007.

11 Os informantes-chave foram a Ana Gama (gerente de política de gestão ambiental da SECTMA), João Domingos (Fórum Estadual de Comitês de Bacia Hidrográfica de Pernambuco) e Rúbia de Melo (técnica da Secretaria Executiva de Meio Ambiente e Saneamento do Cabo de Santo Agostinho),

Verificamos que, desde término da cooperação técnica com o DFID, os representantes dos Governos Municipais e Câmaras Municipais apresentam freqüência regular nas reuniões do COBH-Pirapama. Na pesquisa, os nomes das instituições e dos entrevistados foram omitidos, a fim de despersonalizar suas opiniões, dificultando assim o uso das informações de forma individualizada.