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2 A ECONOMIA POLÍTICA DA COMUNICAÇÃO COMO ESCOLHA

2.2 Economia Política da Comunicação no Brasil

Após o aumento dos estudos brasileiros na área da economia política da comunicação, Bolaño (1996) demonstra a preocupação em localizar os estudos da EPC local a partir de uma leitura da obra Marx e crítica à corrente administrativa. Bolaño (2018, p. 136) diz que a complexidade da perspectiva de Marx foi a

[...] única capaz de esclarecer o caráter contraditório do desenvolvimento capitalista, processo que, ao mesmo tempo em que abre possibilidades de progresso social decorrentes do avanço das forças produtivas, impede que essa tendência se realize em benefício das maiorias ao reproduzir, de forma ampliada e muitas vezes inovadora, relações de produção promotoras de estranhamento e alienação.

A inspiração marxista para nossa investigação alinha-se também à corrente brasileira que consiste principalmente em perceber como a lógica das indústrias culturais está condicionada à acumulação capitalista. Por isso mesmo, Cabral (2008) afirma que “a Economia Política da Comunicação não tem outro papel como paradigma focado na produção de análises críticas estruturais, que não o de se contrapor firmemente à lógica de mercado”. (CABRAL, 2008, p.80).

Considerando a formação estrutural da televisão brasileira, é impossível desassociar sua história do jogo empreendido entre os diversos atores sociais, econômicos, políticos, simbólicos etc. Nesse sentido, iremos seguir essa perspectiva analítica. Bolaño (1999, p. 17) acrescentou contribuições teóricas específicas à economia política da televisão brasileira. O autor diz que um traço do desenvolvimento da televisão brasileira está em como as injunções políticas sempre influenciavam a estrutura econômica dos meios de comunicação para atuar pela manutenção de espaços dominantes. Bolaño e Brittos (2007, p. 49) indicam ainda que a EPC objetiva “compreender a mudança social e a transformação histórica e como ela repercute e se imbrica com o mundo da comunicação em todos os sentidos”.

Diante da importância dos estudos construídos pela EPC brasileira, Serra (2010, p. 67), em capítulo de livro sobre metodologias de pesquisa em comunicação, escreve sobre a Economia Política da Comunicação e indica que o seu campo deve servir como orientação metodológica e não como mera referência teórica. Desse modo, a opção pelo alinhamento conceitual com a economia política da comunicação se justifica por sua abrangência, por dar conta tanto do processo de construção de sentidos na sociedade quanto da análise econômica de poder a sua volta. Se o objetivo deste trabalho se volta a analisar a programação televisiva e

suas imbricações com Estado e sociedade civil, não caberia outra orientação metodológica mais pertinente do que a economia política da comunicação.

Para se aproximar ainda mais do corpus abordado, pretendemos ir além da análise dos marcos legais e tensões sociais e de Estado. Iremos analisar como esse Estado se comporta regulando o conteúdo televisivo, sabendo que esse veículo tem um grande potencial na geração de sentidos à sociedade. Nessa direção, pretendemos chegar nas duas pontas de investigação do EPC, tanto nas análises do arcabouço regulatório, estruturas de poder envoltas da televisão, quanto no seu conteúdo, o simbólico. Essa preocupação também permeia as análises de Bolaño (2018) ao dizer que a economia política da comunicação se move sobre a análise tanto da produção dos bens culturais como nas modalidades de distribuição dos mesmos, envolvendo, então, a concentração dos meios, oligopólio, sistemas de regulação e estrutura de mercado. Bolaño (2018) chega a citar que os cabos, as câmaras e os equipamentos não tem em si essa capacidade de mediação social, afirmando: “O cerne da questão reside no fato de que a mediação social é realizada pelo próprio capital” (p. 142).

Jambeiro et al. (2017) colocam como consequência da convergência o aumento da possibilidade de organização do mercado, na medida em que se aumenta o leque de sua exploração comercial, além da reformulação da propriedade e o controle dessa indústria. Tais mudanças resultam, para o autor, no aprofundamento dos processos de negociação realizadas entre o Estado e o setor de audiovisual.

Brittos e Miguel (2008, p. 28) também refletem sobre esse avanço das tecnologias:

Da mesma maneira, quanto à lógica social, o estabelecimento das tecnologias de informação e de comunicação (TICs) não implica numa ampliação de espaços democráticos. Nessa ótica, uma visão econômica e política da cultura e da comunicação torna-se imprescindível, de modo a perceber as estratégias estabelecidas no processo de acumulação, na manutenção do sistema e, portanto, na dominação.

Sardinha (2014, p. 615) reitera esse entendimento afirmando que as desigualdades no setor permanecem cada vez mais concentradas e excludentes, ainda que o barateamento dessas tecnologias tenha dado possibilidade de atos “antissistêmicos”. Com o mesmo entendimento, Bolaño (2004, p. 273-274) diz que o movimento segue em direção para expansão da lógica capitalista e de concentração, ainda que também se expandam possibilidades inesperadas de ações transformadoras.

Os estudos na área do EPC estão voltando-se para a convergência e suas contribuições têm-se demonstrado frutíferas, vide a aprovação das regras de exploração da televisão digital

permeadas por interesses econômicos e políticos. Nesse caso, a lógica do mercado de acumulação dentro do modelo capitalista foi reproduzida na escolha do padrão de tecnologia japonês adotado. O fato, impediu a abertura de novos canais para atores alternativos, reiterando a concentração do mercado e se distanciando do pluralismo e da democracia4.

Dentro da complexidade que pode alcançar uma pesquisa quando segue as perspectivas adotadas na economia crítica da comunicação, Murdock (2000) adverte que não há uma abordagem única para pesquisar os fenômenos comunicacionais. Brittos e Cabral (2008, p. 12), no mesmo sentido, observam que “[...] a Economia Política da Comunicação está longe de ser uma ilha, mas um lugar para a fundamentação de uma crítica estrutural aos fenômenos comunicacionais em curso no estágio atual do sistema capitalista”. A transversalidade do tema deste trabalho corrobora com a riqueza epistemológica que a própria ciência da comunicação tem enfrentado quando traz para si assuntos de outras áreas de conhecimento, tais como Sociologia, Economia, Direito, entre outros temas a serem utilizados neste trabalho em busca de um maior resultado acadêmico e científico.