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A Educação Física no interior do Referencial Curricular da Rede Estadual de Ensino de

No documento Dissertação de Valdinei Ferreira (páginas 75-99)

3 EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O ENSINO MÉDIO NOS DOCUMENTOS

3.2 A Educação Física no interior do Referencial Curricular da Rede Estadual de Ensino de

O Referencial Curricular da Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul, segundo a Secretaria de Estado de Educação, foi elaborado junto aos gestores, coordenadores e professores da Rede com o intuito de solidificar um documento norteador para as propostas de ensino e aprendizagem educacionais.

Elaborado em 2007, lançado em 2008 e reformulado em 2012, o documento, de acordo com a SED:

[...] foi pensado de forma a proporcionar a todos os educadores uma visão sistêmica do currículo com a possibilidade de observação da horizontalidade e verticalidade dos conteúdos expostos, de forma a contextualizá-los, interagindo os diversos conhecimentos entre as áreas e componentes curriculares/disciplinas. (MATO GROSSO DO SUL, 2012, p. 8).

Para que o docente desenvolva uma "visão sistêmica" do currículo, é preciso que ele tenha acesso não somente aos blocos de conteúdos propostos, mas à teoria que fundamentou aquela seleção ou escolha de conteúdos. A análise do documento não nos permitiu observar com clareza essa dimensão do currículo, embora tenha havido um esforço da SED de incluir na parte teórica da proposta alguns apontamentos sobre currículo, finalidades do ensino fundamental e médio, princípios da educação especial, indígena e do campo, entre outros.

O caráter norteador do documento é afirmado, assim como nos PCN, quando se indica que:

Cabe à escola complementá-lo de acordo com suas especificidades, com autonomia metodológica, para ampliar conhecimentos, conteúdos, habilidades, competências e, ainda, o desenvolvimento de um processo contextualizado com a realidade local. (MATO GROSSO DO SUL, 2012, p. 9).

O Referencial Curricular se tornou um documento ligado às Políticas Educacionais do estado e se encontra, portanto, alinhado aos documentos oficiais de nível nacional. Foi impresso em dois volumes, sendo um direcionado ao Ensino Fundamental e um ao Ensino Médio.

No que se refere à elaboração do currículo e ao perfil do estudante do Ensino Médio, segundo o documento:

No ensino médio é importante levar em conta, prioritariamente, o perfil de seu público na elaboração do currículo, uma vez que a maioria é composta por estudantes jovens com características bem diversificadas, mas que têm interesses comuns e desejam ser

respeitados nas propostas curriculares implementadas pela escola. Pensar a juventude como uma condição sócio-histórico-cultural de um grupo de pessoas, com especificidades que não se referem somente ao aspecto etário e biológico, supera a ideia de que a juventude é um grupo homogêneo, pois apresenta uma diversidade social e cultural. (MATO GROSSO DO SUL, 2012, p. 21).

Dessa forma, percebemos que o discurso da SED direciona-se, ainda que de forma não aprofundada, aos pressupostos teóricos da abordagem histórico-cultural. Nesse contexto, a Educação Física está inserida na área de Linguagens e suas Tecnologias. Vygotsky (1987) entende que o desenvolvimento humano se dá a partir da interação do sujeito em seu meio cultural e que a linguagem é um processo dinâmico que promove o desenvolvimento.

Em relação aos conteúdos previstos para o Ensino Médio, o documento cita tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB n. 9.394, de 1996, que estabelece as finalidades para essa etapa da educação básica, como o Parecer CNE/CEB nº 5/2011, que divide os componentes curriculares em 4 blocos, a saber, Linguagem, Matemática; Ciências da Natureza e Ciências Humanas, figurando a Educação Física no primeiro bloco.

Sobre a inclusão da Educação Física, bem como de Arte, no bloco Linguagens, o documento justifica que isso se deve a um entendimento mais "[...] amplo para o termo Linguagens, pois transcendem o que se pensa sobre o simples falar ou escrever, já que o conceito de Linguagem é mais amplo que o conceito de Língua, por abranger toda e qualquer forma de comunicação." (MATO GROSSO DO SUL, 2012, p. 60). Porém, a partir desse trecho, a maior parte do texto trata da linguagem no sentido de expressão linguística, oral ou escrita, tratando de gêneros textuais ou discursivos.

De acordo com o documento,

A educação física, como componente curricular dessa área, estabelece-se por uma gama de conhecimentos específicos, que permite inúmeras articulações didático- metodológicas. Tal componente deve oportunizar o desenvolvimento das manifestações expressivas humanas, geradas e combinadas, contextualizadas ao atendimento das demandas sociais e culturais da nossa região. Por diferentes autores da área, esse conjunto de manifestações, na Educação Física, é denominado Cultura Corporal do Movimento com esportes, jogos, atividades rítmicas e expressivas, ginásticas e lutas como blocos de conteúdo. (MATO GROSSO DO SUL, 2012, p. 61, grifo nosso).

Percebemos, assim, que o documento segue as recomendações dos PCN e reproduz o discurso que busca associar a abordagem Crítico-Superadora, que utiliza a denominação Cultura Corporal, e a abordagem Crítico-Emancipatória, que elege o termo Cultura de Movimento para se referir à atividade humana objeto de trabalho e estudo na Educação Física. Não se nota no documento, no entanto, uma argumentação mais aprofundada do tema,

limitando-se a afirmar a necessidade de se "[...] analisar a dimensão simbólica presente na Cultura Corporal do Movimento, a partir da capacidade de abstração e teorização"(MATO GROSSO DO SUL, 2012, p. 61), sem, contudo, promover uma discussão sobre o tema ou mesmo explicitar formas concretas com que o professor pudesse realizar essa ação em suas aulas.

Sobre a ação docente, o Referencial Curricular aponta: "[...] deve-se salientar uma postura docente não focada em conteúdos técnicos e táticos e sim na discussão do contexto em que acontecem as práticas corporais como linguagem que respeitam as características individuais dos estudantes." (MATO GROSSO DO SUL, 2012, p. 61.)

Os conteúdos abarcados em Educação Física no Referencial Curricular da Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul são apresentados no Quadro 5:

Quadro 5. Conteúdos do componente curricular Educação Física no Referencial Curricular

1º ANO

1º BIM 2º BIM 3º BIM 4º BIM

O corpo e suas relações:

O corpo e a mídia – uma produção estética O corpo como construção cultural

Esporte:

Construção histórica dos esportes; Esporte e cultura

Esportes:

Esporte e a cultura de paz; Esporte e mídia; Construção histórica dos esportes O corpo e suas relações: Alterações físicas durante esforço, percebidas imediatamente e em longo prazo - frequência cardíaca, IMC, pressão arterial e outras Atividade Física:

A importância da Atividade Física; O que é Atividade Física;

Atividade Física e Cultura

Atividades Rítmicas e Expressivas:

O corpo fala; Ritmo(s) e cultura(s)

Lutas:

Luta(s) e cultura(s); Construção histórica das lutas

Jogos:

Do que seus avós e pais brincavam, do que você brincou e do que as crianças brincam atualmente; Jogar na rua, no clube ou no vídeo game

2º ANO O corpo e suas

relações:

O corpo e o trabalho; Ser ou ter um corpo

Esportes:

Histórico dos esportes; Esporte para inclusão ou exclusão

Esportes: As dimensões do esporte; Histórico dos esportes

Jogos:

O lazer e o jogo; Questões de gênero no jogar "queimada para meninas e futebol para meninos"

Jogos:

Jogo e cultura – a construção das regras; Jogo e trabalho

Atividades Rítmicas e Expressivas:

Ritmos brasileiros; Ritmos mundiais; Os ritmos na/para a mídia

Lutas: Lutas x brigas; Disciplina e rituais

Atividade Física: Exercício e controle de peso - mitos sobre exercícios e gordura corporal, nutrição, composição corporal e demanda energética; Atividade física para grupos especiais Continua.

Continuação do Quadro 5. Conteúdos do componente curricular Educação Física no Referencial Curricular

3º ANO

1º BIM 2º BIM 3º BIM 4º BIM

O corpo e suas relações: Qualidade de vida é só atividade física; alternativas de práticas de relaxamento e autoconhecimento. Esportes:

Esporte como trabalho; praticamos esportes ou obedecemos às regras

Esportes:

O esporte feminino e a mulher no esporte; histórico dos esportes

Jogos:

Lazer com e sem consumo; Do jogar para recrear ao jogar por “necessidade” – o vício

Atividade Física: Atividade física para a qualidade de vida; Academia: espaço de bem estar biopsicossocial ou modismo

Atividades Rítmicas e Expressivas:

A expressividade humana - homem não chora?" Atividades expressivas e a mídia

Lutas:

As lutas na mídia A luta como trabalho

Atividade Física: Atividade física e mídia; Atividade física e o trabalho – ginástica laboral

Fonte: Mato Grosso do Sul (2012).

Após a listagem dos conteúdos, seguem-se as competências e habilidades que o estudante deve adquirir ao final de cada bimestre. Como exemplo, apresentamos o que o documento traz como competências e habilidades a serem consolidadas pelos estudantes do 1º ano do Ensino Médio após o término do 1º bimestre:

*Utilizar diferentes fontes de informações para pesquisar sobre elementos da cultura corporal.

*Adotar atitudes de respeito mútuo e cooperação para solucionar conflitos nos contextos das ·práticas corporais, entendendo-os como possibilidades de aprendizagem.

*Adotar posturas não discriminatórias diante da pluralidade de manifestações das diversas culturas, expressando sua opinião de forma clara, ordenada e objetiva frente às situações de injustiça e ·preconceito.

*Refletir sobre a cultura corporal, adotando uma postura crítica sobre suas manifestações.

*Compreender o papel do corpo no mundo a partir de perspectivas culturais e históricas diversas.

*Identificar estereótipos corporais veiculados pela mídia e levantar possibilidades para tal veiculação.

*Reconhecer a importância da atividade física. Identificar características de atividades físicas relacionadas a diferentes cultura. (MATO GROSSO DO SUL, 2012, p. 150).

O que seria, para a Secretaria de Estado de Educação, "respeitar as características individuais dos estudantes”? Como o professor de Educação Física poderia, a partir de uma listagem de conteúdos e competências, "oportunizar o desenvolvimento das manifestações expressivas humanas, geradas e combinadas, contextualizadas ao atendimento das demandas sociais e culturais da nossa região" (MATO GROSSO DO SUL, 2012, p. 61)?

Entendemos que, apesar dos avanços presentes no documento, que contempla diversas formas de manifestação corporal, como lutas, jogos, atividades físicas, esportes e discussões sobre as relações entre corpo e movimento, os conteúdos listados por bimestre aparecem de maneira generalizada, sugerindo um trabalho docente no plano teórico, que leve o estudante, por exemplo a "Utilizar diferentes fontes de informações para pesquisar sobre elementos da cultura corporal" (MATO GROSSO DO DUL, 2012, p. 150), mas apresenta limitações em propor ações concretas em que professores e alunos não apenas discutam e reflitam sobre a cultura corporal, mas utilizem esses conceitos nas práticas reais da Educação Física, por meio de atividades que contemplem a cultura corporal.

Temos discutido nos últimos anos a Educação Física Escolar numa perspectiva cultural, e é a partir deste referencial que consideramos a Educação Física como parte da cultura humana. Ou seja, ela se constitui numa área de conhecimento que estuda e atua sobre um conjunto de práticas ligadas ao corpo e ao movimento criadas pelo homem ao longo de sua história: os jogos, as ginásticas, as lutas, as danças e os esportes. É nesse sentido que se tem falado atualmente de uma cultura corporal, ou cultura física, ou, ainda, cultura de movimento. Se aceitarmos que a Educação Física trata da cultura de movimento, podemos concluir que sua atuação escolar deve dar conta da sistematização desse conhecimento ao longo do 1º e 2º graus, nos mesmos moldes das outras disciplinas escolares. (DAOLIO, 1996, p. 40).

Dessa forma, as manifestações corporais precisariam não somente ser debatidas no currículo do Ensino Médio, mas incorporadas às práticas docentes, com atividades que levem em consideração as diferentes formas de jogos, ginásticas, lutas, danças e esportes, não somente aquelas relacionadas às vivências culturais dos estudantes, mas, de forma ampla, àquelas que ainda são desconhecidas por eles, dando acesso a um conhecimento muito mais rico.

A Educação Física escolar vivenciou, e continua vivenciando, momentos extremamente complexos, no que se refere às disputas político-intelectuais que incidem na construção de seu currículo como disciplina e nos conhecimentos que formam o referencial teórico.

Desde um período em que foi necessário afirmar sua relevância para ser incluída no processo de educação formal, passando pela fase em que foi utilizada como pretexto para contribuir com a consolidação de um projeto nacionalista, até os dias atuais, em que novamente se discutiu a sua obrigatoriedade no Ensino Médio no debate que precedeu a formulação da Base Nacional Curricular Comum (BNCC), em que, na versão original enviada pelo governo, as disciplinas de Arte, Educação Física, Filosofia e Sociologia não apareciam como obrigatórias. Na versão preliminar aprovada e publicada em 2016 (BRASIL, 2016), os parlamentares revisaram esse entendimento, muito devido às pressões tanto de especialistas e

estudiosos das áreas como também de estudantes, que fizeram diversas manifestações em diversos estados brasileiros.

Citamos esse fato relativo à construção da BNCC para ilustrar como o processo de elaboração e materialização do currículo é dialético, sujeito às contradições e lutas de interesses que fazem parte da dinâmica social. Assim como ocorreu com os PCN para o Ensino Médio, quando também se falava em "reforma do Ensino Médio", as decisões se mostram híbridas, fruto de negociações em que nem todos os interessados saem satisfeitos, sobretudo aqueles que estão à margem do poder de decisão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A configuração e a intencionalidade política na constituição do currículo de Educação Física vêm trazendo consequências, que se tornam visíveis de distintas formas em seu cotidiano. O cenário contemporâneo não se constituiu naturalmente, mas a partir de um contexto em que anseios, orientações teóricas e interesses se manifestam.

Dessa forma, retomamos nestas considerações finais os objetivos desse estudo para, a partir deles, tecer algumas análises que foram possibilitadas durante a construção do trabalho. Apresentamos, como objetivo geral, analisar, face aos conteúdos sugeridos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para o trabalho com Educação Física no Ensino Médio, se há, ou não, uma abordagem pedagógica predominante no texto que pretende configurar-se como orientador da prática docente. Secundariamente consideramos, também a abordagem pedagógica do Referencial Curricular da Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul, para a Educação Física do ensino médio, por ser documento norteador das práticas desta unidade da federação. Para tanto, o caminho percorrido foi, primeiramente, descrever e analisar as pesquisas acadêmicas que investigaram as relações entre os Parâmetros Curriculares Nacionais e o currículo do Ensino Médio na disciplina de Educação Física, o que apresentamos no primeiro capítulo dessa dissertação. Não foram encontrados trabalhos que abordassem o Referencial curricular do estado.

Consideramos, no que se refere especificamente ao nosso objeto de estudo, que algumas pesquisas acadêmicas sobre currículo, práticas e conteúdos da Educação Física no Ensino Médio apresentaram os PCN de forma acrítica, avaliando os achados de pesquisa a partir da comparação com sua compatibilidade ou não com os Parâmetros (COFFANI, 2016; LETTNIN, 2013; KRAVCHYCHYN, 2006), atribuindo a reprodução e falta de inovação nas aulas dessa disciplina ao desconhecimento ou não aplicação dos professores das orientações dos PCN (MOYA, 2008; MIOTO, 2009) e considerando-os como um documento que traz boas diretrizes para o ensino da Educação Física no Ensino Médio, aumentando as possibilidades de o professor realizar um trabalho integrador com os alunos (PUPATTO JUNIOR, 2013; RADES, 2016; SANTOS, 2010).

Outras expuseram uma análise crítica do texto oficial, denunciando elementos como a falsa flexibilidade, uma vez que se apresenta como parâmetro mas determina objetivos, conteúdos e formas de avaliação (CARNEIRO, 2011), o ecletismo (RODRIGUES, 2001; CARNEIRO, 2011), falta de orientação prática e teórica aos professores (CARNEIRO, 2011), ênfase em uma visão heteronormativa (COSTA, 2008) e técnica de Educação Física, voltada

para o condicionamento físico (SILVA, 2000), construção do discurso oficial a partir das prescrições ditadas por organismos transnacionais, baseadas na globalização e no projeto neoliberal (PATRIARCA, 2010) e apresentação de um currículo conservador que interessa à ideologia dominante (ROSA, 2012).

A partir do nosso segundo objetivo específico, qual seja, apresentar o contexto histórico de constituição e consolidação do Ensino Médio e da Educação Física no Brasil, bem como a história das abordagens pedagógicas que influenciaram o currículo e as práticas nessa área, apresentamos, no segundo capítulo, uma contextualização histórica da constituição da Educação Física e do Ensino Médio no Brasil.

Apontamos que o Ensino Médio esteve, historicamente, voltado para uma classe privilegiada, tendo um caráter elitista e enfatizando "[...] um currículo centrado nas Humanidades, pouco afeito às ciências experimentais e com uma metodologia que valorizava a disciplina e a memorização" (PINTO, 2002, p. 52).

A Educação Física, nesse contexto, ao ser incluída paulatinamente no currículo dessa etapa do ensino, apresentou a princípio um caráter higienista, eugênico e militarista, com a ênfase nos exercícios voltados para a força e resistência, adaptados das práticas militares e, inclusive, ministrado por militares.

Os estudos e debates sobre essa área do conhecimento se materializaram em tendências ou abordagens pedagógicas que ora enfatizavam os fatores biológicos, como a Desenvolvimentista (TANI et al., 1988); psicológicos, como a Construtivista (FREIRE, 1994); ora os fatores sociais e culturais, como a Crítico-Superadora (COLETIVO DE AUTORES, 2012), que evidencia a cultura corporal, e a Crítico-Emancipatória (KUNZ, 2005), que se baseia no conceito de cultura do movimento.

Em relação ao terceiro objetivo específico dessa pesquisa, que foi analisar os Parâmetros Curriculares Nacionais e o Referencial Curricular em relação às suas propostas, concepções e conteúdos sugeridos para a Educação Física no ensino médio, e que tem relação mais direta com o objetivo geral, evidenciamos, concordando com algumas das análises abordadas no capitulo inicial desse estudo (RODRIGUES, 2001; CARNEIRO,2011), que os PCN, no que se refere às abordagens pedagógicas, apresentam um discurso eclético, embora alguns autores considerem que no documento foi formulada uma abordagem pedagógica própria (DARIDO, RANGEL, 2005; GEREZ, DAVI, 2009; FERREIRA, SAMPAIO, 2013).

Ferreira e Sampaio (2013), por exemplo, elencando as tendências pedagógicas, mencionam primeiramente, em uma linha do tempo, a Tendência Higienista (até 1930), a Tendência Militarista (1930 – 1945), a Tendência Pedagogicista (1945 – 1964), a Tendência

Esportivista (1964 – 1985) e Tendência Popular (1985 – atualidade), que seriam baseadas nas seguintes abordagens: Psicomotricidade, Construtivismo, Desenvolvimentista, Críticas (Crítico-Superadora e Crítico-Emancipatória), Saúde Renovada e Parâmetros Curriculares Nacionais.

Sobre o que seria a abordagem presente nos PCN, apontam:

Saúde tratada de forma direta através de discussões e aulas práticas. Aproxima-se do campo da Saúde Coletiva por incluir em suas discussões temas da Saúde Pública. Considera a cidadania como saúde. Visão não biologicista e, ainda que não tão incisiva, coletiva de saúde. (FERREIRA; SAMPAIO, 2013, p. 7).

No entanto, não consideramos que os PCN construíram uma abordagem diferenciada, mas que se apropriaram, de forma eclética, de parte dos discursos presentes nas abordagens apresentadas no segundo capítulo desse trabalho.

Em relação aos conteúdos, há uma proposta de interdisciplinaridade, fato percebido na alocação da Educação Física na Área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, embora não apresentem embasamento teórico suficiente para justificar essa escolha, bem como não produziram, de acordo com algumas pesquisas, o convencimento e a adesão dos professores das diferentes disciplinas que integram essa área. (SANTOS, MARCON, TRENTIN, 2012; LOPES, 2002).

Embora no texto apareçam alguns conteúdos diferentes dos relacionados aos esportes e ginástica, como por exemplo as danças, os jogos e as lutas, percebemos uma ênfase maior aos esportes e aos conteúdos que tratam da saúde e a menor ocorrência de conteúdos ligados à produção cultural, que são citados de forma breve ou superficial. É o caso dos jogos e das lutas, que no texto se deixa transparecer que poderiam ser utilizados pelo professor como um paliativo para driblar a falta de materiais para o ensino de técnicas ou fundamentos do esporte.

É importante ressaltar que na versão preliminar da BNCC essa situação se mantém. Esse documento apresenta os seguintes blocos de conteúdos: "O mundo dos esportes" e "Esportes para a vida", que abrangem seis páginas de objetivos ligados aos conteúdos; seguido de "Ginásticas de conscientização corporal" e "Ginásticas de condicionamento físico", com 4 páginas de conteúdos e objetivos; "Práticas corporais de aventura" e "O mundo das práticas corporais de aventura", que abrangem 2 páginas; e, por último, "O mundo das danças" e "Danças para a vida", também com 2 páginas. É evidente, portanto, que os esportes e a ginástica ocupam maior parte dos conteúdos.

Neste mesmo capítulo também abordamos o Referencial Curricular da Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul, pois a proposta de intervenção que decorre desse estudo está diretamente ligada aos professores dessa rede estadual.

Para tanto, observamos que o documento foi concebido para que a equipe pedagógica das escolas pudesse ter em mãos um documento norteador para suas práticas de ensino e aprendizagem. Na disciplina de Educação Física os conteúdos estão divididos por bimestre, sendo que os mesmos se repetem em determinados bimestres e para anos diferentes. No que tange à abordagem pedagógica, observou-se que o documento mescla a abordagem Crítico- Superadora, que utiliza a denominação Cultura Corporal com a abordagem Crítico-

No documento Dissertação de Valdinei Ferreira (páginas 75-99)