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Educação Física Escolar: necessidade de um olhar diferenciado

CAPÍTULO 3: A PRÁTICA DESPORTIVA NUMA PERSPECTIVA DE RESSIGNIFICAÇÃO DA

3.3 Educação Física Escolar: necessidade de um olhar diferenciado

Repensar a prática pedagógica da Educação Física é imprescindível, a fim de construir novas possibilidades, começando pela análise e reflexão, para viabilizar a busca de uma melhor interação e inserção do componente curricular no contexto escolar de maneira construtiva. Alves (2011) entende que:

A Educação Física apresenta-se preparada e repleta de fundamentos para exercer o seu papel (...) que dispõe de características peculiares e objetivos específicos, atuando na construção do conhecimento de maneira ativa e intensa, propiciando ao aluno a condição de se expressar integralmente. (ALVES 2011, p.28).

Entretanto, é necessário romper com discursos pedagógicos pré-estabelecidos historicamente o que pressupõe-se um grande desafio. Muitos profissionais têm a crença no mecanismo da reprodução de gestos esportivos, no qual o esporte é um fim a ser atingido, deste modo, favorece o preparo do atleta. Em contrapartida, existem os profissionais que alinhados à visão crítica desenvolvem uma prática pedagógica fundamentada na construção do conhecimento. Sousa e Vago (1997, p.140) apud Peres (2001, p. 237) favorecem a composição ao afirmar: “...o ensino da Educação Física se configura como um lugar de produzir cultura,

Ainda hoje, verifica-se uma prática pedagógica tradicional e conservadora com ênfase na prática na aptidão física e seletividade de talentos motores, com vistas à formação de equipes e atletas para a competição. Contrariando, portanto, os princípios norteadores dos Planos Curriculares Nacionais que incentiva uma prática pedagógica que privilegie a cooperação, a participação, a inclusão e a construção coletiva do conhecimento produzida na escola, a partir de cultura social, de onde está inserido o esporte enquanto cultura corporal de movimento. (Tese doutoramento OLIVEIRA JR, 2015, p. 88).

Na percepção de kunz (2014):

Pode-se perceber que a Educação Física brasileira, especialmente dos últimos dez anos, encaminha-se para um desenvolvimento cada vez mais diferenciado em relação à sua prática. De um lado, persiste o modelo tradicional que pretende preservar os objetivos básicos da disciplina conforme previstos nas próprias legislações oficiais, os quais se configuram, basicamente, no desenvolvimento das modalidades esportivas e por intermédio deste a consecução de metas socioeducativas como o fomento à saúde e a formação da personalidade. Por outro lado, ocorre cada vez mais intensamente o desenvolvimento de projetos para a Educação Física Escolar comprometida com finalidades mais amplas; ou seja, além da sua especificidade, deve ainda se inserir nas propostas político-educacionais de tendência crítica da educação brasileira. (KUNZ, 2014, p. 21).

Embora o primeiro modelo citado, ainda encontrado em muitas escolas, seja ineficiente e divergente das novas tendências e orientações da ciência da educação, ele é uma herança que a Educação Física logrou em sua jornada escolar e, que por conseguinte, vem sendo reproduzida nas universidades com seus programas e valores arraigados nas práticas pedagógicas ultrapassadas e, por vezes inflexíveis, sem possibilitar a transformação evolutiva que o cenário atual reclama. Marinho (2007) et al afirma:

A competência esperada do professor só é gerada através de uma reflexão profunda e significativa sobre sua prática, pois ser competente é uma questão de reflexão e refletir é uma questão de competência. Para que essa competência se efetive, são necessários espaços de reflexão e discussão coletiva acerca da prática e do reflexo desta sobre a escola, a comunidade e o aluno que está formando. Esse espaço deve ser discutido e conquistado dentro do projeto político-pedagógico das escolas. (MARINHO et al, 2007, p. 22).

Ponderar e debater inovação para a prática pedagógica para romper com estes antigos paradigmas é imperioso e, em vista disso, a formação dos profissionais da área deve ganhar o mesmo enfoque. Bento (2012) justifica que:

Apesar da Educação Física ter passado por uma renovação no seu campo científico, a sua prática escolar não tem avançado pois os professores em geral não tiveram contacto com novas tendências científicas da Educação Física escolar (Fernandes, 2009), o que reflecte não ter ainda havido uma rotura de mentalidades na linha da frente da educação. (BENTO, 2012, p. 98).

Deve-se considerar a urgência de garantia de uma formação adequada ao professor, tencionando o seu aprimoramento profissional, oferecendo-lhes melhores condições de abraçar

com autonomia e qualificação a sua função. De modo, que a essência desta, seja a superação dos modelos formativos mecanicistas, esportivista e tradicional.

A necessidade de reconhecer que a Educação Física tem uma relevante função no desenvolvimento das funções cognitivas, no potencial de interagir, socializar e transformar o homem na sociedade em que vive com autonomia deve ser assimilada pela escola. O entendimento de que TER um corpo saudável, forte viril é valoroso, entretanto, é primordial SER um corpo que possui as qualidades necessárias para coordenar, modificar e construir sua própria história. Que possivelmente possa contribuir consciente e criticamente para a construção da sociedade, percebendo-se como parte integrante no mundo.

Alves (2011):

A evolução do ser humano, e até mesmo sua preservação como espécie, dependeu de sua aptidão física e das relações que ela criava com o meio e com a sociedade, desta forma, a atividade física sempre esteve presente na cultura do homem, atuando de maneira intensa e servindo de instrumento para a construção do conhecimento. (OLIVEIRA, 1983). (ALVES, 2011, p. 13).

A compreensão do professor acerca do seu papel na atividade pedagógica, ou seja, na construção dos saberes pressupõe uma característica elementar para transformar os contextos tradicionais existentes. Modificar estes modelos é, sem dúvida, um grande desafio. O modelo materializado denominado paradigma tradicional, denota uma prática sem compromisso com o novo incapaz de alcançar mudanças significativas. Concebe-se que todo processo de mudança tem sua complexidade, sobretudo porque mudar exige atitude e, geralmente não está como prioridade de todos, todavia, avista-se que o olhar diferenciado no sentido da mudança tem recebido firmamento entre professores da área, haja vista que estes têm buscado melhorar as práticas, fato que se deu através da realização de auto análise e reflexão do desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem que os conduziram à compreensão da necessidade de promover mudanças que no sentido de contribuir para inaugurar um novo paradigma fundamentado na formação integral dos sujeitos.