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A Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica foi instituída pela Lei n° 11.892, de 2008, constituída da seguinte forma:

I – Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia – Institutos Federais;

II – Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR;

III – Centros Federais de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET – RJ e de Minas Gerais – CEFET – MG;

IV – Escolas Técnicas Vinculadas às Universidades Federais (BRASIL, 2008, art. 1°).

Desses, os Institutos Federais (IF)6 são os que estão presentes em todo o

território nacional, oriundos da transformação dos CEFETs e das Escolas Técnicas e Agrotécnicas Federais. Considerados instituições de formação profissional, atendem à educação básica, profissional e superior em suas diversas vertentes. A lei de criação dos IF é enfática ao assegurar, em seu art. 8°, a obrigação dos IF garantirem o mínimo de 50% de suas vagas para a educação profissional técnica de nível médio, prioritariamente na forma integrada, além de 20% de suas vagas para cursos com foco na formação de professores (BRASIL, 2008).

Dentre as vagas ofertadas pelos campi dos Institutos Federais, fica legalmente estabelecida a quantidade mínima de 50% das vagas para cursos técnicos de nível médio, os quais podem ser ofertados de forma integrada7,

concomitante8 ou subsequente ao ensino médio regular.

6Atualmente, são 38 institutos no Brasil, cada um com seus campi. Em todos os estados brasileiros têm pelo menos um campus dos Institutos Federais.

7O Plano de Desenvolvimento da Educação - PDE, de 2007, no inciso I do art. 36, define como integrada à formação “oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental, sendo o

curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, efetuando – se matricula única para cada aluno”.

8O PDE, de 2007, no inciso II do art. 36, diz que a modalidade concomitante é “oferecida a quem ingresse no ensino médio ou já o esteja cursando, efetuando – se matrículas distintas para cada curso, e podendo ocorrer: a) na mesma instituição de ensino, aproveitando – se as oportunidades educacionais disponíveis; b) em instituições de ensino distintas, aproveitando – se as oportunidades educacionais disponíveis; c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios de intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao desenvolvimento de projeto pedagógico

O curso que é pesquisado nesse trabalho é um subsequente, que é ofertado para portadores de diploma do ensino médio, para pessoas já formadas a nível médio que desejam ingressar no ensino profissional de nível técnico. O currículo do curso é com base em módulos, onde cada módulo pode habilitar o educando para uma área de atuação.

Além das modalidades que foram apresentadas, o ensino médio integrado ao ensino profissional pode ocorrer para dois públicos distintos, dentro dos Institutos Federais: para alunos que concluíram o ensino fundamental e estão indo para o ensino médio, com menos de 18 anos de idade; e para alunos adultos que concluíram o ensino fundamental, mas que não tiveram acesso ao ensino médio. O segundo grupo realiza o ensino médio na modalidade PROEJA9 - Programa

Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação de Jovens e Adultos.

Na Seção IV, Art. 35, da Lei 9.394/96, fica estabelecido que o ensino médio é a etapa final da educação básica, tendo como duração o total de três anos. Dentro de suas finalidades, está a de preparar para o trabalho e a cidadania, de modo que possibilite o educando o contínuo aprendizado e desenvolvimento, adaptar-se com flexibilidade aos novos desafios profissionais e aperfeiçoamentos posteriores. O ensino médio tem como missão preparar o educando para a vida, para o mundo do trabalho, propiciar meios para a continuidade dos estudos, ter a formação para a cidadania como norte e estabelecer a articulação entre conhecimento e processos seletivos.

Kuenzer (2000A, p. 13) relata que

[...] a história do ensino médio no Brasil revela as dificuldades de um nível de ensino que, por ser intermediário, precisa dar respostas às ambiguidades geradas pela necessidade de ser ao mesmo tempo terminal e propedêutico. Embora tendo na dualidade estrutural a sua categoria fundante, as diversas concepções que vão se sucedendo ao longo do tempo, refletem a correlação de funções dominantes em cada época a partir da etapa de desenvolvimento das forças produtivas.

As várias facetas de formação do ensino médio, com o decorrer dos anos, foi se dando de acordo com os interesses políticos da época, bem como com os ideais da instituição que o ofertava. Desde os anos 1950, percebe-se que dentre os

unificado”.

9Instituído pelo Decreto nº 5.840/2006, no âmbito federal, podendo ocorrer integrado ao ensino fundamental, médio e educação indígena.

objetivos da formação de nível médio estavam a formação para a vida produtiva, formação profissional e, ultimamente, com a democratização do acesso às universidades para pessoas de baixa renda, a preparação para o vestibular.

Desde 1909, com a criação das Escolas de Aprendizes e Artífices no Brasil, existia uma separação e distinção da formação destinada aos filhos da burguesia para a que era ofertada aos desvalidos de riqueza. Aos burgueses era ofertada uma educação propedêutica (educação com foco nos estudos das ciências humanas, exatas e sociais, com o intuito de propiciar uma formação mais intelectual), para os desvalidos era ofertada uma educação com foco no exercício de ofícios (preparar para atuação em trabalhos instrumentais). Essa distinção entre educação propedêutica e educação profissional perdurou por quase um século. Foram realizadas iniciativas por parte do governo para igualar a formação de nível médio com a integração entre o ensino propedêutico e o ensino profissional, como por exemplo o que decretava a LDB nº 5.692/71, todavia não houve sucesso, permeando ainda a ideia de uma educação propedêutica para os filhos dos burgueses, preparando-os para a entrada nas universidades e, em outro extremo, a formação profissional que tinha como intuito preparar as pessoas para atuação profissional logo após o término do ensino médio. Maiores avanços nesse sentido foram observados a partir da sanção da LDB nº 9.394/96, onde houve um cuidado para que a formação profissional também fosse articulada à educação propedêutica, possibilitando que os educandos, mesmo os desfavorecidos financeiramente, pudessem deter de conhecimentos que o permitissem entrar nas universidades, sem tantas restrições (BRASIL, 2010; TAVARES, 2012).

O Ministério da Educação - MEC, em 2004, publicou o documento “Proposta em discussão para a educação tecnológica”, onde defende uma educação profissional

[...] como elemento estratégico para a construção da cidadania e para uma melhor inserção de jovens e trabalhadores na sociedade contemporânea, plena de grandes transformações e marcadamente tecnológica. Suas dimensões, quer em termos conceituais, quer em suas práticas, são amplas e complexas, não se restringindo, portanto, a uma compreensão linear, que apenas treina o cidadão para a empregabilidade, nem a uma visão reducionista, que objetiva simplesmente preparar o trabalhador para executar tarefas instrumentais. No entanto, a questão fundamental da educação profissional e tecnológica envolve necessariamente o estreito vínculo com o contexto maior da educação, circunscrita aos caminhos históricos percorridos por nossa sociedade.

Com tal documento, o MEC afirma a importância de se ofertar uma educação que possibilite a formação plena do profissional como cidadão e como parte integrante da sociedade. O educando já não é encarado como um possível profissional que ofertará sua mão-de-obra para trabalhos instrumentais, com o intuito de propiciar lucro para o empregador, mas sim como um sujeito dotado de necessidades e que por meio de tal educação pode se inserir na sociedade contemporânea, superando as suas dificuldades.

Com a criação dos Institutos Federais, esse compromisso foi reafirmado e tais instituições voltaram seus esforços para a educação profissional de qualidade para os menos favorecidos financeiramente, que durante muitos anos estiveram nas margens da sociedade, tendo acesso a uma educação reducionista que muitas vezes propiciava, tão somente, a formação instrumental. Os IF foram criados com o intuito de propiciar não só uma formação profissional de qualidade, mas formar os cidadãos para a vida e para uma atuação consciente junto à sociedade.

Na proposta dos Institutos Federais, agregar à formação acadêmica a preparação para o trabalho (compreendendo-o em seu sentido histórico, mas sem deixar de firmar o seu sentido ontológico) e discutir os princípios das tecnologias a ele concernentes dão luz a elementos essenciais para a definição de um propósito específico para a estrutura curricular da educação profissional e tecnológica. O que se propõem é uma formação contextualizada, banhada de conhecimentos, princípios e valores que potencializam a ação humana na busca de caminhos de vida mais dignos. Assim, derrubar as barreiras entre o ensino técnico e o científico, articulando trabalho, ciência e cultura na perspectiva da emancipação humana, é um dos objetivos basilares dos Institutos. Sua orientação pedagógica deve recusar o conhecimento exclusivamente enciclopédico, assentando-se no pensamento analítico, buscando uma formação profissional mais abrangente e flexível, com menos ênfase na formação para ofícios e mais na compreensão do mundo do trabalho e em uma participação qualitativamente superior neste. Um profissionalizar-se mais amplo, que abra infinitas possibilidades de reinventar-se no mundo e para o mundo, princípios estes válidos, inclusive, para as engenharias e licenciaturas (PACHECO, 2010, p. 10).

A formação humana, cidadã e política precedem à qualificação profissional, conforme orienta a política que direciona os Institutos Federais, possibilitando ao profissional formado conhecimentos e competências que permita manter-se em constante desenvolvimento e evolução pessoal, profissional e humana. Pacheco (2010) apresenta também como missão dos IF, propiciar uma educação articulada com o trabalho, ciência e cultura, além da investigação científica, condição de grande importância para a autonomia intelectual.

Outro ponto importante que deve ser observado acerca da missão dos IF é a questão do desenvolvimento socioeconômico local, regional e nacional. É um projeto progressista, que trata a educação como possibilidade de transformação social, capaz de modificar a vida dos sujeitos e meios envolvidos no processo, proposta essa incompatível com uma visão conservadora de sociedade, “trata-se, portanto, de uma estratégia de ação política e de transformação social” (PACHECO, 2010, p. 12).

Reafirmando esse compromisso de transformação social, em 22 de agosto de 2011, no programa de rádio “Café com a Presidenta”, Dilma comenta sobre a distribuição das escolas técnicas e universidades federais criadas no seu governo e no do ex-presidente Lula10:

Utilizamos vários critérios para fazer esta seleção [...]. Primeiro, demos prioridade a municípios com mais de 50 mil habitantes, em microrregiões onde não existiam escolas da rede federal e no interior do Brasil. Segundo, tivemos a preocupação [...] de atender municípios com elevado percentual de extrema pobreza. Terceiro [...] focamos em um grupo de municípios que têm mais de 80 mil habitantes, mas, nos quais, a prefeitura, muitas vezes, arrecada pouco e tem muita dificuldade de investir em educação.

Tavares (2012) comenta que os Institutos Federais têm obtido grande sucesso em sua implantação, atualmente, totaliza o número de 603 campi, espalhados em diversos municípios brasileiros. Esses campi têm atendido um público misto, composto por pessoas que muitas vezes foram excluídas de políticas públicas básicas, além de alunos oriundos da classe média brasileira – que tem demonstrado interesse na educação profissional e tecnológica, tendo em vista o alto grau de qualidade da formação ofertada pelos IF. Mesmo tendo destinado 50% de suas vagas para cursos de nível médio, os campi distribuídos pelo território nacional ofertam também cursos de formação inicial e continuada, de curta duração, cursos de graduação (tecnologia, bacharelados e licenciaturas), além de cursos de pós- graduação lato sensu e stricto sensu.

10 Tavares (2012) comenta que se em quase um século (1909-2002) foram construídas 140 instituições de Educação Profissional e Tecnológica no Brasil, com o governo Lula, iniciado em 2003, depois seguido pelo da então Presidenta Dilma, foram entregues 226 escolas ao término do ano de 2012, totalizando assim 366 escolas técnicas no território nacional. Atualmente, tem-se o número de 603 campi dos Institutos Federais, conforme notícia no sítio eletrônico do Palácio do Planalto – Presidência da República, do dia 9 de maio de 2016.

Como um animal que sabe da floresta Redescobrir o sal que está na própria pele Redescobrir o doce no lamber das línguas

Redescobrir o gosto e o sabor da festa

EDUCAR EM DIREITOS HUMANOS

Educar em direitos humanos é educar para o nunca mais, para a transformação social, para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde as diferenças são respeitadas, sem imposição de padrões que ferem a individualidade de cada um, mas que direciona para o bem-estar social e intercultural.

Nesse sentido, a educação em direitos humanos tem como objetivo transformar os cenários de exploração e violência por meio da conscientização, empoderamento dos sujeitos, emancipação social, valorização das diferenças na construção do todo, construção de uma sociedade consciente e atuante, de uma educação histórica que eduque para o nunca mais e para a resistência aos cenários de poder e violência, além de propiciar uma formação cidadã e democrática.