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Como referência inicial para tecer este texto, é apresentada a ideia de Novak (2010, p. 18, grifo do autor), que defende um caminho para se pensar na EAD, “[...] assumindo-se que a Educação a Distância, antes de ser a distância, é educação, com todas as implicações decorrentes desse fato”.

Neto (2003, p. 405) segue a mesma perspectiva de Novak, ao afirmar que “A educação a distância é uma forma de fazer educação e, portanto, como educação, está necessariamente vinculada ao contexto histórico, político e social em que se realiza como prática social de natureza cultural”.

Neste estudo optou-se por utilizar a terminologia Educação a Distância, abreviada por EAD, que, segundo Litto (2010, p. 35), é um “[...] termo mais amplo, genérico, e historicamente mais usado [...]”. Primeiramente, por ser historicamente a denominação mais usada e, principalmente, por entender que Educação a Distância engloba processos de aprendizagem e de ensino, não sendo coerente utilizar outras terminologias, como, por exemplo, algumas das que Litto (2010, p. 35) apresenta: “aprendizagem a distância” ou “e- learning”, pois compreende-se nesta pesquisa que essas outras terminologias são limitadas, caracterizando apenas o processo da aprendizagem a distância, desconsiderando um fator importante em qualquer processo de formação: o ensino, ou seja, a importância da atuação docente.

Refletindo sobre a EAD no Brasil, observa-se que essa modalidade contou com dois grandes movimentos como marcos de expansão: o primeiro movimento é resultante da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96), que estabelece as bases legais para esta modalidade de ensino, e o segundo movimento refere-se ao avanço dos meios de comunicação, em especial a Internet.

Sobre o primeiro movimento, é importante entender que a primeira vez que a expressão Educação a Distância aparece oficialmente na legislação educacional do País foi com a publicação da LDB 9.394/96, tendo o Art. 80 para tratar de questões referentes a essa modalidade de ensino. Esse artigo expõe que “O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada”. Seguem esse artigo quatro parágrafos, os três primeiros

descrevem critérios que cabem à União, como: a normatização do credenciamento das instituições, requisitos para a realização de exames e registros de diplomas e normas para produção, controle e avaliação de programas de EAD. O quarto artigo determina incentivos diferenciados aos programas vinculados a essa modalidade de ensino.

Cabe ressaltar um fato histórico que Alves (2009, p. 11) registra em seus estudos: “A primeira legislação que trata da modalidade é a LDB, cujas origens datam de 1961 [...]”. O autor descreve que na reforma da LDB/1961, dez anos depois da sua publicação, em 1971, foi incluído um parágrafo sobre a possibilidade do ensino, em cursos supletivos, ser realizado pelos meios de comunicação, como rádio, televisão, correspondência e outros, sem mencionar as palavras Educação a Distância. Na íntegra, o 2º parágrafo do art. 25, da Lei (Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º graus) nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, previa que “Os cursos supletivos serão ministrados em classes ou mediante a utilização de rádio, televisão, correspondência e outros meios de comunicação que permitam alcançar o maior número de alunos”. Gomes (2009, p. 21) complementa que desta maneira a educação a distância avançava pouco a pouco. “De certo modo, aproximava-se dos muros, porém não ingressava nos recintos urbanos fortificados”.

A descrição histórica acima serve para constatar que a Educação a Distância está presente no contexto educacional brasileiro há muitos anos. Portanto, levando em consideração a demora em mencionar as palavras Educação a Distância até a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, é possível compreender o sentimento de Alves (2009), quando aponta a morosidade das políticas públicas, ou seja, a falta e demora na elaboração de leis que abordem aspectos dessa modalidade de ensino. O autor declara que houve uma estagnação.

Há registros históricos que colocam o Brasil entre os principais no mundo no desenvolvimento da EAD, especialmente até os anos 70. A partir dessa época, outras nações avançaram, e o Brasil estagnou, apresentando uma queda no ranking internacional. Somente no final do milênio é que as ações positivas voltaram a acontecer e pudemos observar novo crescimento, gerando nova fase de prosperidade e desenvolvimento. (ALVES, 2009, p. 9).

Ao problematizar essa questão, Alves (2009) ainda faz mais uma crítica a respeito da elaboração de documentos legais para a modalidade de ensino a distância.

As dificuldades, contudo, passaram a existir nas disposições infralegais. Paradoxalmente, sentimos uma relação inversa à hierarquia das normas jurídicas: temos uma Constituição Federal ótima em termos de educação; a LDB é boa, eis que permite, dentre outras vantagens, a liberdade dos projetos pedagógicos. O grande problema ocorre com os atos normativos inferiores: os decretos não são bons; as portarias, em grande parte, são ruins; e há resoluções e pareceres desesperadores. (ALVES, 2009, p. 11-12, grifo nosso).

Embora as críticas sobre a legislação brasileira para a EAD, para Alves (2009), a LDB/1996 é considerada como bom movimento de expansão da EAD, legitimando a modalidade de ensino, promovendo a possibilidade de acontecer educação a distância em todos os níveis do ensino formal. Gomes (2009, p. 21) destaca em seu texto que a publicação da LDB “[...] foi responsável por um novo status da EAD [...]”, assim, essa modalidade de ensino deixou de ser “[...] clandestina ou excepcional [...]”. Segundo Neto (2003, p. 400), a EAD “[...] deixa de pertencer ao elenco de projetos sempre designados como “experimentais”, ao sabor de momentâneas e autoritárias arbitrariedades, tanto a favor quanto contra, sem qualquer respeito a resultados educacionais concretos”.

Diante das considerações sobre os movimentos legais da educação a distância no Brasil, é importante finalizar mencionando outros documentos publicados e que, atualmente, regem aspectos legais sobre esta modalidade de ensino, para a compreensão da crítica que se faz sobre a estagnação e a morosidade das políticas públicas para a EAD. Os documentos listados a seguir estão disponíveis para a leitura na íntegra no Portal do Ministério da Educação (MEC)6.

• Portaria nº 4.059, de 10 de dezembro de 2004, já mencionada neste estudo, tem o objetivo de estabelecer a regulamentação de oferta da educação a distância em cursos presenciais, por meio de disciplinas semipresenciais. Considera que apenas 20% da carga horária total do curso poderá ser ofertada, por encontros a distância, em disciplinas denominadas semipresenciais, em instituições reconhecidas pelo MEC.

• O Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005, regulamenta a publicação do artigo 80, da LDB, de 20 de dezembro de 1996. Esse decreto caracteriza a EAD. • O Decreto nº 5.773, de 9 de maio de 2006, tem como objetivo dispor sobre a

regulamentação, supervisão e avaliação das IES, que ofertam cursos superiores e sequenciais no sistema federal de ensino.

• O Decreto nº 6.303, de 12 de dezembro de 2007, altera dispositivos do Decreto nº 5.622 e do Decreto 5.773. Este Decreto dispõe de regras sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de IES, em cursos de graduação e sequenciais.

• A Portaria nº 40, de 12 de dezembro de 2007, estabelece o e-MEC como sistema eletrônico, com o objetivo de gerenciar informações referentes a processos de credenciamento do ensino superior brasileiro.

• A Portaria nº 10, de 2 de julho de 2009, estabelece critérios para a dispensa de avaliação in loco de cursos presenciais e a distância, e anuncia outras providências, como credenciamento de Polo de apoio presencial.

Além desses atos legais normativos, é importante citar outro documento: Os Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a Distância, elaborado pela Secretaria de Educação a Distância (SEED)7, hoje extinta. Esse documento foi publicado em 2007, sem caráter legal, mas com o objetivo de ser um norteador para as IES, no planejamento, na implementação, na supervisão e avaliação de cursos ofertados a distância.

O segundo movimento da EAD é decorrente do progresso das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), para entender melhor como esse movimento interferiu na expansão da EAD. É fundamental situar que, historicamente, essa modalidade de ensino já ofertou cursos utilizando diversos meios de comunicação, como correspondência, rádio, televisão e, com o avanço da Rede Mundial de Computadores, a Internet, foram agregadas novas possibilidades de oferecer cursos baseados na interação entre professores e alunos distantes geograficamente. Uma interação impulsionada pelo uso de diversas ferramentas de comunicação e de troca de informação – as tecnologias digitais, disponíveis na Web. Para Brito, a Educação a Distância (2003, p. 62):

[...] pode e tem sido realizada por diversos meios, seja rádio, correio, telefone, televisão, dentre outros. No entanto, o sucesso dos cursos não depende unicamente da tecnologia empregada, assim como, muitas experiências atuais não obtêm o êxito esperado devido a diversos fatores alheios ao meio tecnológico utilizado. Entretanto, não se pode negar que o surgimento de novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC), originadas na década de 60 e consolidadas nos anos 90, têm corroborado sensivelmente para o crescimento do ensino a distância.

7 A Secretaria de Educação a Distância (SEED) foi oficialmente criada pelo Decreto nº 1.917, de 27/05/1996. Foi extinta em

2011. Hoje os programas e as ações da antiga SEED estão vinculados a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI).

Para complementar as transformações advindas das tecnologias, Preti (2000, p. 46) descreve o caminho percorrido pela EAD no cenário brasileiro “[...] da correspondência para o rádio, do rádio para a TV, da TV para as mídias como CD-ROM, vídeo, telefone, fax. Mas, talvez, a maior dessas transformações tenha ocorrido pelo uso da Internet”.

Assim, fica evidente que a evolução da EAD se entrelaça com os avanços dos meios de comunicação. Para Giraffa (2012, p. 25), “A rede Internet e seus múltiplos e diversificados serviços mudaram a forma como a sociedade contemporânea acessa, produz e disponibiliza conhecimento”. Complementando sobre o desenvolvimento dos recursos na Web, a pesquisadora ainda destaca que

A Internet está trazendo mais do que uma revolução tecnológica, uma revolução comportamental, vindo para facilitar a comunicação entre as pessoas e criando nova percepção relacionada aos saberes, competências e habilidades. (GIRAFFA, 2009, p. 22).

Portanto, a modalidade de educação a distância tem como principal característica a separação física e geográfica entre alunos e professores, e, quando ofertada e mediada pela Internet, as interações podem ser estabelecidas independentemente dos participantes estarem conectados ao mesmo tempo na Web. Desse modo, podemos entender melhor alguns conceitos que serão apresentados a seguir, para a compreensão das implicações que envolvem essa modalidade de ensino.

Nessa perspectiva, Chaves (1999) discorre sobre a questão da EAD acontecer ocasionando a separação entre os professores e os alunos, no tempo e no espaço. O autor destaca o uso das tecnologias na educação para diminuir e contornar esta separação, mencionando que as tecnologias “[...] permitem criar ambientes ricos em possibilidades de aprendizagem [...]” (p. 33).

Novak (2010, p. 34) descreve que a Educação da Distância “[...] da era digital – baseada nas TICs –, não é a distância dada em função do espaço ou do tempo, mas a distância dada em função da mediação”.

Legalmente, no Decreto nº 5.622 de, 19/12/2005, que regulamenta o art. 80 da LDB/1996, a educação a distância é caracterizada como:

[...] modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos.

Franco8 ([2010?]b, p.2) propõe um conceito de EAD que reforça a atuação do professor em promover, por meio das TICs, interação com os alunos: “Educação a Distância é o processo educacional no qual a interação de educadores e educados busca superar limitações de espaço e tempo com a aplicação pedagógica de meios de tecnologias da informação e da comunicação objetivando a qualidade do ensino e da aprendizagem”.

Outro conceito sobre EAD, apresentado por Aretio (1991), reforça o uso dos recursos tecnológicos, mencionando a organização do espaço de ensino e de aprendizagem. O autor diz que se trata de

[...] un sistema tecnológico de comunicación masiva e bidireccinal, que sustituye la interacción personal en el aula de profesor y alumno como medio preferente de enseñanza, por la acción sistemática y conjunta de diversos recursos didácticos y el apoyo de una organización tutorial, que propician el aprendizaje autónomo de los estudiantes. (ARETIO, 1991, p. 9).

Desse modo, a Educação a Distância é capaz de oportunizar aprendizagem para pessoas que não podem estar presentes em uma sala de aula presencial, seja pela falta de tempo, seja por questões geográficas ou por qualquer limitação que impeça de frequentar uma instituição de ensino. Portanto, as especificidades e implicações mais latentes da Educação a Distância são as questões relacionadas a espaço, tempo e comunicação –, considerando também a necessidade de, em algumas situações, mudar a forma de produção de materiais didáticos e estratégias didático-metodológicas.

Diante do que foi exposto, percebe-se que do ensino presencial para o ensino a distância o que muda são os espaços e tempos de ensinar e aprender, e, consequentemente, as formas de comunicação entre os participantes, que passam a ser mediadas pelas tecnologias. Complementando a ideia, para Giraffa, Campos e Faria (2010, p. 137), “A EAD possui um caráter dinâmico e multidisciplinar, não sendo um processo centralizado e estanque”. Para as autoras (2010, p. 136),

A estrutura de EAD é entendida como a forma com que as instituições se organizam para promover essa modalidade de educação. No Brasil, as instituições de ensino superior têm adotado diferentes formas, vinculadas ao organograma da instituição, que dependem da política institucional, dos objetivos da EAD para o ensino, pesquisa e extensão, e dos incentivos e regulamentação da política pública para educação a distância. (grifo nosso).

8 Texto: Educação a Distância: em busca de um conceito, produzido pelo professor Dr. Sérgio R. Kieling Franco,

disponibilizado para os alunos na disciplina: Educação a Distância: reflexões teóricas e políticas, no AVEA Institucional da UFRGS - Ministrada em 2010/1, no Programa de Pós-Graduação em Informática na Educação.

Portanto, cada Instituição, dentro dos critérios de credenciamento para ofertar ensino a distância estabelecidos pelo MEC, pode organizar de sua forma como os cursos serão ofertados. As autoras Giraffa, Campos e Faria (2010, p. 138) complementam sobre a variação de modelos de EAD que podem ser adotados pela IES.

Existem variados modelos de EAD e, consequentemente, de cursos. Há cursos totalmente a distância, outros são presenciais com alguma carga horária a distância; há os que são totalmente assíncronos, outros com atividades síncronas e assíncronas; alguns com muita e outros com pouca interação; cursos direcionados para poucos alunos e outros para muitos alunos; alguns baseados somente em material impresso e outros que utilizam uma variedade de materiais; alguns com e outros sem a presença de professores; etc.

Considerando os mais variados modelos de EAD e diante dos avanços dos meios de comunicação e de informação, em especial a ampliação do acesso à Internet, entende-se que essa modalidade de ensino está sendo ‘premiada’ nos dias de hoje pelas inúmeras possibilidades de inserir as tecnologias digitais, resultando na expansão de cursos ofertados na modalidade a distância no país9. Assim, cabe a cada IES ter em pauta objetivos claros e consistentes, que priorizem a qualidade no ensino, considerando as constantes mudanças sociais e tecnológicas na hora de planejar, implementar e gerenciar os cursos, na modalidade de ensino a distância.

Nessa direção, entende-se que o processo de ensino, em uma sala de aula virtual, inicia na organização do ambiente virtual de ensino e de aprendizagem, no qual a atuação docente estará presente no processo de planejamento, que envolverá desde a escolha e o preparo das ferramentas que serão utilizadas até a organização dos conteúdos que serão abordados, com o intuito de oferecer situações de ensino que busquem diminuir as limitações de tempo e espaço entre alunos e professores, promovendo momentos significativos de ensino, possibilitando que a aprendizagem dos alunos aconteça.