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As recentes experiências de economia solidária no Brasil têm despertado interesse entre teóricos, atores sociais e defensores que atuam como importantes agentes externos, e tendem a considerar o fenômeno dentro do contexto de crise, desemprego e exclusão que

caracterizam a realidade brasileira. Esses defensores encontram-se nos setores do sindicalismo e das universidades, em parte da Igreja Católica, movimentos populares urbanos e rurais, Organizações Não-governamentais (ONG) envolvidas em lutas pró-cidadania e algumas prefeituras e governos estaduais de esquerda.

Mas, os crescentes resultados da economia solidária no Brasil são provenientes de experiências construídas na prática, por meio dos próprios sujeitos coletivos que, com apoio dos agentes externos, resgatam as formas solidárias de economia ao se organizarem em grupos de produção associada, empresas geridas por trabalhadores, organizações coletivas em assentamentos rurais, cooperativas populares e outras formas associativas e autogestionárias.

No Brasil a economia solidária começou a surgir de forma esparsa na década de 1980, mas tomou impulso a partir da segunda metade dos anos 1990, resultado de movimentos sociais surgidos na época. Ela apresentava características distintas dos movimentos dos anos de 1970 e 1980, visando reagir à crise de desemprego em massa de uma forma bastante peculiar.

Uma delas, a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP), vinculada a diversas universidades brasileiras, que colocam o saber universitário à disposição de grupos populares economicamente excluídos ou vinculados à economia informal, vem se dedicando à organização desse segmento em empreendimentos cooperativos para geração de renda, prestando apoio administrativo, jurídico-legal e capacitação (GAIGER, 1999).

Os primeiros conceitos ligados à economia solidária apareceram pela primeira vez no Brasil em 1993, mas os primeiros relatos sobre o assunto só surgiram em 1995, referindo-se a ela como um fenômeno econômico e um movimento social.

É importante salientar que a economia solidária não é apenas um fenômeno econômico resultante das condições e tendências históricas do mercado de trabalho brasileiro; é, também, resultado do acúmulo dos movimentos populares dos anos 1970 e 1980 que tentavam

modificar a situação política em que se encontrava o país; portanto, é, ao mesmo tempo, um fenômeno econômico e um movimento social (GAIGER, 1999).

Para identificar as origens da economia solidária no Brasil parte-se do quadro das condições socioeconômicas e das políticas das últimas décadas; então, depara-se com crise do desemprego estrutural abrindo espaço para surgir as experiências de economia solidária. E, o que na atualidade se denomina economia solidária ficou imersa por décadas, e ainda é, em muitos casos, identificada no que a literatura científica chama de autogestão, cooperativismo, economia informal ou economia popular.

A economia informal, expressão criada na década de 1960 no âmbito do Programa Mundial de Emprego da Organização Internacional do Trabalho (OIT), foi considerada um fenômeno transitório ligado ao subdesenvolvimento dos países dependentes. Por meio da economia popular e da economia informal considerava-se ser possível criar empreendimentos econômicos como a economia familiar ou micro negócios; para a produção ou prestação de serviços realizada com pouquíssimo ou até sem capital, e com a qualidade de haver solidariedade entre seus membros (GAIGER, 1999).

No Brasil, o solidarismo popular se expressa na prática e no ideário de um número crescente de empreendimentos econômicos, levados à frente por trabalhadores, pela falta de alternativas de subsistência ou movidos por suas convicções. Esses empreendimentos organizam-se das mais diversas formas, como em associações informais ou grupos comunitários de produção, cooperativas e pequenas empresas (FRANCO, 2001).

A exemplo do que se observa em outros países, no Brasil essas iniciativas vêm adquirindo visibilidade e densidade social, pois a adesão crescente dos trabalhadores a alternativas de trabalho e renda de caráter associativo e cooperativo, ao lado da multiplicação de organizações representativas e de apoio, configura gradativamente a economia solidária

como um novo campo de práticas, das quais Gaiger (1999) cita quatro linhas a serem seguidas:

1. Assume, em dose variável, um caráter coletivo no tocante à posse dos meios de produção, ao processo de trabalho e à gestão do empreendimento, minimizando a presença de relações assalariadas e provocando envolvimento com os problemas da comunidade e as lutas da cidadania;

2. Tendem a criar ou reforçar inúmeras instâncias de mediação e representação, tais como uniões associativas, federações cooperativas, redes de intercâmbio e organizações de apoio e fomento. À medida que conseguem viabilizar, por meio da cooperação produtiva, alavancas que as sustentam e as qualificam na economia contemporânea, adquirem chances para consolidar uma nova economia do trabalho;

3. Por sua inserção social e comunitária, cumprem adicionalmente uma série de funções em saúde, educação, defesa de minorias, preservação ambiental e outras de interesse comum. A economia solidária rivaliza com o setor privado, na criação de postos de trabalho, e com o Estado, na oferta de serviços sociais. Ela rejeita a separação entre o social e o econômico, reconcilia a eficiência com a cooperação no trabalho e estabelece os fundamentos de um projeto de sócio economia solidária; e

4. Alinham-se ao fenômeno mais amplo da economia alternativa, designada nova economia social ou economia social e solidária, que abrange múltiplos segmentos sociais, agentes e instituições. Apresenta-se como um movimento de crítica global ao sistema econômico capitalista, com acentuadas tendências para iniciativas concretas, com vistas ao desenvolvimento humano integral, individual, social e ecológico.

Trata-se, pois, de uma prática que busca a integração de grupos de consumidores, produtores e de prestadores de serviço, em uma mesma organização, para que todos possam levar adiante o consumo e satisfação das necessidades de seus membros (GAIGER, 1999).

Existem várias estratégias de economia solidária no Brasil e, de maneira geral, são práticas de produção centradas na solidariedade, sempre visando à distribuição de riqueza dentro de uma mesma comunidade, à criação de postos de trabalho e ao aumento da renda das pessoas.

Uma delas é a organização de trabalhadores em empreendimentos produtivos de base solidária, que têm se mostrado como uma ferramenta para inclusão social, principalmente para pessoas humildes, sem oportunidades de emprego (CORAGGIO, 2000).

A economia solidária parte da organização do consumo, ou seja, a comunidade realiza compras coletivas, permitindo o barateamento dos preços. Metade dos produtos produzidos nessas localidades é vendida em cooperativas populares.

A longo prazo, a prática da economia solidária possibilita a criação de um fundo de produtos excedentes que possibilita o investimento em novos empreendimentos e na remontagem das cadeias produtivas (CORAGGIO, 2000). Seu objetivo não é somente gerar postos de trabalho, mas garantir o bem-viver das pessoas. Por isso, é vista como uma estratégia de desenvolvimento e inclusão.