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CAPÍTULO 3 – OS CAMINHOS PERCORRIDOS

3.6 O PROCESSO DE ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos dados coletados centralizou-se na maneira de como está a inserção da temática da inclusão nos PPCs das universidades selecionadas e foi realizada com base principalmente na metodologia de Análise de Conteúdo de Bardin (2011). Em relação a esse tipo de análise, podemos dizer que consiste em “um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens” (BARDIN, 2011, p. 44).

A autora indica que existem fases da análise de conteúdo. A primeira é a pré-análise, a segunda é a exploração do material e depois o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação. A pré-análise, segundo Bardin (2011), é a fase da organização e possui três missões: “a escolha dos documentos a serem submetidos à análise, a formulação das hipóteses e dos objetivos e a elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação final” (p.125). Nessa organização, é necessária a constituição de um corpus da pesquisa. Para Bardin (2011, p. 126) “o corpus é o conjunto dos documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos analíticos”. A criação desse corpus acarreta em escolhas, seleção e regras, sendo as principais: exaustividade, representatividade, homogeneidade e pertinência.

Segundo a regra da exaustividade, é necessário incluir todos os elementos, não deixando de fora nenhum deles. Já a regra da representatividade determina que a análise pode ser feita numa amostra, que seja representativa do todo e os resultados da parte serão generalizados para o todo. Na homogeneidade “os documentos retidos devem ser homogêneos, isto é, devem obedecer a critérios precisos de escolha e não apresentar demasiada singularidade fora desses critérios” (BARDIN, 2011, p. 128). E para concluir, na regra da pertinência, os documentos devem ser corretos em relação à fonte de informação.

Neste estudo, o corpus são os PPCs das instituições e as entrevistas com alguns coordenadores e alunos. Desta forma, iniciou-se a atividade de fazer a leitura “flutuante” dos PPCs, começando um contato com os documentos e coletando as primeiras impressões e orientações. De acordo com Bardin (2011, p.126), esta “atividade consiste em estabelecer contato com os documentos a analisar e em conhecer o texto deixando-se invadir por impressões e orientações”.

Também nesta etapa, por meio de um fichamento, já relatado anteriormente, levantei termos e aspectos de organização que surgem com certa regularidade, formas de inserção desta temática nas matrizes curriculares e nas ementas.

Acatando as regras acima, e constituindo o corpus desta pesquisa, tinha em mãos 11 (onze) PPCs e 04 (quatro) entrevistas. Apresentados no Quadro 16 a seguir:

Quadro 16 – Codificação do Corpus

Instrumento Universidade Código Descrição

PPC1 U1 Instrumento – PPC1,

U1.

Documento – Projeto Pedagógico da Universidade 1.

PPC2 U2 Instrumento – PPC2,

U2.

Documento – Projeto Pedagógico da Universidade 2.

PPC3 U3 Instrumento – PPC3,

U3.

Documento – Projeto Pedagógico da Universidade 3.

PPC4 U4 Instrumento – PPC4,

U4.

Documento – Projeto Pedagógico da Universidade 4.

PPC5 U5 Instrumento – PPC5,

U5.

Documento – Projeto Pedagógico da Universidade 5.

PPC6 U6 Instrumento – PPC6,

U6.

Documento – Projeto Pedagógico da Universidade 6.

PPC7 U7 Instrumento – PPC7,

U7.

Documento – Projeto Pedagógico da Universidade 7.

PPC8 U8 Instrumento – PPC8,

U8.

Documento – Projeto Pedagógico da Universidade 8.

PPC9 U9 Instrumento – PPC9,

U9.

Documento – Projeto Pedagógico da Universidade 9.

PPC10 U10 Instrumento – PPC10,

U10.

Documento – Projeto Pedagógico da Universidade 10.

PPC11 U11 Instrumento – PPC1,

U11.

Documento – Projeto Pedagógico da Universidade 11.

EC1 U1 Instrumento – EC1,

U1.

Entrevista – Coordenador da Universidade 1.

EA1 U1 Instrumento – EA1,

U1.

Entrevista – Aluno da Universidade 1.

EC2 U2 Instrumento – EC2,

U2.

Entrevista – Coordenador da Universidade 2.

EA2 U2 Instrumento – EA2,

U2.

Entrevista – Aluno da Universidade 2. Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Após a conclusão da pré-análise e de forma eficiente, a fase de “exploração do material” tem a aplicação das decisões tomadas anteriormente, podendo ser realizada manualmente ou com o auxílio do computador. Essa fase baseia-se em operações de codificação, decomposição ou enumeração, estabelecendo as “Unidades de Contexto e de Registro”.

A codificação corresponde a uma transformação – efetuada segundo regras precisas – dos dados brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e

enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo ou da sua expressão; suscetível de esclarecer o analista acerca das características do texto, que podem servir de índices. (BARDIN, 2011, p.133)

Segundo Franco (2012, p.49), “a Unidade de Contexto é a parte mais ampla do conteúdo a ser analisado, porém é indispensável para a necessária análise e interpretação dos textos a serem decodificados”. Nesta etapa, foi feito um trabalho manual, com a impressão de parte dos PPCs, recortando, manualmente, trechos que se referiam à temática inclusiva.

Já a unidade de registro “é a unidade de significação codificada e corresponde ao segmento de conteúdo considerando unidade de base, visando a categorização e a contagem frequêncial” (BARDIN, 2011, p.134), sendo as unidades de registros mais utilizadas: palavra, tema, objeto ou referente, personagem, acontecimento e documento.

A Unidade de Registro adotada nesta pesquisa é o tema, pois trata de uma afirmativa sobre um determinado assunto. Além disso, esse tipo é considerado como a mais útil Unidade de Registro, sendo usado nos estudos sobre propagandas, representações sociais, opiniões, expectativas, valores, conceitos, atitudes e crenças (FRANCO, 2012).

Desta forma, das diferentes técnicas de análise de conteúdo, será utilizada a análise temática ou categorial. A divisão dos temas em categorias, segundo as suas características comuns, será agrupada por semelhanças, buscando frases e palavras que caracterizaram os agrupamentos.

Para encontrar os temas, foi necessário retornar aos dados da pesquisa, para organizar os trechos em elementos semelhantes e discrepantes. A Figura 1 ilustra um esquema dos materiais recortados e separados em Unidades de Contexto que determinaram os temas abordados nas Unidades de Registro.

Figura 1 – Unidade de Contexto Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Nesta fase, iniciou-se o tratamento e a interpretação dos dados obtidos. Foram analisados os dados resultantes das etapas anteriores, gerando assim as unidades de registro. Com esse processo, foram estabelecidos 11 temas, apresentados no Quadro 17.

Posturas inclusivas das IES Disciplinas que poderiam inserir a temática da inclusão Realidade atual do ambiente escolar

Visitas

e

eventos

Recursos físicos e humanos Mudanças Grupos de estudos

Núcleos

de

apoio

Expectativa da formação inicial Legislação Organização das disciplinas

Quadro 17 – Temas

Temas (Unidades de Registro) Descrição

Legislação Leis relacionadas a disciplinas voltadas à

inclusão e de acessibilidade dos graduandos na IES.

Núcleos de apoio Núcleos de apoio às pessoas com

necessidades específicas e especiais Disciplinas que poderiam inserir a temática

da inclusão

Disciplinas que, de acordo com as suas ementas, poderiam inserir a temática da inclusão

Posturas inclusivas das IES IES preocupadas com questões

contemporâneas, em formar profissionais que se comprometam com uma sociedade justa e igualitária, além da formação de um profissional da educação no contexto sociocultural que se comprometa com o desenvolvimento humano em todas as dimensões.

Grupos de estudos Projetos interdisciplinares, seminários

temáticos, debates, atividades individuais e em grupos com temas ligados à inclusão. Projetos e/ou atividades especiais de ensino relacionados a diferentes realidades. Discute tendências contemporâneas em Educação.

Mudanças Alterações na matriz curricular visando

alterações baseadas na inclusão.

Recursos físicos e humanos Departamento responsável pela disciplina de Libras. Quantidade de professores de Libras. Estruturas físicas das mesas e dos banheiros para pessoas com necessidades especiais. Novas instalações preocupadas com a acessibilidade.

Visitas e eventos Visitas e eventos que proporcionam aos

alunos ambientes de discussão de diferentes assuntos relacionados à situação real.

Organização das disciplinas As disciplinas são organizadas em tabelas e matrizes, por meio de eixos, componentes curriculares e disciplinas do período. Apresentam ainda as ementas das disciplinas, tanto as obrigatórias como as optativas. Além disso, há disciplinas que aparecem no fluxograma.

Expectativa da formação inicial Espera-se que durante a graduação o aluno trabalhe e valorize a inclusão, trabalhe temas que auxiliem no processo de aprendizagem de pessoas com necessidades específicas, levando em conta o respeito à diversidade, tornando o conhecimento acessível a todos. Além disso, conhecer questões contemporâneas em diversas realidades e

públicos, de acordo com as necessidades da sociedade.

Realidade do ambiente escolar Situações e realidades das escolas brasileiras. Profissionais que conhecem questões contemporâneas e atuais. Entender a realidade social em que a escola está inserida. Desafios pautados no princípio da inclusão e no respeito à diversidade.

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Após os temas e a análise de recorrências, chegou-se a três eixos temáticos, indicados no Quadro 18.

Quadro 18 – Eixos temáticos

Eixos temáticos Temas

Marcos legais - Legislação

- Mudanças

Afirmação institucional - Núcleos de apoio

- Posturas inclusivas das IES - Recursos físicos e humanos

Formação Inicial de professores - Disciplinas que poderiam inserir a temática da inclusão

- Grupos de estudos - Visitas e eventos

- Organização das disciplinas - Expectativa da formação inicial - Realidade do ambiente escolar Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Com a definição dos Eixos Temáticos, a próxima etapa foi o tratamento dos resultados e interpretações, sendo o momento da definição das categorias, chamada de categorização. Segundo Franco (2012, p.63), a categorização é “uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação seguida de um reagrupamento baseado em analogias, a partir de critérios definidos”.

O processo de categorização é o ponto fundamental da análise de conteúdo, do qual formular as categorias é um procedimento que exige grande esforço do pesquisador, por ser um processo extenso, árduo e desafiador, não tendo “fórmulas mágicas”.

Para Bardin (2011), um conjunto de boas categorias tem que apresentar os seguintes princípios: a exclusão mútua; a homogeneidade, a pertinência; a objetividade e a fidelidade, e a produtividade.

Nessa direção, segundo Franco (2012, p. 71 e 72) o princípio de exclusão mútua estipula que “um único princípio de classificação deve orientar sua organização” e depende da homogeneidade das categorias. O princípio da pertinência “é considerada pertinente quando está adaptada ao material de análise escolhido e ao quadro teórico definido”. Já a objetividade e a fidedignidade indicam que todos os materiais “devem ser codificados da mesma maneira, mesmo quando submetidos a várias análises”. Para finalizar, o princípio da produtividade diz que “um conjunto de categorias é produtivo desde que concentre a possibilidade de fornecer resultados férteis”.

Para a determinação das categorias apresentadas a seguir, foram utilizados os princípios anteriores, pois deteve em alcançar dados presentes em apenas uma categoria, de forma abrangente e homogênea, além de ser pertinente, pois está relacionada aos aspectos trabalhados na revisão de literatura. Os dados foram codificados de forma clara a fim de alcançar grandes resultados.

Após, todo este trabalho cuidadoso, emergiram as Categorias de Análise, definidas a posteriori, surgidas dos dados coletados nos PPCs, e não a priori. Cabe entender a diferença de categorias a priori e posteriori, segundo Franco (2012, p. 64 e 65):

Categorias criadas a priori: as categorias e seus respectivos indicadores são predeterminados em função da busca a uma resposta específica do investigador. Categorias não definidas a priori (posteriori): emergem da “fala”, do discurso, do conteúdo das respostas e implicam constante ida e vinda do material de análise à teoria.

No Quadro 19, estão apresentadas as Categorias de Análise.

Quadro 19 – Categorias de Análise

Categorias de Análise Eixos temáticos

Relação entre as normativas legais e as IES - Marcos Legais - Afirmação institucional Formação Inicial de Professores de Matemática para a

Prática Inclusiva - Formação Inicial de Professores Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Baseado em Bardin (2011), inspirada em Cintra (2013), elaborei na Figura 2, um esquema que apresenta a estrutura metodológica da análise dos dados construídos a partir dos PPCs, e na Figura 3, um diagrama das categorias de análise junto com os eixos temáticos referentes a esta pesquisa.

Figura 2 – Estrutura metodológica da análise dos dados Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Figura 3 – Categorias de análise Fonte: Elaborado pela pesquisadora Leitura flutuante Unidade de contexto Unidade de registro Eixos temáticos Categorias de análise Interpretação

CATEGORIAS DE ANÁLISE

RELAÇÃO ENTRE AS NORMATIVAS LEGAIS E AS

IES

- MARCOS LEGAIS

ENSINO SUPERIOR - INSTITUIÇÕES DE

FORMAÇÃO INICIAL

DE PROFESSORES DE

MATEMÁTICA PARA A

PRÁTICA INCLUSIVA

- FORMAÇÃO INICIAL

DE PROFESSORES

Nos capítulos a seguir, estão apresentadas27 as discussões das categorias definidas juntamente com os eixos temáticos. Após a definição das categorias emergidas dos PPCs, foi possível fazer uma análise relacionando-as com as entrevistas e a legislação vigente, disponibilizando um mapeamento de como vem acontecendo a formação inicial dos professores de Matemática, na temática da inclusão, no estado de Minas Gerais. No capítulo 4 “Relação entre as normativas legais e as IES” discuti sobre os eixos temáticos que envolvem os marcos legais e as IES, já no capítulo 5 “Formação Inicial de Professores de Matemática para a Prática Inclusiva”, há uma análise do eixo temático Formação Inicial de Professores e posteriormente uma reflexão sobre as perspectivas da formação de professores, que surgiu no decorrer da leitura das entrevistas transcritas.

27 O leitor irá se deparar com algumas manifestações dos PPCs e das entrevistas que são apresentadas com

CAPÍTULO 4 – RELAÇÃO ENTRE AS NORMATIVAS