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3. EDUCAÇÃO NO BRASIL

3.5 Externalidades dos investimentos em educação

3.5.1 Educação básica e PIB

Na observação dos dados do PISA 2006, chama a atenção o fato do desempenho escolar dos jovens de países desenvolvidos ser melhor que o dos países em desenvolvimento. A partir dessa evidência empírica, buscou-se verificar se havia alguma correlação entre o nível de conhecimento da população jovem de uma nação e a produtividade de sua economia.

O Pisa realizado pela OCDE, que é composta por 30 países que têm como princípio a economia de mercado, é uma avaliação de caráter internacional que procura medir o nível educacional de jovens de 15 anos por meio de provas de ciências, matemática e leitura. O exame é aplicado a cada três anos e, além dos países membros da OCDE, admite a participação de países convidados, como foi o caso do Brasil e outros 26 países em 2006. O desempenho dos estudantes é agrupado por níveis nas três provas que são aplicadas. Na prova de leitura, por exemplo, é classificado como “nível inferior a 1” os alunos que obtiverem menos que 334,75 pontos. O “nível 1” corresponde aos alunos que obtiveram nota de 334,75 até 407,47 pontos e assim por diante até o “nível 5” para os alunos que conseguem mais de 625,61 pontos.

Buscando verificar a existência de correlação entre o desempenho no PISA e a produtividade do trabalho, foram coletados dados do Banco Mundial sobre o PIB dos países que

participaram da avaliação da OCDE. O passo seguinte foi buscar dados da OIT - Organização Internacional do Trabalho, sobre o número de pessoas empregadas nos mesmos países.

Com base nos dados apurados, calculou-se a produção por empregado, em milhares de Dólares/ano, para 30 países que tiveram o desempenho educacional de seus jovens avaliados pela OCDE.

Como as avaliações do PISA estão divididas em várias faixas de desempenho, procedeu-se a agregação dos percentuais de alunos que obtiveram desempenho inferior a 3 e os que obtiveram desempenho maior ou igual a 3.

O cálculo da correlação entre as variáveis, mostrado na Tabela 3.15, indica que existe uma forte correlação entre o desempenho escolar dos jovens dos diversos países e a produção por empregado.

Tabela 3.15 - Correlação PISA/PIB por empregado

Avaliação PISA PIB/Empregado Correlação com Grau de Significância a 5% (P-Value)

Leitura < 3 - 0,84 0,00 Leitura > = 3 0,84 0,00 Matemática < 3 - 0,83 0,00 Matemática > = 3 0,82 0,00 Ciências < 3 - 0,82 0,00 Ciências > = 3 0,82 0,00

Fonte: Elaboração Própria a partir de dados do PISA, 2006 – Banco Mundial, 2006 e OIT, 2006.

Como esperado, existe uma correlação negativa entre o mau desempenho escolar e o PIB por empregado, indicando que quanto pior é o desempenho escolar da população jovem do país, menos produtiva é sua mão-de-obra. Por outro lado, a correlação é positiva quando se comparam o bom desempenho escolar e o PIB por empregado, mostrando que quanto melhor o nível educacional de uma população, maior é sua produtividade. Cabe destacar que a hipótese de correlação entre as variáveis foi aceita com grau de significância de 5%, visto que o P-Value calculado, zero, foi bem inferior a 0,05 para todos os níveis agregados de avaliação do PISA.

Constatada a correlação entre as variáveis, o passo seguinte foi a elaboração de uma análise de regressão linear para verificação da existência de um modelo aceitável relacionando o desempenho escolar dos jovens estudantes de um país com o grau de produção dos empregados.

A título de exemplo, os gráficos 3.9 e 3.10 abaixo mostram as equações de regressão quando se considera o desempenho em leitura das populações avaliadas pelo PISA 2006 e a produção por empregado, em 2006, nos mesmos países.

y = -1,081x + 110,5 R² = 0,710 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 20 40 60 80 100 P IB p o r e m p re g ad o (U S $ m il)

% de avaliados com Leitura < 3

Série1 Linear (Série1)

Gráfico 3.9 – Regressão linear das notas ruins no PISA e PIB por empregado

Fonte: Elaboração Própria a partir de dados do PISA, 2006 – Banco Mundial, 2006 e OIT, 2006. y = 1,081x + 2,314 R² = 0,711 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 20 40 60 80 100 P IB p o r e m p re g ad o (U S $ m il)

% de avaliados com Leitura > = 3

Série1 Linear (Série1)

Gráfico 3.10 – Regressão linear das notas boas no PISA e PIB por empregado

Fonte: Elaboração Própria a partir de dados do PISA, 2006 – Banco Mundial, 2006 e

OIT, 2006.

A análise de regressão linear indica que o modelo é bastante consistente, com uma parcela significativa da produção por empregado dos países da amostra sendo explicada pelo desempenho escolar de seus jovens estudantes. Sem qualquer espaço para dúvidas, existem outros aspectos relevantes para se produzir um modelo com poder de explicação superior,

quando se pretende estimar o nível de produção por empregado em uma economia, o que fez com que o R² das regressões apresentadas se situasse entre 67,3 e 71,1.

Os testes de hipóteses, para todas as regressões, como mostrado na Tabela 3.16, indicam a significância dos parâmetros utilizados, com nível de confiança de 100%, visto que o P-value calculado foi igual a zero.

Tabela 3.16 - Teste de Hipóteses para as regressões lineares

Regressões R² ajustado

(em %) Teste t Teste F P-Value

PIB/Empregado versus Leitura < 3 71,00 - 8,43 71,12 0,00

PIB/Empregado versus Leitura > = 3 71,10 8,45 71,34 0,00

PIB/Empregado versus Matemática < 3 68,80 - 8,00 63,95 0,00

PIB/Empregado versus Matemática > = 3 67,90 7,84 61,40 0,00

PIB/Empregado versus Ciências < 3 67,30 - 7,73 59,68 0,00

PIB/Empregado versus Ciências > = 3 67,30 7,73 59,68 0,00

Fonte: Elaboração Própria a partir de dados do PISA, 2006 – Banco Mundial, 2006 e OIT, 2006.

A análise acima deixa claro que as políticas públicas voltadas para a melhoria da qualidade do ensino básico, no Brasil, deveriam ser consideradas a maior prioridade nacional. Se não forem adotadas medidas imediatas com vistas a melhorar o desempenho dos estudantes brasileiros no PISA, dentro de 20 anos, esses indivíduos estarão no mercado de trabalho sem condições de se engajar em processos produtivos cada vez mais tecnológicos, com crescentes exigências sobre a qualificação dos trabalhadores. Além do mais, essas evidências corroboram a conclusão final de Rodrigues, 2004:

“Em nosso entender, os amplos benefícios da educação permanecem subestimados, mesmo que não possamos negar a eventualidade de sobre-- educação em algumas situações. Porém, parece-nos limitado restringir os efeitos da educação aos seus efeitos na produtividade econômica e, mesmo que a sobre-educação seja uma realidade, ela ficar-se-á a dever, na nossa perspectiva, à ausência de incentivos complementares às políticas de fomento da educação.” (RODRIGUES, 2004, p. 216)

Até mesmo as externalidades dos investimentos públicos em infraestrutura, que têm considerável impacto sobre a taxa decrescimento do PIB, conforme destacado em artigo de Oliveira, Linhares & Sousa (2008), tenderiam a ser beneficiadas com a melhoria da qualidade da educação básica.

“Enquanto perdurou o modelo de crescimento liderado pelos investimentos do setor público, os investimentos em infra-estrutura representavam aproximadamente 4% do PIB. Com o crescente endividamento externo e a deterioração das finanças públicas, essa participação caiu para 1,85% ao longo dos anos 80. A redução do investimento público teve impacto sobre as

taxas de crescimento do produto nos anos posteriores.” (OLIVEIRA, LINHARES & SOUZA, 2008, p. 11)

A melhoria da infraestrutura do país poderia estimular ainda mais os investimentos privados nos diversos segmentos produtivos, se não houver restrição no tocante à oferta de mão-de- obra qualificada no país.