• Nenhum resultado encontrado

ECOSSISTEMA EMPREENDEDOR DA BEIRA BAIXA E DO ALTO ALENTEJO – DIMENSÕES DE ANÁLISE

TÓQUIO, JAPÃO

4. ECOSSISTEMA EMPREENDEDOR DA BEIRA BAIXA E DO ALTO ALENTEJO – DIMENSÕES DE ANÁLISE

Os ecossistemas representam a presença de múltiplos atributos e instituições sobrepostos que esti- mulam a atividade empreendedora e fornecem recursos críticos que os novos empreendedores podem utilizar à medida que se expandem e evoluem. Apesar das diferentes abordagens regionais de estímulo ao empreendedorismo, encontra-se um elo comum entre os vários ecossistemas empreendedores - to- dos envolvem vários elementos-chave interconectados, que interagem constantemente e se reforçam mutuamente, englobando vários componentes que precisam de cooperar para facilitar a inovação e o crescimento.

As combinações dos elementos que compõem os ecossistemas empreendedores são muito variadas e dependem de múltiplos fatores, dando origem a configurações muito distintas entre si, não existindo, infelizmente, uma receita ideal. Assim, é importante conhecer as dinâmicas positivas que se têm regis- tado nas regiões da Beira Baixa e do Alto Alentejo, pelo que, neste capítulo do estudo, são identificadas e caracterizadas as dimensões a considerar para analisar o ecossistema empreendedor destas duas regiões, sem perder de vista a circunscrição local e as suas características intrínsecas, perspetivando como estes diferentes domínios devem interagir para a emulsão e sedimentação de uma cultura em- preendedora. Neste enquadramento, para uma melhor caracterização do estado atual do ecossistema de apoio ao desenvolvimento e do ambiente empreendedor nas regiões da Beira Baixa e Alto Alentejo, foram consideradas as dimensões que se apresentam de seguida.

4.1. MERCADOS/ESTRUTURA EMPRESARIAL LOCAL

A dimensão relacionada com os mercados/estrutura empresarial local assenta na dinâmica económica das regiões, assim como na identificação de investimentos estratégicos previstos para os territórios, de projetos de desenvolvimento endógeno e de empresas e projetos-âncora. A utilização de novas tecno- logias, o poder demográfico, os recursos humanos na investigação científica, a mobilidade e transpor- tes, a inovação tecnológica e o investimento das empresas revelam-se aspetos críticos na valorização destas regiões, no contexto da atividade empreendedora.

De facto, nas escolhas e preferências de localização dos empreendedores há que considerar, no míni- mo, 3 fatores:

• Os territórios enquanto fator exógeno, incluindo características como a paisagem geológica, o clima, as posições dos recursos físicos, as acessibilidades e outras infraestruturas regionais.

• O espaço como fator endógeno, integrando os resultados da variação da atividade económica humana, mais concretamente da aglomeração empresarial, apontando-se, normalmente, algumas

vantagens económicas para a performance empresarial, tais como o acesso a mão-de-obra, a fornecedores especializados e a outros players relevantes em matéria de inovação e tecnologia. Pelas razões inversas, as características dos territórios com maiores fragilidades estruturais parecem ser decisivas na variação geográfica da atividade empresarial.

• Os eventuais laços sociais e emocionais dos empreendedores, assim como as relações de proximidade entre familiares, funcionários, clientes e investidores poderão influenciar a localização de empresas na mesma área de residência.

Foi realizado, na primeira parte deste estudo, um diagnóstico exaustivo à estrutura destes territórios, através do qual se procurou perceber os elementos-chave capazes de contribuir para a produtividade económica e para a criação de emprego. Com efeito, a partir da análise de vários indicadores demo- gráficos e socioeconómicos da Beira Baixa e Alto Alentejo foi possível apurar que um dos principais problemas estruturais destes territórios reside na persistente perda de capital humano, ao qual se asso- ciam o progressivo despovoamento e um duplo envelhecimento populacional, tanto pela emigração da população mais jovem, como pela retração dos índices de natalidade, que comprometem as dinâmicas económicas locais e a persistência de infraestruturas e serviços e, por outro lado, determinam a contra- ção da oferta de emprego e a fragilização do espírito inovador e empreendedor da população local. Dos resultados analisados na caracterização da Beira Baixa e do Alto Alentejo importa destacar:

• A débil iniciativa empresarial sobretudo relacionada com a atividade produtiva, avaliada pelos baixos níveis de densidade empresarial em todos os concelhos quer da Beira Baixa, quer do Alto Alentejo;

• A economia das regiões assenta sobretudo em estruturas produtivas de pequena dimensão cuja atividade está muito focada nos mercados locais, cada vez mais enfraquecidos, sem capacidade para se constituírem como motores do dinamismo económico, gerador de emprego;

• A predominância de atividades económicas tradicionais, com a concentração de empresas nos setores agrícola, florestal, na construção, no comércio por grosso ou retalho, alojamento, restauração e similares e indústrias transformadoras, regra geral, pouco modernizados, com mão-de-obra pouco qualificada e especializada;

• A reduzida competitividade destas empresas na dinâmica empresarial e económica, avaliada pelo indicador de Valor Acrescentado Bruto, que apresenta, em ambos os casos, dos valores mais baixos por NUTS III a nível nacional;

• Alguns concelhos onde as atividades ligadas ao setor primário são predominantes, como a agricultura, a pecuária e a silvicultura, apresentam, no entanto, excelentes exemplos de desempenho, nomeadamente em termos de volume de negócios gerado;

• Os baixos níveis de incorporação de I&D por parte das empresas, avaliada em função da percentagem das despesas desta natureza no PIB (menos de 0,65% no Alto Alentejo e entre 0,65% e 1%, no caso da Beira Baixa);

• A reduzida capacidade de internacionalização dos produtos/serviços, avaliada quer pelo indicador da intensidade exportadora (a Beira Baixa e o Alto Alentejo apresentam valores relativos abaixo da média nacional), quer pelo indicador de VAB exportável, medido em termos de bens exportáveis;

• A existência de alguns investimentos empresariais de maior dimensão - empresas-âncora - que representam a força motriz do desenvolvimento de algumas localidades e são essenciais na indução de maior competitividade e inovação às regiões, de que são exemplos, entre outros, o Grupo Delta, CELTEJO, AMS e o grupo luso-brasileiro Veracruz.

A problemática da baixa densidade demográfica e empresarial da Beira Baixa e Alto Alentejo coloca em evidência as crónicas assimetrias territoriais, consolidando-se a necessidade de estimular a poten- cialização destes territórios, procedendo à delineação de políticas que visem quer a correção dos cons- trangimentos estruturais daqui resultantes, quer a promoção de um quadro de desenvolvimento regio- nal integrado e sustentável a curto e a médio prazo. Estes fatores condicionantes do desenvolvimento do empreendedorismo não são novidade, sendo aliás, o palco das estratégias para a sustentabilidade e resiliência territorial a curto, médio e longo prazo, nas quais se inclui o projeto Get in Business.

Verifica-se pois, o enorme desafio de continuar a apostar na captação de investimentos estruturantes e empresas âncora, revitalizando social e economicamente as regiões, através da criação de emprego e riqueza, com efeitos multiplicadores e geração de externalidades em todo o território, o que requer um enorme envolvimento dos vários agentes locais e regionais, com destaque para o papel central das autarquias, proporcionando condições favoráveis e formas de colaboração efetivas que favoreçam a deslocalização/ fixação do investimento e a atração de recursos humanos.

Por outro lado, alicerçada nas recomendações da União Europeia, ilustradas no Guia para as Estraté- gias de Investigação e Inovação para a Especialização Inteligente (RIS3), foram identificadas na parte I deste estudo, as áreas de desenvolvimento onde a economia regional apresenta vantagens competi- tivas, com base em níveis distintos de capacidades e redes de infraestruturas de I&D+i, políticas públi- cas de apoio a essas capacidades, ou ligações internacionais intensivas em conhecimento tecnológico, tendo-se destacado a agricultura, florestas, agroalimentar e turismo como domínios em que se deve favorecer a criação de empresas e o investimento, bem como trabalhar na criação de uma cultura de empreendedorismo baseada nos fatores distintivos destas regiões, transformando-os em fontes inspi- radoras para negócios autossustentáveis.

4.2. POLÍTICAS LOCAIS

As políticas governamentais são consideradas uma das condições estruturais para o empreendedo- rismo. O projeto Global Entrepreneurship Monitor, que é o maior estudo contínuo sobre dinâmicas em- preendedoras no mundo, realiza uma avaliação anual da atividade empreendedora, das aspirações e das dificuldades dos indivíduos num largo conjunto de países, refletindo as principais características do meio socioeconómico, que se espera que tenham impacto no setor empresarial, considera as políticas governamentais como sendo um dos indicadores do potencial de um país para promover ou retrair o empreendedorismo. Segundo este estudo, as políticas governamentais em Portugal são uma das cau- sas inibidoras de um maior nível de empreendedorismo,, sendo o excesso de burocracia e a tributação fiscal apontados como os principais obstáculos subjacentes a esta questão.

Não obstante as limitações das regiões, em face das decisões do poder central, tem vindo a emergir uma nova geração de políticas e estratégias municipais incisivas, adensando o debate sobre a importância da governança e das políticas locais de coesão territorial no desenvolvimento, sobretudo em territórios de baixa densidade. Estas políticas visam o combate à progressiva tendência para o despovoamento, envelhecimento e empobrecimento das regiões do interior através da promoção de iniciativas para a valorização e revitalização, privilegiando a articulação de sinergias entre os agentes locais e o desen- volvimento e a diversificação das economias locais, da qual resulta o reconhecimento da inovação e do empreendedorismo como importantes alavancas de dinamização económica, bem-estar social e de desenvolvimento territorial endógeno e sustentável.

Relativamente às políticas locais de apoio ao empreendedorismo e às empresas, a análise e as in- formações recolhidas permitiram identificar um conjunto de atividades/ações suscetíveis de refletir a dimensão empreendedora dos vários municípios das regiões da Beira Baixa e do Alto Alentejo, que se entrecruzam com as várias outras dimensões do ecossistema consideradas, podendo ser classificadas em dois grandes grupos:

i. Posse e/ou construção de infraestruturas de apoio às atividades de carácter empresarial e social, devidamente analisado na componente “infraestruturas” e que reflete a maior ou menor participação e envolvimento do poder local ao nível dos parques empresariais, incubadoras e similares;

ii. Atividades e serviços de apoio às atividades de carácter empresarial e social, concretamente a existência de algum tipo de procedimento ágil e favorável ao sucesso empresarial, normalmente exorados a partir de regulamentos municipais de apoio ao investimento e ao empreendedorismo, com uma alocação de verbas devidamente prevista no respetivo orçamento municipal. Genericamente os municípios concedem incentivos ao investimento para projetos considerados de interesse local, que podem consistir, em função da sua natureza, na bonificação do preço de aquisição de terrenos, na aplicação de benefícios fiscais – por exemplo, isenção total ou parcial, e por um determinado período determinado de tempo, dos impostos cuja receita pertença ao municípios, designadamente

Derrama, IMI e IMT e/ou na redução de taxas na aprovação das operações urbanísticas de edificação e respetiva utilização. Há ainda a considerar apoios procedimentais, nomeadamente o acompanhamento personalizado, normalmente a partir de gabinetes de apoio ao empresário ou similares, auxiliando nos trâmites administrativos e no processo de licenciamento para uma redução dos prazos de tramitação, bem como na colaboração no levantamento dos espaços disponíveis para a implementação de novos projetos.

4.3. INFRAESTRUTURAS

O acesso a infraestruturas físicas em condições que não sejam discriminatórias para negócios peque- nos, novos ou em crescimento é considerado um dos elementos críticos que propiciam ou limitam o empreendedorismo. Naturalmente, tal como tem vindo a ser defendido, a existência de determinadas condições num determinado território, sendo condição necessária, não é suficiente, pois é imprescindí- vel a interação e articulação entre elas na promoção, apoio, criação e crescimento das novas empresas. É possível observar que os especialistas nacionais reconhecem o acesso a infraestruturas físicas como a condição estrutural mais favorável à promoção do empreendedorismo em Portugal, destacando a generalidade da infraestrutura existente no país como um fator impulsionador da atividade empreen- dedora. As regiões da Beira Baixa e do Alto Alentejo não são exceção, tendo vindo, desde há alguns anos a esta parte, a investir em estruturas relevantes para a dinamização empresarial e o empreende- dorismo.