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Para falar sobre a educação em Caxias do Sul, faz-se uma breve análise da educação direcionada aos imigrantes, pois este assunto – educação dos imigrantes RCI – está bem- explanado na tese O processo escolar entre imigrantes da região colonial italiana do RS –

1875 a 1930 de, Luchese (2007), que revela como ocorreu o desenvolvimento da educação

pública e de que maneira se deu a expansão das escolas públicas, laicas e gratuitas que eram constantemente requisitadas pelos imigrantes (p. 151). Assinala também que as escolas “étnico-comunitárias foram diminuindo progressivamente no período e os colégios confessionais expandiram-se”. (p. 119). Isso ocorreu principalmente nos anos 20, pois nessa época “a organização e implementação de escolas municipais foi crescendo”. (p. 119).

Um dos marcos importantes da educação em Caxias do Sul foi no ano de 1920, quando os protestantes começavam atuar na cidade com o desenvolvimento de seu projeto educacional e inaugurando uma escola na então modesta cidade, fazendo com que a Igreja Católica atuasse para manter seus fiéis com a abertura de escolas paroquiais que foram sendo organizados pelo Monsenhor João Meneguzzi, e que se manteriam durante dez anos. “Durante a gestão do Prefeito Cel. Miguel Muratore, [...] em acordo estabelecido entre este e Monsenhor João Meneguzzi, essas escolas foram absorvidas pelo Município.” (ADAMI, 1981, p. 139).

Conforme Adami (1981), as principais escolas paroquiais instaladas nesse período tiveram início no ano 1921, e as primeiras escolas paroquiais foram: a Escola Paroquial Santo Antônio, seção feminina, com 105 alunas matriculadas, que funcionou nos primeiros anos no terreno da Casa Canômica e a seção masculina, com 88 alunos, estava localizada na Rua Os 18 do Forte; a Escola Paroquial São Vicente de Paula; a Escola Paroquial D. João Becker e a Escola Paroquial João Batista de La Salle, que funcionavam na Avenida Júlio de Castilhos, esquina com Rua Cel. Flores.

As escolas paroquiais foram fechadas em 1934 e, de acordo com as autoridades eclesiásticas, os principais motivos para o fechamento teriam sido, por um lado, a dificuldade de manter financeiramente a estrutura física e o pagamento dos professores e, por outro, o ensino religioso que podia ser ensinado nas escolas públicas, o Bispo Diocesano indicava o nome de alguém autorizado a fazê-lo. (BERGOZZA, 2010, p. 45).

Na década de 1930, “a escola passa a assumir pensamentos integralistas e nacionalistas” (DALA VECCHIA et al., 1998, p. 139), bem como as escolas municipais tinham como língua oficial o português. Em vista disso, implantaram novas propostas pedagógicas realizadas através de políticas educacionais, que tomaram corpo, principalmente, na década de 40 que se tornou um grande marco histórico da educação brasileira, pois, até esse período, as escolas tinham como objetivo ensinar a ler, a escrever e a contar.

A educação religiosa, nesse momento histórico, torna-se fundamental para a educação de jovens, oriundos, principalmente, da elite da sociedade, educando grande parte

de nossa população, especialmente futuros políticos, que fizeram história no decorrer do desenvolvimento sociopolítico da nossa cidade. Nesse sentido, Bergozza (2010) comenta que a educação formal no século XX, em Caxias do Sul, estava ligada às ações da Igreja Católica.

O fato que marcou a presença da Igreja Católica no campo educacional foi a intensa atuação das Ordens e Congregações Católicas masculinas e femininas de origem europeia, as quais, geralmente, estavam imbuídas de forte ardor missionário, pois acreditavam que estavam sendo enviadas com o poder de ensinar a verdadeira doutrina cristã, contribuindo para reconstruir o colonialismo europeu. Esses grupos criaram várias redes de instituições assistenciais e educativas, como: orfanatos, creches, casas de saúde, hospitais, asilos para idosos e, especialmente, escolas e colégios. (DALLABRIDA, 2005). Oliveira dá conta de que as

congregações religiosas vindas para o Brasil, a partir de meados dos século XIX, tornaram-se instituições particulares e enfatizaram suas atividades no âmbito educacional e não no missionário. Essa foi a forma encontrada para superar a precariedade de recursos financeiros na continuidade de suas obras. À medida que os colégios e escolas confessionais passaram a atender à classe média e alta da sociedade, procuram investir, atualizar e modernizar suas instituições para competir no mercado educacional, no âmbito das escolas particulares, leigas, protestantes e, posteriormente, no próprio ensino público. (2009. p.92).

Portanto, nessa época, educar significava, para a Igreja, transpor montanhas, criar, fundar e espalhar escolas, institutos e universidades ao lado de cada Capela ou Igreja matriz, com mais variados ramos do saber. Era preciso transmitir à população que a Igreja deveria ser a mestra suprema da missão educativa segura, independente, inviolável, inquestionável e confiável, posto que todas as ações humanas estariam submetidas ao seu juízo e poder.

Geralmente esses educandários funcionavam como um sistema de internato para os jovens, havendo uma divisão de gêneros: o sexo masculino ficava com os padres, e o feminino, com as freiras, não havendo, dessa maneira, uma educação mista, mas diferenciada entre eles; (DALLABRIDA, 2005); cada escola determinava seu currículo. Na vigência dessa realidade, verifica-se que o Estado não abriu escola para todos, promovendo, com isso, o aumento das escolas confessionais.

Bergozza (2010) refere que esse tipo de educação (realizada por instituições educativas confessionais católicas) na cidade de Caxias do Sul iniciou no ano de 1900, e essas escolas deram origem, por meio das Congregações Religiosas, a vários colégios, uns de origem francesa, que foram fundados na cidade, tiveram seu inicio no ano de 1901, ao tradicional Colégio São José, dirigido à população feminina pela Congregação das Irmãs de São José de Chambery-Moutiers, e, em 1908, ao Instituto das Escolas Cristãs dos Irmãos Lassalistas, voltado à população masculina, sendo que esse instituto, em 1936, originou outro

colégio chamado La Salle, atualmente, Colégio La Salle Carmo. Em 1939, foi inaugurado o Seminário Nossa Senhora Aparecida, que havia começado suas atividades em 1938 para a formação do Clero da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos.

Destacam-se também os de origem italiana que iniciaram suas atividades em 1928, como o Orfanato Santa Teresinha, dirigido pela Congregação das Irmãs Imaculada do Coração de Maria, origem do atual Colégio Madre Imilda e, em 1929 teve início o Colégio Agrícola Murialdo, dirigido pela Congregação dos Padres Josefinos de Murialdo; em 1936, foi fundado o Colégio São Carlos com seu primeiro propósito: atender ao curso primário e, posteriormente direcionado para uma população feminina, dirigido pela Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo – Scalabrinianas, este último, objeto deste estudo.

Na trajetória das escolas organizadas em Caxias do Sul, ou seja, dos colégios religiosos, a pioneira foi a Congregação das Irmãs de São José, especialmente para moças. Como já referido, essa era de origem francesa, embora, na região, houvesse um grande número de imigrantes italianos. Apesar disso, somente uma escola de origem italiana foi instalada no ano de 1936,14 como referido a Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo – Scalabrinianas. 15

O Colégio São José teve maior destaque na educação de moças e tinha a missão de profissionalizá-las. Investiu no Curso de Magistério na cidade de Caxias do Sul. No ano de 1932, equiparou seu ensino ao das escolas do estado, dando início à Escola Complementar. Somente em 1947 foi criada a Escola de Formação de Professoras Primárias tendo ainda como base as Escolas Normais do Estado. (ADAMI, 1981).

O processo educacional que estava ocorrendo tinha, junto com o desenvolvimento da educação, o propósito de seguir a expansão industrial principalmente com a educação da mulher, disponibilizando-a para uma nova etapa da história que estava por iniciar em sua trajetória de vida: a mulher começaria a dividir suas atividades com o homem principalmente nas empresas, necessitando, assim, de um investimento em sua educação, porém sempre mantendo seus princípios religiosos. Louro destaca que

algumas ordens religiosas femininas dedicaram-se especialmente à educação de meninas órfãs, com a preocupação de preservá-las da “contaminação dos vícios”;

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Porém, no início de suas atividades com o Curso Primário, conforme documentação pesquisada na instituição, percebeu-se que, nesse primeiro momento, havia meninos também. Foi somente após o reconhecimento do Curso Ginasial que ela direcionou para o gênero feminino. Esse aspecto será abordado mais adiante em outro capitulo.

15Sobre a presença da Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo – Scalabrinianas em Caxias do Sul, veja-se o estudo de Grazziotin (2010).

outras religiosas voltaram-se ao cuidado das moças sem emprego e daquelas que se desviaram do bom caminho. (2006, p. 445).

Para compreender melhor a educação da mulher oferecida em Caxias do Sul, nessa época, principalmente pela Congregação das Irmãs de São Carlos Borromeo – Scalabrinianas, deve-se saber como foi a história da Congregação começarem a desenvolver seu processo educacional. Assim merece tecer comentários sobre a forma como ocorreu, através de uma breve reconstrução histórica.

2.4 CAMINHADA HISTÓRICA DA FORMAÇÃO DA CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS DE