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2 PEDAGOGIA HOSPITALAR: ASPECTOS HISTÓRICOS, PEDAGÓGICOS E RECONHECIMENTO

2.3 Educação Inclusiva

Fez-se necessário o destaque da educação inclusiva no contexto da pedagogia hospitalar, pois entende-se que a França ao abrir a primeira escola para crianças com tuberculose estava preocupada em incluí-las para não ficar sem educação escolarizada, pois sabe-se que a tuberculose é uma doença contagiosa e a exclusão dessas crianças de fato acontecia para evitar o contágio em outras. A pedagogia hospitalar foi instituída desde então, com o objetivo de incluir esses sujeitos que estavam impossibilitados de terem acesso a uma educação sistematizada. E Mantoam (2006) mostra a luta e persistência para manter a oferta de educação a esses sujeitos, no caso, manter a inclusão. E não é diferente com o aluno-paciente assistido pela pedagogia hospitalar, que também tem esse direito, o de ser incluído.

Nos debates atuais sobre a inclusão, o ensino escolar brasileiro tem diante de si o desafio de encontrar soluções que respondam à permanência dos alunos nas suas instituições educacionais. Algumas escolas públicas e particulares já adotaram ações nesse sentido, ao proporem mudanças na sua organização pedagógica, de modo a reconhecer e valorizar as diferenças, sem discriminar os alunos nem segregá-los. Apesar das resistências, cresce a adesão de redes de ensino, de escolas e de professores, de pais e de instituições dedicadas à inclusão de pessoa com deficiência, o que denota o efeito dessas novas experiências e, ao mesmo tempo, motiva questionamentos. (MANTOAM, 2006, p.15).

A busca pela inclusão social tem sido uma peleja de muitos educadores, pais e movimentos sociais que de forma incansável procuram por soluções e valorização dos sujeitos a terem suas necessidades especiais atendidas. Percebe-se certo desinteresse por parte do governo municipal, estadual e federal em perpetrar os direitos do cidadão que tem direito à dignidade, à escola, à saúde e ao lazer. Como pontua a autora Mantoam (2006), tem sido um desafio a inclusão de milhares de crianças e adolescentes que são considerados diferentes por suas necessidades especiais: visuais, auditivas, mentais, etc.

extremos de discriminação ao sujeito, mas sim fazer jus diariamente a esses direitos, com escolas combatentes às discriminações aos portadores de necessidades especiais e que venham atendê-los de maneira digna e justa. Mas ainda percebemos que a escola não está preparada para recebê-los durante o processo de ensino, tanto na parte física, quanto pedagógica.

Nosso sistema educacional, diante da democratização do ensino, tem vivido muitas dificuldades para equacionar uma relação complexa, que é a de garantir escola para todos, mas de qualidade. É inegável que a inclusão coloca ainda mais lenha na fogueira e que o problema escolar brasileiro é dos mais difíceis, diante do número de alunos que temos de atender, das diferenças regionais, do conservadorismo das escolas, entre outros fatores. A verdade é que o ensino escolar brasileiro continua aberto a poucos, e essa situação se acentua drasticamente no caso dos alunos com deficiência. O fato é recorrente em qualquer ponto de nosso território, na maior parte de nossas escolas, públicas ou particulares, e em todos os níveis de ensino, mas, sobretudo nas etapas do ensino básico: educação infantil, ensino fundamental e médio. (MANTOAM, 2006, p. 23).

Como pontua a autora Mantoam (2006) das dificuldades que enfrentam os estudantes com necessidades especiais é enorme em nosso país. Se pensar pelo ângulo que a educação nunca foi prioridade para o governo federal, estadual e municipal, logo, proporcionar uma educação para todos de qualidade é quase que utópico. Visto que as escolas públicas necessitam de uma boa organização para atender essa demanda de estudantes com necessidades especiais, seja no âmbito físico, mental e psicológico. Sabe-se que a escola exclui mais do que inclui, ao analisar-se no âmbito geral do sistema educacional. O sujeito até entra na escola, porém dificilmente vai permanecer se suas necessidades especiais não forem atendidas. O sistema por certo não está preparado para mantê-lo, ou seja, automaticamente esse sujeito invisivelmente é rejeitado. A escola está tão despreparada que nem percebe essa exclusão.

2.3.1 Emancipação

Destacamos aqui sobre a emancipação no contexto da pedagogia hospitalar. Considerando quão populoso é o Brasil, percebe-se que de fato ainda não houve uma emancipação plena, na implantação de classes pedagógicas hospitalares no país, pois poucos hospitais vêm aplicando essa política, ainda que ela venha ganhando força nos últimos anos.

Esteves destaca os objetivos da Classe Hospitalar:

Um dos objetivos da Classe Hospitalar, na área sócio-política, é o de defender o direito de toda criança e adolescente a cidadania, e o respeito às pessoas com necessidades educacionais especiais e no direito de cada um ter oportunidades iguais. (ESTEVES, 2008, p.4).

Daí o grande desafio em implantar de forma extensiva os métodos e práticas da Pedagogia Hospitalar, porque, faltam estrutura e conscientização da importância, não apenas para a continuidade escolar, mas também para a saúde mental e social, na difícil convivência entre si, das crianças e adolescentes no ambiente hostil que é o hospital. Ao pensar em emancipação, lembra-se Paulo Freire que assegura que o processo de democratização do ensino vincula-se ao direito pleno à educação.

Nas palavras do sociólogo:

Não creio na democracia puramente formal que “lava as mãos” em face das relações entre quem pode e quem não pode porque já foi dito que “todos são iguais perante a lei”. Mais do que dizer ou escrever isto, é preciso fazer isto. Em outras palavras, a frase se esvazia se a prática prova o contrário do que nela está declarado. Lavar as mãos diante das relações entre os poderosos e os desprovidos de poder só porque já foi dito que “todos são iguais perante a lei” é reforçar o poder dos poderosos. É imprescindível que o Estado assegure verdadeiramente que todos são iguais perante a lei e que o faça de tal maneira que o exercício deste direito vire uma obviedade. (FREIRE, 2000, p. 48, 49).

Consoante este pensamento de emancipação de Freire (2000), a Pedagogia Hospitalar vem ao encontro, ao direito de toda criança e adolescente em manter seus estudos quando necessitar de tratamento de saúde por longo período de tempo. Traçando-se um paralelo com o parecer do autor, ao analisar-se tantos casos de educandos desprovidos de acompanhamento educacional em leitos hospitalares, vê-se a discrepância política no agir daqueles que dizem que a lei é igual para todos, principalmente levando-se em consideração que, na maioria das vezes, nem pais, nem alunos conhecem a lei. Por trás do cumprimento das leis ocorrem as ditas ‘manipulações de poder’, onde pouco importa se elas estão sendo cumpridas ou não. Como educador e político, Freire sempre militou por uma emancipação plena e justa no país, em se tratando de educação para as classes segregadas. Porém seus discursos e lutas foram e continuam sendo mal interpretadas.

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