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M EDIDAS DE I NTERVENÇÃO E O BTENÇÃO DO R ISCO DE I NCÊNDIO I NTERVENCIONADO

MEDIDAS DE INTERVENÇÃO

A intervenção no edificado já existente é utilizada, no âmbito da Segurança Contra Incêndios em Edifícios, como forma de reduzir o Risco de Incêndio verificado. A realização de obras tem como consequência a alteração das características do edifício que, anteriormente, tiveram influência no primeiro resultado da avaliação do risco de incêndio. Através da análise dos resultados dos fatores parciais é possível determinar os que influenciaram negativamente o resultado do RI. Assim, a escolha das medidas de intervenção a implementar deverá ser feita de forma estratégica, optando pelas medidas menos invasivas e, na maioria das vezes, mais económicas.

No painel 4 do Software, apresentado na Figura 5.1, torna-se possível simular o resultado da implementação de um total de 31 medidas de intervenção escolhidas consoante a preferência do utilizador. Em alternativa é possível optar pela seleção de um dos seis conjuntos pré-definidos, apresentados na Figura 5.2. Estes conjuntos foram criados, dependentes de cada utilização-tipo, de forma a facilitar a abordagem iterativa até obter o Risco Aceitável, podendo ainda cada conjunto ser alterado em uma ou mais medidas ativas e passivas.

É também apresentado no referido painel o valor do risco de incêndio resultante da avaliação, bem como o valor do risco de incêndio aceitável e do risco de incêndio intervencionado.

Figura 5.1 – Painel 4 do modelo CHICHORRO destinado à seleção das medidas de intervenção

DEFINIÇÃO E APLICAÇÃO DE CONJUNTOS DE MEDIDAS DE INTERVENÇÃO

Como referido anteriormente, o Software associado ao modelo CHICHORRO permite efetuar uma pré- seleção de medidas de intervenção agrupada em seis conjuntos. Desta forma, é possível ao utilizador uma análise comparativa mais uniforme entre as diferentes medidas a aplicar nos edifícios e o respetivo custo associado. Assim, o conjunto 1 assume-se como sendo o que compreende as medidas economicamente mais viáveis e o conjunto seis o que representa um maior custo. Será então possível entender que à medida que se avança no conjunto escolhido, o risco de incêndio será sequencialmente mais baixo até atingir o mínimo, correspondente ao conjunto de medidas número 6.

Para efeito de seleção do conjunto de medidas a aplicar em cada edifício, foi definido como critério de escolha o primeiro conjunto, pela respetiva ordem, que permita estabelecer o valor de risco de incêndio após intervenção numa cotação igual ou inferior ao valor de risco de incêndio aceitável apresentado no modelo. No caso dos edifícios que desde logo apresentaram um risco de incêndio igual ou inferior ao valor aceitável, o autor opta por não considerar a necessidade de intervenção e respetiva apresentação na carta de risco de incêndio. Não obstante os valores da realização de possíveis intervenções encontram- se igualmente disponíveis na folha de cálculo. Na mesma folha, as células com os valores escolhidos encontram-se representadas, com cor verde, na zona destinada aos valores de risco de incêndio resultantes da aplicação de medidas de intervenção.

Para definir os custos de intervenção por metro quadrado, associados a cada conjunto de medidas, o autor tem por base o estudo elaborado por Ferreira [43]. Estes mesmos valores, assim como as medidas

de intervenção apresentados na Figura 5.2, dizem respeito ao edificado que após a análise se considerou como sendo de utilização-tipo condicionante: Tipo I, habitação. Assim, e tendo em conta a área do edifício, é possível estimar o valor necessário em intervenções para que um determinado edifício se situe numa boa posição, no que à avaliação de risco de incêndio diz respeito.

Figura 5.2 – Medidas de Intervenção (ativas e passivas) associadas aos conjuntos de Intervenção para habitação

As medidas de intervenção a utilizar na redução do risco de incêndio encontram-se agrupadas em medidas de proteção ativas e passivas. As medidas ativas dizem respeito, entre outras, à deteção, alarme e extinção do incêndio, enquanto que as medidas passivas se relacionam com os meios de evacuação, com a compartimentação, que restringe ou retarda o desenvolvimento do incêndio, e proteção dos elementos estruturais do edifício, etc.

Independentemente da complexidade de implementação das medidas, todas têm em comum entre si o foco em conseguir atingir 5 objetivos principais:

• Redução do risco de ocorrência do incêndio: Possível de se conseguir através do melhoramento das condições existentes no edifício e da sensibilização da população para o perigo inerente aos comportamentos comuns do quotidiano. Assim, as medidas associadas à diminuição deste risco prendem-se com formação, revisões às instalações elétricas, de gás e de equipamentos AVAC (Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado);

• Redução do risco de colapso dos elementos de suporte: Assume-se como um objetivo de extrema importância, pelo facto de um eventual colapso da estrutura representar a destruição parcial ou total do edifício, ou até a perda de vidas. A redução do risco de colapso poderá ser conseguida com a implementação de medidas, nomeadamente a redução de infiltrações, compartimentação das lajes, selagem dos ductos piso a piso;

• Limitar a propagação e desenvolvimento do incêndio: No decorrer de um incêndio num edifício, a propagação e desenvolvimento poderá ocorrer pelo interior ou pelo exterior do mesmo, pelo que as medidas de intervenção a adotar serão diferenciadas para cada uma das situações. A propagação do incêndio pelo interior do edifício poderá ocorrer através da caixa de escadas ou dos pavimentos, propagando-se o incêndio entre pisos consecutivos, pelo que as medidas a adotar serão a dotação de extintores em pontos estratégicos do edifício, a existência de uma rede de extinção automática (Sprinklers), a compartimentação da caixa de escadas com recurso a portas corta fogo e a selagem dos ductos piso a piso. No caso da propagação e desenvolvimento do incêndio ocorrer pelo exterior do edifício, as medidas a implementar serão a proteção dos vãos, no caso de existirem edifícios fronteiros, e a proteção da cobertura e empena para os edifícios contíguos;

• Promover a evacuação dos ocupantes de forma segura e no menor tempo possível: Em caso de incêndio, a evacuação das pessoas presentes no edifício é essencial para que deste não resultem vítimas. A abundância de fumo acumulado no interior do edifício é uma das principais dificuldades sentidas no momento da evacuação, tanto pelo facto de ocorrer inalação do mesmo, como pelo facto de este poder provocar desorientação. Assim, as medidas com mais impacto para uma evacuação rápida e segura prendem-se com a implementação de sinalização e iluminação no cenário de incêndio e nas vidas de evacuação, bem como o controlo de fumo através de entradas de ar. É ainda importante que as pessoas tenham conhecimento dos procedimentos a tomar, pelo que a formação e a realização de simulacros se torna numa mais valia preciosa em caso de incêndio;

• Facilitar o combate ao incêndio por parte das corporações de bombeiros: Com principal enfoque nos centros históricos, com ruas de difícil acesso a veículos de grande porte, a rápida intervenção dos bombeiros é fulcral na extinção do incêndio. Desta forma, as medidas de intervenção a promover para facilitar o combate ao incêndio prendem-se com a redução de estacionamento em ruas estreitas e com a existência de hidrantes a uma distância inferior a 30 metros.

APRESENTAÇÃO DA CARTA DE RISCO DE INCÊNDIO INTERVENCIONADA

Atendendo às considerações anteriores elaborou-se uma carta de risco de incêndio dos edifícios que necessitavam de intervenção, de forma a aproximar o seu risco de incêndio a valores considerados aceitáveis. Na Figura 5.3 encontra-se apresentada, à esquerda, a carta de risco de incêndio do edificado existente, e à direita, a Carta de Risco de Incêndio depois de aplicadas as medidas de intervenção, permitindo assim uma análise comparativa entre as mesmas.

A partir da análise das cartas de risco de incêndio, antes e depois de previstas medidas de intervenção, é possível verificar que, à exceção dos edifícios que previamente apresentaram um valor de RI inferior ao aceitável e que por isso não foram sujeitos à simulação de medidas, todos melhoraram a sua classificação. A predominância de edifícios com risco de incêndio elevado deu lugar a um número bastante expressivo de edifícios com risco de incêndio pequeno e aceitável.

O motivo pelo qual em determinados edifícios não se ter verificado, em comparação com os restantes, uma alteração substancial do valor de RI e respetiva escala de risco, prende-se com o facto de à partida estes edifícios terem apresentado um valor mais próximo do aceitável, sendo assim necessária uma menor diminuição do risco de incêndio para atingir o patamar de risco de incêndio aceitável.

ANÁLISE DO RISCO DE INCÊNDIO ANTES E DEPOIS DA APLICAÇÃO DE MEDIDAS DE INTERVENÇÃO

Com recurso à Figura 5.4 e à Figura 5.5 é possível comparar a evolução positiva inerente à aplicação das medidas de intervenção. As categorias de risco mais gravosas, D, E e F, deixam de existir, dando lugar a um aumento significativo de edifícios com risco de incêndio baixo e aceitável.

Figura 5.4 – Distribuição percentual da Classificação do Risco de Incêndio antes e depois da Intervenção

Figura 5.5 – Número de edifícios por classificação de risco de incêndio antes e depois da Intervenção

Da análise das figuras anteriores é possível observar que a aplicação de medidas de intervenção no edificado em estudo induz uma alteração significativa na distribuição dos mesmos pelas diferentes escalas de risco de incêndio.

No que diz respeito à classificação A+ +, que distingue o edificado com RI ≤ 0,90, não existe correspondência com qualquer edifício, antes ou depois da simulação da aplicação de medidas preventivas. Tal facto prende-se com a metodologia utilizada pelo autor, que atribui a escolha ao primeiro conjunto que cumpre o valor de risco de incêndio aceitável. Não obstante, é de salientar que é acessível atingir valor de RI ≤ 0,90, bastando em muitos casos, escolher o conjunto de medidas de intervenção imediatamente seguinte. No caso dos edifícios com classificação A+ constata-se um aumento de 9%, correspondente a um acréscimo de 13 edifícios. No que diz respeito à classificação A, na qual não existe indicação de qualquer edifício antes de simulação, verifica-se um aumento de 16%,

equivalente a 24 edifícios. É igualmente constatável um aumento de edifícios correspondentes às escalas B+, B e B-. Nas restantes escalas ocorre uma diminuição do número de edifícios, encontrando-se escalas de risco de incêndio do tipo C-, D, E e F sem qualquer correspondência após a simulação da aplicação das medidas de intervenção. É ainda possível verificar o número de edifícios devolutos e em reconstrução, que por não serem sujeitos a análise de risco de incêndio, não sofrem alterações.

Desta forma, é possível concluir que a aplicação de medidas de prevenção e de proteção propostas pelo modelo CHICHORRO 2.0 são válidas e demonstram uma grande eficácia na diminuição do risco de incêndio do edificado, nomeadamente nos casos que despertam maior atenção.

ANÁLISE DOS CONJUNTOS DE MEDIDAS DE INTERVENÇÃO APLICADOS NO CASO DE ESTUDO

Como já referido anteriormente, o modelo CHICHORRO 2.0 faz referência a seis conjuntos de medidas de intervenção com o objetivo de diminuir o valor do risco de incêndio do edificado, cada uma com um custo associado.

Para uma melhor perceção das necessidades de intervenção dos edifícios presentes na área de estudo realizou-se uma análise ao número de vezes que foi necessário utilizar um determinado conjunto de medidas de intervenção, apresentada na Figura 5.6.

Figura 5.6 – Número de edifícios por classificação de risco de incêndio antes e depois da Intervenção

Através da análise da figura anterior é possível verificar que apenas 12 edifícios não necessitam de qualquer medida de intervenção na análise elaborada pelo autor, pelo fato do valor de risco de incêndio atual já se encontrar abaixo do valor de risco de incêndio aceitável. Não obstante, proceder à implementação de determinadas medidas será sempre uma mais valia na prevenção de eventuais incêndios.

No que diz respeito aos restantes edifícios, dos quais se exclui os 15 edifícios devolutos e os 6 edifícios que se encontram atualmente em reabilitação pelos motivos já descritos nesta dissertação, torna-se evidente que a maioria significativa dos edifícios apresentam valores satisfatórios com a aplicação dos primeiros três conjuntos de medidas de intervenção. Por outro lado, apenas 20 edifícios necessitam de maior intervenção, sendo que 4 só conseguem cumprir com o valor de risco de incêndio aceitável depois da implementação do conjunto de medidas de intervenção de nível seis.

CUSTOS ASSOCIADOS À IMPLEMENTAÇÃO DE MEDIDAS DE INTERVENÇÃO NOS EDIFÍCIO

De forma a entender a viabilidade económica associada à implementação das medidas de intervenção na zona de estudo, procedeu-se à análise e estimativa de custo por edifício, utilizando os custos por metro quadrado disponibilizados no Software CHICHORRO 2.0.

De acordo com o critério definido pelo autor, que simula a implementação de medidas de intervenção apenas nos edifícios com valor de Risco de Incêndio superior ao valor de Risco de Incêndio Aceitável, a análise de custos foi realizada para 114 edifícios, representando um investimento global na ordem dos 2 500 000 €. Assim, a média de custo estimada para cada edifício é de cerca de 21 000 €.

Considerando que os valores anteriormente descritos têm como objetivo a preservação da vida humana e do património edificado, torna-se evidente que o investimento a realizar é totalmente viável.

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CONCLUSÕES E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS