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2.   SISTEMAS DE INFORMAÇÃO SOBRE O SECTOR DO LIVRO: MODELOS E FONTES 

3.6.  A EDIÇÃO ACADÉMICA

 

Delimitar  a  edição  dita  académica  do  ponto  de  vista  das  editoras  e  não  das  obras  constitui  o  presente objetivo de análise39. Vale a pena referir que para tal tentativa se procedeu à pesquisa  e  cruzamento  de  diversas  fontes,  pese  embora  convenha  já  sublinhar  que  a  preocupação  é  ilustrar esta realidade – que não pode ser ignorada – e não recenseá‐la exaustivamente, tarefa  que não cabe nos objetivos do presente Inquérito. 

Tendo  presente  que  se  trata  de  um  levantamento  ilustrativo,  ele  assenta,  ainda  assim,  na  consulta e cruzamento de informação proveniente de cinco fontes, a saber: 

 

• Internet.  Com  o  intuito  de  explorar  ou  confirmar  a  existência  de  editoras  e/ou  serviços  de  edição  nas  instituições  de  ensino  superior;  a  consulta  das  páginas  que  essas  instituições  e  seus  departamentos  ou  faculdades  disponibilizam  on‐line  revelou‐se uma ferramenta central no levantamento efetuado; 

• O  Programa  do  2º  Encontro  do  Livro  Universitário  de  Coimbra  2007  (ELUC)  que  permitiu identificar 19 editoras “universitárias”; 

• Listagem ISBN (outubro 2007) – no sentido de identificar as entidades aderentes que  correspondessem a editoras académicas ou universitárias; 

• Base  de  dados  das  tipografias  (doravante  designada  por  TIP)40

  –  no  sentido  de  detetar  o  registo  das  editoras  e/ou  serviços  de  edição  como  depositantes  no  Depósito Legal (na BNP); 

• Base de dados INPI – verificando se as editoras e/ou serviços de edição considerados  se  encontram  registadas  enquanto  marcas  no  Instituto  Nacional  da  Propriedade  Industrial. 

 

A  recolha  e  progressiva  formação  do  corpus  empírico  sobre  o  qual  se  trabalhou  decorreu,  simultaneamente, do estudo das várias fontes elencadas.  39  Editoras claramente ligadas às instituições de ensino superior e não as editoras vocacionadas para a edição  técnica/científica.  40  Esta base de dados foi facultada ao OAC pela BNP e reporta‐se ao período 2000‐2005. Filtrando a informação  pelo  campo  universidade  detetam‐se  81  casos  supostamente  registados  enquanto  depositantes  no  Depósito  Legal. O que não significa que exista uma contradição entre esse número e o número de casos encontrado para  traçar o perfil da edição académica em Portugal (46). Na dita base parecem encontrar‐se registos referentes a  depósitos  de  teses,  apresentando‐se  os  depositantes  como  instituições  de  ensino  superior  e  não  como  editoras, esse o nosso ponto de partida. 

Mas o que entender então por edição académica? À partida são três os critérios que parecem  concorrer  para  orientar  uma  definição:  aquela  edição  que  emana  de  instituições  de  ensino  superior (universidades, politécnicos, etc.), de obras ligadas às áreas científicas aí ministradas e,  por fim, embora não exclusivamente, visando dar voz ou visibilidade pública quer aos trabalhos  produzidos no quadro das instituições em causa quer aos seus autores, por regra universitários.   De  facto,  a  revisão  bibliográfica  forneceu  outros  termos  comparáveis  acerca  da  realidade  a  tratar.  Apesar  da  terminologia  scholarly  publishing  ser,  no  caso  norte‐americano,  utilizada  por  diferentes  autores  de  maneira  desagregada,  grosso  modo  dividida  em  university  presses  and 

commercial  academic  presses  (Coser,  Kadushin  e  Powell,  1982;  Greco,  Rodríguez  e  Wharton, 

2007: 59), e não obstante se utilizar também a expressão academic publishing, o enfoque aqui  assumido aconselha que se retenha um conceito agregado. 

Todavia, importa adiantar que, independentemente do país em causa, se trata de uma tradição 

universitária,  que  os  séculos  têm  consolidado,  esta  de  as  universidades  terem  as  suas  próprias  casas editoras, ou imprensas, como antigamente mais frequentemente se designavam (Guedes, 

2001: 269). Fernando Guedes refere‐o no âmbito da iniciativa que, por volta de 1998, associou a  Universidade Católica Portuguesa e a Editorial Verbo. É porém necessário frisar que esse tipo de  articulação  (nomeadamente,  em  regime  de  coedição)  entre  quem  fornece  os  conteúdos  e  os  profissionais da edição não será escalpelizado neste contexto.  

O  produto  principal  da  atividade  editorial  (e  comercial,  embora  as  entidades  em  causa  sejam,  geralmente, não lucrativas) centra‐se no livro técnico‐científico e pedagógico (Clark, 2001: 32).  Em novembro de 2007 foi constituída através de escritura pública a Associação Portuguesa de  Editoras de Ensino Superior41, sendo que a sua congénere espanhola foi criada em 198742 (AEUE,  2006). 

A  tentativa  de  caracterização  da  edição  académica  em  Portugal  materializou‐se  numa  base  de  dados de 47 registos, possibilitando arrumar diversas características. 

Comece‐se  por  reter  um  aspeto  que,  sem  a  necessária  advertência,  poderia  confundir  a  interpretação  dos  dados  a  seguir  feita.  Se  se  contabilizar  a  presença  dos  vários  registos  encontrados de acordo com as fontes (quadro nº 12), logo se constata a não coincidência entre  o número de designações – nome por que são conhecidas as editoras e/ou serviços de edição – e  respetivas pertenças institucionais43.    41

  Esta  associação  terá  nascido  do  impulso  de  quatro  editoras  universitárias,  a  saber,  a  Imprensa  da  Universidade  de  Coimbra,  a  Editora  da  Universidade  do  Porto,  a  Universidade  Lusíada  Editora  e  as  Edições  Universidade Fernando Pessoa.   42  A Unión de Editoriales Universitarias Españolas conta presentemente com 58 universidades associadas.  43  Não se conseguiu obter duas designações relativamente às Universidades dos Açores e da Madeira (mesmo  através da pesquisa on‐line), apesar das universidades em questão constarem na base de dados do ISBN. 

Quadro nº 12  Referências da edição académica em Portugal por Fonte    Fonte  Número  Internet  42 ELUC  19 ISBN  43 TIP  29 INPI  5 Total de referências  47 Fonte: OAC.    Mas importa fixar outros aspetos. Das 19 editoras universitárias que assim se apresentaram no  ELUC, 3 delas não constam na base de dados do ISBN (Edições da Faculdade de Belas Artes da  Universidade  do  Porto,  Edições  da  Faculdade  de  Psicologia  e  Ciências  da  Educação  da  Universidade do Porto, Sector Editorial da Universidade de Trás‐os‐Montes e Alto Douro). Tendo  sido  detetado  na  Internet,  para  a  generalidade  dos  casos,  algum  tipo  de  informação  relativamente  à  editora  ou  ao  serviço  editorial  em  questão,  já  a  pesquisa  da  fonte  INPI  pôs  a  descoberto  uma  geral  despreocupação  no  registo  da  marca  especificamente  para  efeitos  de  edição44. De destacar também que só a Editora UP (Universidade do Porto) integra as diversas  fontes consultadas, estando inclusivamente registada como depositante no Depósito Legal, algo  que apenas sucede em pouco mais de metade dos casos. 

No quadro nº 13 inclui‐se uma listagem das várias editoras e/ou serviços de edição identificados  de acordo com a Designação e a Pertença institucional. Mais concretamente, estando a falar‐se  de  35  instituições  de  ensino  superior  com  editoras  e/ou  serviços  de  edição,  não  é  raro  encontrar‐se  para  a  mesma  pertença  institucional  várias  editoras/designações,  sendo  por  exemplo de assinalar para a Universidade do Porto 7 casos.  44  Nos casos da Universidade do Minho e da Universidade de Trás‐os‐Montes e Alto Douro (UTAD) a designação  da marca registada corresponde simplesmente à designação institucional das respetivas universidades (aliás, as  únicas duas que, tendo participado no ELUC 2007, têm registo de marca). 

Quadro nº 13  Editoras académicas por Designação e por Pertença institucional    Designação  Pertença institucional  Desconcentrada  Concentrada  ‐  Universidade dos Açores  Universidade dos Açores  ‐  Universidade da Madeira  Universidade da Madeira 

Edições da Universidade do Algarve  Universidade do Algarve  Universidade do Algarve  Publicações Universidade de Évora  Universidade de Évora  Universidade de Évora  Gabinete Editorial  Faculdade de Medicina da Universidade 

de Lisboa 

Universidade de Lisboa  Imprensa de Ciências Sociais  Instituto de Ciências Sociais 

(Universidade de Lisboa) 

Edinova  Universidade Nova de Lisboa  Universidade Nova de Lisboa  Centro Editorial  Faculdade de Arquitectura da UTL  Universidade Técnica de Lisboa  Serviço de Edições  Faculdade de Motricidade Humana da  UTL  ISCSP  Instituto Superior de Ciências Sociais e  Políticas (UTL)  IST PRESS  Instituto Superior Técnico 

Serviços Gráficos da Univ da Beira Interior  Universidade da Beira Interior  Universidade da Beira Interior  Imprensa da Universidade de Coimbra  Universidade de Coimbra 

Universidade de Coimbra 

EDARQ  Departamento de Arquitectura da 

Universidade de Coimbra 

Universidade de Aveiro Edições  Universidade de Aveiro  Universidade de Aveiro 

Editora UP  Universidade do Porto  Universidade do Porto  Edições da Faculdade de Belas Artes da  Universidade do Porto  Faculdade de Belas Artes da  Universidade do Porto  Edições da Faculdade de Desporto da  Universidade do Porto  Faculdade de Desporto da Universidade  do Porto  Edições da Faculdade de Letras da  Universidade do Porto  Faculdade de Letras da Universidade do  Porto  Edições da Faculdade de Psicologia e  Ciências da Educação da Univ. do Porto  Faculdade de Psicologia e Ciências da  Educação da Universidade do Porto  FAUP Publicações  Faculdade de Arquitectura da  Universidade do Porto  FEUP Edições  Faculdade de Engenharia da  Universidade do Porto  Sector Editorial da Universidade de Trás‐ os‐Montes e Alto Douro  Universidade de Trás‐os‐Montes e Alto  Douro (UTAD)  Universidade de Trás‐os‐Montes e  Alto Douro 

Edições Universidade do Minho  Universidade do Minho  Universidade do Minho  Edições Universidade Aberta  Universidade Aberta  Universidade Aberta 

Ediual  Universidade Autónoma de Lisboa  Universidade Autónoma de Lisboa  Universidade Católica Editora  Universidade Católica Portuguesa  Universidade Católica Portuguesa  Edições UFP  Universidade Fernando Pessoa  Universidade Fernando Pessoa  Universidade Lusíada Editora  Universidade Lusíada  Universidade Lusíada 

Edições Universitárias Lusófonas  Universidade Lusófona de Humanidades 

e Tecnologias  Universidade Lusófona 

Universidade Portucalense  Universidade Portucalense  Universidade Portucalense  Universidade Moderna  Universidade Moderna  Universidade Moderna  Egas Moniz Publicações  Escola Superior de Saúde Egas Moniz 

Designação  Pertença institucional  Desconcentrada  Concentrada  Centro Editorial do IADE (CEIADE)  Instituto de Artes Visuais, Design e  Marketing  Instituto de Artes Visuais, Design e  Marketing 

Editorial Piaget  Instituto Piaget  Instituto Piaget 

Serviços Editoriais e de Publicações  Instituto Politécnico de Castelo Branco  Instituto Politécnico de Castelo  Branco 

Publicações*  Instituto Politécnico de Leiria  Instituto Politécnico de Leiria  Edições IPP  Instituto Politécnico do Porto  Instituto Politécnico do Porto  Centro Gráfico  Instituto Politécnico de Setúbal  Instituto Politécnico de Setúbal  Gabinete de Publicações  Instituto Politécnico de Tomar  Instituto Politécnico de Tomar  Edições ISPGaya  Instituto Superior Politécnico Gaya  Instituto Superior Politécnico Gaya  Centro de Edições  Instituto Superior de Psicologia Aplicada Instituto Superior de Psicologia 

Aplicada  Edições IPAM  Instituto Português de Administração 

de Marketing 

Instituto Português de Administração  e Marketing 

Publicações*  Instituto Superior de Gestão Bancária  Instituto Superior de Gestão Bancária ISEL PRESS  Instituto Superior de Engenharia de 

Lisboa 

Instituto Superior de Engenharia de  Lisboa 

Departamento de Publicações / Edições 

ISMAI  Instituto Superior da Maia  Instituto Superior da Maia 

Publicações*  Instituto Superior das Novas Profissões  Instituto Superior das Novas  Profissões 

Fonte: OAC. 

Notas:  (i)  A  pertença  institucional  desconcentrada  refere‐se  a  universidades  com  várias  editoras  (por  exemplo  uma  por  faculdade),  ao  passo que a concentrada pretende significar que a universidade no seu conjunto optou por uma única entidade editora; (ii) *Os casos com  a  designação  Publicações  devem‐se  ao  facto  de  ter  sido  essa  a  referência  que,  nos  sites  das  respetivas  instituições  de  ensino  superior,  permitiu inferir a vertente de edição de livros. 

   

A tal inexistência de normalização acima apontada passa também pelo seguinte: é possível que  numa  pesquisa  via  ISBN  se  encontre  a  «Edinova»  (ligada  à  Universidade  Nova  de  Lisboa),  o  mesmo  já  não  sucedendo  no  caso  da  «EDARQ»,  sugerida  antes  pelo  campo  «Departamento  Autónomo  de  Arquitectura.  Universidade  do  Minho».  Quanto  ao  «Instituto  Piaget»,  a  designação institucional prevalece sobre o termo «Editorial Piaget», não constando este último  na  base  de  dados  do  ISBN.  O  facto  de  cada  curso,  departamento,  universidade  se  poder  autointitular enquanto editora não só dá conta da complexidade de pertenças institucionais aqui  subjacentes como da maior ou menor centralização/autonomia da edição em cada instituição de  ensino superior (Guedes, 2001: 271). 

Metodologicamente  é  também  de  salientar  como  uma  pesquisa  (na  base  de  dados  de  ISBN)  tomando por palavra‐chave «Universidade do Algarve», rapidamente se pode chegar ao seguinte  grau  de  desagregação:  «Universidade  Algarve»;  «Universidade  Algarve,  Centro  Estudos  Património»;  «Universidade  Algarve,  Escola  Superior  Tecnologia»;  «Universidade  Algarve,  Unidade de Ciências Económicas Empresariais», secções que, aquando da pesquisa na Internet,  não foi possível identificar como estando autonomamente ligadas à edição. 

Algo  que  remete  uma  vez  mais  para  a  necessidade  de  relativizar  os  dados  apresentados  em  tabela, fruto de eventuais limitações das fontes. Porém, tal cautela não põe em causa algumas  conclusões mais gerais que os dados carreados sustentam, designadamente: a de que são vários  os  estabelecimentos  de  ensino  superior  que  possuem  serviços  de  edição;  que  as  soluções  adotadas  variam  significativamente  entre  eles,  tanto  internamente  (identificaram‐se  duas  grandes opções, concentrada e desconcentrada) como externamente (inscrição no ISBN, registo  da  marca)  e  que  é  necessária  mais  evidência  empírica  para  (recensear  e)  caracterizar  este  importante  segmento  da  edição.  Finalmente  importa  ter  em  conta  que  não  se  procuraram  identificar eventuais relações preferenciais ou de maior proximidade entre empresas editoras e  esta  ou  aquela  universidade,  mas  sim  aquelas  entidades  editoras  assumidas  pelas  escolas  superiores. 

   

3.7. SÍNTESE   

O  sector  da  edição  de  livros,  tal  como  a  generalidade  dos  sectores  culturais,  é  um  sector  com  uma  grande  dinâmica  que  se  traduz  pelo  elevado  número  e  grande  diversidade  de  estatutos  jurídicos,  atividades,  e  também  pelo  número  de  entidades  que  editam.  A  ausência  de  uma  definição  institucional  de  “editora”  (tal  atividade  não  se  encontra  regulada)  e,  consequentemente a inexistência de uma única base de sondagem válida determinou, de forma  acrescida,  que  se  procedesse  no  âmbito  do  Inquérito  ao  Sector  do  Livro,  à  construção  de  um  conceito  operativo,  empírico,  que  tivesse  em  conta  as  diversas  noções  em  uso  no  sector,  no  sentido de delimitar o que se iria inquirir identificando, simultaneamente, o que ficaria de fora.  Essa construção exigiu portanto o cruzamento dos registos de diversas fontes. Diferentes fontes,  diferentes critérios, diferentes objetivos, logo, diferentes bases numéricas. 

Este cruzamento permitiu, num primeiro momento, controlar a fonte mais fiável, o INE e, num  segundo  momento,  identificar  a  necessidade  de,  mantendo  a  característica  de  se  tratar  de  empresas sediadas em Portugal, em atividade, acrescentar um subuniverso ao universo do INE –  constituído  pelas  empresas  cuja  atividade  principal  é  a  edição  de  livros  –,  subuniverso  constituído por empresas editoras com outra atividade principal que não a edição de livros.  Acessoriamente,  a  pesquisa  permitiu  verificar  a  relevância  de  outras  fontes,  em  particular  o  ISBN, avaliando‐se, enquanto levantamento e identificação de editores, as suas virtualidades e  limitações,  sendo  que  estas  são,  na  fase  atual,  claramente,  e  por  diversos  motivos,  as  prevalecentes. O que não significa que não se tire pelo menos uma conclusão substantivamente  importante: a edição de livros, no que toca às entidades envolvidas, está muito para além das 

empresas.  Não  se  revelou  possível,  contudo,  aprofundar  adequadamente  esta  consabida  conclusão. 

Outras abordagens, como a dos grupos empresariais, permitiu evidenciar a necessidade da sua  identificação com vista a uma mais eficiente caracterização do sector – uma vez que prevalecem,  como  é  normal,  empresas  isoladas  e  empresas  integradas  em  grupos  horizontais  e  verticais,  realidade que importa ter em conta. 

Ainda quanto ao panorama editorial a abordagem do registo das marcas se revelou significativa  do grau de formalização que (não) existe para muitas delas. E, finalmente, a abordagem, ainda  que exploratória,  da edição  académica,  permitiu evidenciar  a  sua  relevância  do  ponto  de  vista  das entidades envolvidas, deixando no ar o mesmo tipo de questões suscitado pelos dados do  ISBN: qual será o impacto de tal segmento da edição no mercado nacional e internacional? 

   

      4. A COMERCIALIZAÇÃO     

Este  capítulo  trata  da  comercialização  de  livros.  Sintetizam‐se  inicialmente  dados  sobre  as  livrarias recolhidos a partir de três fontes (tutela do sector, INE e a APEL) e faz‐se uma pequena  referência  ao  Inquérito  Harmonizado  às  Empresas  (INE).  Tratam‐se  seguidamente  as  grandes  superfícies, sempre do ponto de vista do livro, e outros canais de venda – os canais emergentes.  Finaliza‐se  com  uma  breve  referência  ao  comércio  eletrónico  do  livro  nos  planos  nacional  e  internacional.      4.1. LIVRARIAS    Na cadeia do livro uma outra fase de grande importância é a da comercialização. Para além da  edição,  também esta é objeto  do  presente  Inquérito,  na  qual  se  destaca claramente o  livreiro,  cuja atividade se centra, regra geral, na comercialização ou venda a retalho de livros. De acordo  com os três estudos sociológicos sobre a leitura realizados em Portugal (Freitas e Santos, 1992;  Freitas, Casanova e Alves, 1997: 40; Santos, Neves, Lima e Carvalho, 2007: 142) as livrarias foram  e  continuam  a  ser  o  principal  local  para  a  aquisição  de  livros.  A  opção  por  dar  uma  particular  atenção às livrarias encontra sustentação nos resultados dos estudos sobre a leitura e a procura  de livros. Mas ao nível da comercialização deram‐se evoluções relevantes nas últimas décadas. O  relatório do Estudo dos Aspectos Económicos da Edição em Portugal, já anteriormente citado, se  por um lado parece pôr em causa o significado das livrarias (que teriam sido ultrapassadas, por  volta de 1984, pela via postal ou direta, nomeadamente através de clubes do livro, no volume de  vendas  dos  maiores  editores),  por  outro  lado  permite  destacar  a  relevância  desses  canais  de  comercialização  (o  que  o  estudo  sobre  a  leitura  de  1992  parcialmente  confirma,  colocando‐os  imediatamente abaixo das livrarias nos locais de compra preferidos) por outro lugar – e este é  talvez o ponto mais significativo – evidencia claramente as alterações entretanto verificadas nos  canais de comercialização (Varela e Ramos, 1984: 21). Ou seja, perderam importância a venda  postal  ou  direta,  incluindo  os  clubes  do  livro,  ganharam  peso  outras  como  os  super  e  hipermercados. E sobretudo assistiu‐se a uma enorme pulverização dos locais de venda de livros, 

incluindo  quiosques,  postos  de  abastecimento  de  combustíveis,  lojas  indiferenciadas,  sem  esquecer, claro, as tradicionais livrarias‐papelarias. 

Assim,  embora  as  livrarias  sejam  o  canal  de  comercialização  objeto  do  presente  Inquérito,  procurou‐se também não descurar outros canais, incluindo um outro característico dos tempos  atuais – o comércio eletrónico. 

Em  termos  metodológicos,  tal  como  com  para  os  editores,  também  no  que  diz  respeito  às  livrarias  se  procurou  obter  informação  que  permitisse  a  quantificação  desse  tipo  de  estabelecimentos. Deste modo, constatou‐se a existência de várias fontes, mas, mais uma vez, a  inexistência  de  estatísticas  nacionais  que  permitissem  a  sua  caracterização  e  a  análise  da  atividade de venda a retalho de livros.  

Quanto  às  fontes  inventariadas  importa  fazer  menção,  por  um  lado,  tanto  às  estatísticas  provenientes  do  Cadastro  Comercial  de  empresas  (boletim  e  base  de  dados  on‐line),  da  responsabilidade  da  Direcção‐Geral  das  Actividades  Económicas  (antiga  Direcção‐Geral  do  Comércio e da Concorrência45), como do relatório Observar o Comércio em Portugal, produzido  pelo  Observatório  do  Comércio  (2001)46  e,  por  outro  lado,  os  dados  sobre  entidades  do  comércio de venda de livros disponíveis na Direcção‐Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLB), no  Instituto Nacional de Estatística (INE) e na Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL).  Importa  ter  desde  já  em  conta  que  as  várias  fontes  diferem  quanto  à  definição  de  livraria  adotada  e  à  unidade  com  que  operam  –  a  empresa  ou  o  estabelecimento  –  aspeto  relevante  uma vez que uma empresa pode ter dois ou mais estabelecimentos. 

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  O  boletim  das  Estatísticas  do  Cadastro  Comercial  2000  da  Direcção‐Geral  do  Comércio  e  Concorrência  possibilita o apuramento de informação relativa ao sector do comércio tendo por base o estabelecimento e o  pessoal  ao  serviço.  Tendo  em  conta  os  indicadores  estatísticos,  é  possível  apurar  o  número  de  estabelecimentos, pessoal ao serviço e número médio de pessoal ao serviço, estatuto jurídico, distribuição por  distrito e concelho, distribuição segundo a atividade económica, e escalão de superfície de exposição e venda.  Os  dados  são  obtidos  a  partir  de  um  ficheiro  de  natureza  administrativa,  com  informação  sobre  os  Estabelecimentos  Comerciais  e  que  é  carregado  com  base  nos  pedidos  de  inscrição  dos  titulares  de  estabelecimentos comerciais. Este ficheiro foi constituído em setembro de 1986 e tem uma atualização anual.  São de ter em conta algumas limitações quer ao nível das variáveis utilizadas para recolher a informação, quer  ao nível da atualização dos dados, quer ainda ao nível da maior desagregação da informação por atividade.   46  Relativamente  a  este  relatório  sobre  o  panorama  do  comércio  em  Portugal,  interessa  dar  conta  da  investigação  realizada  a  um  dos  ramos  do  comércio  retalhista  não  alimentar  analisado,  o  das  Livrarias  e  Papelarias. Este estudo, realizado pelo Observatório do Comércio, o CISEP‐ISEG e a AC Nielsen, em setembro de  2000, passou pela aplicação de um inquérito aos estabelecimentos do comércio retalhista de artigos de livraria  e  papelaria.  O  seu  principal  objetivo  era  o  de  possibilitar  o  conhecimento  e  a  caracterização  dos  estabelecimentos  existentes.  O  universo  era  constituído  pelos  estabelecimentos  comerciais  em  atividade  e  localizados  no  Continente.  Estes  foram  classificados  em  dois  tipos:  livrarias  e  papelarias,  sendo  que  era  considerada  livraria  o  estabelecimento  que  na  sua  faturação  total  tivesse  pelo  menos  40%  de  volume  de