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Educação corporativa: um tema para ser constantemente aprimorado

2. CONSTRUÇÃO DO ESTADO DO CONHECIMENTO E REVISÃO DA

2.2 Educação corporativa: um tema para ser constantemente aprimorado

A educação é um valor intrínseco na sociedade e no mundo do trabalho, é um valor inclusive de empregabilidade. Se eu percebo que a empresa investe em mim, aumenta o meu nível de gratificação, de um lado, e de gratidão, do outro. Não significa que eu tenha lealdade absoluta, porque não se sente isso nas organizações em geral. Mas, pelo menos, eu tenho um nível de fidelidade maior. E a educação significa que ela quer me preparar, se não exclusivamente para ela, ao menos me preparar como profissional, e isso me dá um grau de tranquilidade maior, portanto, de adesão (CORTELLA, 2007, p. 39).

Tangenciando o tema principal desta tese, passam temas secundários, que não podem ser desprezados. O primeiro deles diz respeito aos estudos sobre educação corporativa.

Em um primeiro momento, considero importante destacar os dados coletados sobre o tema à época da elaboração de minha dissertação de Mestrado, na construção do estado do conhecimento, quando, ao consultar o Banco de Teses da CAPES, usando como palavra-chave educação corporativa, encontrei um total de 279 Teses/Dissertações, sendo 31 Teses de Doutorado, 188 Dissertações de Mestrado Acadêmico e 60 de Mestrado Profissionalizante, referentes ao período compreendido entre os anos de 1987 e 2009 (CASALETTI, 2012).

Posteriormente, ao estender a pesquisa até o ano de 2012, constatei que os números aumentam para 415 Teses/Dissertações, sendo 50 Teses de Doutorado, 270 Dissertações de Mestrado Acadêmico e 95 de Mestrado Profissionalizante. Diante desses novos dados, pude perceber que houve um crescente interesse pelo tema junto aos pesquisadores brasileiros, pois, em um período de apenas três anos, o aumento da produção acadêmica acerca da temática foi de aproximadamente 50% (CASALETTI, 2013).

Gráfico 1 – Educação Corporativa – CAPES – 2009

Fonte: Casaletti (2013)

Gráfico 2 – Educação Corporativa – CAPES – 2012

Fonte: Casaletti (2013)

Eboli (2014), como organizadora do livro Educação Corporativa: muitos olhares, vai ao encontro desta percepção ao divulgar o quanto a temática ganhou destaque no cenário brasileiro, não só no que diz respeito a empresas públicas ou privadas, como também na própria academia. Destaca o quanto tem crescido a produção nacional sobre o assunto. Apresenta, ainda, dados mostrando que, na década de 1990, apenas 10 empresas tinham implementado sistemas de educação corporativa no Brasil e que, atualmente, se considerarmos organizações nacionais ou multinacionais, esse número subiu para aproximadamente 500.

32% 21% 13% 9% 4% 4% 4% 13% Administração Educação Engenharia Computação Política Social Psicologia Ciências Contábeis Outros 27% 25% 12% 6% 6% 24% Administração Educação Engenharia Tecnologias da Inteligência e Design Digital Desenvolvimento Sustentável

Zayas (2012, p. 63) explica que “a educação permanente (ou a educação continuada ao longo da vida) é a aprendizagem necessária para o desenvolvimento de competências de pessoas, de funcionários ou de usuários nos momentos oportunos para eles”.

Resgato aqui, mais uma vez, os estudos iniciados à época do Mestrado, quando, talvez, uma primeira informação importante a ser destacada seja a trazida por Eboli (2010) no sentido de que o lançamento no Brasil, em 1999, do livro de Jeanne Meister, pela Makron Books, é considerado o marco do surgimento da educação corporativa no cenário nacional.

Outros destaques trazidos pela autora, ao traçar a linha do tempo da educação corporativa no Brasil, são a defesa da primeira tese de doutorado intitulada “As universidades corporativas no contexto do ensino superior”, no ano de 2001, e a criação da Associação Brasileira de Educação Corporativa (ABEC) em 2004, atualmente denominada AEC Brasil.

Do ponto de vista de Meister (1999, p. 29), a universidade corporativa é “um guarda-chuva estratégico para desenvolver e educar funcionários, clientes, fornecedores e comunidade, a fim de cumprir as estratégias empresariais da organização”.

A autora comenta, ainda, que a universidade corporativa não pode ser considerada como um local físico, mas sim como um processo onde o “foco saiu da sala de aula e dirigiu-se para um processo de aprendizagem, onde a prioridade é entrar em contato com o conhecimento da organização como um todo” (MEISTER, 1999, p. 20).

Cruz (2008) explica o surgimento da universidade corporativa conforme segue:

A universidade corporativa nasceu nos Estados Unidos, sendo inicialmente um campus universitário onde as empresas despendiam recursos materiais e humanos para o desenvolvimento de seu corpo organizacional. Hoje em dia, porém, existe um foco maior no processo em si e não no espaço físico, utilizados apenas como um dos veículos possíveis de aprendizado (CRUZ, 2008, p. 109).

A autora também esclarece que “as universidades corporativas surgem como uma das estratégias organizacionais de implantação de um processo de educação corporativa, visando à promoção da aprendizagem organizacional” (CRUZ, 2008, p. 109).

Ademais, Eboli (2014) evidencia o seguinte:

O fator essencial na concepção de um projeto de educação corporativa é que ele atenda ao princípio fundamental desse novo modelo de aprendizagem: auxiliar as organizações e desenvolver nas pessoas as competências críticas ao seu negócio (EBOLI, 2014, p. 22).

Segundo os estudos de Dutra & Comini (2010),

[...] a educação corporativa deve se inserir em uma proposta estratégica de gestão de pessoas que permita uma ação articulada por todos os atores. Dessa forma, a educação corporativa passa a ser um ponto de intersecção para ações estratégicas e de transformação cultural (DUTRA & COMINI, 2010, p. 119).

Também Vespa (2011) dedicou-se a estudar a questão e apresenta o seguinte entendimento sobre a missão da educação corporativa:

Nada mais é do que preparar as pessoas para que tenham autonomia e sejam capazes de gerar soluções para os problemas do cotidiano. [...] Portanto, mais do que ter um estoque de conhecimento temos que [...] saber associar conhecimentos, desenvolver o espírito crítico e ao se defrontar com situações novas, saber tomar decisões (VESPA, 2011, p.128).

Na opinião de Cruz (2008):

[…] independentemente da denominação atribuída à educação corporativa, se as organizações utilizarem esse canal para o desenvolvimento e a disseminação do conhecimento aos seus colaboradores e a toda cadeia produtiva, esse conhecimento deve, sim, trazer progresso e desenvolvimento à organização (CRUZ, 2008, p. 121-122).

Discorrer sobre educação corporativa e assumir uma proposta de formação e aperfeiçoamento nesse contexto exige compreender suas origens, tensões, contradições e tendências. Para tanto, até aqui esse tema foi abordado com o

auxílio de diversos autores que já se debruçaram exaustivamente sobre o assunto. Entretanto, ao formar juízo acerca desses estudos, percebo, acompanhando as reflexões de Cortella & Barros Filho (2014b), que além da teoria, as emoções também estão diretamente relacionadas na hora de tomar a decisão de optar por um programa de educação corporativa em uma instituição pois, mesmo as emoções não sendo determinantes, não deixamos de considerá-las nesse momento de escolha.

2.3 Competência: um terreno fértil e inserido em um processo de constante