2 OS DESAFIOS DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E ADEQUADA NA
3.2 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NA PERSPECTIVA DO
Realizar ações de Educação Alimentar e Nutricional com adolescentes do ensino médio
pode despertar capacidades de compreensão práticas e comportamentais, os conhecimentos e
as habilidades alcançadas, pela EAN, auxiliam na integração do adolescente com o meio social,
dando-lhe condições para resolver problemas e decidir sobre seu comportamento alimentar,
visando sua saúde e qualidade de vida (RODRIGUES; BOOG, 2006).
A concepção de Ensino Médio Integral (EMI) se relaciona com o papel da Educação
Alimentar e Nutricional. Nesse sentido faz-se necessário, primeiramente, entender o que é o
ensino médio integrado, através dos conceitos apresentados por estudiosos da área. Conforme
Ciavatta (2014), a formação integral ou omnilateral surge objetivando formar o ser humano
integralmente, incluindo para isso os aspectos físicos, intelectuais, estéticos, morais, mentais,
culturais, políticos e científicos-tecnológicos, caracterizando-se como formação em todos os
aspectos da vida humana, integrando a formação geral e a educação profissional.
Para Araújo e Frigotto (2015), o ensino integrado é uma proposta pedagógica
comprometida com a formação integral, que inclui o desenvolvimento físico e intelectual.
Promove a capacidade de compreensão da realidade específica dos sujeitos e da relação desta
com a totalidade social. É contrária ao ensino reducionista dotado de práticas fragmentadoras
do saber, e empenha-se em ações formativas integradoras que valorizem a criatividade,
assegurem a autonomia e dê liberdade aos sujeitos para ampliar seus horizontes.
Na integração, os conteúdos abordados não estão ligados a imediata inserção no
mercado de trabalho, mas visa a princípio uma formação que promova o ser humano como ser
social e transformador. Busca assim, “formar o indivíduo em suas múltiplas capacidades: de
trabalhar, de viver coletivamente e agir autonomamente sobre a realidade, contribuindo para a
construção de uma sociabilidade de fraternidade e de justiça social”. (ARAÚJO; FRIGOTTO,
2015, p. 68).
De acordo com Moura (2013), o EMI é um caminho para se chegar na formação humana
integral, ominalateral ou politécnica, para todos, pública e igualitária visando uma sociedade
justa. Corroborando com este pensamento, Moura, Lima Filho e Silva (2015) consideram o
EMI como a travessia rumo à omnilateralidade. Nesse sentido, Ciavatta (2005) diz que formar
integralmente torna o ser humano íntegro, inteiro, superando a redução da formação ao trabalho
operacional e garantindo uma formação completa. Ramos (2017) acrescenta que a formação
integral abrange o trabalho, a ciência e a cultura, fundamentais à prática social.
Segundo Ciavatta e Ramos (2012, p. 307), o EMI refere-se à educação para além de
preparar o aluno ao ensino superior ou a cumprir as exigências do mercado de trabalho. As
autoras dizem que ele traz o “sentido de inteiro, de completude, de compreensão das partes no
seu todo ou da unidade no diverso, de tratar a educação como uma totalidade social, isto é, nas
múltiplas mediações históricas que concretizam os processos educativos.”. Assim, ao mesmo
tempo que oferece o ensino médio articulado com a educação profissional, preocupa-se com a
formação integrada, plena, permitindo compreender as partes no seu todo ou da unidade no
diverso.
Recordando o entendimento de que a EAN “é campo de conhecimento e de prática
contínua e permanente, transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional que visa promover a
prática autônoma e voluntária de hábitos alimentares saudáveis” (BRASIL, 2012, p. 23).
Introduzir EAN no EMI permite uma educação voltada para todos os aspectos da vida, o que
inclui a saúde, corroborando na formação ampla do ser humano como ser integral.
Entre os princípios da EAN do Marco de Referência (2012) afinados com o EMI
têm-se a abordagem do sistema alimentar em sua integralidade, a valorização da culinária enquanto
prática emancipatória, a promoção do autocuidado e da autonomia, a educação enquanto
processo permanente e gerador de autonomia, a participação ativa e informada dos sujeitos.
Reforça-se que a atuação da EAN deve ser integrada, tendo a alimentação como prática social
perpassando por questões biológicas, socioculturais, ambientais e econômicas.
A EAN atua interdisciplinarmente sob a ótica da transversalidade com a construção
coletiva e contínua de conhecimentos, valoriza as trocas de experiências e confronta a
fragmentação dos conteúdos do ensino reducionista (BRASIL, 2012). A partir daí tem-se o
estudo da fisiologia humana, ramo da biologia dedicado à compreensão do funcionamento do
corpo humano, abordado no ensino médio integrado como ponto de partida para apresentar a
Educação Alimentar e Nutricional como promotora de saúde e qualidade de vida, garantindo
autonomia e considerando a realidade vivenciada pelos sujeitos, visando assim contribuir para
a formação integral e omnilateral dos indivíduos.
A Educação Alimentar e Nutricional através do ensino da fisiologia humana possibilita
relacionar a realidade dos sujeitos e o autoconhecimento. Estudar o funcionamento do corpo
humano pode ser bastante produtivo neste contexto. Para Gusmão, Silva e Fontes (2012),
estudar o corpo humano possibilita a interdisciplinaridade considerando os aspectos químicos,
físicos e biológicos, além de que por ser parte dos sujeitos, desperta a curiosidade e
consequentemente a participação dos estudantes. Acrescentam ainda que problematizar a
abordagem motiva ainda mais os alunos por se sentirem desafiados e reconhecidos como
indivíduos pensantes. Conectar estas práticas pedagógicas ao cotidiano dos estudantes, permite
uma aprendizagem transformadora, estimulando a autonomia dos alunos e preparando-os para
o exercício da cidadania, garantindo um aprendizado verdadeiro não limitado a decorar ou
responder adequadamente as questões de uma prova ou processo seletivo.
Segundo Freire (1996, p. 13), “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para a sua produção ou a sua construção, deste modo quem ensina aprende ao
ensinar e quem aprender ensina ao aprender”. O autor ainda complementa o pensamento ao
dizer que “a capacidade de aprender, não é apenas para nos adaptar, mas sobretudo para
transformar a realidade, para nela intervir, recriando-a” (FREIRE, 1996, p. 35).
Outro aspecto importante nesse processo é a integralidade, sabe-se que o ensino
reducionista prevalece no sistema educacional, mas educar de forma integral e contextualizando
com a realidade torna o estudo do corpo humano mais prazeroso e pode trazer maiores
benefícios no processo de aprendizagem, visto que todos os sistemas funcionam juntos e em
harmonia, relacioná-los pode ser uma boa estratégia.
Neste contexto, de acordo com Morin (2000, p. 43), o conhecimento isolado,
compartimentado e fragmentado é insuficiente, sendo necessária a contextualização para
garantir-lhe sentido. “A inteligência parcelada, compartimentada, mecanicista, disjuntiva e
reducionista rompe o complexo do mundo em fragmentos disjuntos, fraciona os problemas,
separa o que está unido, torna unidimensional o multidimensional”. Corroborando com o
pensamento supracitado, Gonzalez e Paleari (2006) dizem que as aulas costumam ser
caracterizadas pela fragmentação, o que impossibilita a relação entre os conceitos científicos e
os conhecimentos vivenciados diariamente. Geralmente os estudantes voltam-se ao Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM), assim priorizam o ato de decorar os extensos conteúdos
em detrimento da aprendizagem significativa, que possibilite o avanço do conhecimento
empírico ao científico incorporado ao cotidiano.
Complementando, Moura (2017) traz como componentes básicos para um currículo
integrado a interdisciplinaridade, a contextualização e a flexibilidade. Para o autor a
interdisciplinaridade não significa a fusão de conteúdos, mas sim a interconexão de
conhecimentos parciais específicos que têm por objetivo um conhecimento mais global,
resultando na construção do conhecimento. Assim, estudantes e professores terão condições de
construir, desconstruir e reconstruir seus conhecimentos. Já a contextualização deve ser vista
como estratégia de problematização das condições sociais, históricas, econômicas e políticas
aplicadas aos saberes escolares. É necessário conhecer o contexto no qual o estudante está
inserido, para que se possa intervir nele em função dos interesses coletivos.
Contextualizar a aprendizagem significa superar a aridez das abstrações científicas para dar vida ao conteúdo escolar relacionando-o com as experiências passadas e atuais vivenciadas pelos estudantes/educadores projetando uma ponte em direção ao seu futuro e ao da realidade vivencial (MOURA, 2017, p. 21).