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1 ESTADO DO CONHECIMENTO SOBRE A FORMAÇÃO INICIAL DE

4.2 Potencialidades e limitações apontadas pelos acadêmicos ao avaliar o curso de

4.3.3 Educação de bases científicas e humanísticas

Na atual conjuntura, não diferente do contexto vivido por Anísio Teixeira e pelos signatários, a prática pedagógica observada na maioria das salas de aula está longe de acompanhar as transformações vivenciadas pela sociedade, pois está calcada em metodologias tradicionais de ensino que não favorecem a produção do conhecimento, tampouco a transformação social (LEÃO; OLIVEIRA; QUARTIERI, 2013). O que se observa é uma educação, fruto de um processo formativo, centrada no cumprimento de programas preestabelecidos sem a preocupação com a validade desses conhecimentos.

Segundo Moll (2015), o fracasso escolar está relacionado também a incapacidade de os professores articularem os saberes estabelecidos e os interesses dos estudantes, que envolve desejos, expectativas, cotidiano, necessidades, enfim, perspectivas que estes jovens têm com relação à escola e a vida.

Neste sentido, Teixeira (1957) apresenta a educação como ciência e arte. Para o autor, a educação é uma ciência, ou seja, ela exige estudo aprofundado e sistematizado. Em outras palavras, aos profissionais da educação compete investigar, estudar, registrar, analisar, buscar resultados e socializar os mesmos, para que ocorram melhorias e avanços destas importantes ciências. Até mesmo porque para fazer aulas é preciso ter conhecimento de causa daquilo que se irá intermediar (TEIXEIRA, 1957).

Ainda segundo o autor supracitado, a educação é uma arte, ou seja, não pode faltar a sensibilidade ao professor em perceber o contexto, considerar as necessidades e anseios dos estudantes e discernir os meios para atingir o objetivo da educação, que é a formação integral do ser humano. É preciso enxergar o estudante e perceber seus diferentes contextos.

126 Educação é uma arte que pressupõe conhecimentos exatos e experimentais relativos aos seres humanos, não os anatômicos ou fisiológicos, mas sim os psicológicos (PIAGET, 1973). Em outras palavras, educação de qualidade é aquela voltada para o pleno desenvolvimento da personalidade integral do homem.

Para que a educação desenvolva de fato o seu papel de protagonista na formação humana, é necessário conceber que é por meio da convivência social que encontraremos respostas para enfrentar as grandes dificuldades e solucionar os problemas impostos pela vida moderna. Desta forma, novos métodos surgirão para desenvolver autonomia nos sujeitos de direito e melhorias na qualidade de vida e na convivência social (FREIRE, 1996).

Como já mencionado anteriormente, a responsabilidade da ação educativa ultrapassa apenas assegurar a capacidade de ler, escrever e contar. É necessário garantir o pleno desenvolvimento das funções mentais e da adaptação à vida social atual. Nesta vertente, “os métodos ativos são os únicos capazes de desenvolver a personalidade intelectual” da pessoa (PIAGET, 1973, p. 69).

Segundo o autor supracitado, os métodos ativos dão liberdade de iniciativa e consideram que o processo de ensino deve estar alicerçado na experimentação por parte do estudante, ou seja, ele é o sujeito da aprendizagem e por isso necessita vivenciar todas as etapas do processo de construção do conhecimento para que compreenda as múltiplas interconexões entre si e o mundo.

Já falava Freire (1996) que não existe ensino sem pesquisa, tampouco pesquisa sem ensino. Porque ao ensinar o professor continua buscando, procurando conhecer aquilo que ainda não conhece. Neste sentido, o autor sugere que aos professores compete buscar, indagar, provocar os estudantes para que estes também se inquietem e busquem, por meio da pesquisa, conhecer aquilo que foram provocados.

Conquistar um saber por meio da realização de pesquisas livres, de esforços espontâneos, possibilita ao estudante adquirir meios para solucionar problemas de qualquer natureza, o que lhe será útil por toda vida. Neste sentido, o autor evidencia que a pesquisa é elemento fundamental dos métodos ativos, pois na medida em que o estudante consegue estabelecer as conexões entre a Ciência e a vida ele será capaz de produzir ou criar, e não apenas repetir (PIAGET, 1973).

Percebe-se que a escola ativa propõe a busca pelo estruturalismo científico para o desenvolvimento intelectual, mas propõe também alternância de estratégias de ensino,

127 ora com trabalhos individuais, ora em grupos, por considerar que a vida coletiva é indispensável para o desenvolvimento da personalidade.

Nos documentos oficiais nacionais, tais como os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2002; 2006) e Parecer CNE/CP nº 02/2015, por exemplo, contata- se que a ação do professor pressupõe seleção de conteúdos escolares contextualizados, o que exige o entendimento das concepções sobre educação, conhecimento científico e aprendizagem. Nesse sentido, a contextualização no tempo e no espaço torna-se cada vez mais necessária para uma educação de bases significativas.

Daí a importância de proporcionar na formação inicial o desenvolvimento das habilidades fundamentais para o professor relacionar conteúdos de referência (conceitos químicos), estratégias de ensino e realidade (cotidiano) para assim favorecer a aprendizagem. Desta maneira, desenvolvem-se as ferramentas pedagógicas apropriadas para estabelecer as conexões entre a Química e a vida, o que leva os estudantes a relacionarem os conteúdos estudados com os outros campos do conhecimento (LEÃO, 2014).

Assim sendo, é importante que o educador fomente a percepção de situações do cotidiano, observáveis e mensuráveis, já que os conceitos trazidos para a sala de aula, segundo Freire (1996), advêm de sua leitura de mundo cujos significados lhe são pertinentes. Esta tendência pedagógica propõe um ensino de correlações e de associação de informações.

Afinal, para que serve um estudante “saber” todas as etapas do ciclo do carbono, por exemplo, mas não relacionar tais conhecimentos com sua prática cotidiana? Ao não relacionar este assunto com a necessidade de consumir energias limpas, ou ainda não se preocupar em utilizar produtos de empresas “Carbono Zero”, o estudante pode estar alfabetizado para as provas e não letrado para o mundo (LEÃO, 2014).

De acordo com Penick (1998), trabalhar com atividades científicas no ensino é uma necessidade, uma vez que a aplicação de tais conhecimentos possibilita o desenvolvimento individual e social. A incapacidade de compreender e utilizar os saberes científicos na vida cotidiana configura-se em um problema porque inviabiliza os cidadãos de usufruir desses benefícios.

Nesse sentido, para haver relação entre conhecimento científico e conhecimento popular, faz-se necessária a intermediação significativa pela educação. Assim, segundo Leão (2014), é importante que o educador fomente a percepção de situações do cotidiano,

128 possibilitando estabelecer relações entre estas e os saberes científicos.

Referente a essa relação entre ciência e vida, Freire (1996, p. 56) afirma que:

O progresso científico e tecnológico que não responder fundamentalmente aos interesses humanos, às necessidades de nossa existência, perdem, para mim, sua significação. A todo avanço tecnológico haveria de corresponder o empenho real de resposta imediata a qualquer desafio que pusesse em risco a alegria de viver dos homens e das mulheres.

É preciso extrair dos conceitos a aplicabilidade para a vida e, assim, utilizar tais conhecimentos na resolução de problemas, ou, ainda, ser capaz de explicar os fenômenos de seu cotidiano por meio dos saberes proporcionados pela ciência e pela tecnologia. É preciso compreender como os novos conhecimentos podem ser utilizados pela sociedade (RICARDO, 2007). Em outras palavras, o autor defende que compete ao professor a responsabilidade de formar os cidadãos a fim de que sejam capazes de adaptar as conquistas científicas e tecnológicas ao contexto no qual está inserido, assim, incorporá- las em suas práticas de vida.

Com a globalização, novos conceitos em relação à educação entram em pauta, fazendo assim com que as escolas também acompanhem e ampliem seus horizontes. Diante do exposto, entende-se por educação o processo que envolve toda sociedade, que tem por finalidade a formação integral do ser humano (GUARA, 2009). Esta formação é essencial para o desenvolvimento do ser e para garantir o gozo de outros direitos, constituindo-se assim, fundamental em si mesma.

Uma formação de base humanística é aquela, segundo Teixeira (1996), em que o saber não é algo que se acumula, algo dogmático ou inútil, mas sim é a própria arte de fazer as coisas, de resolver os problemas do cotidiano e, desta maneira, tornar os indivíduos em verdadeiros homens. A ideia fundamental é que toda ação humana é um ato partilhado, ou seja, uma ação associada. A participação efetiva no processo educativo é que torna os sujeitos capazes de perceber que seus desenvolvimentos cognitivos, físicos e emocionais é um tipo de desenvolvimento em conjunto.

Nesta mesma linha de pensamento, para Cavaliere (2002) a formação geral do homem envolve atuar em diferentes aspectos da condição humana, entre eles os cognitivos, os emocionais e os societários, o que pode ser entendido como um reatamento entre educação e vida. Ou seja, a educação precisa assumir seu papel de agente de transformação da sociedade para a democracia, oportunizando a liberdade, a participação, a iniciativa, a autodisciplina, o interesse e a cooperação.

129 Nas palavras de Paro (2009, p. 17):

O homem se apropria de toda a cultura produzida em outros momentos históricos, e assim ele se faz histórico. Enfim, a essa apropriação da cultura, nós chamamos de educação, agora em um sentido mais amplo, muito mais rigoroso, muito mais complexo. Agora sim, podemos falar de educação integral.

Em outras palavras, a educação integral ou de formação humana, pode ser compreendida como um processo educativo que considera a pessoa em todas as suas dimensões (cognitiva, espiritual, estética, ética, política, biológica, social e afetiva), ou seja, o autor defende que é preciso pensar educação como o processo que possibilita a formação integral do ser humano.

Esta formação humana integral vai além de ensinar as ciências, por isso, é preciso conceber a escola como uma grande sociedade de convivência, um espaço propício para a criação no qual se constroem os aprendizados fundamentais para a vida (MOLL, 2015). Não se trata de uma instituição que simplesmente prepara para vida em fria conexão com a comunidade e sociedade, pois a escola é a própria vida. Em outras palavras, é na escola que se educa o corpo, a mente e o espírito visando ao pleno desenvolvimento da pessoa. Segundo a autora, a educação integral é uma condição para construir um mundo onde todos caibam.