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3.1 Edifícios no passado

3.1.2 Edifícios tradicionais em Portugal

Para introduzir a temática, apresento um extrato do livro “Casas Portuguesas” editado inicialmente em 1933 [21]. Este extrato revela e resume a arquitetura das “simpáticas casinhas” Portuguesas.

“Essas simpáticas casinhas à beira da estrada, ou entre os campos, melhor nos revelam o seu português sentido. Que alegres no seu variado matiz; que acomodadas nas proporções; que graça, que modéstia e contentamento não respiram! Nada têm de forçado ou de menos seguro efeito; tudo parece nascido do próprio lugar com naturalidade. Parece que estas casas eram dotadas de uma espécie de bom-senso que as impedia de tomar atitudes agressivas, na forma ou na cor, que incomodam o viandante, que nenhuma obrigação tem de aturar extravagâncias e imbecilidades” [Lino 1992 (1983):73]

A arquitetura tradicional existente em Portugal é muito diversificada, varia consideravelmente dependendo da sua localização geográfica. Os dois elementos com maior influência nas construções tradicionais existentes são os aspetos climáticos do local e o tipo de matéria- prima existente.

Relativamente ao clima, na Figura 3.8, apresentam-se três mapas de Portugal, com a isolação, temperatura média do ar e precipitação >=1 mm anual.

Fonte: Adaptado de http://www.meteo.pt/pt/ (Consultado em 27/03/2012)

Analisando a figura, verifica-se que, quanto maior a aproximação ao Sul, maior o número de horas anuais de sol, maior a temperatura média do ar e menor precipitação.

Segundo o Geógrafo Português Orlando Ribeiro, Portugal tem um Clima Temperado Mediterrânico (à exceção de locais de maior altitude e grande parte do arquipélago dos Açores) e divide-se em três zonas distintas: Norte Litoral, Norte Interior e Sul. Na Figura 3.9, apresenta-se Portugal Continental dividido pelas respetivas zonas climáticas.

Figura 3.9 – Divisões Climáticas de Portugal Continental Norte Litoral: Clima temperado

mediterrânico com influência marítima

Sul: Clima temperado mediterrânico com fortes influências mediterrânicas

Norte Interior: Clima temperado com influência continental

Outro aspeto bastante importante que influenciou a construção tradicional Portuguesa foi a sua litologia. No nosso Pais predominam as rochas eruptivas e metamórficas como é o caso dos granitos, xistos, mármores e aglomerados de quartzo, ver Figura 3.10. A matéria-prima essencial para a construção das habitações era retirada dos locais próximos da sua construção, daí as habitações estarem enquadradas no ambiente onde se integram.

Figura 3.10 – Litologia de Portugal Continental

Fonte: Adaptado de http://nelsonlirarochas7.yolasite.com/geoportugal.php (Consultado em 27/03/2012)

Diferenças da habitação Portuguesa de Norte a Sul

 Norte Litoral (Minho)

A predominância de rocha granítica nesta região foi determinante para o tipo de construção tradicional. As casas típicas das aldeias eram em granito com telhados de colmo, que vieram a ser substituídos por telha posteriormente. As principais características destas habitações são: Grandes lajes de pedra, grandes blocos quadrangulares de granito, para constituição das paredes principais, cobertura inclinada de quatro águas, com beiras salientes para melhor escoamento da chuva, chaminé estreita, acima do cume do telhado, forro no telhado por cima dos barrotes e varandas compridas em granito ou madeira com envidraçado. Na Figura 3.11, pode-se observar um exemplo da casa típica desta região.

Figura 3.11 – Habitação tradicional do Norte Litoral Fonte: Adaptado de http://www.planetaciencia.org (29/03/2012)

Geralmente as habitações eram de dois pisos, no rés-do-chão ficavam arrecadações para guardar utensílios agrícolas e criação de animais, como vacas e porcos. No piso superior encontravam-se os quartos, a sala e cozinha.

O norte litoral é uma zona com um clima húmido de pluviosidade elevada e os seus edifícios eram adequados a esses fatores climáticos.

 Norte interior (Trás-os-Montes)

Nesta zona do País, a rocha predominante é o xisto, embora existam pequenas zonas graníticas. A casa típica transmontana era dividida essencialmente em dois tipos: a casa serrana e a casa alpendrada. As principais características deste tipo de habitação eram: Construção em blocos de xisto, escadas de pedra, alpendre coberto e telhado pouco inclinado de duas águas com cobertura em xisto. Na Figura 3.12, pode-se observar um exemplo da casa típica desta região.

Fonte: Aptado de http://www.planetaciencia.org/ (Consultado em 29/03/2012)

À semelhança das habitações minhotas, as transmontanas eram constituídas por rés-do-chão e primeiro andar. O piso inferior destinava-se a arrecadações e à criação de gado, que por sua vez, servia para aquecer o piso superior onde se encontravam os quartos, cozinha e sala.

Nesta região, o Inverno é muito rigoroso e o verão muito quente e seco. A estrutura das habitações estava adaptava a este clima, as paredes de grande espessura, de grande inércia

térmica, protegiam os seus moradores do frio no Inverno e conservavam as casas frescas durante os dias quentes de Verão.

 Beiras

Nas Beiras, existem duas rochas predominantes, o Xisto e o Granito. Daí existir construção apenas em Xisto, apenas em Granito ou uma mistura das duas rochas. A casa típica Beirã dividia-se essencialmente em três tipos: a casa da lavoura, habitação com varanda envidraçada e casa dos judeus. Estas habitações possuem algumas características muito próprias, no entanto, na sua generalidade eram constituídas por: Chão de terra batida ou lajado a xisto, paredes de xisto e/ou granito, escadas na fronteira da casa, molduras das portas e janelas caiadas, telha assente sobre ripado de madeira. Na Figura 3.13, pode-se observar um exemplo de casa típica beirã.

Figura 3.13 – Habitação tradicional Beirã Fonte: Aptado de http://www.planetaciencia.org (Consultado em 29/03/2012)

A habitação Beirã tinha uma compartimentação bastante semelhante às outras regiões do Norte do país. Interiormente as paredes e o soalho da casa eram em madeira de pinho assentado em barrotes de castanho. Uma característica curiosa de algumas habitações era a não existência de chaminés, os fumos saiam diretamente pelas frinchas das telhas.

 Estremadura e Ribatejo

Na zona do Ribatejo, os terrenos são predominantemente argilosos e calcários, tendo uma pequena porção de xisto. Nesta região existem casas com diversas características, dependendo da zona. Numa muito específica, Marinha grande, as habitações são em madeira e construídas sobre estacas para evitar acumulação de areias. No entanto, a casa típica ribatejana é normalmente pequena e térrea, constituída por telhado de duas águas com cobertura em telha canudo, chaminés alongadas e paredes caiadas com rodapé vermelhão, ocre azul ou verde. A construção era feita em adobe, blocos de massa constituídos por areia e brita ligados entre si com argila. Na Figura 3.14, pode-se observar um exemplo de uma casa típica ribatejana.

Fonte: Adaptado de http://www.planetaciencia.org (Consultado em 29/03/2012)

Devido ao clima ser quente e seco, a habitação ribatejana normalmente era pintada de cor clara, usualmente branco, para refletir a luz solar e assim tornar o edifício mais fresco.

 Alentejo

A zona alentejana é caraterizada pelas suas grandes planícies, sendo o seu clima quente e seco. As habitações eram caiadas de branco para refletir os raios solares, as paredes eram construídas essencialmente de tijolo ou taipa, o telhado geralmente tinha duas águas com forro de canas para isolar do calor, possuíam enormes chaminés, as janelas eram de pequena dimensão, para manter a casa fresca. Curiosamente, os seus moradores pintavam faixas azuis e amarelas em torno das janelas e portas, para proteger o interior da casa da entrada de insetos, pois estes são atraídos pela cor branca. Na Figura 3.15, pode-se observar um exemplo de uma casa típica Alentejana.

Fonte: Aptado de www.planetaciencia.org (Consultado em 29/03/2012)

 Algarve

Nesta zona do país, os terrenos são predominantemente de xisto e calcário e à semelhança do Alentejo, o clima é quente e seco. A arquitetura tradicional algarvia, tem uma forte influência árabe, deixada pelos mouros à milhares de anos. As habitações características desta região, tinham a seguinte constituição: Parede em tijolo ou alvenaria de calcário, platibandas

Figura 3.14 – Habitação tradicional ribatejana

decoradas, telhado com pouca inclinação que cobre um cama de canas ligadas umas às outras, com uma camada de argamassa para isolar do calor, costumavam ter uma açoteia, para secar frutos, cereais ou peixe. Na Figura 3.16, pode-se observar um exemplo de uma casa típica Algarvia.

Fonte: Adaptado de http://www.planetaciencia.org (Consultado em 29/03/2012)

Uma das características mais importantes destas habitações e que se tornaram um símbolo da região, são as chaminés decoradas, devido às influências árabes, tinham forma cilíndrica ou prismáticas, quadradas ou retangulares, ver Figura 3.17.

Figura 3.17 – Chaminé tradicional algarvia

Fonte: Adaptado de http://alma-algarvia.blogspot.pt/2007_07_01_archive.html (Consultado em 31/03/2012)

 Madeira

O Arquipélago da Madeira surgiu de uma erupção vulcânica à milhões de anos atrás, daí a predominância de rocha basáltica (origem vulcânica). A ilha é constituída essencialmente por dois tipos de habitação. Numa região muito específica da

ilha, Santana, as construções eram de madeira, utilizando palha para cobertura e pintura com cores fortes. Hoje em dia estas habitações são essencialmente direcionadas para o turismo. No entanto, a casa mais típica madeirense tem a seguinte constituição: paredes em tufo ou basalto, pavimento em lajes de basalto, janelas de guilhotina com faixas à sua volta de cor vermelha ou cinza, telhado abatido

Figura 3.16 – Habitação tradicional Algarvia

Figura 3.18 – Habitação tradicional de Santana

com beiral e chaminé prismática. Nas Figuras 3.18 e 3.19, pode-se observar exemplos de casas típicas madeirenses.

Figura 3.19 – Habitação característica Madeirense Fonte: Adaptado de http://www.planetaciencia.org (Consultado em 29/03/2012)

 Açores

A Região Autónoma dos Açores é constituída por nove ilhas, de origem vulcânica, sendo o basalto a principal rocha existente. Este Arquipélago é caracterizado pelo seu clima instável, podendo ocorrer as quatro estações no mesmo dia. As casas típicas dos Açores sofreram alterações ao longo dos anos, no entanto, verifica-se que existe uma forte influência Alentejana e Algarvia. Estas eram construídas em basalto, com paredes caiadas, tinham pavimento de seixos ou terra batida, as janelas eram de guilhotina com faixas coloridas em torno delas, a cobertura era pouco inclinada de telha aplicada diretamente sobre barrotes de madeira, tinham fornos salientes e chaminés em forma de cunha. Na Figura 3.20, pode-se observar um exemplo de uma casa típica Açoriana.

Fonte: Adaptado de http://www.planetaciencia.org (Consultado em 29/03/2012) Figura 3.20 – Habitação tradicional dos Açores