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Capítulo I – Da Educação Ambiental 37 

Capítulo 2: A Formação em EA: Limites e Possibilidades 60 

2.2. Educação Ambiental e Capitalismo 64 

A EA posiciona-se diametralmente oposta ao paradigma capitalista que coisifica os homens e a natureza, na busca incessante do lucro e do crescimento econômico, desprezando a dimensão humana e a conservação ambiental. Dessa forma, a EA tem sua eficácia e aplicação dirimidas, visto que o sistema econômico dominante não vê razão para investir em algo que trabalha para sua desconstrução. Tem-se, portanto, uma desvalorização da educação ambiental e dos educadores ambientais (CASSINE, 2010).

Ressalta-se que o paradigma existencial da sociedade pós-moderna está assentado em preceitos como desigualdade social, consumismo / desperdício, irresponsabilidade ambiental, injustiça ambiental, crescimento econômico a qualquer custo, alienação / acriticidade, competitividade, reprodutivismo, desumanização entre tantos outros quesitos que corroboram na manutenção do status quo do modelo hegemônico capitalista (Ibidem). Esse paradigma que cultiva valores destrutivos as dimensões sociais e ambientais, que prima pela concentração de riquezas e socialização dos danos / prejuízos entre os mais pobres é confrontado visceralmente pela EA, daí dizer-se que tal modalidade de ensino é antes de tudo um movimento ético e contracultural.

Trabalhar com EA e, mais precisamente, com a formação desse tipo de educador é ir no contra-fluxo da ideologia dominante, dessa forma, elenca-se esse o principal desafio a ser vencido, pois constitui-se de uma problemática histórica. É conveniente lembrar que

 

diversos valores contrários à preservação / conservação ambiental encontram-se arraigados, muitas vezes de maneira inconsciente, no atual estilo de vida humano, bastante inspirado no american way of life. Tal estilo de vida assenta-se em uma economia do desperdício que despreza os 5Rs da ecologia (reduzir, reciclar, reaproveitar, repensar e recusar) e ao ser movimentada por fontes sujas de energia, corrobora implacavelmente na quebra do sinergismo ambiental e no estado de alienação socioambiental. Portanto, se não forem rompidos os grilhões do educador com a voraz lógica do capital, não será possível se contemplar de maneira significativa uma alternativa educacional que gere a mudança de realidade projetada. (MÉSZÁROS, 2005)

É imensamente preocupante notar que a sociedade do consumo de hoje enxerga o ambiente apenas como um meio para atingir ou satisfazer os interesses humanos. O ambiente tem um valor em si mesmo e isso deve ser profundamente entendido. Contudo, seria utópico ou meramente romântico pensar que todos os povos, eivados de interesses próprios e singularidades culturais, unir-se-ão rapidamente para reconstruir um modelo de desenvolvimento, verdadeiramente sustentável, de maneira rápida e eficiente. Porém, a temática ambiental nunca foi tão pungente quanto é hoje, sendo que tal “causa”, encarada como um movimento ético de renovação para além do antropocentrismo, pode ser sim um elemento de união de povos em torno de um bem comum. E nesse interim, acordar para o fato de que a hegemonia do capital somente tem corroborado para destruição do meio.

No discurso ambientalista para preservação/conservação ambiental aventam-se três razões principais do por que se deve proteger o ambiente. É possível argumentar, em um contexto profundamente antropocêntrico, que a natureza em sua biodiversidade guarda princípios ativos (fármacos) que poderão ser empregados para diversas aplicações humanas. Portanto, depredar o meio e extinguir as espécies pode inviabilizar a utilização desses produtos bioquímicos em um futuro próximo. Outro fundamento para proteção seria o de que a natureza nos fornece recursos essenciais para nossa sobrevivência, tal como as chuvas regulares, descontaminação das águas, polinização das flores, contenção demográfica de espécies parasitárias ou vetoras de doenças, entre outras. De forma que, igualmente focado no interesse humano, se for feita a depredação ambiental o fornecimento desses recursos naturais estará prejudicado. Por fim, em um parâmetro mais libertário, tem-se a percepção de uma ética da responsabilidade ambiental, em que cabe aos seres humanos, como espécie dominante, o dever de preservar viva toda forma de vida e resguardar com segurança os recursos naturais para as gerações futuras. Evidentemente, tal posicionamento ainda está

 

       

longe de ser introjetado no seio da sociedade, porém a EA serve de instrumento para essa compreensão e fomento.

É oportuno, dentro dessa discussão, destacar a influência da hegemonia do capital na estruturação das escolas, sejam em suas metodologias, filosofias ou currículos. Apple (1989) menciona que infelizmente a escola não se revela como um espaço de democracia, criticidade e participação como se gostaria que fosse. Ressalta que diversos pesquisadores apontam para o papel da escola na manutenção de relações de dominação e exploração social. As escolas na maioria das vezes estabelecem caminhos únicos para um tipo de aprendizado considerado seguro, promissor e adequado. Contudo, deve-se criticar que tipos de ensinamentos são conferidos e que tipos de aprendizados podem ocorrer, especialmente quando alguém não se adéqua, não se ajusta a esses ensinamentos, podendo ser alcunhada de desajustado22. Apple discute que descrever um fenômeno X qualquer não é necessariamente o mesmo que explicar por que X veio a existir. E essa explicação pode ser alcançada de duas formas. Primeira: pode-se explicar as condições de existência de X dentro de uma instituição, focalizando “internamente” aquilo que mantém ou aquilo que contradiz a ação no ambiente em que X se encontra. Segunda (preferida por Apple, 1989): pode-se focalizar a relação entre esse X e os modos de produção e as forças ideológicas e econômicas “externas” nas quais X está imerso. Apple busca constantemente revelar as conexões entre a criação e a atribuição de coisas tais como cetros tipos de desajustamento nas escolas e as condições mesológicas e econômicas que podem fornecer uma diversidade de razões para a existência dessas condições. Algumas de suas palavras ratificam o que foi abordado:

As categorias que os educadores empregam para pensar sobre, planejar e avaliar, a vida escolar, são consistentemente destorcidas em favor das regularidades de desigualdade social existentes (APPLE, 1989,p.57)

 

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O conceito de desajustamento identifica pessoas diferentes e inferiores, mas que na verdade não se adequam ou não contribuem para confecção de agentes que fomentem a divisão social do trabalho e a maximização da produção do conhecimento técnico-científico. Essa estigmatização é decorrente da compreensão de que existe uma relação entre conhecimento escolar e acumulação de capital, ou ainda, de que o conhecimento é uma forma de capital. Diametralmente oposto ao desajustado, existe o expert, que retroalimenta a ideologia de legitimar a subordinação do trabalhador ao capital, fazendo-os se sentirem incapazes de organizar a produção e modificar o status quo. Dessa forma, o desajustamento é “merecido” pelo próprio desajustado, uma vez que são neutras as atividades escolares; o currículo expresso e oculto; as relações sociais e as categorias que os educadores organizam. Claro, que essa neutralidade é mera pretensão (Apple, 1989).

 

Disso desprende-se que a longa mão do Capital influencia no processo de ensino de maneira umbilical, pois o que se tem são escolas se revestem do papel latente da amplificação do desajustamento.

Existem algumas proposições que podem ser aventadas, de confirmação empírica, acerca da atuação das escolas na sociedade. Existe o entendimento de serem órgãos reprodutivos, na medida que atuam selecionando e titulando a força de trabalho. Contribuem ainda para manutenção de privilégios por meios culturais, pois selecionam quais conteúdos e sobre que formas os mesmos serão transmitidos, preservados e legitimados na sociedade. Concomitantemente funcionam como agentes no processo de criação e recriação de uma cultura dominante eficaz através no ensinamento de normas, valores, disposições e uma cultura que ratificam os grupos dominantes e sua ideologia. Contudo, podem também auxiliar na legitimação de conhecimentos novos, novas classes e novos estratos sociais (Apple, 1989).