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3.  CAPÍTULO 27 

3.2   DISPOSITIVOS LEGAIS QUE GARANTEM O DIREITO À EDUCAÇÃO 35

3.2.1   Educação e a Satisfação das Necessidades Coletivas 37

Como apresentado, o conceito de serviço público é verificado ora com maior, ora com menor amplitude, porém quase sempre ligado ao bem-estar da coletividade ou a dignidade da pessoa humana. Riveiro apud Araújo (2008) destaca que o serviço público é criado para a satisfação do interesse geral e que, sem a intervenção de uma pessoa pública, a necessidade da coletividade poderia estar comprometida. Entretanto, de acordo com Araújo (2008) quando observado o objetivo da materialidade do serviço público, leva-se em consideração a situação hipotética de não existir o referido serviço.

Se a sociedade estiver sendo prejudicada por falta de prestação do serviço ou se ela, também, encontra-se em prejuízo por prestação inadequada, dever-se-á analisar se o serviço é de competência do Estado ou da iniciativa privada. Caso o serviço seja de

competência do Estado, ainda que prestado de modo insuficiente pela iniciativa privada ou pelo Estado, estar-se-à diante de casos de serviço público.

Justen Filho (2003), em seu conceito de serviço público deixa claro como objetivo primordial a satisfação das necessidades coletivas. Para o autor, a idéia de serviço público encontra-se diretamente relacionado aos direitos fundamentais. A atividade de serviço público é um instrumento de satisfação direta e imediata dos direitos fundamentais, entre os quais avulta a dignidade humana.

Araújo (2008) também compartilha da idéia de que quando se discorre sobre a satisfação de necessidades coletivas, observa-se claramente a vinculação existente entre serviço público e os direitos fundamentais. Segundo a referida autora, se o serviço atende as necessidades coletivas e possui como um dos objetivos a melhoria na qualidade de vida dos administrados, consequentemente, vincula-se aos direitos fundamentais.

Em outras palavras, os serviços públicos existem porque os direitos fundamentais não podem deixar de ser satisfeitos. Se um serviço público for percebido como direito fundamental do usuário, nesse caso, mais especificamente como direitos do administrado, isso significa que ele não deve ser esquecido ou tido como inexistente justamente por se tratar de uma garantia conquistada. Porém, isso não quer dizer que o único modo de satisfazer os direitos humanos seja o serviço público, nem que esse seja a única atividade estatal norteada pela supremacia dos direitos fundamentais.

A despeito de algumas classificações encontradas na literatura, destaca-se uma no qual o serviço público possui como marco referencial a necessidade a ser satisfeita. Trata-se dos serviços sociais, ou seja, aqueles que satisfazem necessidades de cunho social. A opinião de Justen Filho (2003) é que os serviços assistenciais, tal como a educação, se enquadram perfeitamente nessa classificação.

A educação, ora serviço social, em razão de sua natureza, quando prestados pelo Estado não persegue fins lucrativos, sendo geralmente até mesmo deficitária, o que determina um regime especial de financiamento, já que apenas pode ser mantida por meio de impostos ou contribuições. Ao contrário, serviços públicos cuja natureza é industrial ou comercial admitem apenas o financiamento na base de preços e tarifas. Para Rojas apud Aragão

(2007) a educação é uma atividade econômica com potencial lucrativo, mas que, mesmo não sendo monopólio natural, o mercado e o terceiro setor não são capazes de por si só satisfazer os fortes interesses coletivos em usufruí-la.

Uma questão levantada por Aragão (2007) é se a educação ou qualquer outra atividade assistencial pode ser colocada sob a mesma categoria jurídica, independentemente de serem prestadas pelo Estado ou por particulares por direito próprio, não como delegatários estatais. Segundo o autor, a Constituição (BRASIL, 1988) as considera serviços públicos quando essas atividades são prestadas pelo Estado e serviços de relevância pública quando são exploradas por particulares. É mantido sem prejuízo, como no caso da educação, o regime jurídico privado e as regras da livre iniciativa, com forte regulação incidente, inclusive mediante a sujeição a autorizações administrativas prévias e operativas, constituindo-as como atividades econômicas privadas de interesse público.

Ainda no que se refere ao tema serviço público, é importante mencionar a distinção entre serviços públicos privativos e serviços públicos não privativos. Entre os primeiros, aqueles cuja prestação é privativa do Estado, mesmo que admitida a possibilidade de entidades do setor privado desenvolvê-los em regime de concessão ou permissão (artigo 175 da CF/88). Aragão (2007) avalia a polêmica quanto se os serviços sociais, quando prestados pelo Estado, podem ou não ser considerados serviços públicos. Parte da doutrina considera com base o artigo 175 da Constituição, que apenas as atividades sob reserva estatal exclusiva, ou seja, titularizadas pelo Estado, apenas delegáveis à iniciativa privada, podem ser consideradas serviços públicos.

Porém Sundfield (1992) sustenta que os serviços sociais são, à semelhança dos serviços públicos, atividades cuja realização gera utilidades ou comodidades que os particulares fruem direta e individualmente. No entanto, diferenciam-se daqueles por não serem exclusivos do Estado. A prestação de tais serviços é dever inafastável do Estado, tendo os indivíduos o direito subjetivo de usufruí-los.

No caso da educação, a partir da prestação desse serviço e outros fundamentais, os cidadãos passam a usufruir de melhoria na sua qualidade de vida, o que torna a sociedade mais equilibrada e justa e menos desigual. Serviços públicos, quando bem prestados, de forma a atender os direitos fundamentais, tornam a sociedade mais equilibrada. Porém, o

estudo do serviço público resulta em encontrar soluções para que o princípio da dignidade da pessoa humana seja atendido. É um instrumento que concede dignidade às pessoas, pois, em virtude da sua prestação, existe uma melhoria na qualidade de vida da sociedade.