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CAPÍTULO 2 – EDUCAÇÃO INCLUSIVA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES

2.1 EDUCAÇÃO INCLUSIVA E SUAS DIFICULDADES

Na busca de uma educação de qualidade para todos, têm-se atualmente discussões a respeito de alunos com NEE nas escolas regulares (RODRIGUES, 2010). Porém se faz necessário deixar claro o que é NEE.

Segundo Lopes (2014), o conceito de NEE foi inserido pela primeira vez em 1978, no Relatório de Warnock, abrangendo todos os alunos que apresentam dificuldades especiais de aprendizagem. Esse relatório tinha o intuito de romper os termos “criança normal” e “criança

deficiente” e que a escola não pode repudiar os alunos que não se encaixam no padrão de “normalidade”.

Contudo, o conceito em questão foi de fato legitimado após a Declaração de Salamanca em 1994, para identificar os alunos:

com deficiências, como os superdotados, os de rua, os pertencentes a minorias étnicas ou culturais, os desfavorecidos ou marginais, os com problemas de conduta ou de ordem emocional; ensejando a interpretação de que quase todos os alunos, em algum momento, podem apresentar alguma necessidade educativa especial (LOPES, 2014, p. 744).

Com isso Cintra (2014, p.25) conceitua que alunos com NEE são aqueles que apresentam “algum tipo de deficiência e dificuldade de aprendizagem, onde são caracterizados conforme suas habilidades, dificuldade de aprendizagem, altas habilidades e limitações no desenvolvimento e comunicação”.

Nesta perspectiva, foram realizados vários estudos nas áreas da educação, inclusive na Matemática. O campo de pesquisa da Educação Matemática preocupa-se com o significado que a Matemática assume no aprender e ensinar, juntamente com a formação de professores. Dentro desse campo de pesquisa, há educadores preocupados com a “inclusão de todos os alunos no processo de construção do conhecimento matemático na escola” (KRANZ, 2011, p.1). Esse ramo da Educação Matemática é chamado de Educação Matemática Inclusiva.

Este é um tema novo para a Educação Matemática, temos poucos trabalhos e pesquisas em andamento ou concluídas, entretanto já existem vários pesquisadores que acreditam na proposta de uma Educação Inclusiva e estão empenhados em propor sugestões para o trabalho com as diferenças em salas de aula regulares inerentes as práticas do professor de Matemática (RODRIGUES, 2010, p. 85). A inclusão de alunos com NEE requer modificações curriculares como a organização curricular, a visão dos professores a respeito da inclusão e os objetivos da educação. Muitos docentes encontram-se em conflito ao tentar colocar em prática aquilo que pensam, o que estudaram e o que gostariam de fazer. Santos (2002, p.171) afirma que:

... vencer os desafios postos pelas novas propostas curriculares hoje em curso exige grandes modificações na forma como vem sendo formado o (a) professor (a). ... É necessário também que os formadores de professores trabalhem com o currículo de seus cursos seguindo os princípios que propõem para o ensino básico. É preciso que os cursos de formação docente possibilitem a construção de um saber profissional mais amplo e mais sólido.

Além disso, a escola precisa contar com profissionais especializados como: fonoaudiólogos, psicólogos, professores de Libras e de Braille, entre outros profissionais necessários para o trabalho do professor em sala de aula (RIBEIRO, 2012).

Bordin (2009, p. 37) afirma que uma escola inclusiva deve:

reconhecer a importância de oferecer condições de acesso e permanência a todos os alunos que a procurarem e de atender as mais diversas necessidades que possam ter, respeitando o princípio de igualdade e oportunidades, assegurando uma educação de qualidade para todos indiscriminadamente.

Martins (2012) afirma que para atingir as necessidades acima, precisa-se de mudanças em todo sistema educacional o mais rápido possível. Com isso, Bordin (2009, p.37) sugere algumas ações à efetivação de uma escola inclusiva:

- A Escola tem o dever de proporcionar um espaço de aprendizagem a todos os alunos respeitando as diferenças individuais.

- A avaliação deve ser direcionada para o aluno, respeitando principalmente o tempo de cada educando.

- Promover a cidadania, por meio do respeito, solidariedade e um diálogo permanente entre toda a comunidade escolar.

- Valorizar o professor como profissional que necessita de uma formação continuada para manter-se preparado para atender as necessidades de todos os alunos de forma eficaz.

- Construir um currículo flexível.

- Ter autonomia na elaboração do seu projeto político pedagógico. - Reconhecer a diversidade.

Desta forma, esta escola precisa tomar cuidado para não se transformar em uma utopia, devido à realidade da maioria das escolas brasileiras. Segundo Neves (2013, p.43-44), uma escola necessita ter:

Metas mais definidas e plausíveis, ampliação dos recursos materiais e pessoais, acompanhadas de uma maior integração das políticas públicas, parecem ser etapas de um longo caminho a ser percorrido. [...] Afinal, é preciso lembrar que uma escola inclusiva precisa fazer adaptações curriculares para cumprir sua função primordial de ensinar a esse público com deficiências. Tais adequações devem se dar tanto no campo da acessibilidade, com a remoção de barreiras no ambiente físico e no mobiliário, e a aquisição de equipamentos e recursos materiais adaptados à locomoção e à comunicação dos alunos, como na esfera pedagógica propriamente dita, envolvendo objetivos e conteúdos das matérias, estratégias e métodos didáticos, critérios e formas de avaliação e promoção, e ainda ajustes no tempo, no espaço e no número de alunos por turma. Implicam, portanto, em modificações na estrutura organizativa da escola, no seu planejamento e na sua própria filosofia.

A escola inclusiva, quando se preocupa com a eficácia da participação e da aprendizagem dos alunos, busca a remoção de barreiras visíveis – de acessibilidade,

pedagógicas – e invisíveis – atitudes, preconceitos – a fim de proporcionar a inclusão educacional (MARTINS, 2012).

Pereira (2012) afirma que um dos obstáculos ao desenvolvimento desta prática inclusiva é a falta de uma formação adequada nos cursos de licenciatura, com foco nesta temática. Sendo que “maioria dos professores do ensino fundamental alegam que não se sentem preparados e motivados para a docência de grupos tão diversificados” (OLIVEIRA e ARAÚJO, 2012, p. 1).

Em face disso, quando se fala em educação inclusiva, já se relaciona a superação de barreiras, pois não são poucas as resistências para o processo de inclusão das pessoas com NEE. De acordo com Oliveira e Araújo (2012, p. 1):

... uma das barreiras a serem removidas para o sucesso da inclusão encontra-se na garantia ou na promoção de um processo de formação que possibilite ao aluno- docente mudar os valores e concepções a respeito da educação das pessoas com deficiência.

Professores precisam se preparar, pois muitos afirmam que não sabem como lidar com a inclusão e vão fazendo da maneira mais conveniente, sem saber se estão incluindo ou não. Com isso, as dificuldades apresentadas por eles podem, de certa forma, prejudicar a verdadeira inserção destes alunos, pois não existe uma receita para fazê-la. Assim, cada caso precisa ser estudado e seguir ações específicas. Só que essa realidade não é fácil, devido à carga horária alta que os professores possuem, dificultando o desenvolvimento de pesquisas (RIBEIRO, 2012).

Silva e Volpini (2014, p. 27) afirmam que um aluno com deficiência física precisa de algumas adaptações, alternativas e recursos não só arquitetônicos, mas também:

tesoura adaptada com arame revestido, tesoura adaptada em suporte fixo e tesoura elétrica por acionador, se mesmo assim o aluno não conseguir utilizar este recurso, opta-se por atividades coletivas em que os amigos têm a oportunidade de ajudar uns aos outros. Na área de desenho, pintura e escrita, podem-se encontrar os seguintes materiais adaptados: aranha-mola (mola entre o dedo com o lápis no meio), pulseira imantada (pulseira no braço do aluno), engrossador de espuma (espuma grossa no lápis), Órtese (uma bola de borracha na ponta do lápis), podendo utilizar o engrossadores de espumas em pinceis, cola, tintas, entre outros.

Os professores precisam estar preparados para criarem formas para todos aprenderem ao mesmo tempo, mas muitas vezes é necessário que eles trabalhem de forma individualizada com o aluno com deficiência, para atender a sua particularidade. Este profissional necessita de recursos específicos para cada NEE, para incluir o aluno com deficiência, caso contrário ele

estará somente inserido na escola, sendo “que é inconcebível o aluno com deficiência está matriculado na escola regular como se estivesse apenas fazendo parte do cenário, sem efetivamente estar incluso” (OLIVEIRA e ARAÚJO, 2012, p.16).

A Declaração de Salamanca relata a importância dos professores estarem preparados para a prática inclusiva, na qual deveria existir uma parceria entre programas de instituições de pesquisa e de centros de desenvolvimento curricular com as escolas básicas.

Treinamento pré-profissional deveria fornecer a todos os estudantes de pedagogia de ensino primário ou secundário, orientações positivas frente à deficiência, desta forma desenvolvendo um entendimento daquilo que pode ser alcançado nas escolas através dos serviços de apoio disponíveis na localidade [...] Nas escolas práticas de treinamento de professores, atenção especial deveria ser dada à preparação de todos os professores para que exercitem sua autonomia e apliquem suas habilidades na adaptação do currículo e da instrução no sentido de atender as necessidades especiais dos alunos, bem como no sentido de colaborar com especialistas e cooperar com os pais (UNESCO11, 1994, p.10).

Ainda a Declaração acima afirma que “as habilidades requeridas para responder as necessidades educacionais especiais deveriam ser levadas em consideração durante a avaliação dos estudos e da graduação de professores” (p.11).

À medida que a pessoa com deficiência se apodera do conhecimento sobre os seus direitos, por meio da informação de recursos tecnológicos e das leis existentes, um novo caminho se abre para a inclusão em diversos setores da sua vida, particularmente, no ambiente educacional (BRASSI, 2007).

De acordo com a Declaração de Salamanca, para ter uma educação especial bem- sucedida é necessária a parceria dos pais, envolvimento da comunidade e conscientização pública, junto com os Ministérios de Educação e escolas. Rodrigues (2010, p. 90) afirma que “a tríade respeito, solidariedade e cooperação são indispensáveis para uma escola inclusiva”.

Diante deste contexto, faz-se necessária a abordagem de um breve histórico da educação especial, levando a uma educação inclusiva com resgate e suporte na legislação. Os autores das pesquisas desta temática chamam de educação inclusiva, apontando como deveria ser o ambiente escolar, porém as leis trazem em seus textos o termo “educação especial”, pontuando de forma mais ampla e englobando todos os ambientes de convivência.

Com isso, cabe aqui uma definição para entender a denominação “educação especial” e “educação inclusiva”. A mudança destes termos e seus usos estão ligados à história, atitudes e contexto da época.

Segundo Nascimento (2014, p.18), a educação especial é destinada ao:

[...] atendimento e da educação de pessoas com deficiência e transtornos globais de desenvolvimento em instituições especializadas. É organizada para atender específica e exclusivamente alunos com determinadas necessidades especiais. Onde profissionais especializados como educador físico, professor, psicólogo, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional trabalham e atuam para garantir tal atendimento.

Já a educação inclusiva:

É um processo em que se amplia à participação de todos os estudantes nos estabelecimentos de ensino regular. Trata-se de uma reestruturação da cultura, da prática e das políticas vivenciadas nas escolas de modo que estas respondam à diversidade de alunos. É uma abordagem humanística, democrática que percebe o sujeito e suas singularidades tendo como objetivos o crescimento, a satisfação pessoal e a inserção social de todos. A Educação Inclusiva implica em uma escola de qualidade para todos. (NASCIMENTO, 2014, p.19).

Após esta diferença dos termos, apresento a seguir um breve histórico da educação especial.