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CAPÍTULO 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 H ISTÓRICO DA E DUCAÇÃO DOS S URDOS

1.1.2 A Educação dos Surdos no Brasil

No Brasil, os filhos das elites dirigentes que tinham deficiências, na época do Império, eram enviados para estudar na Europa, sendo que, em 1835, houve a primeira tentativa de institucionalização da Educação do Deficiente, realizada pelo Deputado Cornélio Ferreira, o qual apresentou um projeto de lei à Assembléia, para que fosse criado o cargo de professor de primeiras letras para o ensino de cegos e/ou surdos e mudos (FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 1989).

O Ensino para o Surdo no Brasil, conforme Reis (1992), aconteceu devido ao interesse de que D. Pedro II tinha em oferecer uma educação, no país, ao filho da sua prima, a Princesa Isabel, que era surdo.

E assim, foi organizada uma Comissão Promotora do Instituto por determinação do Imperador D. Pedro II, com pessoas importantes do Império, promovendo

a fundação de uma escola para surdos (PINTO, 2006). O Ensino dos Surdos iniciou, em 1856, com a fundação do Instituto Nacional de Surdos-Mudos – INSM, no Rio de Janeiro (atualmente Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES), dirigido pelo professor surdo francês Eduard Huet, “vindo do Instituto de Surdos-Mudos de Paris, para que o trabalho com os surdos estivesse atualizado com as novas metodologias educacionais” (NETTO, 2005, p.31).

O professor Huet, em 1856, trouxe para o Instituto o seu programa de ensino, cujas disciplinas eram:

Língua Portuguesa, Aritmética, Geografia, História do Brasil, Escrituração Mercantil, Linguagem Articulada, Leitura sobre os Lábios e Doutrina Cristã. No que se refere à disciplina “Leitura sobre os Lábios”, esta só seria oferecida aos que tivessem aptidão, reconhecendo-se que quem tivesse resíduo auditivo teria muito mais chance de desenvolver a Linguagem Oral (PINTO, 2006, p. 10).

Ao longo da história do Instituto, a referida questão foi considerada de grande polêmica, pois a orientação educacional era diferenciada para os surdos que não possuíssem aptidão para a linguagem oral, visto que para os alunos sem resíduo auditivo a metodologia de ensino era a Libras (PINTO, 2006).

Alguns anos depois, de acordo com Reis (1992, p. 62), surgiram problemas de ordem: “[...] econômica, disciplinar, familiar e moral, que geraram conflitos entre Huet e a esposa. [...] As dificuldades de comando de Huet e a falta de credibilidade moral levaram-no à renúncia, sem haver na instituição quem tivesse condições de substituí- lo”.

O Instituto oferecia apenas 35 vagas para o atendimento de 11.595 surdos, no período 1891, isto mostrava a falta de interesse do governo na educação para essas pessoas, e assim, passou-se essa tarefa para as províncias, que sofriam pela falta de recursos (DIAS, 2006).

No INES, eram utilizados: a Libras e o alfabeto manual, mas em 1911, seguindo os passos internacionais do Congresso de Milão, proibiu-se o uso dos mesmos em sala de aula, adotando-se o Oralismo (DIAS, 2006). Mesmo assim, “muitos professores e funcionários surdos e os ex-alunos, que sempre mantiveram o hábito de freqüentar a escola, proporcionaram a formação de um foco de resistência e manutenção da Língua de Sinais” (NETTO, 2005, p. 32). A segunda escola para surdos, de acordo com Dias (2006), surgiu no Brasil em 1923, na cidade de São Paulo, sendo nomeada como Instituto Santa Terezinha.

Apenas em 1954, foi criada a terceira escola, em Porto Alegre, e na seqüência em Vitória, em 1957.

Em relação à Educação do Surdo, o doutor Armando Paiva Lacerda, diretor do INES, entre 1930 a 1947, detalha, em seu livro: Pedagogia Emendativa do Surdo, a necessidade de “suprir falhas decorrentes da anormalidade, busca-se adaptar o educando ao nível social dos normais, por intermédio do ensino da linguagem, e que o objetivo da linguagem oral é dotar a criança surda de uma linguagem análoga à fisiológica” (SOARES, 1999, p.57).

O surdo sofria classificações, tais como: “surdo orgânico, verdadeiro, em termo da audição, hereditário” e o outro, “cuja lesão do aparelho auditivo é pós-natal e se encontra associada a taras, enfermidades ou degenerescência”, e assim, de acordo como era classificado, seria escolhido o método de ensino a ser usado, desde o “escrito - sinais gráficos e digitais – para os surdo-mudos completos, até o acústico – associação de exercícios acústicos aos orais – para os incompletos” (SOARES, 1999, p. 58).

Na década de 1950, Ana Rímoli de Faria Doria, diretora do INES (1951- 1961) adotara o método oral, enfatizando o “conhecimento prático da física do som, na discriminação dos sons fortes e fracos, no conhecimento do aparelho fonoarticulatório para exercícios” (JANNUZZI, 2004, p. 98). Em 1956, foi aprovado o decreto nº 38.738, sendo proposto, em seu artigo 1°, a realização de estudos à profilaxia da surdez e reeducação dos surdos e da fala (SOARES, 1999).

Até o início da década de 50, segundo Dias (2006), os professores de surdos eram autodidatas ou haviam estudado no exterior, após esse período, foi realizado o primeiro “Curso de Formação de Professores para Recuperação de Deficientes da Audição e da Linguagem Falada”. Esse curso foi ofertado pelo INES, por intermédio da diretora Ana Rímoli, sendo equivalente ao segundo grau, com três anos de duração, em regime de internato e externato, isto, conforme a residência do aluno. O Curso era regido pela Lei Orgânica de Ensino (decreto n.8530 de 2 de janeiro de 1946) que representava a modernidade em relação à pedagogia para a Educação do Surdo (SOARES,1999).

No Brasil, a grande maioria dos surdos, que passaram pelo processo de oralização, não falavam e nem faziam leitura labial satisfatoriamente. Poucos surdos apresentavam habilidade de expressão e recepção verbal razoável, sendo comum, por esse motivo, ficarem, por alguns anos, retidos na mesma série do ensino regular. Enfim, esse fracasso escolar pode ser considerado resultado de representações sociais, históricas, culturais, lingüísticas e políticas, devido a concepções equivocadas, às quais o surdo é

condicionado a superar a deficiência em busca da igualdade (BRASIL, 2004).

Como vimos, as formas de atendimento educacional oferecido aos alunos que apresentavam surdez, desde a época do império, são reflexos das tendências mundiais que ocorreram, principalmente, na Europa, como exposto anteriormente.

Com objetivo de esclarecer nossa compreensão sobre um dos conceitos centrais desta pesquisa, apresentaremos, a seguir, análises sobre a surdez.