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O Estado de Mato Grosso do Sul, localizado na região Centro-Oeste do Brasil, faz divisa com cinco estados (São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso) e fronteira com dois países (Paraguai e Bolívia), contando atualmente com 79 municípios. A criação de Mato Grosso do Sul é recente: deu-se pela Lei complementar nº 31, de 11 de outubro de 1977, e oficializou-se em 1º de janeiro de 1979, em ato que dividiu o Estado de Mato Grosso (MT).

Conforme Noal (2014, p. 313), “a Secretaria de Estado de Educação é a sede do Comitê Estadual de Educação do Campo de MS e tem um departamento responsável pela Educação do Campo”. Por meio da Resolução/ SED nº 2.501, de 2011, nesse percurso, a deliberação dessa resolução organizou a Educação Básica do Campo na rede estadual de ensino. Em seu Art. 1º, definia-se que a rede estadual de ensino deveria organizar, nas etapas do ensino fundamental e médio, “o Currículo e o Regimento Escolar da Educação Básica do Campo da Rede Estadual de Ensino como política pública de inclusão das comunidades camponesas do estado”. Essa resolução de Mato Grosso do Sul, em seu Art. 3º, define a escola do campo como:

[...] aquela que trabalha os interesses, a política, a cultura e a economia dos diversos grupos de trabalhadores e trabalhadoras do campo, nas suas diversas formas de trabalho e de organização, na sua dimensão de permanente processo, produzindo valores, conhecimentos e tecnologias na perspectiva do desenvolvimento social e econômico igualitário da população do campo.

Essa mesma Resolução, no seu Art. 4º, contempla que:

As escolas do campo terão em sua Proposta Pedagógica, os eixos temáticos Terra-Vida-Trabalho e os fundamentos das diversas áreas de conhecimento norteadores de toda a organização curricular interdisciplinar, abrangendo as disciplinas e seus conteúdos, bem como outras atividades escolares que venham enriquecer a formação dos estudantes, relacionando-os entre si e atendendo à realidade da comunidade.

Portanto, o objetivo desse eixo temático Terra-Vida-Trabalho no currículo é para intensificar o diálogo entre os saberes escolares e os saberes do campo, bem como com outras atividades escolares norteadoras da organização curricular interdisciplinar. Como assinala Noal (2014, p. 314), embora esse eixo temático seja um componente obrigatório no currículo das escolas do campo, ainda existe um dilema ao ser posto em prática: “o problema que se configura atualmente é que esse eixo temático foi projetado para ser assumido por professores/as experientes e com formação própria para atuar na Educação do Campo”. No entanto, na maioria das escolas estaduais do campo, os professores que estão trabalhando com esse eixo o fazem apenas para a complementação da carga horária, desconsiderando o perfil exigido. “Mais uma vez, a aplicação da legislação não acontece como deveria acontecer e os avanços previstos não se efetivam.” (NOAL, 2014, p. 314).

A partir dessa resolução, outras três legislações foram promulgadas, dispondo sobre a autorização de funcionamento de escola de ensino fundamental e médio na modalidade de Educação do Campo no estado de MS: Deliberação CEE/MS nº 7.111/2003; Resolução/SED nº 2.507/2011; Resolução/SED nº 2.501/2012. O quadro a seguir mostra a relação de escolas de Educação Básica Estadual do Campo – 2019.

Quadro 2 – Relação das Escolas Básicas Estaduais do Campo em MS

Munícipio Unidades Escolares Localização da Unidade Escolar

Angélica EE Luiz Vaz de Camões Distrito Ipezal

Amambaí EE Indígena Mbo’eroy Guarani Kaiowá Aldeia Amambaí

Aquidauana EE Geraldo Afonso Garcia Rodovia Aquidauana Km 12

EE Indígena de EM Pastor Reginaldo Miguel- Aldeia Lagoinha

Aldeia Lagoinha

EE Indígena de EM Prof. Domingos Veríssimos Marcos- Aldeia Bananal

Aldeia Bananal

Aral Moreira EE Eufrázia Fagundes Marques Povoado Vila Marques

Bataguassu EE Prof. Ladislau DeákFillho Distrito Porto XV de Novembro

Brasilândia EE DEBRASA Distrito DEBRASA

Caarapó EE Frei João Damasceno Distrito Nova América

EE Indígena de EM “YvyPoty” Aldeia Te’ Yikue

Camapuã EE Joaquim Malaquias da Silva Distrito Pontinha do Cocho

Campo Grande EE Polo Francisco Cândido de Resende Distrito Anhanduí

Corumbá EE Indígena João Quirino de Aldeia Uberaba Ilha

Deodápolis EE João Baptista Pereira Distrito Presidente Castelo

EE Lagoa Bonita Distrito Lagoa Bonita

EE Porto Vilma Distrito Porto Vilma

Dois Irmãos do

Buriti

EE Indígena Cacique Ndety Reginaldo Aldeia Água Azul EE Indígena Natividade Alcântara Marques Aldeia Buriti

Dourados EE Antônio Vicente Azambuja Distrito de Itaum

EE Indígena Intercultural Guateka Aldeia Jaguapiru EE Joaquim Vaz de Oliveira Distrito Indápolis

Eldorado EE Silo Vargas Batista Distrito de Morumbi

Fátima do Sul EE Jonas Belarmino da Silva Distrito de Culturama

Gloria de Dourados EE Weimar Torres Distrito de Guaçulândia

Inocência EE João Ponde de Arruda Distrito de São Pedro

Itaquirai EE Profª. Tertulina Martins de Oliveira Assentamento Santo Antônio

Itaporã EE Olivia Paula Distrito de Piraporã

EE Princesa Isabel Distrito Santa Terezinha

EE Sen. Saldanha Derzi Distrito Montese

Ivinhema EE Joaquim Gonçalves Ledo Distrito Amandina

Jaraguari EE Zumbi dos Palmares Comunidade de Furnas do Dionísio

Jateí EE Prof. Joaquim Alfredo Soares Viana Povoado Nova Esperança

Miranda EE Indígena Cacique Timóteo Aldeia Cachoerinha

EE Indígena Prof. Atanásio Alves Aldeia Lalima EE Indígena Cacique Vicente Almeida Aldeia Passarinho

EE Indígena de EM Angelina Vicente Aldeia Brejão

EE Uirapuru Assentamento Uirapuru

Nova Andradina EE Prof. Luiz Carlos Sampaio Distrito Nova Casa Verde

Ponta Porã EE Nova Itamarati Assentamento Itamarati II

EE Prof. José Edson Domingos dos Santos Assentamento Itamarati I

EE Carlos Pereira da Silva Assentamento Itamarati I EE Pedro Afonso Pereira Goldoni Distrito de Sanga Puitã

São Gabriel do

Oeste

EE Dorcelina Folador Assentamento Campanário

Sidrolândia EE Paulo Eduardo de Souza Firmo Assentamento Eldorado

EE Vespasiano Martins Distrito de Quebra Coco

EE Kopenoti de EM Prof. Lúcio Dias Aldeia Córrego do Meio

Tacuru EE Indígena JasyRendy Aldeia Sossoró

Terenos EE Antônio Nogueira da Fonseca BR 262 – Km11

Três Lagoas EE Afonso Francisco Xavier Distrito de Arapuá

Vicentina EE Emanuel Pinheiro Distrito de Vila Rica

EE São José Distrito de São José

Fonte: SED/MS10

A Resolução/SED nº. 2.501/2011, no art. 5º, propôs que a Educação Básica do Campo poderia fazer uso da modalidade da “Pedagogia da Alternância”, visando assim a uma organização do processo de formação em tempos alternados: Tempo Escola (TE) e Tempo Comunidade (TC), possibilitando aos jovens do campo o acesso a uma educação sem a necessidade de deixar o campo. Nessa modalidade, a organização dos estudos era realizada de forma “dialética e processual”, em espaços e tempos pedagógicos, internos e externos à escola. Em 201211, no município de Paranaíba, a Escola Estadual Wladislau Garcia Gomes funcionava no sistema de alternância, considerando o tempo escola (três vezes por semana) e o tempo comunidade (duas vezes por semana), porque, mesmo situada na área urbana do município, atendia alunos do campo.

A Deliberação nº 7.111/2003, do Conselho Estadual de Educação de Mato Grosso do Sul, dispõe, no Art. 17, que as mantedoras das escolas do campo deverão:

10 https://www.sed.ms.gov.br/wp-content/uploads/2019/12/Rela%C3%A7%C3%A3o-de-Escolas-com-Diretores-SEDMS.pdf

Art. 17. As mantenedoras das escolas do campo deverão adotar procedimentos para garantir a formação continuada dos profissionais em exercícios, especialmente os professores, considerando, sobretudo, as referências culturais, a predominância da economia de cada região, os projetos agrários de cada localidade e, ainda, os anseios da comunidade.

Nesse percurso, conforme Noal (2014, p. 314), a SED disponibiliza texto explicativo sobre as concepções da Educação Básica do Campo, “que pode indicar que há uma compreensão da legislação e a intenção de aplicá-la, embora a situação real ainda exija muitas ações e vontade política de transformação”.

Esse breve panorama sobre a efetivação de políticas públicas de Educação Básica do Campo em MS indica lacunas, particularmente na formação de professores/as, gerando ações significativas por parte de atores da área da educação.

A Universidade Federal de Mato Sul ofertou o curso de Pós-Graduação lato sensu em Educação do Campo12, área de concentração em Educação, sediado no Centro de Ciências Humanas e Sociais/UFMS13 na modalidade a distância, no período de 2009-2015, totalizando três turmas nesse período. O público-alvo da especialização foram professores/as e técnicos/as das Secretarias de Educação, participantes de movimentos sociais e demais membros da comunidade com experiência comprovada com educação do campo.

Em 2014, um marco para a Educação do Campo no Estado de Mato Grosso do Sul foi a oferta da Licenciatura em Educação do Campo na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, atrelada às demandas emancipatórias das populações camponesas. As vagas foram disponibilizadas para atender professores em exercício nas escolas do campo que não possuíam Ensino Superior, ou professores com formação superior em exercício nas escolas do campo e também para jovens e adultos de comunidades do campo. Importa ressaltar que, além da UFMS, a Universidade da Grande Dourados (UFGD), desenvolve, desde o ano de 2008, cursos para formação de professores do campo promovidos pela Faculdade de Ciências Humanas (FCH).

Pelo Edital SESU/SETEC/SECADI nº 2, de 31 de agosto de 2012, do Ministério da Educação, as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) poderiam ofertar a Licenciatura em Educação do Campo. Em 2013, foi ofertada a Licenciatura em Educação do Campo com

12

https://propp.ufms.br/category/editais-publicados/page/25/

13 Com a nova estrutura organizada em 2018, o Centro de Ciências Humanas e Sociais/UFMS passou a ser denominado de Faed - Faculdade de Educação.

duas habilitações: Ciências da Natureza e Ciências Humanas, e ambas as instituições participaram do edital de chamada pública.

Ressalva Correa (2017, p.91) que o cenário das políticas públicas de formação de professores do campo, no Brasil e no Estado do Mato Grosso do Sul (MS), “são fruto de lutas dos Movimentos Sociais em suas reivindicações, com o objetivo de contribuir com a formação da população camponesa e com a luta da Reforma Agrária”. Portanto, o caminho de luta pela terra e para manter-se nela é árduo, porém, em Mato Grosso do Sul, com a criação de dois cursos de Licenciatura em Educação do Campo (na UFGD e na UFMS), passos significativos foram dados em direção à conquista da formação de professores para atuarem nas escolas do campo.