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Segundo o jomal The Economist (1996) , as sucessivas tentativas de reverticalização de algumas empresas elétricas inglesas têm sido objeto de acalorado debate, tendo o regulador procurado resistir a estes movimentos.

Capítulo 3 A Indústria de Energia Elétrica

41 Segundo o jomal The Economist (1996) , as sucessivas tentativas de reverticalização de algumas empresas elétricas inglesas têm sido objeto de acalorado debate, tendo o regulador procurado resistir a estes movimentos.

• o papel do regulador é crucial na nova organização industrial, devendo ser dotado de instrumentos qüe lhe permita uma equilibrada repartição dos benefícios econômicos gerados pela indústria;

• a introdução da concorrência não pode ser feita em detrimento dos benefícios econômicos da coordenação, atividade indispensável para garantir a eficiência econômica nos sistemas elétricos;

• a disponibilidade de recursos fósseis de baixo custo e a abertura do mercado de combustíveis são essenciais para a redução dos custos da indústria;

• a abertura das redes de transmissão e de distribuição e a privatização não são condições suficientes para a introdução da competição: é fundamental uma estrutura de mercado com um número significativo de ofertantes e demandantes para que operem eficientemente; e

• a reforma dever ser percebida como um processo e, nesse sentido, ela deverá evoluir com o aprendizado obtido na medida em que avança.

3.2.2 Estados Unidos da América

Nos EUA (o caso precursor) as reformas tiveram início a partir de 1978, com a lei PURPA {Public Utility Regulary Policy Act), quando houve profundas mudanças na estrutura e, principalmente, na regulação e no desempenho das empresas, uma vez que a propriedade das empresas já era na grande maioria privada. Não houve mudanças drásticas no controle dos ativos, mas uma abertura para a entrada de competidores. Nem se pode dizer que ocorreu uma desregulamentação, mas sim uma re-regulamentação, um redesenho do papel do Estado, em especial para os segmentos de monopólio natural.

As reformas foram introduzidas mais rapidamente na Califórnia e no Nordeste dos Estados Unidos, porém muitos outros estados têm acompanhado a reforma regulatória e implementando medidas que levaria a competição. Tais reformas apresentam os mesmos rumos de outros países para as indústrias de rede de um modo geral, como é também o caso das telecomunicações e do gás natural. Segmentos potencialmente competitivos (geração) têm sido separados funcionalmente e estruturalmente dos segmentos de monopólio natural, como é o caso da transmissão e distribuição de energia elétrica. As barreiras à entrada/saída têm sido eliminadas e os

consumidores têm livre acesso às redes de transmissão e distribuição, podendo escolher livremente seus fornecedores (JOSKOW, 1997).

A organização da indústria é mista, sendo que 75% de propriedade das empresas é privada, e a eletricidade é ofertada para os consumidores em algumas regiões por apenas uma empresa, que possui a autorização local para fornecer o serviço, sendo este considerado monopólio regulado, sujeito à avaliação de preços pelo poder regulador. Historicamente estas empresas encontravam suas obrigações de ofertar energia e planejar as necessidades de todos os consumidores varejistas em suas áreas de concessão, vendendo pacotes de energia, totalmente verticalizados. O progresso tecnológico contribuiu para aumentar a competição naqueles setores potencialmente competitivos, mas, por outro lado, naqueles setores onde a competição é ausente não contribuiu muito, para tanto seria necessário um novo modelo regulatório.

A estrutura industrial e regulatória que emergiu durante o último século, a alocação de recursos estatal do setor e a sua performance foram as principais fontes de pressão da reforma norte-americana. As questões estavam em tomo da criação da eficiência competitiva nos segmentos de geração e comercialização de energia e a regulação para os monopólios naturais, o que daria suporte à eficiência dos segmentos competitivos.

Nos modelos de regulação que estão sendo usados, os geradores podem comercializar através de contratos de longo prazo e/ou no mercado spot, ao contrário do antigo modelo, que se fundamentava no mecanismo de remuneração garantida, ou de regulação da taxa de retomo (rate-of-return). No modelo de portifólio, as tarifas continuam sendo baseadas na taxa de retomo, já que neste caso a competição não é possível.

A avaliação da reforma americana, num contexto geral, é boa, apesar de alguns problemas e de sinais de saturação por parte dos geradores independentes, motivando a saída de capitais do setor para aplicação em outros países, com garantia de maior rentabilidade, como tem ocorrido também na Inglaterra (ROSA & SENRA,

1995).

Segundo JOSKOW (1997), a reforma regulatória e estrutural dos EUA, ao mesmo tempo que envolve benefícios, envolve também custos, uma vez que a indústria tende a perder com a desverticalização, dado o aumento dos custos de

transação, o que decorreria do desempacotamento dos seus segmentos, que tinham

fortes ganhos de eficiência devido às economias de coordenação. ■

3.2.3 Chile

A reforma do setor elétrico chileno teve seu início através da reestruturação financeira das empresas estatais, tendo sido introduzidas mudanças progressivas na regulamentação do mercado a partir de 1982, para viabilizar a operação de um novo modelo. Seu principal objetivo foi criar condições para a privatização, sem, contudo, abandonar a noção de serviço público42. Os elementos centrais da reforma se resumem na desverticalização parcial das empresas verticalizadas, que tiveram de separar contabilmente suas atividades de geração/transmissão das atividades de distribuição; a abertura das redes de transporte para todos os agentes do mercado, que passaram a pagar um pedágio pelo uso da rede; a introdução de concorrência coordenada na geração e a participação dos consumidores no financiamento da expansão, através de empréstimos compulsórios reembolsáveis com consumo futuro de energia (contratos pré-venda de energia). A reforma chilena inclui também: um novo regime tarifário, baseado nos custos de oportunidade dos fatores de produção; a substituição do planejamento centralizado pelo planejamento indicativo; e a segmentação do mercado consumidor em parcela concorrencial e outra cativa, regulada (IPEA,1997).

Dentro das mudanças no aparato regulatório, as empresas de geração passaram a vender sua energia a preços que são livremente negociados com os consumidores com demanda superior a 2 MW e a preços fixados semestralmente pelo órgão regulador CNE (Comissão Nacional de Energia). Apesar de ter reduzido o papel do Estado no setor elétrico, a privatização de modo algum a tomou irrelevante, pois a CNE tem papel crucial nos fluxos econômicos setoriais, já que fixa as tarifas para os mercados ditos não concorrenciais (com é o caso dos consumidores cativos) e para as tarifas de transporte, realizando ainda o planejamento indicativo, que orienta os planos de expansão das empresas. Hoje o setor elétrico chileno tem mais de trinta empresas, todas elas privadas, ficando o Estado limitado à participação apenas a uma empresa de geração e outra de distribuição. Além disso, o setor elétrico conta com a presença da

42 Essa questão é objeto de grande discussão para o caso brasileiro, pois, no Brasil, a reestruturação tem sido

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