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Este m capítulo m discute m os m fundamentos m da m educação m estética m no m ocidente m e m am circulaçãomdessamênfasempedagógicamnomBrasil.mInicia-semcontextualizandomasmidéiasmacercamdam educação m estética m por m um m viés m filosófico, m sobretudo m nas m obras m de m Kant m e m Schiller, m em apresentando m experiências m práticas m com m Pestalozzi m e m Fröebel. m Destaca-se, m no m texto, m am influência m de m filósofos m e m educadores m alemães, m principalmente m do m período m denominadom romantismo.mNota-se,mentão,mquemasmdiscussõesmamrespeitomdameducaçãomestéticamcirculammnosm meiosmeducacionaismbrasileiros,moriginalmentemnosmpareceresmdemRuimBarbosamemmfinsmdomséculom XIXmemsemestendemmamoutrosmmomentosmimportantesmdamPrimeiramRepública,memmespecialmnasm reformasmeducacionaismdesenvolvidasmnamdécadamdem20,mdemSampaiomDória,memmSãomPaulo,mam Francisco m Campos, m em m Minas m Gerais. m Nessas m reformas, m as m concepções m sobre m a m educaçãom estéticamsãomtrazidasmàmtonamemmummmovimentomdemrenovaçãomdameducaçãombrasileira,msendomquem essamrenovaçãomestáminseridamemmummcontextommaismamplo m-m omdememergênciamdommovimentom escolanovista. m Nesse m movimento, m destaca-se m a m obra m dos m educadores m Lourenço m Filho m em Fernando m de m Azevedo, m que m postulam m o m uso m da m arte m como m importante m instrumento m para m am educação,mvoltadamparamomdesenvolvimentomdasmsensibilidadesmemparamamformação mintegralmem harmônicamdosmindivíduos.m

2.1. Educação estética e educação dos sentidos

Osmestudosmsobremombelomemsobremamnaturezamdamartemtemmsidomobjetomdemreflexãomdem numerosos m pensadores, m desde m a m Antiguidade. m No m entanto, m a m partir m do m século m XVIII, m maism precisamentemcommamobramdemImmanuelmKantm(1724–1804),mamestéticamcomeçoumamconfigurar-sem comomumamdisciplinamfilosóficamindependente.mAmEstéticamtemmcomomtemasmprincipaismam“gênesem damcriaçãomartísticamemdamobrampoética,mamanálisemdamlinguagemmartística,mamconceituaçãomdosm valoresmestéticos,masmrelaçõesmentremformamemconteúdo,mamfunçãomdamartemnamvidamhumanamemam influência m da m técnica m na m expressão m artística” m (SILVA, m 2008). m Como m “ciência m do m belo”, m am palavramestéticamaparecemnamobramdomfilósofomalemãomAlexandermGottliebmBaumgartenm(1714- 1762), mÆesthetica. m A m partir m dessa m obra, m o m conceito m em m questão m foi m sendo m definidom progressivamente m até m chegar m à m reflexão m e m à m pesquisa m sobre m os m problemas m da m criação m e m dam percepçãomestética.m

Diferentes m acontecimentos m do m século m XVIII m caracterizaram m a m dinâmica m dosm processos m civilizadores m em m curso m nas m sociedades m modernas. m Nelas, m as m pessoas m foramm abandonando, m paulatinamente, m práticas, m costumes m e m idéias m ligados m aos m resquícios m feudaism presentesmemmperíodosmanteriores,memproduzirammumammodernidademcontemporânea,mintegrantem domprocessomcivilizador.mDurantemessemperíodo,masmpessoasmforammaprendendomamcontrolarmseusm impulsosmemsuasmpaixões,mtornando-se,massim,mcadamvezmmaismescassosmosmconfrontosmemconflitosm mediadosmpelomusomdamforçamfísica.mSobremosmindivíduosmnessemcontexto,mEliasmdestacamque: Maismtarde,mquandomasmcorreiasmtransmissorasmquemcorriammpormsuamexistênciam semtornarammmaismlongasmemcomplexas,melemaprendeumamcontrolar-semfirmementem emsemtornoummenosmprisioneiromquemantesmdemsuasmpaixões.mMasmcomomagoramelem estavammaismlimitadompelamdependênciamfuncionalmdasmatividadesmdemummnúmerom sempremmaiormdempessoas,mtornou-semtambémmmaismrestringidomnamconduta,mnasm possibilidadesmdemsatisfazermdiretamentemseusmanseiosmempaixões.mAmvidamtorna- semmenos mperigosa,mmas mtambémmmenosmemocional moumagradávelm(...). mPara

tudo o que faltava na vida diária um substituto foi criado nos sonhos, nos livros, na pintura.mDemmodomque,mevoluindomparamsemtornarmcortesã,mamnobrezam

leu m novelas m de m cavalaria; m os m burgueses m assistem m em m filmes m à m violência m e m àm paixãomerótica.mOsmchoquesmfísicos,masmguerrasmemasmrixasmdiminuíramm(...).mMas,m aommesmomtempo,momcampomdembatalhamfoi,memmcertomsentido,mtransportadomparam dentro m do m indivíduo. m Parte m das m tensões m e m paixões m que m antes m eram m liberadasm diretamentemnamlutamdemummhomemmcommoutromterámagoramquemsermelaboradamnom interiormdomsermhumano.m(ELIAS,m1993:203)35

A m arte m e m o m aprimoramento m do m senso m estético m crescente m nas m sociedades m foramm componentes m do m desenvolvimento m da m civilização m moderna. m Nesse m contexto, m intensificou-sem umamvisãomdameducaçãomcomomfatormprivilegiadomparamasmmudançasmsociais,mquem“indicavamparam o m aprimoramento m dos m indivíduos m quanto m a m sua m sensibilidade m e m quanto m a m sua m moral. m Talm processo m fez m da m educação m e m da m escola m algumas m das m mais m importantes m instituições m da m eram contemporânea”m(OLIVEIRA,m2004:23).m

OmséculomXVIIImfoimmarcadompormváriosmemintensosmdebatesmnomcampomdamfilosofia,mem seus m pensadores m deixaram m marcas m importantes m nos m ideários m pedagógicos m que m sem desenvolveram m a m partir m de m então. m Rousseau m (1712-1778) m discorreu m em m suas m obras,m principalmente m em mEmíliom (1762), m sobre m diversas m formas m de m educação. m Para m o m pensadorm genebrino, m a m educação m deveria m ter m dois m objetivos m centrais m básicos: m aprimorar m asm potencialidadesmnaturaismdasmcriançasmemafastá-lasmdosmmalesmsociais.mParamele,mseriamnecessáriom quemameducaçãomsemvoltassemparamomaperfeiçoamentomdosmórgãosmdosmsentidos,mpoismasmprimeirasm necessidadesmdasmcriançasmseriammdemordemmfísica.mAmpráticammusical,mmaismprecisamentemsobrem amformamdemcanto,mseriampartemintegrantemdasmpotencialidadesmnaturaismdasmcriançasme,mportanto,m

deveria m ser m aperfeiçoada. m Entoar m melodias m desenvolveria m a m sensibilidade, m o m senso m dem moralidadememdemliberdadem(OLIVEIRA,m2004:24).

Emmoutramobra, mEnsaio sobre a origem das línguasm (1759),mRousseaumpartiumdom pressupostomdemquemtudomomquemamrazãomconheceminicioumseumcaminhomdemassimilaçãompelosm sentidos, m defendendo m então m a m origem m musical m das m línguas m e m idiomas. m Nessa m obra, m elem argumentava m que m o m processo m de m racionalização m no m qual m a m música m se m encontrava m –m desenvolvimento m dam harmoniam –m estaria mabafandom amcriação mmelódica mquemseria,m emmúltimam instância, m a m parte m mais m sentimental m e m natural m da m música. m A m melodia m seria m responsável m porm elevarmimpressõesmmoraismpormmeiomdasmsensaçõesmsonorasmemauditivas.mAmlinguagemmestaria,m paramRousseau,mdiretamentemrelacionadamàmmelodia,mpróximamentãomdamintuiçãomemdosmsentidos.m Dessa m maneira, m Rousseau m relacionava, m por m meio m da m metáfora m musical m entre m melodia m em linguagem,mammoralmemamsensibilidademcomomomcaminhommaismcurtomparamsematingirmamliberdadem (OLIVEIRA,m2004:25).

UmmpensamentompresentememmRousseaumemcirculantemnamsegundammetademdomséculom XVIIImeminíciomdomXIXmémamcrençamdemquemammúsicamdeveriamexpressarmsentimentosmemnãomidéias.m Essa m crença m exerceu m uma m enorme m influência m sobre m os m compositores m do m romantismo, m emm especial m no mlieder36m de m tradição m alemã, m de m onde m se m sobressaem m Schubert m (1797-1828) m em

Schumann m (1810-1856). m Nesse m sentido, m a m prática m do m canto m foi m recomendada m como m partem essencialmdamformaçãomhumana,msejamaomaperfeiçoarmosmsentidosmoumcomomumm“procedimentomdem formação m moral m das m populações m que m em m diversos m países, m inclusive m no m Brasil, m rapidamentem adquirirammummcoroláriomcívicomempatriótico”m(OLIVEIRA,m2004:25).

Kant m também m afirmou m a m importância m da m educação m dos m sentidos m ou m educaçãom estéticamparam asm crianças,m commênfasem nameducação mmusical. m Omfilósofo m alemãom merece mumm lugar m de m destaque m nas m concepções m acerca m da m estética. m Ele m diferenciou, m de m um m lado, m om conhecimentomemomjulgarmlógicome,mdemoutromlado,mosmprincípiosmmorais.m Kantmconcebeumentremamfunçãomteóricamdemnossomintelectom–mquemsemreferemaom conhecimentomdaquilomquemrealmentemém–memamfunçãompráticamdamnossamrazãom–m quemsemreferemaomconhecimentomdasmleismmorais,mistomé,mdaquilomquemnãomé,m masmdevemserm–mumamterceiramfunção,minteiramentemautônoma,mintermediáriam entremasmoutras.mEssamterceiramfunção,mnumamdasmsuasmespecificações,mconstituim omgostomestéticomque,mportanto,mnãompodemsermreduzidomnemmaomconhecimentom lógicomcientífico,mnemmàmrazãomenquantomdeterminadoramdomimperativommoralm (istomé,mdasmnormasmdamnossamvontade)m(ROSENFELD,m1991:18). 36m

Palavramalemãm(género neutro; pl. Lieder)mquememmportuguêsmequivalemam“canção”.mNosmpaísesmgermanófonos,mom termomémfrequentementemempregadomparamdesignarmumammelodiamvocalmqualquer,meventualmentemacompanhadamporm ummoummaisminstrumentosmembaseadamemmalgummpoema.mNosmoutrosmpaíses,mestammesmampalavramfoimutilizadamparam designar m um m gênero m musical m específico, m o m da m canção m a m uma m voz m (ou m mais) m acompanhada m por m piano. mIn:m http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/L/lied.htm

Kantmemmsuamobra37manalisamtrêsmregiõesmdamalmamhumana:mamdomconhecermcientífico,m amdomquerermmoralm(vontades,minclinações)memamdomsentimentomdemprazermemdesprazerm(prazerm estético). m Na m contemplação m estética, m a m sensibilidade m e m a m imaginação m harmonizam m com m am inteligência, m suscitando m o m prazer m estético. m O m gosto m então m julga m os m objetos, m tomando m comom referencialmessemagradomoumdesagrado.mOmobjetomdestemagradomchama-sementão,mbelo.mOmprazerm estéticom

Émsuscitadomapenasmpelamformamdomobjetomemémpormissomdesinteressado.mOmbelo,m objeto mnatural, mportantomquemsuscita memmnósmdemimediatomomsentimento mdom prazermdesinteressado,mprazermapenasmdependentemdemsuamformam(emnãomdemsuam matéria),m leva-nos m amacreditar mnumam harmoniamentre mam natureza m ema mnossam mente.mÉmcomomsemamnaturezamtivessemsidomadaptadamaosmnossosmpropósitosmem capacidades. m Nesse m sentido, m a m estética m de m Kant m postula m uma m possívelm superação m da m dicotomia m entre m o m reino m da m natureza m e m o m reino m moral.m

(ROSENFELD,m1991:21) Kantmseparoumseusmpostuladosmpedagógicosmemmduasmpartes:mameducaçãomfísicamemam educaçãompragmática.mAmeducaçãomfísicamdiziamrespeitomaosmcuidadosmcommomcorpo,mincluindomam educaçãomdosmórgãosmdosmsentidosmemomaprimoramentomdasmatividadesmintelectuaismemfísicas.mAm educaçãompragmática,mpormsuamvez,mtinhamcomomobjetivomprincipalmatingirmummestágiomsuperiorm namformaçãommoral.mOmobjetivomdemKantmeramquemameducaçãomdeveriamformarmindivíduosmlivres,m sensíveis,méticos,mdisciplinados,mcapazesmdemvivermematuarmdemformaméticamemmoralmnamsociedadem (OLIVEIRA,m2004:26). Kantmexerceumumamgrandeminfluênciamnompensamentomestéticomemsuasmidéiasmforamm propulsorasmdamobramdemummdosmmaioresmexpoentesmdessemcampomfilosófico,momtambémmalemãom Friedrich m Schiller m (1759-1805), m autor m do m clássico m “Cartas sobre a educação estética da

humanidade”.mParamSchiller,mexistemmduasmformasmdemsermhumano:momHomemmfísico,mnatural,m

sensívelmemomHomemmmoral,mideal,mespiritual.mOmHomemmmoralmémaquelemquemdeixamdemseguirm seusmimpulsosmnaturaismemvivemagindomdemacordomcommasmnormasmmorais.mOmHomemmfísicomdevem então m procurar m tornar-se m o m Homem m moral, m e m o m caminho m preconizado m por m Schiller m para m sem cumprirmessemfimmémomcaminhomdamestética.m AmorigemmdompensamentomdemSchillermémdemordemmpolítica:mamorganizaçãompolíticam damsociedademdevemsermtransformadamsegundomosmpreceitosmempostuladosmdamrazãompráticamemosm imperativosmdammoral.mPerplexomcommosmrumosmdamRevoluçãomFrancesa,mSchillermnãomadmitemam soluçãomrevolucionáriamparamatingirmomEstadomideal.mOmEstadomdeveriamsermpostomemmpráticamporm meiomdameducação:m“Cabemamumamnovamhumanidade,míntegramemperfeita,mcriarmomEstadommoral,mem

37mKANT,mImmanuel.mCrítica da faculdade do juízo.mRiomdemJaneiro:mForensemUniversitária,m1995.

_____mCrítica da razão prática.mSãomPaulo:mMartinsmFontes,m2002.

nãomaomEstadommoral,mimpostompelamRevolução,mcriarmumamnovamhumanidade”m(ROSENFELD,m 1991:24).mAmobramemmquestão,mas Cartas sobre a educação estética da humanidade,mexaltamm entãomameducaçãomestéticamemommeiomestéticom(terceiromcaráter)mcomommeiosmtransitóriosmparamsem chegarmaomestágiommoral.mOmestadomestéticom(lúdico)mtorna-semomfimmparamsematingirmomHomemm estético, m restabelecendo m então m a m humanidade m íntegra m e m perfeita m que m foi m desfeita m pelam civilização,mfatomestemquemrompeumamunidademhumana,mopondomamnaturezambrutamaomintelectom refinado.m

As m “Cartas sobre a educação estética da humanidade” m são m compostas m por m 27m cartasmescritasmemenviadasmparamompríncipemdinamarquêsmFredericomCristiano,mdurantemomperíodom compreendidomentremosmanosmdem1793mem1795.mNessasmcartas,mSchillermindicamquemammaiormdem todasmasmobrasmdemartemémamconstruçãomdemumamverdadeiramliberdadempolítica.mAmartemémamfilhamdam liberdadememdevemsermlegisladampelamnecessidademdomespírito,memnãompelamcarênciamdammatéria.m Segundomomautor,mparamsemresolvermosmproblemasmdampolítica,mnamprática,mémnecessáriomcaminharm pelamviamdamestética,mpoismémdambelezamquemsemvaimàmliberdade.mParamsemtrilharmessemcaminhomdam estética,mameducaçãom(emmespecialmameducaçãomdosmsentidos),mpossuimummpapelmdestacado.mDasm artesmemanamompodermdemenobrecermomcaráterminfluenciadompormumamconstituiçãomautoritáriamem bárbara,mdemtornar-sempuramemlimpamasmmentes mapodrecidasmpelampolíticamestatal mcorrompida.m Schiller m propunha m uma m espécie m de m “política m recreativa”, m a m educação m através m da m arte m e m dam atividademlúdicam(SCHILLER,m1991:m67).

AmeducaçãomestéticamémextremamentemimportantemparamSchiller,mpoismémammaneiramdom Homem m no m estado m físico m atingir m o m estado m moral m e, m com m essa m educação m estendida m em universalizada,mamhumanidadematingiriamummpatamarmmaismelevadomnomquemtangemàmcidadaniamemàm organizaçãomsocialmisentamdemvíciosmemcorrupção.mEssamviameducacionalmestéticamfoimtrabalhadamem ampliada m por m outros m pensadores, m dentre m eles m Johann m Pestalozzi m (1746-1827) m e m Friedrichm Fröebel m (1782-1852), m que m viam m na m atividade m lúdica m e m na m educação m dos m sentidos,m principalmentemnameducaçãominfantil,malternativasmparamamconstruçãomdemumamsociedademmaism justamemsensível.

AmargumentaçãomfilosóficamdemSchillermémbemmcomplexa.mParamele,momhomemmtrazm consigomamdisposiçãomparamamdivindade38,mmasmomcaminhomparamamconcretizaçãomdemtalmdisposiçãom é m assinalado m nos m sentidos m (SCHILLER, m 1991:75). m Segundo m Schiller, m o m homem m não m ém exclusivamente m matéria m nem m espírito, m a m beleza m não m pode m ser m exclusivamente m vida m nemm meramentemfigura,melamémcomummamambosmosmimpulsos,mmatériamemespírito,mperfazendomentãomom chamadomimpulsomlúdicom(SCHILLER,m1991:90).mSomentemnomestadomestéticomomhomemmatingem

sua m plenitude, m a m integração m com m suas m virtudes; m ao m mesmo m passo m que m é m no m estado m lúdicom (quandomnãomháminteressesmnammatériamdomobjeto)mquemomhomemmsuperamamvidamdesinteressada,mom objetomdemprazermnecessário.m ParamSchiller,mexistemmdoismtiposmdemsensações:mamsensaçãomcomomrepresentaçãomdem umamcoisamlógicam(juízomdeterminante)memamsensaçãomestética,mligadamamsentimentosmdemprazermem desprazerm(juízomreflexivo).mAmprimeiramsensaçãomrefere-semaomobjetome,mamsegunda,maomsujeito.mOm juízomestéticomadvémmdomsujeito:melemsemprincipiamnomsentimentomdomprazermemdombelo.mOmjuízomdom gostom(estético/mreflexivo)mnãomémlógico,mmasmsintético,mestámfundadomtambémmnomsentimentomdem prazer m e m de m desprazer. m Esse m juízo m não m gera m nenhum m conhecimento, m pois m é m simplesmentem estético,mbaseadomnomsentimentomdomsujeito,msendo,mportanto,msubjetivo.

Amartemnãomsempropõemaomconhecimento,mmasmsimmaomgosto.mUmampessoamdiantemdem uma m obra m dem arte m nãom tem m a m necessidade m de m conceituá-la, m mas m preocupa-se m apenas m com m am apreciação, m com m a m fruição, m somente m sensações m de m prazer m ou m desprazer. m O m juízo m estético m ém aquelememmquemummobjetomémqualificadomcomombelo,mcolocadomcomomagradávelmemmrelaçãomaom nosso m sentimento. m “O m juízo m de m gosto m difere m da m faculdade m de m desejar m ou m da m utilidade m em necessidademdomobjeto.mOmquemdeterminamomjuízomdemgostomémamsatisfaçãomdesinteressada.mOmbelom émemmsimemparamsi,mlivremdemtodomemqualquerminteresse.”39m NamcartamXX,mSchillermapontamparamquatromrelaçõesmpensáveismparamtodasmasmcoisas.m Umamcoisamqualquermpodemrelacionar-semcommomestadomsensívelm(bemmestar,mpormexemplo),messamém amsuamcondiçãomfísica;mammesmamcoisampodemrelacionar-semcommomentendimentom(conhecimento),m condiçãomoumqualidademlógica;messamcoisampodemrelacionar-semcommamvontademem“sermconsideradam comomobjetomdamopçãomdemummsermracional”m(SCHILLER,m1991:110),messamémamcondiçãommoralmem finalmente m essa m mesma m coisa m pode m relacionar-se m plenamente m às m faculdades m sem m ser m objetom determinadomparamapenasmuma,mperfazendomentãomamqualidademestética.mAssimmsendo,mseguindom namargumentação,mexistemumameducaçãomparamamsaúde,mumamparamompensamento,mumamparamam moralidadememumamparamomgostomemparamambeleza.mEstamúltimamtemmcomomfinalidademharmonizarm aommáximomtodasmasmfaculdadesmsensíveismemespirituais. Nomestadomestético,mamhumanidademémexpressamdemmaneiramíntegramempura,mcomomsem nãomhouvesseminterferênciamexterna.mAsmartesmemmgeralmforammbastantemexaltadasmpormSchiller,m poismelasm(emammúsica,memmespecial)mafetammdemmaneirampositivamasmpessoas.mAsmartesmacalmam,m sensibilizam,mclareiammammente,mafastammasmlimitaçõesmdamalmamemuniversalizammasmpaixõesmemasm virtudes m do m ser m humano. m O m contemplador m das m artes m permanece m livre m e m incólume, m puro m em perfeito. m m A m sensibilidade m estética, m atingida m pela m contemplação, m torna m racional m o m homemm 39mOLIVEIRA,mCristinamG.mMachado.mO conceito de belo kantiano.

sensível, m permitindo m assim m atingir m a m estatura m de m homem m moral, m ideal. m Esse m caminhar m dom estético m para m o m moral m é m equivalente m ao m passar m da m beleza m para m a m verdade m e m o m dever. m Essam passagem m do m estético m para m o m moral m é m bem m mais m fácil m do m quem a m transição m do m físico m para m om estético, m ou m da m “vida m meramente m cega m para m a m forma” m (SCHILLER, m 1991:121). m Segundom Schiller,m“émdasmtarefasmmaismimportantesmdamcultura,mpois,msubmetermomhomemmàmforma,maindam quem emm suam vidam meramente m física;m torná-lom estético m ondem querm quem sem estenda m om reinom dam beleza,mpoismomestadommoralmpodemnascermapenasmdomestético,memnuncamdomfísico”m(SCHILLER,m 1991:121).mNomestadomestético,mamcidadaniamémuniversalizada,mosmdireitosmsãomigualadosmentrem todos,memmumamorganizaçãomsocialmperfeita.

Nomestadomfísico,momhomemmaceitamomestéticomdemmaneirampassiva.mAomcontemplarmasm artes, m no m estético, m ele m contempla m sua m personalidade, m percebe m o m mundo m de m uma m maneiram deslocada, m distanciada, m reflexiva. m A m disposição m estética m então m é m a m fonte m da m liberdade, m umm presentemdamnatureza.m“Somentemosmfavoresmdomacasompodemmquebrarmasmcadeiasmdomestadomfísicom emconduzirmomselvagemmàmbeleza”m(SCHILLER,m1991:135).mAomusarmamvisãomemamaudição,mom homemmafastamomcontatommaterialmdosmsentidos.mTãomlogomsemsatisfazmpelamvisãomemaudição,mom homem m ganha m liberdade m estética m e m o m impulso m lúdico m aparece, m desdobrado m (SCHILLER,m 1991:137).mEssemdistanciamentomlúdicomampliamomreinomdambeleza,mpreservandomosmlimitesmdam verdade,mfazendomassimmcommquemomhomemmatinjamomestadommoralmmaismfacilmente.

Omhomemmsensívelmesteticamentemémpreocupadomcommombommgosto,mcommambuscam incessante m do m belo. m É m uma m pessoa m inquieta, m em m busca m sempre m do m que m é m mais m prazerosom esteticamentemfalando,mprocuramsempremomquemémmaismaprazívelmemmdetrimentomdomquemémpormelem concebidomcomommenosmbelo,msejamnasmartes,mnamarquitetura,mnamindumentáriamoumnosmcostumesmem boasmmaneiras.mAssim,mafirma:

O m velho m germano m escolhe m agora m peles m mais m lustrosas, m adornos m maism pomposos,mcoposmdemchifremmaismfinosmemomcaledôniomprocuramasmmaismbelasm conchasmparamsuasmfestas.mMesmomasmarmasmdeixammdemsermmerosmobjetosmdom pavor,mpassammamsê-lomtambémmdomgosto,memambainhamtrabalhadamnãomchamam atenção m menor m que m a m devida m espada m mortífera. m Não m contente m comm acrescentarmabundânciamestéticamàmnecessidade,momimpulsomlúdicomliberta-se,m ao m fim, m completamente m de m suas m correntes, m tornando-o m belo m por m si m só m emm objeto m de m sua m aspiração. m Enfeita-se. m O m prazer m livre m entra m no m rol m de m suasm necessidades,memomdesnecessáriomlogomsemtornamampartemmelhormdemsuamalegria.m

(SCHILLER,m1991:146)

Comomvistomnamcitaçãomacima,momhomemmpropostompormSchillermbuscamprazermemam belezamnasmcoisasmcotidianas,mfazendomummmovimentomdemrefinomdomgostomemdosmcostumesmemm direção m do m que m é m mais m belo m ou m socialmente m mais m aceito. m Em m suma, m faz m um m movimentom civilizador,mconformemNorbertmElias.

Desse m modo, m tem-se m que m o m contexto m sócio-político-cultural m do m final m do m séculom XVIIImeminíciomdomXIXm“foimummterrenomfértilmparamomflorescimentomdasmidéiasmpedagógicasmquem colocaram m a m formação m de m indivíduos m integrais m (isto m é, m considerados m em m suas m plenasm potencialidades m intelectuais m e m sensíveis) m no m centro m do m processo m educacional” m (OLIVEIRA,m 2004:27). m A m pedagogia m desse m período m é m repleta m de m conotações m políticas. m De m acordo m comm Cambi,misso

emergemtambémmdamrenovadamemaumentadamcentralidademsocialmdameducação,màm qualmsãomdelegadasmtarefasmdemrepacificaçãomsocialmentremasmclassesmemgrupos,m homologando-os m com m valores m uniformes m e m comportamentos m comunsm (aprendidosmnamescola,mpormexemplo,moumatravésmdampropagandampormmeiomdem livros,mespetáculos,mdiscursos,mcerimônias,metc.)m(CAMBI,m1999:m411).

Ameducaçãomémentãomommeiomutilizadomparamsempromovermumamsociedademequilibradam e m orgânica, m apta m a m trabalhar m em m constante m progresso, m entendido m como m desenvolvimento m dam racionalidadememcomom“unificaçãomdamcoletividade,mcomomnosmdesejosmdamideologiamburguesam progressista” m (CAMBI, m 1999:411). m Mas m a m educação m não m é m objeto m apenas m de m interesse m dam burguesiamprogressista;mparamgruposmconservadores,melamtambémmémimportante.mSómatravésmdam educação,mcommomapoiomdommonopóliomestatalmdamforçamfísica,mpormmeiomdamrepressãompolicial,mém possível m diminuir m a m desordem m social, m agindo m de m maneira m paternalista m para m com m o m povo m em integrando-o,mdependendomdamsituação,mnamculturamburguesamdomvalormaomtrabalho,mdampoupança,m damcolaboraçãomsocialmemdomsacrifício.

Segundo m CAMBI m (1999), m o m vínculo m pedagogia-sociedade m ou m pedagogia- ideologia/políticamcoloca-semcomomomparadigmamemmtornomdomqualmtodamampedagogiamoitocentistam irámgirar.mAlémmdisso,momautormdestacamalgunsmaspectosmtécnicosmemfilosóficosmimportantesmdom “fazer m pedagógico” m do m período m em m questão. m Dentre m estes m aspectos, m dois m são m de m sumam importância m no m desenvolvimento m da m educação m estética m para m a m população. m O m primeiro, m am reflexãomemmtornomdamBildung40,mquematravessoumtodomomséculomXVIIImemquemressooumcommmaism

força m na m Alemanha. m Essa m reflexão m tende m a m reformular m o m modelo m de m formação m humana m em cultural,mobjetivando,msobretudo,màm“harmoniamdomsujeito,màmsuamliberdadem–mequilíbriominterior,m à m sua m riqueza m de m formas m (isto m é, m de m experiências m espirituais)” m (CAMBI, m 1999:412). m Am pedagogia m com m essa m característica m é m repleta m do m “ideal m de m liberdade m como m liberação m em autonomia,mquemcontrapõemaomcidadãomemaomHomo Fabermcontemporâneomamutopiamdamalmambela”m

40m O m conceito m de mBildungm dizia m respeito m ao m aprimoramento m estético, m moral m e m intelectual m da m humanidade m quem

conduziriamàmconfraternizaçãomemamboamconvivênciamentremasmpessoasm(ELIAS,m1994:m43-51).mOmidealmpedagógicomdam Bildungm émamformaçãomdemsujeitosmintegrais, mcapazesmdemconciliarmemmsimsensibilidadememrazão,morganizando-sem atravésmdamrelaçãomcommamcultura.

(CAMBI,m1999:412).mOmsegundomaspectomémomdestaquemdadomàmartemcomomfunçãomeducativa,m iniciadomcommosmromânticos.m

Através m da m arte m se m reforça m a m fantasia, m desenvolvem-se m as m capacidadesm cognitivas,menriquece-semampersonalidademdamcriançamemdomjovem;martemquemnam infânciamémsobretudomjogomemquemdevemsermcolocadamnomcentromdamatividademnosm jardinsmdaminfância,mmasmtambémmnamescolamelementar;mestamosmdiantemdemumam solicitaçãomeducativamtípicamdamculturamromânticamemquemdaímsemdifundemparamam pedagogia-educação m de m todo m o m século, m mantendo m uma m significativam centralidade: mque m valoriza m am criatividade, mque m reforça m am liberdade m da mmentem (CAMBI,m1999:412).

O m século m XIX m pode m ser m considerado m como m o m século m da m pedagogia, m pois m nessem período m de m grande m crescimento m populacional m atrelado m a m urbanização, m de m desenvolvimentom técnico m e m científico m ligado m às m alterações m no m mundo m industrial m advindas m da m sofisticação m dam divisãomdomtrabalho,mforammampliadasmasmdemandasmsociaismemsemtornarammmaismcomplexasmasm relações m de m interdependência m humana. m Foi m necessário m estabelecer m e m desenvolver m novosm modelosmdemcomportamentomparamasmnovasmconfiguraçõesmsociaismemergentes.mEssamdifusãomdasm normasmempadrõesmdemcomportamentomdeveriamsermrealizadamatravésmdemumameducaçãomnova,m organizadamemreguladampormnovasmteorias.m

2.1.1. Dois representantes da pedagogia romântica alemã: Pestalozzi e Fröebel

OmperíodomdomRomantismomémherdeiromdiretomdemdoismgrandesmacontecimentosmdam história:mamRevoluçãomFrancesamemamRevoluçãomIndustrial.mEssesmeventosmprovocarammemgeraramm novos m processos m e m configurações m sociais m que m resultaram m na m formação m das m sociedadesm modernas.mAsminstituiçõesmsociaismempolíticasmtradicionaismsofrerammfortesmabalosmemasmfronteirasm entremosmpovosmemnaçõesmforammsemmodificando,mfoimsendomcriadomummnovomequilíbriomentremelas.m O m nacionalismo m ganha m ímpeto, m sendo m praticado m por m grande m parte m dos m povos m europeus, m emm direção m às m suas m particularidades m e m aspirações m políticas m e m sociais. m As m ciências m se m ampliamm sobremaneira, m novas m áreas m do m conhecimento m humano m são m demarcadas m e m se m abrem m am investigações m diversas. m As m artes m recebem m novos m elementos m condizentes m com m o m contextom históricomemmquestão,mincorporandomváriosmdessesmelementosmemmsuasmmanifestaçõesmemformasm demexpressãom(FALBEL,m1985:24).

Ompensamentomdessamépocamestámintimamentemligadomaosmprincípiosmdemliberdade,màm referênciamaomindivíduomemaomsentimento,màmnação,màmhistóriamemàmtradição.mEssamnovamarticulaçãom

culturalmquemencampoumamliteratura,mfilosofia,mciência,marte,mpolítica,mhistoriografia,mmúsicamem costumes, m elaborou m amplos m debates m na m sociedade, m transformando m radicalmente m os m padrõesm relativosmaomgostomemsemqualificoumcomom“romântica”.mOmromantismo,menquantomcorrentemdem pensamentomemdemcomportamentomcultural,mfoimmarcadompormfortesmtensões,mpormumamexacerbadam consciênciamhistórica,mpelamoposiçãomaosmaspectosmdomprocessomdemmodernização.mFoimamfavormdam exaltação m dos m sentimentos, m do m pertencimento m a m uma m nação m ou m grupo, m da m transcendênciam religiosamcomomformamdemresolvermosmproblemasmdamexistênciamhumanamsempremameaçadampelam morte m (CAMBI, m 1999:414). m Essa m movimentação m cultural m teve m seu m epicentro m na m Alemanha,m localmondemamoposiçãomaomiluminismomfoimmaismconsistentememondemosmtemasmpropostosmpelom romantismomsemdesenvolverammcommmaismforça.

Váriosmforammosmparticipantesmdomromantismomnasmdiversasmáreasmdomconhecimentom emdasmartes,mdemondemsãomdestacados:mO mSturm und Drang41m literário,mcommSchillermemGoethem

(1749-1832); m a m filosofia m idealista m transcendente m de m Johann m Fichte m (1762-1814), m Friedrichm Schellingm(1775-1854)memHegelm(1770-1831);mamestéticamdemAugustmSchlegelm(1767-1845);masm pesquisasmsobremomnacionalmpopularmdosmirmãosmGrimm42,mompessimismomfilosóficomdemArthurm Schopenhauerm(1788-1860);mammúsicamnacionalistamdemRichardmWagnerm(1813-1883),mdentrem outrosmexpoentesmquemdelinearammumm

amplíssimo m movimento m cultural m que m abrangeu m depois m toda m a m Europa m em produziu, m nas m diversas m áreas m nacionais, m uma m retomada/variação m dos m temasm alemães, m ligados m a m uma m cultura m fortemente m espiritualista, m tradicionalista m em liberalmaommesmomtempo,matentamaosmtemasmdomconflito,mdomtrágico,mdomheróico,m assimmcomomaosmdamnação,mdompovomemdamhistória.mOmromantismomfoimummeventom realmentemeuropeumeminfluencioumemmprofundidademcadamâmbitomdamcultura:matém ampedagogiam(CAMBI,m1999:m415).m

Nomquemsemreferemàmpedagogia,momperíodomromânticomalemãomproduziumumamprofundam renovação m teórica, m que m elaborou m uma m nova m idéia m de m formação m humana m baseada m nam culturam ligadamamumamconcepçãomdemespíritomhumanomcomomomcentromdommundo,mativomemdominante,m

41m

Em mportuguês: mtempestade e ímpetom oumalternativamente mtempestade e paixão. Foimummmovimentomliteráriom românticom alemão, m que m atingiu m seu m ápice m entre m as m décadas m de m 60 m e m 90 m do mséculo m XVIII. m Seus m pensadoresm abominavammom"desencanto",mquemenfatizavamamciência,momracionalismo,mamtecnologiamemomprogresso.mOsmromânticosm alemãesmdomSturm und Drangmpreferemmexaltarmamnaturezamemomsentimento.mGoethememSchillermforammosmlíderesmmaism proeminentesmdestemmovimento,mquemteriamumamenormeminfluênciamemmtodosmosmsetoresmculturaismnamAlemanha.mInm http://sturmdrang.blogspot.com/

42m OsmirmãosmJacobm(1785-1863)memWilhelmm(1786-1859)mGrimmmrecolherammdiretamentemdamculturampopularmasm

lendas,mnarrativasmemsagasmgermânicasmpresentesmnamtradiçãomoral.mSeusmobjetivosmenquantompesquisadoresmforamm levantarmelementosmlingüísticosmparamfundamentarmestudosmfilológicosmdamlínguamalemãmemfixarmosmtextosmdomfolclorem literário m dem origemmgermânica, mque mseriam mas mexpressões mautênticas mdom espírito me mda mraça. mSeus m contos mmaism famososmforam:mBranca-de-Neve,mCinderela,mJoãomemMaria,mRapunzel,mosmMúsicosmdemBremem,mentremváriosmoutrosm contosmpresentesmnomimagináriominfantilm(OLIVEIRA,m2004:19).m

valorizandomamhistória.mHouvemtambémmumamreafirmaçãomdameducação,mdamrelaçãomeducativa,mdam escolamemdamfamíliamcomomelementosmcentraismnamformaçãomhumana.mAmpedagogiamromânticam alemã m foi m intensamente m criativa, m amadurecendo m uma m nova m consciência m epistemológica m dom sabermeducativo,msituando-omentremamfilosofiamemamciência.mUmamconsciênciameducativamtambémm foimformulada,memestamseriamsocialmemhistórica,mdiretamentemligadamàsmnecessidadesmdompovomemaosm objetivosmdamnação,mmasmquemsempreocupamcommomcomportamentomdocente,mvoltadomamagirmemm prolmdamliberdademdomalunomequilibrandomamrelaçãomentremautoridadememliberdade.mDoismagentesm educativosmsobressaem:mamfamília,morganizadamemmtornomdemseumpapelmeducativo;memamescola,mquem devemsermamescolamdemtodosmemparamtodos,mpreparadamparamformarmconcomitantementemomhomemmem omcidadãomemorganizadamsegundomperfismprofissionaismemeducativos,maptamamagirmintimamentemnom tecidomsocialm(CAMBI,m1999:416).

Nesse m contexto m pedagógico-intelectual m alemão, m destaca-se m a m figura m de m Johannm HeinrichmPestalozzim(1746-1827).mOmpensamentomdemPestalozzimémorientadomdemacordomcommosm preceitos m rousseaunianos m da m educação m segundo m a m natureza, m da m educação m familiar m e m dam finalidade m ética m da m educação. m No m centro m do m pensamento m de m Pestalozzi, m encontram-se m trêsm teorias:mamprimeira,mquemameducaçãomseriamummprocessomquemdeveriamseguirmamnatureza,mpoismom homemmsendombom,mdeveriamapenasmsermassistidomemmseumdesenvolvimento,mdemmodomquemsejamm liberadasmtodasmasmcapacidadesmmoraismemintelectuais;mamsegunda,mquemamformaçãomespiritualmdom homemmdevemsermdesenvolvidampormmeiomdameducaçãommoral,mintelectualmemprofissional;memam terceira,maminstruçãomoumomensinomdevemsermconstruídomampartirmdamintuição,mdomcontatomdiretomcomm asmexperiênciasmquemcadamalunomrealizamemmseummeio.mSobremamintuição,mPestalozzim

desenvolve muma meducaçãomelementar mquemparte mdosmelementos mdamrealidade,m tanto m no m ensino m lingüístico m como m no m matemático, m analisando-os m segundo m om número,mamformamemamlinguagem;messamdidáticamdamintuiçãomseguemasmprópriasm leis m da m psicologia, m a m infantil m emm particular, m que m procede m gradativamente m dam intuição m de m simples m objetos m para m a m sua m denominação m e m desta m para m am determinaçãomdasmsuasmpropriedades,mistomé,mamcapacidademdemsuamdescriçãomem destamparamamcapacidademdemformar-semummconceitomclaro,mistomé,mdemdefini-losm (CAMBI,m1999:419).

NosmescritosmdemPestalozzi,mobserva-semamprioridademdadampormelemàmartemcomomumm veículomfundamentalmdamformaçãomhumana,mpoismamartemfavoreciamomaprimoramentomdamintuição.m Pestalozzi m enfatizava m a m educação m dos m sentidos, m justificada m na m necessidade m de m aprimorar m em formar m o m gosto, m visto m que m o m bom m gosto m e m os m sentimentos m nobres m estariam m intimamentem relacionados.mAssim,mammúsicamseriamummmeiombastantemeficazmparamsempromovermameducaçãom moralmdosmindivíduos,mumamvezmquemessamformamdemartempoderiaminfluenciarmdemmaneirambenéficam os m sentimentos. m Em m seus m escritos, m na m carta m XXIII, mEjercicios para el desarrollo de los

sentidos. La música como medio educativo, m presente m na m obra mCartas sobre educación intantil43,m Pestalozzi m associam am músicam am outras m atividades, m comom am ginástica, m por m exemplo,m

objetivando m a m educação m dos m sentidos m e m a m formação m do m gosto. m Ainda m nessa m mesma m carta,m segundomPestalozzi,m“lo más importante que vemos em la música estriba em el influjo real y

altamente bienhechor que ejerce em los sentimentos. Predispone el alma para lãs más nobles impressiones y la sintoniza com ellas, por así decirlo”m(PESTALOZZI,m1996:92).mSegundomom

autor,mammúsicamutilizadamnameducação,malémmdemcultivarmosmsentimentosmemelevarmomespírito,m cumpririamtambémmompapelmdemmantermvivomomsentimentomnacional,mpromovendomamuniãomcívicam dasmpopulaçõesmpormmeiomdosmsentimentos.

Na m mesma m linha m de m pensamento m de m Pestalozzi, m destaca-se m a m obra m de m Friedrichm Fröebelm(1782-1852),mnamqualmampedagogiamdomromantismomatingemomseumápice.mFröebelmafirmam emmsuamobram“A educação do homem”m(m1826m)mquem

ameducaçãomémomprocessompelomqualmomindivíduomdesenvolvemamcondiçãomhumanam autoconsciente, m com m todos m os m seus m poderes m funcionando m completa m em harmoniosamente,memmrelaçãomàmnaturezamemàmsociedade.mAlémmdommais,meramom mesmomprocessompelomqualmamhumanidade,mcomomummtodo,moriginariamentemsem elevara m acima m do m plano m animal m e m continuara m a m se m desenvolver m até m a m suam condição m atual. m Implica m tanto m a m evolução m individual m quanto m a m universalm (FRÖEBEL,m2001:m29).

Fröebelmsempreocupoumcommamelaboraçãomemconfiguraçãomdemumampedagogiamestéticam paramasmcrianças.mAmidéiamcentralmseriamdesenvolver-lhesmamintuição,mobjetivandomomcrescimentom moral m e m intelectual, m capaz m de m conjugar m sensibilidade m e m razão m concomitantemente. m Fröebelm apostavamnamnecessidademdemenfatizar,mnamcriança,mamcapacidademcriativamtravésmdomcontatomcomm a m natureza m e m com m a m arte, m privilegiando m assim m os m jogos m educativos m e m as m atividades m lúdico- estéticas,memmespecialmomcanto.mAmartemdeveriamsermutilizadamnãomcommomobjetivomdemsemformarm artistas,mmasmsimmdemfavorecermomapreçompelasmdiversasmmanifestaçõesmartísticas,memmdestaquemom canto.

Dessa m maneira, m um m homem m cujas m faculdades m espirituais m não m se m dirijamm especialmentempelomladomdamartemnãomchegarámamsermummartista,mporémmpoderám apreciar m as m obras m dos m demais m e, m por m meio m da m formação m recebida m na m escola,m estarámemmcondiçõesmdemelevar-semàmcontemplaçãomdasmobrasmestéticas.mPintura,m escultura,mdesenhomemcantomdevemmsermcultivadosmdesdemcedo,msemsemquermdarm umameducaçãomcompletamemformarmtotalmentemomhomem,mconsiderando-osmobjetom de m ensino m numa m escola m séria, m não m os m deixando m abandonados m ao m caprichom infrutífero,màmmaneiramdomjogo.mNãomnosmpropomosmcommissomquemcadamdiscípulom cheguemamsermummartistamem,mdeterminadamarte,mmuitommenosmemmtodas,mcoisam

43mPESTALOZZI, mJohannmHeinrich. mCartas sobre educacion infantilm (estúdiompreliminarmymtraduccionmdemJosém

MariamQuintanamCabanas).mMadrid:mTecnos,m1996.mEscritamentrem1818mem1819,mamobramémcompostamporm34mcartasm enviadasmamummamigominteressadomnamteoriamempráticameducativamdesenvolvidampelomautor.

evidentementemabsurdam(sembemmquemomprimeirompoderiamdefender-sememmcertom modo), m mas m que m cada m homem m possa, m assim, m desenvolver m sua m essência m dem maneiramcompletamemtotal,melevando-sematémamplenitudemdemsuasmfaculdades,me,m finalmente, m como m já m dissemos, m pondo-se m em m condições m de m contemplar m em apreciarmasmproduçõesmdemartempuram(FRÖEBEL,m2001:145).

Três m aspectos m devem m ser m destacados m no m pensamento m de m Fröebel: m primeiro, m am concepçãomdeminfância.mFröebelmpartemdompressupostomdemquemDeusmestámpresentemnamnatureza,m quemémsempremboa,massimmcomomosmhomensmnaturaismrousseaunianos.mAmcriança,mpormsermmenosm “corrompida”mpelamsociedade,mcarregamemmsimamvozmdemDeus,mentãomcabemàmeducaçãomapenasm deixarmessamvozmdivinamsemdesenvolver,mpormmeiomdematividadesmcriativasmemlúdicas,mexercitandom osmsentimentosmemamarte,mpormmeiomdemcores,msons,mritmos,mfiguras,metc.mAmeducaçãomestéticamseriam entãomommaismaltomgraumdemdesenvolvimentomdomespíritomhumano.mOmsegundomaspectomseriamam organização m dos m jardins-de-infância m (kindergarten), m “espaços m aparelhados m paro m o m jogo m e m om trabalho m infantil, mpara atividades de grupo (canto), m organizados m por m uma m professoram especializadamquemorientamasmatividades,msemmquemestasmjamaismassumammumamformamorgânicamem programática, m como m ocorre m nas m escolas” m (CAMBI, m 1999:426).44m O m terceiro m aspecto m a m serm destacadomémamdidáticamparamamprimeiraminfância,memmsuma,mommétodomeducacionalmfröebeleianom Estemmétodomemmquestão,malémmdemvalorizarmamimportânciamdomjogomemdomcanto,mdasmatividadesm lúdico-estéticas m como m primordiais m na m organização m dos m trabalhos m nos m jardins-de-infância,m desenvolveumumamteoriamdosm“dados”.mEssesmdadosmseriammumamespéciemdemmaterialmdidáticom quemauxiliariammamcriançamnamcompreensãomdamnatureza.mAombrincarmcommosmdados,mamcriançam aprendemformasmelementaresmdomreal,mpoismaminfânciamémumamidademcriativame,mportanto,mdevemserm educada m segundo m suas m próprias m características m e m modalidades, m de m acordo m com m o m métodom desenvolvido m por m Fröebel. m É m nessa m fase m do m desenvolvimento m humano m que m a m semente m dam personalidademfuturamdomhomemmdevemsermlançada.

Interessante m ressaltar m que m a m educação m romântica m exerceu m grande m influência m emm várias m partes m do m mundo m e, m em m especial, m no m Brasil. m Seus m grandes m nomes m foram m Pestalozzi,m SchillermemFröebel,mcomomfoimexpostomnomdecorrermdomtexto.mNessamseção,mSchillermfoiminseridom aomladomdemRousseaumemKant,mautoresmquemominfluenciarammdiretamente,mpoismsuamobramémdem cunhomteórico-filosófico,mnãomsendomaplicadamdiretamentemnamprática.mAmopçãomporminserirmessesm três m autoresm foim am dem tentar m descrever m pensadoresm quem forneceramm om arcabouço m teórico m quem permitiu mquem os mdois mautoresm subseqüentes, m Pestalozzi mem Fröebel, melaborassemmexperiênciasm práticasmemaplicassem-nasmemminstituiçõesmconcretas,membasadasmpelompensamentomeducacionalm pelamviamestética.m

2.2. O debate da educação estética no Brasil

OsmprimeirosmanosmdamRepúblicamsãommarcadosmpormummdiscursommodernizadormquem trouxemconsigomumamintensificaçãomdosmdebatesmacercamdameducação,memmespecial,mamprimária.m Livros m de m leitura m escolar m e m romances m foram m publicados, m com m a m intenção m de m contribuir m nam formação m patriótica m e m cívica m dos m cidadãos, m dispostos m a m colaborar m com m a m formação m de m umm

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