2. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO SOBRE O SECTOR DO LIVRO: MODELOS E FONTES
3.6. A EDIÇÃO ACADÉMICA
Delimitar a edição dita académica do ponto de vista das editoras e não das obras constitui o presente objetivo de análise39. Vale a pena referir que para tal tentativa se procedeu à pesquisa e cruzamento de diversas fontes, pese embora convenha já sublinhar que a preocupação é ilustrar esta realidade – que não pode ser ignorada – e não recenseá‐la exaustivamente, tarefa que não cabe nos objetivos do presente Inquérito.
Tendo presente que se trata de um levantamento ilustrativo, ele assenta, ainda assim, na consulta e cruzamento de informação proveniente de cinco fontes, a saber:
• Internet. Com o intuito de explorar ou confirmar a existência de editoras e/ou serviços de edição nas instituições de ensino superior; a consulta das páginas que essas instituições e seus departamentos ou faculdades disponibilizam on‐line revelou‐se uma ferramenta central no levantamento efetuado;
• O Programa do 2º Encontro do Livro Universitário de Coimbra 2007 (ELUC) que permitiu identificar 19 editoras “universitárias”;
• Listagem ISBN (outubro 2007) – no sentido de identificar as entidades aderentes que correspondessem a editoras académicas ou universitárias;
• Base de dados das tipografias (doravante designada por TIP)40
– no sentido de detetar o registo das editoras e/ou serviços de edição como depositantes no Depósito Legal (na BNP);
• Base de dados INPI – verificando se as editoras e/ou serviços de edição considerados se encontram registadas enquanto marcas no Instituto Nacional da Propriedade Industrial.
A recolha e progressiva formação do corpus empírico sobre o qual se trabalhou decorreu, simultaneamente, do estudo das várias fontes elencadas. 39 Editoras claramente ligadas às instituições de ensino superior e não as editoras vocacionadas para a edição técnica/científica. 40 Esta base de dados foi facultada ao OAC pela BNP e reporta‐se ao período 2000‐2005. Filtrando a informação pelo campo universidade detetam‐se 81 casos supostamente registados enquanto depositantes no Depósito Legal. O que não significa que exista uma contradição entre esse número e o número de casos encontrado para traçar o perfil da edição académica em Portugal (46). Na dita base parecem encontrar‐se registos referentes a depósitos de teses, apresentando‐se os depositantes como instituições de ensino superior e não como editoras, esse o nosso ponto de partida.
Mas o que entender então por edição académica? À partida são três os critérios que parecem concorrer para orientar uma definição: aquela edição que emana de instituições de ensino superior (universidades, politécnicos, etc.), de obras ligadas às áreas científicas aí ministradas e, por fim, embora não exclusivamente, visando dar voz ou visibilidade pública quer aos trabalhos produzidos no quadro das instituições em causa quer aos seus autores, por regra universitários. De facto, a revisão bibliográfica forneceu outros termos comparáveis acerca da realidade a tratar. Apesar da terminologia scholarly publishing ser, no caso norte‐americano, utilizada por diferentes autores de maneira desagregada, grosso modo dividida em university presses and
commercial academic presses (Coser, Kadushin e Powell, 1982; Greco, Rodríguez e Wharton,
2007: 59), e não obstante se utilizar também a expressão academic publishing, o enfoque aqui assumido aconselha que se retenha um conceito agregado.
Todavia, importa adiantar que, independentemente do país em causa, se trata de uma tradição
universitária, que os séculos têm consolidado, esta de as universidades terem as suas próprias casas editoras, ou imprensas, como antigamente mais frequentemente se designavam (Guedes,
2001: 269). Fernando Guedes refere‐o no âmbito da iniciativa que, por volta de 1998, associou a Universidade Católica Portuguesa e a Editorial Verbo. É porém necessário frisar que esse tipo de articulação (nomeadamente, em regime de coedição) entre quem fornece os conteúdos e os profissionais da edição não será escalpelizado neste contexto.
O produto principal da atividade editorial (e comercial, embora as entidades em causa sejam, geralmente, não lucrativas) centra‐se no livro técnico‐científico e pedagógico (Clark, 2001: 32). Em novembro de 2007 foi constituída através de escritura pública a Associação Portuguesa de Editoras de Ensino Superior41, sendo que a sua congénere espanhola foi criada em 198742 (AEUE, 2006).
A tentativa de caracterização da edição académica em Portugal materializou‐se numa base de dados de 47 registos, possibilitando arrumar diversas características.
Comece‐se por reter um aspeto que, sem a necessária advertência, poderia confundir a interpretação dos dados a seguir feita. Se se contabilizar a presença dos vários registos encontrados de acordo com as fontes (quadro nº 12), logo se constata a não coincidência entre o número de designações – nome por que são conhecidas as editoras e/ou serviços de edição – e respetivas pertenças institucionais43. 41
Esta associação terá nascido do impulso de quatro editoras universitárias, a saber, a Imprensa da Universidade de Coimbra, a Editora da Universidade do Porto, a Universidade Lusíada Editora e as Edições Universidade Fernando Pessoa. 42 A Unión de Editoriales Universitarias Españolas conta presentemente com 58 universidades associadas. 43 Não se conseguiu obter duas designações relativamente às Universidades dos Açores e da Madeira (mesmo através da pesquisa on‐line), apesar das universidades em questão constarem na base de dados do ISBN.
Quadro nº 12 Referências da edição académica em Portugal por Fonte Fonte Número Internet 42 ELUC 19 ISBN 43 TIP 29 INPI 5 Total de referências 47 Fonte: OAC. Mas importa fixar outros aspetos. Das 19 editoras universitárias que assim se apresentaram no ELUC, 3 delas não constam na base de dados do ISBN (Edições da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Edições da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, Sector Editorial da Universidade de Trás‐os‐Montes e Alto Douro). Tendo sido detetado na Internet, para a generalidade dos casos, algum tipo de informação relativamente à editora ou ao serviço editorial em questão, já a pesquisa da fonte INPI pôs a descoberto uma geral despreocupação no registo da marca especificamente para efeitos de edição44. De destacar também que só a Editora UP (Universidade do Porto) integra as diversas fontes consultadas, estando inclusivamente registada como depositante no Depósito Legal, algo que apenas sucede em pouco mais de metade dos casos.
No quadro nº 13 inclui‐se uma listagem das várias editoras e/ou serviços de edição identificados de acordo com a Designação e a Pertença institucional. Mais concretamente, estando a falar‐se de 35 instituições de ensino superior com editoras e/ou serviços de edição, não é raro encontrar‐se para a mesma pertença institucional várias editoras/designações, sendo por exemplo de assinalar para a Universidade do Porto 7 casos. 44 Nos casos da Universidade do Minho e da Universidade de Trás‐os‐Montes e Alto Douro (UTAD) a designação da marca registada corresponde simplesmente à designação institucional das respetivas universidades (aliás, as únicas duas que, tendo participado no ELUC 2007, têm registo de marca).
Quadro nº 13 Editoras académicas por Designação e por Pertença institucional Designação Pertença institucional Desconcentrada Concentrada ‐ Universidade dos Açores Universidade dos Açores ‐ Universidade da Madeira Universidade da Madeira
Edições da Universidade do Algarve Universidade do Algarve Universidade do Algarve Publicações Universidade de Évora Universidade de Évora Universidade de Évora Gabinete Editorial Faculdade de Medicina da Universidade
de Lisboa
Universidade de Lisboa Imprensa de Ciências Sociais Instituto de Ciências Sociais
(Universidade de Lisboa)
Edinova Universidade Nova de Lisboa Universidade Nova de Lisboa Centro Editorial Faculdade de Arquitectura da UTL Universidade Técnica de Lisboa Serviço de Edições Faculdade de Motricidade Humana da UTL ISCSP Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (UTL) IST PRESS Instituto Superior Técnico
Serviços Gráficos da Univ da Beira Interior Universidade da Beira Interior Universidade da Beira Interior Imprensa da Universidade de Coimbra Universidade de Coimbra
Universidade de Coimbra
EDARQ Departamento de Arquitectura da
Universidade de Coimbra
Universidade de Aveiro Edições Universidade de Aveiro Universidade de Aveiro
Editora UP Universidade do Porto Universidade do Porto Edições da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto Edições da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Edições da Faculdade de Letras da Universidade do Porto Faculdade de Letras da Universidade do Porto Edições da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Univ. do Porto Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto FAUP Publicações Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto FEUP Edições Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Sector Editorial da Universidade de Trás‐ os‐Montes e Alto Douro Universidade de Trás‐os‐Montes e Alto Douro (UTAD) Universidade de Trás‐os‐Montes e Alto Douro
Edições Universidade do Minho Universidade do Minho Universidade do Minho Edições Universidade Aberta Universidade Aberta Universidade Aberta
Ediual Universidade Autónoma de Lisboa Universidade Autónoma de Lisboa Universidade Católica Editora Universidade Católica Portuguesa Universidade Católica Portuguesa Edições UFP Universidade Fernando Pessoa Universidade Fernando Pessoa Universidade Lusíada Editora Universidade Lusíada Universidade Lusíada
Edições Universitárias Lusófonas Universidade Lusófona de Humanidades
e Tecnologias Universidade Lusófona
Universidade Portucalense Universidade Portucalense Universidade Portucalense Universidade Moderna Universidade Moderna Universidade Moderna Egas Moniz Publicações Escola Superior de Saúde Egas Moniz
Designação Pertença institucional Desconcentrada Concentrada Centro Editorial do IADE (CEIADE) Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing
Editorial Piaget Instituto Piaget Instituto Piaget
Serviços Editoriais e de Publicações Instituto Politécnico de Castelo Branco Instituto Politécnico de Castelo Branco
Publicações* Instituto Politécnico de Leiria Instituto Politécnico de Leiria Edições IPP Instituto Politécnico do Porto Instituto Politécnico do Porto Centro Gráfico Instituto Politécnico de Setúbal Instituto Politécnico de Setúbal Gabinete de Publicações Instituto Politécnico de Tomar Instituto Politécnico de Tomar Edições ISPGaya Instituto Superior Politécnico Gaya Instituto Superior Politécnico Gaya Centro de Edições Instituto Superior de Psicologia Aplicada Instituto Superior de Psicologia
Aplicada Edições IPAM Instituto Português de Administração
de Marketing
Instituto Português de Administração e Marketing
Publicações* Instituto Superior de Gestão Bancária Instituto Superior de Gestão Bancária ISEL PRESS Instituto Superior de Engenharia de
Lisboa
Instituto Superior de Engenharia de Lisboa
Departamento de Publicações / Edições
ISMAI Instituto Superior da Maia Instituto Superior da Maia
Publicações* Instituto Superior das Novas Profissões Instituto Superior das Novas Profissões
Fonte: OAC.
Notas: (i) A pertença institucional desconcentrada refere‐se a universidades com várias editoras (por exemplo uma por faculdade), ao passo que a concentrada pretende significar que a universidade no seu conjunto optou por uma única entidade editora; (ii) *Os casos com a designação Publicações devem‐se ao facto de ter sido essa a referência que, nos sites das respetivas instituições de ensino superior, permitiu inferir a vertente de edição de livros.
A tal inexistência de normalização acima apontada passa também pelo seguinte: é possível que numa pesquisa via ISBN se encontre a «Edinova» (ligada à Universidade Nova de Lisboa), o mesmo já não sucedendo no caso da «EDARQ», sugerida antes pelo campo «Departamento Autónomo de Arquitectura. Universidade do Minho». Quanto ao «Instituto Piaget», a designação institucional prevalece sobre o termo «Editorial Piaget», não constando este último na base de dados do ISBN. O facto de cada curso, departamento, universidade se poder autointitular enquanto editora não só dá conta da complexidade de pertenças institucionais aqui subjacentes como da maior ou menor centralização/autonomia da edição em cada instituição de ensino superior (Guedes, 2001: 271).
Metodologicamente é também de salientar como uma pesquisa (na base de dados de ISBN) tomando por palavra‐chave «Universidade do Algarve», rapidamente se pode chegar ao seguinte grau de desagregação: «Universidade Algarve»; «Universidade Algarve, Centro Estudos Património»; «Universidade Algarve, Escola Superior Tecnologia»; «Universidade Algarve, Unidade de Ciências Económicas Empresariais», secções que, aquando da pesquisa na Internet, não foi possível identificar como estando autonomamente ligadas à edição.
Algo que remete uma vez mais para a necessidade de relativizar os dados apresentados em tabela, fruto de eventuais limitações das fontes. Porém, tal cautela não põe em causa algumas conclusões mais gerais que os dados carreados sustentam, designadamente: a de que são vários os estabelecimentos de ensino superior que possuem serviços de edição; que as soluções adotadas variam significativamente entre eles, tanto internamente (identificaram‐se duas grandes opções, concentrada e desconcentrada) como externamente (inscrição no ISBN, registo da marca) e que é necessária mais evidência empírica para (recensear e) caracterizar este importante segmento da edição. Finalmente importa ter em conta que não se procuraram identificar eventuais relações preferenciais ou de maior proximidade entre empresas editoras e esta ou aquela universidade, mas sim aquelas entidades editoras assumidas pelas escolas superiores.
3.7. SÍNTESE
O sector da edição de livros, tal como a generalidade dos sectores culturais, é um sector com uma grande dinâmica que se traduz pelo elevado número e grande diversidade de estatutos jurídicos, atividades, e também pelo número de entidades que editam. A ausência de uma definição institucional de “editora” (tal atividade não se encontra regulada) e, consequentemente a inexistência de uma única base de sondagem válida determinou, de forma acrescida, que se procedesse no âmbito do Inquérito ao Sector do Livro, à construção de um conceito operativo, empírico, que tivesse em conta as diversas noções em uso no sector, no sentido de delimitar o que se iria inquirir identificando, simultaneamente, o que ficaria de fora. Essa construção exigiu portanto o cruzamento dos registos de diversas fontes. Diferentes fontes, diferentes critérios, diferentes objetivos, logo, diferentes bases numéricas.
Este cruzamento permitiu, num primeiro momento, controlar a fonte mais fiável, o INE e, num segundo momento, identificar a necessidade de, mantendo a característica de se tratar de empresas sediadas em Portugal, em atividade, acrescentar um subuniverso ao universo do INE – constituído pelas empresas cuja atividade principal é a edição de livros –, subuniverso constituído por empresas editoras com outra atividade principal que não a edição de livros. Acessoriamente, a pesquisa permitiu verificar a relevância de outras fontes, em particular o ISBN, avaliando‐se, enquanto levantamento e identificação de editores, as suas virtualidades e limitações, sendo que estas são, na fase atual, claramente, e por diversos motivos, as prevalecentes. O que não significa que não se tire pelo menos uma conclusão substantivamente importante: a edição de livros, no que toca às entidades envolvidas, está muito para além das
empresas. Não se revelou possível, contudo, aprofundar adequadamente esta consabida conclusão.
Outras abordagens, como a dos grupos empresariais, permitiu evidenciar a necessidade da sua identificação com vista a uma mais eficiente caracterização do sector – uma vez que prevalecem, como é normal, empresas isoladas e empresas integradas em grupos horizontais e verticais, realidade que importa ter em conta.
Ainda quanto ao panorama editorial a abordagem do registo das marcas se revelou significativa do grau de formalização que (não) existe para muitas delas. E, finalmente, a abordagem, ainda que exploratória, da edição académica, permitiu evidenciar a sua relevância do ponto de vista das entidades envolvidas, deixando no ar o mesmo tipo de questões suscitado pelos dados do ISBN: qual será o impacto de tal segmento da edição no mercado nacional e internacional?
4. A COMERCIALIZAÇÃO
Este capítulo trata da comercialização de livros. Sintetizam‐se inicialmente dados sobre as livrarias recolhidos a partir de três fontes (tutela do sector, INE e a APEL) e faz‐se uma pequena referência ao Inquérito Harmonizado às Empresas (INE). Tratam‐se seguidamente as grandes superfícies, sempre do ponto de vista do livro, e outros canais de venda – os canais emergentes. Finaliza‐se com uma breve referência ao comércio eletrónico do livro nos planos nacional e internacional. 4.1. LIVRARIAS Na cadeia do livro uma outra fase de grande importância é a da comercialização. Para além da edição, também esta é objeto do presente Inquérito, na qual se destaca claramente o livreiro, cuja atividade se centra, regra geral, na comercialização ou venda a retalho de livros. De acordo com os três estudos sociológicos sobre a leitura realizados em Portugal (Freitas e Santos, 1992; Freitas, Casanova e Alves, 1997: 40; Santos, Neves, Lima e Carvalho, 2007: 142) as livrarias foram e continuam a ser o principal local para a aquisição de livros. A opção por dar uma particular atenção às livrarias encontra sustentação nos resultados dos estudos sobre a leitura e a procura de livros. Mas ao nível da comercialização deram‐se evoluções relevantes nas últimas décadas. O relatório do Estudo dos Aspectos Económicos da Edição em Portugal, já anteriormente citado, se por um lado parece pôr em causa o significado das livrarias (que teriam sido ultrapassadas, por volta de 1984, pela via postal ou direta, nomeadamente através de clubes do livro, no volume de vendas dos maiores editores), por outro lado permite destacar a relevância desses canais de comercialização (o que o estudo sobre a leitura de 1992 parcialmente confirma, colocando‐os imediatamente abaixo das livrarias nos locais de compra preferidos) por outro lugar – e este é talvez o ponto mais significativo – evidencia claramente as alterações entretanto verificadas nos canais de comercialização (Varela e Ramos, 1984: 21). Ou seja, perderam importância a venda postal ou direta, incluindo os clubes do livro, ganharam peso outras como os super e hipermercados. E sobretudo assistiu‐se a uma enorme pulverização dos locais de venda de livros,
incluindo quiosques, postos de abastecimento de combustíveis, lojas indiferenciadas, sem esquecer, claro, as tradicionais livrarias‐papelarias.
Assim, embora as livrarias sejam o canal de comercialização objeto do presente Inquérito, procurou‐se também não descurar outros canais, incluindo um outro característico dos tempos atuais – o comércio eletrónico.
Em termos metodológicos, tal como com para os editores, também no que diz respeito às livrarias se procurou obter informação que permitisse a quantificação desse tipo de estabelecimentos. Deste modo, constatou‐se a existência de várias fontes, mas, mais uma vez, a inexistência de estatísticas nacionais que permitissem a sua caracterização e a análise da atividade de venda a retalho de livros.
Quanto às fontes inventariadas importa fazer menção, por um lado, tanto às estatísticas provenientes do Cadastro Comercial de empresas (boletim e base de dados on‐line), da responsabilidade da Direcção‐Geral das Actividades Económicas (antiga Direcção‐Geral do Comércio e da Concorrência45), como do relatório Observar o Comércio em Portugal, produzido pelo Observatório do Comércio (2001)46 e, por outro lado, os dados sobre entidades do comércio de venda de livros disponíveis na Direcção‐Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLB), no Instituto Nacional de Estatística (INE) e na Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL). Importa ter desde já em conta que as várias fontes diferem quanto à definição de livraria adotada e à unidade com que operam – a empresa ou o estabelecimento – aspeto relevante uma vez que uma empresa pode ter dois ou mais estabelecimentos.
45
O boletim das Estatísticas do Cadastro Comercial 2000 da Direcção‐Geral do Comércio e Concorrência possibilita o apuramento de informação relativa ao sector do comércio tendo por base o estabelecimento e o pessoal ao serviço. Tendo em conta os indicadores estatísticos, é possível apurar o número de estabelecimentos, pessoal ao serviço e número médio de pessoal ao serviço, estatuto jurídico, distribuição por distrito e concelho, distribuição segundo a atividade económica, e escalão de superfície de exposição e venda. Os dados são obtidos a partir de um ficheiro de natureza administrativa, com informação sobre os Estabelecimentos Comerciais e que é carregado com base nos pedidos de inscrição dos titulares de estabelecimentos comerciais. Este ficheiro foi constituído em setembro de 1986 e tem uma atualização anual. São de ter em conta algumas limitações quer ao nível das variáveis utilizadas para recolher a informação, quer ao nível da atualização dos dados, quer ainda ao nível da maior desagregação da informação por atividade. 46 Relativamente a este relatório sobre o panorama do comércio em Portugal, interessa dar conta da investigação realizada a um dos ramos do comércio retalhista não alimentar analisado, o das Livrarias e Papelarias. Este estudo, realizado pelo Observatório do Comércio, o CISEP‐ISEG e a AC Nielsen, em setembro de 2000, passou pela aplicação de um inquérito aos estabelecimentos do comércio retalhista de artigos de livraria e papelaria. O seu principal objetivo era o de possibilitar o conhecimento e a caracterização dos estabelecimentos existentes. O universo era constituído pelos estabelecimentos comerciais em atividade e localizados no Continente. Estes foram classificados em dois tipos: livrarias e papelarias, sendo que era considerada livraria o estabelecimento que na sua faturação total tivesse pelo menos 40% de volume de