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CAPÍTULO 1 – POLÍTICA DE FORMAÇÃO PARA O SUS NO GOVERNO LULA

1.3 O Programa de Educação pelo Trabalho para Saúde (PET-Saúde) no Governo Lula

1.3.1 Edital Conjunto nº 27, de 17 de setembro de 2010

Este edital selecionou projetos para o ano letivo de 2011. O objeto do edital foi fomentar grupos de aprendizagem tutorial no âmbito da Atenção em Saúde Mental, Crack, Álcool e outras Drogas.

Alguns aspectos deveriam ser contemplados nos projetos: 1) interdisciplinaridade; 2) atuação coletiva, interlocução dos alunos de diversos cursos; 3) integração entre discentes, preceptores e docentes; 4) contato sistemático com a comunidade e integração ensino-serviço- pesquisa, “reforçando a atuação de acordo com as diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental e álcool e outras drogas, no âmbito do SUS” (Brasil, 2010b). Cada projeto deveria conter plano de pesquisa para os discentes candidatos à bolsa, sendo especificados os objetivos e sua relação com a atenção em Saúde Mental/Crack, Álcool e outras drogas no SUS.

Alguns marcos legais e diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental e álcool e outras drogas, apresentados no edital, deveriam ser considerados nos projetos, como por exemplo, 1) a Lei Orgânica da Saúde; 2) a Lei que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais; 3) a Lei conhecida como “De volta pra casa”; 4) a Portaria nº 336/GM, de 19 de fevereiro de 2002, que define a lógica, estabelece a forma de funcionamento e a estrutura dos CAPS, e institui serviços específicos para os problemas relacionados ao álcool e outras drogas e para infância e juventude; 5) a Portaria Conjunta n° 2, de 3 de março de 2010, que instituiu o PET-Saúde/Saúde da Família; e 6) a Política Nacional de Promoção da Saúde, conforme Portaria nº 687/GM, de 30 de março de 2006 que, dentre outras questões, estimula as ações intersetoriais (Brasil, 2010b).

Ainda em relação à elaboração dos projetos, eles deveriam propor ações a serem desenvolvidas nos diversos tipos de CAPS, na interface com a Estratégia de Saúde da Família (ESF) e com os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) e com os PET-Saúde/Saúde da Família e Vigilância Sanitária. Foram listados no edital ações/temas que deveriam ser privilegiados, podendo ser incluídas mais de uma ação (Brasil, 2010b).

Em relação aos critérios essenciais de seleção dos projetos, são eles: integração ensino-serviço-pesquisa no campo da atenção psicossocial em saúde mental, crack, álcool e outras drogas e dedicação dos tutores acadêmicos e preceptores do serviço de pelo menos 08

horas semanais. Em relação aos critérios preferenciais de seleção, temos: 1) projetos que tenham como objeto a atenção aos usuários de crack, álcool e outras drogas e atenção à saúde mental; 2) projetos das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste; 3) projetos articulados ao Pró-Saúde, PET-Saúde/Saúde da Família e Vigilância em Saúde; 4) projetos com caráter multiprofissional e interdisciplinar e 5) estratégias de autoavaliação, que tenham factibilidade e sustentabilidade (Brasil, 2010b).

Os recursos financeiros para os projetos selecionados foram provenientes do “Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas (Decreto nº 7.179, de 20 de maio de 2010) e da Medida Provisória nº 498, de 29 de julho de 2010, que abre crédito extraordinário, em favor de diversos órgãos do Poder Executivo para atender à programação do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack” (Brasil, 2010b). O PET/SM foi acompanhado e monitorado por um Comitê Gestor de caráter interinstitucional, sob a coordenação do MS (DEGES/SGTES e Saúde Mental/DAPES/SAS).

Algumas informações devem ser destacadas em relação ao edital nº 12, de 03 de setembro de 2008, o primeiro edital PET-Saúde publicado. Apesar de não estar dito claramente na abertura do edital, ele foi “destinado a fomentar grupos de aprendizagem tutorial na Estratégia Saúde da Família” (Brasil, 2008a), sendo direcionado às Secretarias Municipais de Saúde. Em relação às IES, estas deveriam ter “necessariamente” o curso de medicina dentre os 14 cursos da área da saúde potenciais participantes do PET-Saúde.

Quanto aos núcleos de excelência clínica aplicada à atenção básica, eles deveriam ser constituídos e mantidos pela IES. Estes núcleos deveriam ter residentes de medicina de família e comunidade ou de residência multiprofissional em saúde da família. Parece que uma das propostas deste primeiro edital PET-Saúde era qualificar principalmente os estudantes de medicina que atuassem na ESF, fossem de graduação e/ou de residência. A exigência de existência e manutenção dos núcleos aconteceu apenas nos dois primeiros editais PET-Saúde.

O edital nº 12 deu grande importância ao curso de graduação e à residência em medicina. O edital seguinte, nº 18, de 16 de setembro de 2009, que também selecionou projetos para a área da saúde da família, abriu uma possibilidade às IES que não tinham o curso de medicina: elas poderiam concorrer ao edital desde que se articulassem com outra IES que tivesse tal curso. Já no edital nº 07, de 03 de março de 2010, que selecionava projetos para o PET-Saúde/Vigilância em Saúde (PET-Saúde/VS), e no Edital Conjunto nº 27

(PET/SM) não havia tal exigência. Por quê? Talvez os alunos de medicina não têm tempo ou interesse nesses tipos de programas ou teriam outras opções de programas/projetos com melhores bolsas e/ou condições mais interessantes. Outra possibilidade seria os professores- tutores ou mesmo os preceptores desse campo não quererem trabalhar formando médicos.

Os dois primeiros editais foram dirigidos a grupos de aprendizagem que desenvolvessem ações no âmbito da ESF. O primeiro edital (nº 12) selecionou projetos para serem desenvolvidos no ano de 2009 e o segundo edital (nº 18) projetos para serem executados em dois anos, 2010 e 2011. Estes editais tinham também uma proporção de tutor acadêmico, preceptores e estudantes diferente dos editais posteriores: um tutor, seis preceptores, para trinta estudantes, sendo que somente doze destes receberiam bolsa, considerados “estudantes monitores”. Desta forma, cada preceptor deveria acompanhar cinco alunos, bolsistas e não-bolsistas. Mas indagamos sobre como foi a evolução dos estudantes não-bolsistas comparada aos estudantes bolsistas. Ressaltamos que esta lógica não prevaleceu nos dois editais seguintes. Estes tiveram apenas estudantes bolsistas.

O edital do PET-Saúde/VS teve a menor proporção de alunos por tutor acadêmico/preceptor: um tutor, para dois preceptores e oito discentes. Ou seja, cada preceptor orientou 4 alunos, o que coincide com o edital PET/SM: cada preceptor também orientou quatro alunos bolsistas; mas difere na relação tutor/preceptor: era um tutor para três preceptores e doze estudantes no Edital Conjunto nº 27.

O edital nº 7 e o Edital Conjunto nº 27 visavam à seleção de projetos de IES junto às Secretarias de Estado e/ou Secretarias Municipais de Saúde para participarem do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde – PET-Saúde. Já os dois editais anteriores eram dirigidos apenas às Secretarias Municipais de Saúde.

O edital nº 7 do PET-Saúde/VS selecionou projetos que seriam executados em 2010 e 2011 e o Edital Conjunto nº 27 do PET/SM selecionou projetos que foram desenvolvidos em 2011. Assim, o PET-Saúde/VS foi programado para ser desenvolvido em dois anos e o PET/SM em apenas um ano. Lembramos ainda que este último recebeu recursos do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas4, que foi instituído em 2010 “com vistas à prevenção do uso, ao tratamento e à reinserção social de usuários e ao enfrentamento do tráfico de crack e outras drogas ilícitas” (Brasil, 2010), além de ter a qualificação como um dos seus objetivos. Destacamos que outro edital específico para a área de saúde mental/álcool                                                                                                                

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e outras drogas, como o Edital Conjunto nº 27, não foi publicado. Porém alguns projetos selecionados por este edital puderam ser continuados por meio do edital nº 24, publicado posteriormente, mas tais projetos foram escolhidos criteriosamente pelos municípios para serem continuados ou não.

Os editais citados, exceto a retificação do edital nº 12, foram organizados/publicados em sete itens:1) disposições preliminares; 2) do objeto; 3) dos critérios de admissibilidade; 4) da inscrição na seleção; 5) da elaboração dos projetos; 6) da seleção; 7) dos recursos financeiros; além do anexo I e do anexo II. No Edital Conjunto nº 27, do PET/SM tivemos mais dois itens inéditos até então: 8) monitoramento e continuidade dos projetos e 9) das disposições finais. Outra novidade diz respeito aos recursos financeiros. Os três primeiros editais tiveram recursos financeiros oriundos do MS. Já o edital do PET/SM teve recursos provenientes do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras drogas.

Em relação à seleção dos projetos, cada edital instituiu um grupo para realizar esta função. O Edital Conjunto nº 27 orientou constituir um “Grupo Técnico” que foi designado pela SGTES e pela Coordenação de Saúde Mental, além da Secretaria de Educação Superior, do MEC, e pela SENAD. É muito interessante um grupo técnico eclético como esse, que abre possibilidades para selecionar grupos tutoriais distintos que pensaram e trabalharam/pesquisaram de acordo com a realidade e demandas de seu município.

Todos os editais se referiam ao tempo de trabalho dos tutores e dos preceptores. De acordo com os editais, esses deveriam dedicar ao programa oito horas de trabalho semanalmente, sem prejuízo das atividades didáticas e assistenciais, respectivamente. Nenhum dos editais fala sobre a carga horária dos discentes, exceto a Portaria Conjunta SGTES/SAS/SESu nº 6, de 17 de setembro de 2010, que “institui no âmbito do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), o PET-Saúde/Saúde Mental”: “monitoria estudantil: desenvolvimento de atividades de pesquisa e de iniciação ao trabalho, sob orientação do tutor e do preceptor, visando à produção e à disseminação de conhecimento relevante na área de saúde mental, devendo se dedicar a estas atividades por pelo menos 8 (oito) horas semanais” ( Brasil, 2010e). Mas o Edital Conjunto nº 27 não explicita informações sobre a carga horária exigida para os alunos, apesar de citar a Portaria Conjunta SGTES/SAS/SESu nº 6.

Numa breve leitura do Edital Conjunto nº 27 podemos notar a presença predominante do MS em relação ao MEC no que diz respeito às coordenações e responsabilidades. Já no

título deste edital encontramos a “Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde”, órgão do MS, apesar de logo abaixo localizarmos a expressão “edital conjunto”. O MS neste edital é intermediado por duas secretarias – Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde e pela Secretaria de Atenção à Saúde. A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Gabinete da Segurança Institucional da Presidência da República – SENAD/GSI/PR, está colocada como órgão equivalente hierarquicamente à Casa Civil, conforme representação do organograma da Presidência da República5. Já o MEC é intermediado por apenas uma, a Secretaria de Educação Superior.

No início do Edital Conjunto nº 27 fala-se sobre a abertura de “crédito extraordinário”, “para atender à programação do Plano Integrado de Enfrentamento do crack” (Brasil, 2010b), do qual o referido edital é beneficiário. A seleção do PET/SM foi regida pelo Edital Conjunto nº 27, nosso objeto de análise, e pela Portaria Conjunta SGTES/SAS/SESu nº 06, de 17 de setembro de 2010, que institui, no âmbito do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) o PET-Saúde/Saúde Mental.

Esta Portaria estabelece, no seu Artigo 8º, a fonte dos recursos orçamentários para os bolsistas deste PET. Os recursos são provenientes do “Plano Integrado de Enfrentamento ao

Crack e outras Drogas (Decreto nº 7.179, de 20 de maio de 2010) e da Medida Provisória nº

498, de 29 de julho de 2010, que abre crédito extraordinário, em favor de diversos órgãos do Poder Executivo para atender à programação do Plano Integrado de Enfrentamento do Crack” (Brasil, 2010b). Esta Medida Provisória abre crédito no valor de R$ 1.978.448.870,00 (um bilhão, novecentos e setenta e oito milhões, quatrocentos e quarenta e oito mil, oitocentos e setenta reais) para atender diversas programações do Poder Executivo, dentre elas o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas.

Os programas que receberiam tais investimentos são: Gestão da Política Nacional sobre Drogas; Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania – PRONASCI; Assistência Ambulatorial e Hospitalar Especializada; Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei – PRO-SINASE; Proteção Social Básica e Especializada. Diferentemente dos editais PET-Saúde anteriores, os recursos financeiros para o PET/SM vinham especificamente de uma fonte ligada ao combate às drogas. Os outros editais tinham financiamento do MS.

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Recuperado em 20 de janeiro de 2013, de

O PET-Saúde é um programa que paga bolsas aos seus participantes. Como dito anteriormente, são poucos os programas de formação que recebem bolsas e o PET-Saúde foi um dos primeiros a usufruir disso. Essa possibilidade atraiu mais facilmente tutores, preceptores e discentes das universidades participantes. O pagamento de bolsas no PET-Saúde tem como referência os valores pagos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A bolsa para tutores e preceptores é do mesmo valor e a bolsa paga ao estudante é correspondente ao valor da bolsa de iniciação científica.

O edital selecionou projetos que seriam executados no ano letivo de 2011. Mas houve um atraso no início das atividades, o que fez com que o prazo do término dos projetos fosse estendido. Houve também pequenas variações de data de início e término entre os projetos selecionados da Região Metropolitana de Belo Horizonte, que serão analisados nesta pesquisa.

Os critérios de admissibilidade, assim como o objeto, dão a ideia de o edital ser realmente conjunto, conforme sua nomeação, o que corrobora a exigência de parceria no âmbito interministerial colocada no edital. Os serviços deveriam ser do SUS e as IES deveriam ser públicas ou, quando privadas, que fossem sem fins lucrativos e que desenvolvessem atividades curriculares nos serviços públicos de saúde e ainda que fossem “integrantes do Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde – Pró-Saúde e do PET-Saúde” (Brasil, 2010b).

Aqueles que pretendiam se inscrever na seleção do Edital Conjunto nº 27 deveriam, na primeira etapa, enviar os projetos ao FormSUS, que de acordo com o site6 da instituição, é “um serviço do DATASUS para a criação de formulários na WEB”. Na segunda etapa, já com os projetos aprovados, os candidatos deveriam enviar os comprovantes por via do correio, para o MS, Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Nesta etapa da seleção, não consta neste Edital a parceria com o MEC. Os editais anteriores não tinham esta exigência de enviar os comprovantes posteriormente, após primeira aprovação. Estes deveriam ser enviados em etapa única.

Os que se interessaram em participar da seleção tiveram que ficar atentos a alguns aspectos que deveriam ser considerados nos projetos, citados anteriormente. Os que não consideraram esta lista – ou pelo menos alguns aspectos dela – certamente não foram selecionados por este edital. Em tal lista podemos observar que todas as portarias e leis citadas estão vinculadas ao MS e não aos dois ministérios. Parece-nos que o MS buscou com                                                                                                                

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esta lista direcionar os projetos que seriam desenvolvidos no PET/SM, enfatizando a ESF, os NASF’s, a atenção ao portador de sofrimento mental no território, dentre outros aspectos. Mas qual era a abertura do MS para pesquisas/projetos junto aos portadores de sofrimento mental sem uso de álcool ou outras drogas? Havia abertura? Ou por outro lado, havia abertura sim, mas como o financiamento era do Plano de Enfrentamento ao Crack, os dependentes químicos tinham que ser incluídos. Refletindo sobre esse “direcionamento”, questionamos: os projetos enviados pelos municípios poderiam realmente pesquisar aquilo que desejavam? Qual era a intenção do MS ao enquadrar os projetos em determinado formato?

Outro ponto que merece destaque está relacionado ao perfil dos preceptores para o Edital Conjunto nº 27, item 5.11. Estes deveriam ser profissionais de nível superior da área da saúde dos CAPS e os profissionais da área de saúde mental dos NASF, restritos a psiquiatras, psicólogos e terapeutas ocupacionais, “com no mínimo especialização na área da saúde ou saúde mental e/ou álcool e outras drogas e três anos de experiência na área” (Brasil, 2010b).

Nos dois primeiros editais, estar o profissional vinculado à ESF era o perfil exigido para os preceptores. Não havia menção de necessidade de experiência comprovada e/ou especialização na área. Já no edital nº 7, do PET-Saúde/VS, de acordo com o item 5.10, o preceptor deveria ser profissional de “nível superior de serviços vinculados à Vigilância em Saúde, com no mínimo dois anos de experiência comprovada” (Brasil, 2010a). Observamos que, dentre os quatro editais citados, o Edital Conjunto nº 27 fez maior exigência aos preceptores dos serviços de saúde para participarem da seleção dos projetos. A exigência desse critério para ser preceptor/a no Edital nº 27 também mostra o direcionamento do MS ao buscar profissionais de determinadas categorias e não de outras.

O Edital Conjunto nº 27 fala sobre um “Comitê Gestor de caráter interinstitucional, sob a coordenação do MS (DEGES/SGTES e Saúde Mental/DAPES/SAS), que analisará o cumprimento das diretrizes do Programa” (Brasil, 2010b). Este comitê foi responsável pelo monitoramento e continuidade – que não aconteceu – no sentido de renovação dos projetos selecionados ou nova publicação de edital específico para o campo da saúde mental e/ou

crack, álcool e outras drogas. Os projetos selecionados nesse edital deveriam instituir e/ou

articular-se com Centros de Referência Regionais para a Formação, Redes de Pesquisa em Saúde Mental/Crack, Álcool e outras Drogas e com a Rede de Pesquisa sobre Drogas, conforme edital. Projetos que não estivessem realmente articulados com outros centros e/ou redes de formação não seriam selecionados. Eis mais um ponto de direcionamento dos projetos.

Enfim, outros pontos podem e devem ser destacados, mas quisemos mostrar algumas particularidades dos editais PET-Saúde e apontar alguns questionamentos daí decorrentes: Por que ainda não houve novo edital PET/SM? Haverá novo edital? Por que o edital publicado para a saúde mental foi de apenas um ano, com tanto recurso financeiro disponível?

A mídia tem divulgado a preocupação da Presidência da República com a questão do uso de drogas ilícitas, principalmente com o crack, haja vista o notável investimento financeiro que tem sido feito no “Programa Crack, é possível vencer”. Não queremos, neste momento, julgar a forma como este programa foi proposto e como vem sendo executado, mas parece-nos que há recurso financeiro para necessários investimentos na política de saúde mental do MS, incluindo os usuários de álcool e outras drogas. Ou esses recursos são apenas para a limpeza das cidades que sediaram a copa do mundo no Brasil em 2014? Outro destaque é em relação ao campo da saúde mental. O PET/SM não foi direcionado exclusivamente para esta área, para os portadores de sofrimento mental sem uso de álcool/drogas, mas sim articulado ao uso/abuso de crack, álcool e outras drogas. Será que a saúde mental continua e continuará sem investimentos financeiros?

De acordo com Barros e Salles (2011), no âmbito federal, a SM recebe 2,3% do orçamento do SUS, sendo que a OMS aconselha que sejam investidos mais que 5% do orçamento total da saúde nesta área. Nos últimos anos houve um decréscimo de investimentos financeiros em equipamentos hospitalares. Houve também um crescimento dos recursos destinados à rede substitutiva em saúde mental, ambos foram importantíssimos para a luta antimanicomial. Mas ainda faz-se necessário, de acordo com as autoras, maior articulação de políticas intersetoriais. Isso pode-se notar também no relatório final da IV Conferência Nacional de Saúde Mental Intersetorial, que aconteceu em 2010. Esta conferência abordou a necessidade de consolidação das políticas intersetoriais, visto que o campo da saúde mental vai além do setor saúde (Brasil, 2010g).

Recentemente foi lançado o edital nº 14, de 08 de março de 2013: “Seleção para o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde/Rede de atenção à saúde – PET-Saúde Redes de atenção à saúde – 2013/2015”. Este edital selecionou projetos associados às Redes de Atenção à Saúde: rede de cuidados à pessoa com deficiência; rede de atenção às pessoas com doenças crônicas, priorizando o enfrentamento do câncer do colo de útero e de mama; rede cegonha; rede de atenção às urgências e emergências; rede de atenção psicossocial: priorizando o enfrentamento do álcool, crack e outras drogas; e atenção à saúde indígena.