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2.1 INOVAÇÃO E CICLOS ECONÔMICOS: O DESENVOLVIMENTO

2.1.1 A Economia Neoclássica e o Fluxo Circular de Renda

De modo geral, a tradição neoclássica visualiza o funcionamento da economia a partir das relações existentes entre os agentes econômicos, que interagem e transacionam uns com os outros num ambiente definido: o mercado. Seguindo a perspectiva de equilíbrio propiciado pela análise da oferta e demanda de bens, os autores neoclássicos compreendem a vida econômica como um constante fluxo de bens que interliga produtores e consumidores, dando origem ao fluxo circular de renda. Nesse sentido, a Teoria Econômica Neoclássica consegue, a partir dos conceitos de “indústria” e “mercado”, analisar o comportamento das empresas e dos consumidores através das “forças” de oferta e demanda por bens e serviços.

Pode-se definir “indústria” como o conjunto de unidades produtivas que fabricam produtos semelhantes utilizando-se da mesma tecnologia, como a indústria automobilística, a indústria petroquímica, etc. Para Pindyck e Rubinfeld (1999), “a indústria corresponde ao lado da oferta do mercado”. Já “mercado” é um conceito mais amplo e envolve a produção e comercialização de produtos. Quando pensamos em “mercado”, de modo geral, estamos falando dos produtores,

distribuidores e consumidores de bens e serviços. O “mercado” pode ser definido como “um grupo de compradores e vendedores que, por meio de suas reais ou potenciais interações, determina o preço de um produto ou de um conjunto de produtos. É assim que podemos pensar no mercado como um lugar onde os preços são determinados” (PINDYCK; RUBINFELD, 1999, p. 09).

Na visão dos economistas neoclássicos, os agentes econômicos conseguem tomar suas decisões de modo racional e com o intuito de maximizar seus objetivos. Os produtores procuram decidir o que produzir e em que quantidade a partir da percepção que têm sobre a demanda do mercado, sempre com o intuito de maximizar seus lucros. Já os consumidores, tendo todas as informações sobre os produtos que são de seu interesse, buscam maximizar a satisfação com relação aos bens que decidem comprar.

O modelo neoclássico analisa o processo produtivo e de comercialização dos produtos, inclusive o mecanismo de formação dos preços dos bens. Aqui, é importante ressaltar que para os Neoclássicos, as instituições são exógenas ao seu modelo, ou seja, não são levadas em conta quando se analisa o processo de formação dos preços de bens e serviços via mercado.

Os economistas neoclássicos partem do pressuposto de que, num mercado em que há a livre concorrência entre os agentes econômicos, cada um age racionalmente na busca de seus interesses individuais demandando e ofertando produtos até que seja estabelecido o equilíbrio entre as curvas de oferta e demanda do mercado para um ou mais produtos. Nesse modelo, eventuais desequilíbrios serão corrigidos automaticamente pela variação dos níveis de oferta ou demanda de produtos e serviços, o que refletirá no nível de preços. Em outras palavras, os desequilíbrios serão estabilizados com a entrada ou saída de produtores ou

consumidores do mercado, o que alterará os níveis de oferta e demanda possibilitando um novo ponto de equilíbrio.

O conceito de fluxo circular de renda é de grande utilidade para uma melhor compreensão da abordagem neoclássica sobre o funcionamento da economia. No diagrama abaixo é possível visualizar os principais agregados macroeconômicos e examinar as interações econômicas entre produtores e consumidores.

Figura 1 – Diagrama do fluxo circular de renda.

Fonte: Macroeconomia – Conceitos Fundamentais de Economia, Faculdade On-Line UVB.

Como se pode ver, há dois fluxos: o de bens e serviços e o monetário (remuneração ou contrapartida paga em troca do fluxo real de produtos e serviços). Trata-se de um exemplo simples, em que existem apenas as empresas (ou indústrias) e as famílias. Ora as famílias estão do lado da demanda, por exemplo, consumindo produtos fabricados pelas empresas, ora estão do lado da oferta, oferecendo aos empresários sua força de trabalho para os processos produtivos em troca de remuneração. A mesma análise pode ser feita com relação às empresas. Ora elas estão do lado da oferta, produzindo e colocando no mercado seus produtos

e serviços, ora estão demandando insumos de outras empresas ou a força de trabalho das famílias.

O diagrama acima do fluxo circular representa uma maneira simples de enxergar a economia. Entretanto, ainda que nele não estejam inseridos alguns elementos importantes para compreendermos a “economia do mundo real”, por exemplo, o governo e o comércio internacional, este modelo é muito válido para entender a Teoria Econômica Neoclássica.

Feitas estas considerações sobre a Teoria Neoclássica, é interessante observar a posição do economista britânico Alfred Marshall com relação aos fenômenos econômicos, a partir da noção do fluxo circular de renda e da abordagem neoclássica sobre o funcionamento da economia. Segundo Marshall (1890, apud IGLIORI, 2000, p. 20), “os fenômenos econômicos são configurados por processos lentos, contínuos e graduais, sem a ocorrência de grandes saltos”. Assim, a vida econômica “era concebida fluindo por canais, que interligando empresas e unidades familiares, caracterizavam o chamado fluxo circular de renda, onde esses canais e os tipos de fluxos, ano após ano, não sofriam alterações substantivas e significativas” (J A S SILVA, 2004, p. 120).

É importante compreendermos a visão de Marshall (1985) sobre o funcionamento da economia – marcado por processos lentos, contínuos e graduais. Com isso, é possível perceber a mudança de abordagem realizada por Joseph Alois Schumpeter quanto à análise do crescimento e desenvolvimento econômico em comparação aos teóricos neoclássicos, especialmente Alfred Marshall.

Na obra “A Teoria do Desenvolvimento Econômico – Uma Investigação sobre Lucros, Capital, Crédito, Juro e o Ciclo Econômico”, edição publicada em

Cambridge, Massachusetts, no ano de 19344, Schumpeter argumenta que a economia, os processos econômicos não acontecem de modo lento, contínuo e gradual. Pelo contrário, muitas vezes eles são marcados justamente por mudanças significativas capazes de alterar o comportamento dos agentes econômicos e o relacionamento mútuo entre eles. Nas palavras de J. A. S. Silva (2004), “mudanças não contínuas que alteram o limite e o próprio curso tradicional das relações entre os agentes do sistema econômico”. Essas mudanças ocasionalmente são tão abruptas que não podem ser compreendidas à luz do conceito de fluxo circular de renda.

E quando Schumpeter fala de mudança, ele não está se referindo àquelas que ocorrem fora da economia, num ambiente externo, por exemplo, na esfera política (o surgimento de uma nova legislação protecionista ou o advento de uma guerra) e que acabam por gerar reverberações no sistema econômico. Na verdade, o economista austríaco está se referindo a mudanças que acontecem estritamente no ambiente econômico, por exemplo, o surgimento de uma nova tecnologia que muda o paradigma produtivo da sociedade, como aconteceu com a criação da máquina a vapor.

Para Schumpeter são as mudanças desta natureza (surgidas na vida econômica, seguindo a lógica capitalista de criação de riqueza, a saber, a transformação do estado das “coisas” agregando-se valor por meio do conhecimento e do trabalho) que possibilitam e caracterizam o processo de desenvolvimento econômico. Utilizando suas palavras: “entenderemos por desenvolvimento, portanto, apenas as mudanças da vida econômica que não lhe forem impostas de fora, mas que surjam de dentro, por sua própria iniciativa” (SCHUMPETER, 1988, p. 47). Mais adiante será enfatizada a importância do conhecimento para o desenvolvimento

4 Foi utilizada uma tradução de Maria Sílvia Possas, publicado em 1988 pela Editora Nova Cultural série Os economistas.

econômico, quando o estudo aprofundar-se na argumentação de Schumpeter com relação à importância dos empresários e das inovações tecnológicas para os ciclos de expansão da economia.