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EDH – Histórico da educação em direitos humanos

Uma vida digna para os grupos excluídos, a conscientização dos sujeitos e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, foram os alvos que delinearam os grandes marcos da educação em direitos humanos no Brasil e na América Latina12.

Em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, sinalizava em seu artigo 26 a importância de se fortalecer o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais, como sendo parte do direito à educação, de modo que com isso se previna as barbáries contra a humanidade. A temática educação para os direitos humanos torna-se explicitamente inserida, pela primeira vez, no Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, da Organização das Nações Unidas – ONU, de 1966.

Nesse importante mecanismo de proteção, o direito à educação não se restringe apenas à igualdade de oportunidade, mas, afirma que cada pessoa deve implicar-se na realização de direitos. A educação é vista como um direito intrínseco e um meio indispensável para a realização dos demais direitos, o qual deve desempenhar um papel decisivo na promoção dos direitos humanos, da democracia, qual seja, e na proteção do meio ambiente. Nesse sentido, a educação deve orientar-se para o desenvolvimento da dignidade da pessoa humana, a participação social e o pleno desenvolvimento da personalidade. A educação em direitos humanos passa a ser concebida como um direito humano fundamental (ZENAIDE, 2014, pp. 34-35).

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, aprova em 1974 a Recomendación sobre la educación para la

comprensión, la cooperación y la paz internacionales y la educación relativa a los derechos humanos y las libertades fundamentales. Baseada na importância do

debate acerca da educação em direitos humanos, em 1978, a ONU realiza em Viena o Congresso Internacional sobre o Ensino de Direitos Humanos.

Na década de 1980, diversos acontecimentos marcaram a educação em direitos humanos, como a criação do Projeto Educação em Direitos Humanos, elaborado pelo Instituto Interamericano de Educação em Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos – OEA; a realização na Venezuela, em 1983, do I Seminário Latino-americano de Educação para a Paz e os Direitos Humanos; e na Argentina, em 1985, o II Seminário Latino-americano de Educação para a Paz e 12 Para a realização do histórico que será apresentado a seguir, foi utilizado o ANEXO 4 (Cronologia dos principais acontecimentos relativos à educação em direitos humanos na América Latina) e o CAPÍTULO 1.1 (Linha do tempo da educação em direitos humanos na América Latina) escrito por Maria de Nazaré Tavares Zenaide, ambos do livro Cultura e Educação em Direitos Humanos na América Latina, da Editora da Universidade Federal da Paraíba, publicado no ano de 2014.

os Direitos Humanos. Enquanto no Chile, em 1988, realizava-se o III Seminário Latino-americano de Educação para a Paz e os Direitos Humanos, no Brasil era

instituída a Constituição da República Federativa do Brasil, que já em seu artigo 5º declara que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

Em 1990, é lançado o Primeiro Plano Nacional de Ensino em DH da América Latina, no Peru. No Brasil, em 1994/95 é realizado o 1º Curso de Especialização em Direitos Humanos, com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, do Ministério da Educação, na Universidade Federal da Paraíba – UFPB; em 1996, é lançado o primeiro Programa Nacional de Direitos Humanos, tendo a “Educação para a cultura dos DH e da Cidadania” como um dos eixos norteadores; ainda em 1996, o Ministério da Educação insere “ética e cidadania” nos Parâmetros Curriculares Nacionais e é criada a Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos – RBEDH; em 1997, é criada a Secretaria Nacional dos Direitos Humanos – SNDH, transformada em 2010 em Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República; nessa década ainda, é realizado o I Congresso Brasileiro de Educação em Direitos Humanos e Cidadania, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo – USP, em 1997.

“Com o século XXI, a educação em e para os direitos humanos toma a feição de política pública (ZENAIDE, 2014, p. 44)”. É criado em Brasília, em 2000, o Fórum Nacional de Educação em Direitos Humanos; em 2003 a SEDH instala o Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos, que lança o primeiro Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, também é criada a Associação Nacional de Direitos Humanos: Pesquisa e Pós-Graduação – ANDHEP e a Coordenação Geral de Educação em Direitos Humanos, na SEDH. Entre 2004 e 2005 é criada a área de direitos humanos nos Programas de Pós-Graduação em Direito das Universidade de São Paulo – USP, Universidade Federal da Paraíba – UFPB e Universidade Federal do Pará – UFPA, com o apoio da Fundação Ford. O ano de 2006 é marcado pelo lançamento final do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, pelo Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos.

Entre os anos de 2011 e 2012 são criados os Programas de Pós- Graduação Interdisciplinares em Direitos Humanos nas Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal de Goiás, Universidade Federal de Pernambuco e Universidade de Brasília. Em 2012, é lançada também a Resolução nº 1, de 30 de maio de 2012, pelo Conselho Nacional de Educação – CNE, onde são estabelecidas as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos.

A Resolução se torna um marco, ao estabelecer que a educação em direitos humanos deverá estar presente tanto na educação básica como na superior, seja de modo transversal, por meio de uma disciplina específica ou de forma mista, articulando as duas primeiras possibilidades. Ela ainda institui que a EDH deve estar inserida na formação inicial e continuada de todos(as) os(as) profissionais da educação e das diferentes áreas do conhecimento, nenhuma categoria profissional é eximida desse compromisso.

Em seu artigo 3º, a Resolução CNE nº 1/2012, coloca que a EDH, com o intuito de promover a educação para a transformação social e para a mudança, está fundada nos princípios de “I – dignidade humana; II – igualdade de direitos; III – reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades; IV – laicidade do Estado; V – democracia na educação” (BRASIL, 2012).

O Brasil ao assumir o compromisso de inserir a educação em direitos humanos nos diferentes níveis de formação, assume concomitantemente o compromisso de propiciar uma educação transformadora nas instituições de ensino do país. Tal educação é pautada no diálogo, na construção intercultural, na troca de saberes, na construção conjunta de conhecimentos, no empoderamento dos sujeitos, na conscientização da população acadêmica, no incentivo à criticidade, autonomia, liberdade e resistência aos cenários de desigualdade, violência e exclusão social, além do estímulo à constituição de novos direitos e à manutenção dos conquistados.

Muitas são as melhorias obtidas no Brasil após 1985, no que se refere à educação em direitos humanos e aos direitos humanos. Todavia, é importante ter certo cuidado com a história que está por trás dessas conquistas, as pessoas envolvidas e as lutas enfrentadas, de modo que a consciência do passado não permita o retorno de governos autoritários e que os direitos conquistados sejam

perdidos. Educar-se em direitos humanos é educar-se diariamente para a desconstrução de paradigmas que inferiorizam, discriminam e demonizam a diversidade humana, é lutar pelo direito à liberdade, à autonomia, e de uma vida digna. É lutar em prol dos direitos de cada pessoa e de toda a humanidade.