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EDUCAÇÃO NAS UNIDADES PRISIONAIS DE MINAS GERAIS

No documento marcosfernandesrafael (páginas 38-42)

2 A INSERÇÃO DE ESCOLAS NO SISTEMA PRISIONAL

2.3 EDUCAÇÃO NAS UNIDADES PRISIONAIS DE MINAS GERAIS

No ano de 1938 foi criada a primeira penitenciária do Estado de Minas Gerais, no Município de Ribeirão das Neves, cidade pertencente à região metropolitana de Belo Horizonte. A princípio denominada Penitenciária Agrícola de Neves, posteriormente recebeu o nome de Penitenciária José Maria Alkimin. Nesse local foram iniciadas as primeiras experiências de educação em prisões. Inclusive, isso fez com que, ao longo dos anos, a penitenciária se tornasse uma referência para abertura de escolas em outras unidades prisionais do Estado de Minas Gerais.

Dessa forma, o Estado se organizou para oferecer educação em mais unidades, celebrando, através de instrumento jurídico chamado de Termo de Cooperação Técnica (TCT), uma parceria entre Secretaria de Educação e Secretaria

de Defesa Social (Seds), que garante o oferecimento de educação formal nas unidades prisionais.

Em 2016, foi celebrado o TCT vigente entre a Seds, atual Secretaria de Estado de Atendimento ao Preso (Seap) e a SSE/MG, com as estipulações das atribuições de cada secretaria e com a finalidade de propiciar a educação básica nas escolas estaduais das unidades prisionais, com a exclusão das escolas abrangidas pelo sistema de parceria público/privado. Segundo o Termo de Cooperação Técnica (MINAS GERAIS, 2016), a Secretaria de Estado da Educação tem atribuições voltadas à gestão do corpo técnico e à capacitação do Quadro dos servidores das escolas, o fornecimento de material didático e físico de suporte às aulas, a disponibilização de internet e equipamentos tecnológicos, a manutenção dos equipamentos utilizados nas aulas, a gerência de conservação e limpeza dos espaços utilizados pelas escolas, além do fornecimento de merenda escolar para os estudantes e o gerenciamento e articulação do espaço escolar com demais programas da Secretaria de Estado de Atendimento ao Preso.

Ainda no Termo de Cooperação (MINAS GERAIS, 2016), as atribuições da Secretaria de Estado de Defesa e Secretaria Estado de Atendimento Penitenciário são relacionadas ao apoio das atividades da escola e à participação no planejamento e avaliação de aprendizagem, tendo como foco as garantias do cumprimento das ordens judiciais, além de participação da seleção de servidores do SEE/MG, estabelecendo e orientando sobre as normas e procedimentos de segurança. Também devem garantir aos servidores das escolas a capacitação técnica, a disponibilização de vale transportes e a alimentação, nos casos daqueles que trabalhem em pelo menos dois turnos. Com relação ao espaço físico, o Seds e Seap devem garantir o espaço físico para as escolas, prover de monitoramento de segurança e controle de acesso à internet, responsabilizar pelos gastos com telefonia, água e luz dos prédios e, quando necessário, a disponibilização de veículo para uso do corpo administrativo.

Por fim, o Seds e o Seap devem, em conjunto com a SEE/MG, realizar atividades que reduzam a vulnerabilidade e contextos de violência nas escolas, desenvolver projetos que favoreçam o retorno do apenado ao ensino regular e acompanhar o cumprimento das medidas alternativas nas escolas, além de dialogar e criar linhas de interlocuções com os profissionais da educação para o acompanhamento da Prestação de Serviços à Comunidade (PSC).

Dentro do sistema de parceria público, o consórcio de Gestores Públicos Associados (GPA) é o grupo que coordena o primeiro presídio público privado do Brasil; nesse complexo há três escolas. A finalidade social e legal do Termo de Cooperação Técnica é garantir que a população privada de liberdade tenha seus direitos como cidadãos, fornecendo meios para que os indivíduos possam progredir no trabalho e nos seus estudos após o cumprimento da sentença.

Ainda no âmbito do Estado, foi criado, em 2015, o Plano Estadual de Educação em Prisões, para apresentação ao Ministério de Educação (MEC) e Ministério da Justiça; ele traça um perfil da educação em unidades prisionais, com o intuito de angariar apoios técnicos e financeiros para as ações desenvolvidas dentro das unidades prisionais.

As Tabelas a seguir demonstram o número de unidades e escolas que atendem aos privados de liberdade no Estado de Minas Gerais no ano de 2017, incluindo a educação não formal, que é aquela educação oferecida pelo terceiro setor, como organizações sociais, movimentos não governamentais representados por Organizações Não Governamentais (ONGs) e outras entidades filantrópicas.

O Quadro 3 apresenta o número de alunos no sistema carcerário de Minas Gerais no ano de 2017:

Quadro 3 - Indivíduos privados de liberdade estudando em Minas Gerais - 2017

Fonte: Diretoria de Ensino e Profissionalização (2018) adaptado pelo autor.

O Quadro 3 evidencia o número de privados de liberdade que estudavam dentro das unidades prisionais de Minas Gerais no ano de 2017. Os números mostram a educação básica como a modalidade com mais matriculados pela população de privados de liberdade, seguido pela educação não formal, que oferece os cursos livres aos sentenciados.

Esse elevado número na educação básica é alcançado devido à parceria com a Secretaria Estadual de Educação, que é responsável pelas escolas nas unidades prisionais em Minas Gerais. Além disso, o baixo número de presos que estão na educação superior é devido ao pouco interesse das instituições superiores em

Mês Educação Básica Educação Não Formal Educação Profissional Educação Superior Total Dezembro/2017 7.891 331 208 118 8.548

investirem nas matrículas da população de privados de liberdade e falta de infraestrutura para educação à distância dentro das unidades prisionais.

O Quadro 4, a seguir, mostra o número de escolas dentro do sistema prisional mineiro, apontando também aquelas escolas que funcionam como segundo endereço dentro das unidades, ou seja, não são escolas próprias, e sim, anexos de outras escolas. Normalmente, estas escolas têm poucas salas de aula dentro das unidades devido à sua característica de ser parte de outra instituição e não contam com estrutura administrativa escolar dentro das unidades prisionais.

Quadro 4 - Escolas dentro de unidades prisionais em Minas Gerais – 2017

Fonte: Diretoria de Ensino e Profissionalização (2018) adaptado pelo autor.

A criação de uma escola dentro de unidades prisionais passa pela avaliação da SEE/MG em conjunto com a Seap, sendo esta última responsável pela estrutura física das escolas. Assim, a Tabela 4 retrata que o número de escolas criadas é menor em relação ao 2º endereço; isso se dá, pois as unidades prisionais não têm estrutura física para abrigar uma escola ou não têm número suficiente de alunos para criação de uma escola.

As escolas de 2º endereço têm mais que o dobro de outras escolas dentro de unidade prisionais, porque correspondem àquelas escolas que existem fora dos muros das unidades prisionais e têm salas nos presídios para atender aos privados de liberdade.

As três escolas particulares mostradas na Tabela 4 correspondem às escolas na unidade prisional com parceria público-privado, localizada no Município de Ribeirão das Neves, e esta parceria é a única no Estado de Minas Gerais.

O Quadro 5, a seguir, apresenta o número de indivíduos privados de liberdade que estudam no Município de Ribeirão das Neves no ano de 2017:

Escolas no Sistema Prisional Número de Unidades

Escolas Criadas 35 28,2%

Escolas 2º Endereço 86 69,4%

Escola Particular 3 2,4%

Quadro 5 - Indivíduos privados de liberdade estudando no Município de Ribeirão da Neves/MG - 2017

Fonte: Diretoria de Ensino e Profissionalização (2018) adaptado pelo autor.

O Quadro 5, em comparação com o Quadro 3, indica que 20% da população carcerária do Estado de Minas Gerais que estuda em alguma das modalidades apresentadas estão no Município de Ribeirão das Neves, o que pode ser explicado pelo fato de a cidade ser a que possui mais estabelecimentos prisionais no Estado, sendo seis unidades masculinas, uma feminina e uma socioeducativa.

Por fim, a realidade da educação nas unidades prisionais no Estado de Minas Gerais está ligada às experiências dos estabelecimentos localizados em Ribeirão da Neves – inclusive, neste, temos a percussora da educação em unidades prisionais e a única do sistema público-privado. Houve muitos avanços na oferta da educação nas unidades prisionais, no entanto, ainda há muito a melhorar, como, por exemplo, o número de indivíduos privados de liberdade matriculados no ensino superior.

No documento marcosfernandesrafael (páginas 38-42)