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A  característica  diferenciação  nas  indústrias  culturais  entre  grandes  (majors)  e  pequenas  (independentes,  alternativas)  empresas  está,  como  seria  de  esperar,  igualmente  presente  no  sector do livro.    Commentators generally agree on the fact that small literary publishing houses are more qualified to  play the role of “discoverer”, which is necessary in order to innovate in the domain of books of quality  – all the more since the big and middle‐size publishers, confronted with the competition of the groups,  tend to abandon this function, preferring to confine themselves to reliable values and to administrate  the  acquirements  over  the  quest  of  innovation  (Bourdieu,  1999:  4).  These  small  publishers  have  to  face  material  difficulties  that  the  concentration  of  the  publishing  sector  and  of  the  distribution  has  multiplied  (Schiffrin,  1999).  In  the  case  of  big  and  middle‐size  publishing  houses,  the  tendency  to  delegate the selection and the representation of authors to specialized agents – scouts attached to the  house or independent literary agents – results from this double principle of taking risks and the need  to build the name like a label of quality (Sapiro, 2003: 455).  

 

De  um  modo  geral,  a  indústria  cultural  do  livro  é  conceptualizada  enquanto  sistema  dual,  composto  por  novas  editoras  que  empreendem  estratégias  de  diferenciação  face  aos  grandes  grupos. Pequenos e muito pequenos editores, fortemente especializados, dirigidos a nichos de  mercado, geralmente com uma baixa produção de títulos versus as grandes empresas que visam  os  mercados  nacionais  e  internacionais,  com  produtos  estandardizados  de  grande  série  (Legendre, 2006). 

Sophie Noël (2006) – tal como, aliás, Barluet (2007: 16) – apresenta o campo da edição francesa  como um oligopólio com franjas, isto é, uma estrutura assimétrica onde coexistem dois grandes  grupos  dominantes  (Hachette  e  Editis),  com  um  pequeno  leque  de  editoras  independentes  de  média  dimensão  (Gallimard,  Albin  Michel,  Flammarion,  etc.)  e  com  uma  multiplicidade  de  estruturas mais ou menos «artesanais» – que não pertencem a nenhum grupo empresarial e/ou  sem a participação de capital exterior –, financeiramente frágeis, praticamente no polo oposto  ao  movimento  de  racionalização  económica  do  sector.  O  modo  de  funcionamento  não  hierarquizado é outra das características sublinhadas por Noël. 

A estrutura do sector editorial é assim caracterizada como sendo um oligopólio com franjas, em  que  um  pequeno  conjunto  de  grandes  empresas  concentra  a  maioria  dos  movimentos  do  mercado e que, normalmente, estão verticalmente integradas. À sua volta orbitam pequenas ou  médias  estruturas  que  se  encontram  dependentes  em  termos  de  distribuição,  constituindo  a  franja  concorrencial.  Esta  franja  é  a  responsável  pelas  formas  mais  inovadoras  de  lidar  com  o  produto na sua fase de produção, estratégia que não é adotada pelas grandes empresas onde 

têm  muito  mais  a  arriscar  e  as  perdas  seriam  substancialmente  maiores,  adotando  assim  estratégias mais conservadoras, podendo adotar as inovações numa fase posterior (Benhamou,  1996: 68‐79).  

No  retalho,  a  existência  de  concentrações  também  tem  impacto.  A  distribuição  tenta  monopolizar  as  livrarias  levando  a  uma  rápida  rotação  do  produto  e  também  a  um  empobrecimento  da  oferta  (Benhamou,  1996:  68‐79).  Num  revisitar  ao  seu  quadro  de  abordagem às indústrias culturais, Paul M. Hirsch enfatiza a importância das dinâmicas do sector  da  distribuição,  descrevendo  que  em  termos  de  temporalidade  esse  movimento  se  registou  primeiro  no  sector  da  distribuição  e  seguidamente  no  retalho,  e  uma  vez  que  o  custo  de  produção do livro decresce dadas as novas tecnologias, a distribuição torna‐se um ponto fulcral  para as organizations seeking to reduce uncertainty over the outcome of their investments. (...) It 

still  costs  far  less  to  produce  many  books  (…),  than  it  costs  to  distribute  and  retail  them.  Competition in the industry is thus far more focused in this latter activity (Hirsch, 2000: 357‐358). 

Algumas das perguntas que se colocam a propósito de uma dada indústria são: quanto rende a  sua atividade, qual a sua contribuição para o PIB, ou qual o seu crescimento anual. Porém, como  afirma  Hjorth‐Andersen,  não  é  fácil  obter  bons  dados  sobre  a  indústria  editorial  (Hjorth‐ Andersen,  2000).  Este  fator  limita  necessariamente  a  interpretação  que  se  possa  fazer  do  panorama geral do sector inserido no das demais indústrias culturais, em termos quantitativos.  Numa  apreciação  qualitativa  e  apoiada  pelo  trabalho  de  Alduán  relativamente  à  realidade  espanhola em 1990, o estatuto do livro entre as restantes indústrias culturais tem a paradoxal  posição de por um lado ser a indústria mais respeitada, a que oferece las mayores garantías de 

veracidad, profundidad y capacidad de archivo y sedimentación. Pero al mismo tiempo, es la que  atrae una menor atención por parte del conjunto de los consumidores (Alduán, 1993). Ainda de 

acordo  com  o  autor,  uma  das  características  do  sector  é  a  relativa  facilidade  de  entrada  no  negócio de edição e produção, quando comparado com outras indústrias culturais.  

Como  consequência  desta  facilidade  de  encetar  atividade  no  ramo,  Alduán  indica  fenómenos  como  a  proliferação  de  empresas  editoriais  assim  como  o  encerramento  de  muitas  outras,  a  multiplicação  da  entrada  de  novos  títulos  no  mercado  que  consequentemente  complexifica  a  distribuição  e  toda  a  estrutura  de  comercialização.  Este  aspeto  também  apresenta  algumas  consequências a nível cultural, surgindo o livro como símbolo de riqueza cultural, abertura social  a  novas  ideias,  diversidade  cultural,  aspetos  que  não  podem  ser  veiculados  através  de  outras  indústrias culturais.  

Hirsch, referindo‐se também à facilidade de edição e à consequente dificuldade de distribuição  na indústria livreira, analisa a estratificação da indústria que acredita basear‐se principalmente  na  capacidade  de  controlar  a  distribuição  de  produtos  marginalmente  diferenciados,  ou  seja  a  vantagem competitiva reside na habilidade de atribuir ao input um canal de distribuição fiável e  consolidado. Referindo‐se diretamente ao produto livro, o autor afirma que, para a maioria dos 

títulos, a distribuição é limitada, deficiente e cara. Parcialmente esta fragilidade da distribuição  resulta  da  força  da  edição,  da  força  da  indústria  livreira.  Citando  Dan  Lacy,  Hirsch  resume  a  questão  afirmando  que  if  it  were  harder  to  get  a  book  published,  it  would  be  easier  to  get  it 

distributed (1972: 646).      1.4. INCERTEZA NO SECTOR DO LIVRO DO PONTO DE VISTA DO PLANEAMENTO ESTRATÉGICO    O conceito de incerteza surge recorrentemente, como ficou patente, nas abordagens gerais das  indústrias culturais ou criativas (conforme o enfoque) e do sector do livro em particular. 

Entre  outros  autores,  Jauch  e  Kraft  (1986)  problematizam  esta  questão  do  ponto  de  vista  do  planeamento  estratégico,  ou  seja,  a  nível  interno  (ou  organizacional)  e  a  nível  externo,  no  ambiente em que a organização se insere. 

Internamente a redução dos níveis de incerteza pode dar‐se principalmente através da obtenção  de conhecimento sobre as operações da organização. A incerteza pode ser provocada por uma  ineficiente  circulação  da  informação,  ou  por  a  estrutura  organizacional  de  veiculação  de  informação interna facilitar essa ineficiência, casos de estruturas piramidais. 

O  contributo  de  Mintzberg  acrescenta  a  seguinte  perspetiva  à  questão:  a  organização  reduz  a 

incerteza isolando aquele centro [técnico equivalente ao centro operacional] do ambiente que o  rodeia,  a  fim  de  proteger  as  atividades  operacionais  (Mintzberg,  1995:  41).  Outras  fórmulas 

adotadas passam por formas de antecipação, planeamento, constituição de stocks, manutenção 

preventiva, a regulação da produção, a recolha de informações (Mintzberg, idem), plenamente 

aplicável à estrutura do mercado no sector do livro. Nesta tentativa de controlo da incerteza a  nível interno, a proteção do centro operacional pode levar a um fechamento e rotinização das  funções que dificulta a penetração de novas práticas e ferramentas de produção. 

No  caso  específico  destes  cenários  serem  aplicados  a  uma  estrutura  editorial  surgem  algumas  questões:  Até  que  ponto  as  diferentes  formas  de  circulação  da  informação  podem  afetar  o  produto  final?  Qual  será  a  estrutura  de  decisão  mais  bem‐sucedida  para  o  produto:  diretrizes  muito  específicas  sobre  o  resultado  final  ou  a  autonomia  nas  várias  fases  de  produção?  E  funcionará  de  forma  invariável  nos  diferentes  géneros  considerados  (literatura  geral,  manuais  escolares,  académicos  e  técnicos…)?  Por  exemplo,  com  a  presença  das  novas  tecnologias  aumenta  também  o  grau  de  especialização  das  funções  de  certos  agentes,  em  que  necessariamente existe um desconhecimento de know‐how por parte de outros intervenientes  nos  diferentes  estádios  do  processo.  Será  esta  também  uma  fonte  de  incerteza  a  ter  em  consideração em algum momento da cadeia? 

Por sua vez, a redução dos níveis externos de incerteza faz‐se através do conhecimento sobre o  ambiente em que se insere a organização. Os agentes do sector na posse de informação, não só  possuem  uma  ferramenta  de  estruturação  de  sentido  desse  sector,  como  essa  informação  também  lhes  confere  poder  sobre  o  ambiente  que  os  rodeia,  permitindo‐lhes  reagir  proactivamente. 

Mas no sector cultural, e aqui em particular no caso do sector do livro, o problema adensa‐se.  Vender livros não será o mesmo que vender cornflakes. Each book is unique, a new product in 

the market place of ideas, and supply and demand in book publishing operates in a profoundly  different  manner  than  in  other  industries  (Greco,  Rodríguez  e  Wharton,  2007:  29).  Os 

consumidores  não  sabem  se  irão  gostar  do  livro  antes  deste  ser  publicado,  assim  como  os  editores  não  sabem  antecipadamente  se  os  consumidores  vão  gostar  do  livro  ou  não:  the 

knowledge needed to predict in advance which new book will or will not be successful is unknown  and  unknowable;  and  anything  can  happen  once  a  book  is  placed  on  sale  (…)  there  are  no  formulas  for  success  (Greco,  Rodríguez  e  Wharton,  2007:  30).  Os  consumidores  estão  em 

permanente busca de informação atualizada sobre novos livros – quer seja através de críticas,  publicidade, indicações mais informais por parte de familiares, amigos ou colegas, pelas capas,  publicidade nas lojas, televisão, conferências do autor, grupos na Internet, etc.  Para Mintzberg e Waters a estratégia (de futuro da empresa) é pensada como força mediadora  entre a organização e o seu meio envolvente ou, dito de outro modo, trata‐se de um padrão no  processo de tomada de decisões organizacionais para fazer face ao contexto em que se insere  (Mintzberg e Waters, 1985). Supondo uma atitude ativa de permanente adaptação aos desafios  externos, os autores destacam as decisões e ações que vão sendo levadas a cabo nesse sentido,  obviamente  na  dependência  das  particularidades  do  contexto  mas  igualmente  condicionadas  pelos  atributos  da  própria  organização  (tamanho,  capacidades  materiais  e  humanas,  organizacionais, etc.). 

Porque  um  livro  depende  de  uma  estratégia  e  participa  na  sua  construção,  Paul  Dirkx  vem  precisamente chamar a atenção para o interesse de escalpelizar o que designa por estratégias  editoriais  au  sein  même  des  structures  éditoriales  en  activité  (Dirkx,  1999:  70),  só  que  de  um  ângulo  de  abordagem  inovador,  longe  de  uma  leitura  estritamente  económica/mercantil  –  la 

notion  de  stratégie  prend  alors  toute  son  importance  puisqu’il  ne  s’agit  plus  seulement  de  répondre  à  un  marché,  mais  aussi  de  répondre  à  des  concurrents  (Dirkx,  1999:  71)  –,  agora 

também  apostada  em  apreender  aspetos  (internos)  de  natureza  relacional  (sem  esquecer  o  respetivo capital social e simbólico associado), motivacional, superando‐se assim um conceito de  estratégia que désigne simplement, la plupart du temps, l’adaptation aux évolutions du marché  (Dirkx, 1999: 70). 

1.5. REGIMES DE INFORMAÇÃO DE MERCADO   

Os regimes de informação de mercado, para além de serem uma ferramenta necessária para o  enriquecimento  e  organização  dos  mercados,  são  também  um  processo  de  legitimação  dos  mesmos.  Os  campos,  neste  caso  os  mercados,  só  produzem  informação  se  se  constituírem  enquanto  tal.  A  apreensão  e  conhecimento  do  mercado  ocorrem  através da  criação, difusão e  interpretação da informação propositadamente compilada sobre e para determinado mercado.  Consequentemente  a  interpretação  feita  da  informação  veiculada  será  influenciada  pelo  contexto,  que  pode  assumir  a  forma  organizacional,  política,  cultural,  mas  esta  informação  poderá  sempre  ser  e  tem  como  objetivo  transformar  de  alguma  forma,  consolidando  até,  a  perspetiva  dos  agentes  do  meio.  Independentemente  da  forma  que  tome,  a  informação  serve  para reduzir os níveis de incerteza que os agentes têm relativamente ao mercado. As fontes da  informação  tanto  podem  ser  os  pares  profissionais  ou  do  campo,  como  relatórios  de  vendas,  informação de inventários, tabelas de vendas, artigos de imprensa, ou até meros rumores com  ligações  a  percursos  de  ação  passados,  presentes  e  mesmo  futuros  (Anand  e  Peterson,  2000:  272). 

Segundo  Anand  e  Peterson  os  regimes  de  informação  de  mercado  têm  três  características.  A  primeira é serem estes regimes informativos a providenciar o foco de atenção necessário para  que  um  campo  organizacional  se  estruture  em  redor  do  seu  centro,  a  informação  sobre  o  mercado.  Em  segundo  lugar,  ajudam  os  participantes  ou  agentes  do  campo  a  produzir  sentido  sobre a atividade do mercado em que se encontram, sendo que esse processo de fabricação de  sentido é influenciado pela metodologia, pela abordagem e por todo o contexto de recolha da  informação.  Finalmente,  os  regimes  de  informação  são  política  e  socialmente  construídos,  estando  carregados  de  assunções  tomadas,  à  partida,  como  garantidas.  Uma  afirmação  dos  autores resume talvez com maior clareza o estatuto da informação sobre o mercado nos campos  competitivos:  market  information  is  the  prime  source  by  which  producers  in  competitive  fields 

make sense of their actions and those of consumers, rivals, and suppliers that make up the field 

(Anand e  Peterson,  2000:  271).  Ou  seja, é  também  uma  poderosa  ferramenta  de  estruturação  dos  campos  competitivos  e  concorrenciais  uma  vez  que  cartografa  as  posições  relativas  dos  vários intervenientes no campo. 

Um  regime  de  informação  de  mercado  implica  uma  atualização  regular  sobre  a  atividade  do  mercado,  com  informação  produzida  por  um  fornecedor  independente,  apresentada  de  forma  inteligível  com  uma  frequência  consistente,  disponível  para  todas  as  partes  interessadas  a  um  custo acessível. 

Assim  desenhado  o  cenário  teórico  de  necessidade  de  informação  de  mercado,  para  que  se  possa legitimar enquanto tal, mas também estruturar‐se, organizar‐se, centrar‐se no seu objeto  e respetivos concorrentes, a informação que possa ser proporcionada por análise estatística ao