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Capítulo I – Da Educação Ambiental 37 

Capítulo 2: A Formação em EA: Limites e Possibilidades 60 

2.4. Educação e Educação Ambiental 69 

2.4.1. Pressupostos metodológicos da educação ambiental 71 

Dentro dos desafios de ordem bastante pragmática que afligem o fazer pedagógico da educação ambiental, estão aqueles que tangem a sua aplicação ou exercício metodológico. De forma que para poder fazer EA é preciso ter-se claros os seus objetivos, contudo os princípios e objetivos da educação ambiental, que estão elencados na lei 9.795/99, confundem-se com os da própria educação. Tal situação pode gerar conflitos ideológicos que dificultam a elaboração de metodologias que serão propriamente da educação ambiental. Por outro lado, tem-se que na mente da maior parte dos educadores existe a associação reducionista de que a EA relaciona-se somente a ecologia, isso pode dar um caráter excessivamente cientificista a EA, podendo até afastar educadores das outras áreas do conhecimento por não se sentirem aptos ou competentes para esse tipo de abordagem (SATO,

2001). Tal problema citado, a ecologização ou biologização da EA.

Uma importante explicação é fornecida por Carvalho (2001) quando se trata em diferenciar a EA da educação em si, que foi transcrito abaixo para melhor explicitar integralmente suas ideias.

Assim, qual seria o diferencial da educação ambiental? O que ela nos traz de novo que justifique identificá-la como uma nova prática educativa? Poderíamos dizer, numa primeira consideração, que o novo de uma EA realmente transformadora, ou seja, daquela EA que vá além da reedição pura e simples daquelas práticas já utilizadas tradicionalmente na educação, tem a ver com o modo como esta EA revisita esse conjunto de atividades pedagógicas, reatualizando-as dentro de um novo horizonte epistemológico em que o ambiental é pensado como sistema complexo de relações e interações da base natural e social e, sobretudo, definido pelos modos de sua apropriação pelos diversos grupos, populações e interesses sociais, políticos e culturais que aí se estabelecem. O foco de uma educação dentro do novo paradigma ambiental, portanto, tenderia a compreender, para além de um ecossistema natural, um espaço de relações socioambientais historicamente configurado e dinamicamente movido pelas tensões e conflitos sociais (CARVALHO.I,2001, p.45)

O que se desprende disso tudo é um visão sistêmica da natureza congregada as questões sociais, políticas e culturais. Observa-se que a EA cria sua própria identidade ao estabelecer uma forma própria de abordar determinados temas, com base na sua

 

multidimensionalidade de aspectos tratados, relacionados harmonicamente e conjuntamente para entender um mesmo problema.

É preciso ressaltar que a EA trouxe desde seu nascimento um caráter interdisciplinar, mas tal atributo se alarga cada vez mais que se compreende a natureza desse tipo de educação. Lima (2011) aponta a natureza complexa da EA dizendo que além de sua interdisciplinaridade, existe o fator do novo na discussão que envolve meio ambiente, sociedade e educação; inclui também o pragmatismo trazido em sua essência, concomitante com a herança militante que vincula ideologia e ciência na elaboração de saberes ambientais.

Talvez por tantos elementos orbitarem na constelação da EA, vários deles conflitantes, existe a dificuldade ainda não suplantada de estabelecer uma produção teórica- metodológica consistente, melhor fundamentada, capaz de legitimar a EA e suprimir os eventuais descréditos oriundos de outras áreas do conhecimento, inclusive dos demais educadores. Urge ressaltar que a legitimidade aqui mencionada não se refere ao caráter ideológico ou político, pois nesses termos a EA já incorporou significativo amadurecimento e reconhecimento, mas falta ainda encorpar mais o arcabouço teórico e metodológico que apresenta diversos pontos de fragilidade (LIMA, 2011).

Quanto a formação docente, Carvalho (2005) alerta que tal atividade deve ultrapassar os objetivos programáticos dos cursos e metodologia de capacitação, visto que para formar educadores ambientais demanda a construção de uma identidade pessoal e profissional. Destaca ainda que é imprescindível capturar ou dialogar a vivência prévia do docente (experiências, projetos de vida, expectativas existenciais, além de suas condições materiais de vida e trabalho). Tal intermédio é fundamental para que o educador que se constrói, não compreende a EA como mais um tarefa a sua já tão lotada e, às vezes, penuriosa agenda.

A mesma autora ainda ressalva outra importante dimensão na formação dos educadores, o fato de que a EA é um projeto pedagógico, oriundo direto do ecologismo. Sendo, portanto, um campo não só da educação per si, mas do também do campo ambiental. E nesse interim projeta a figura do sujeito ecológico, aquele personagem que já foi discutido no capítulo do perfil dos educadores ambientais e que é muito mais que alguém revestido de competências-habilidades pedagógicas na EA.

Entende-se, portanto, que os desafios de ordem epistemológica atingem a esfera da formação dos educadores, bem como dos educandos. A maior parte das publicações nesta seara se volta para as metodologias empregadas no ensino dos educandos, havendo inclusive diversas estratégias bastante criativas e empolgantes. Entretanto, ao se discutir a metodologia

 

para os educadores, outras dificuldades de ordem prática e epistemológica se apresentam. A começar pelo caráter interdisciplinar da EA que precisa manter o diálogo constante com professores de todas as áreas. Urge destacar que além do problema do processo do ensino per si ainda há a questão da avaliação, um calcanhar de Aquiles atávico em todo processo educacional, mas que no campo da EA tem contornos ainda mais indefinidos. Parte da dificuldade de legitimação das metodologias da EA, devem-se ao imbricado processo avaliativo das atividades em EA (LIMA, 2011).