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INFREQUÊNCIA DOS ALUNOS ESCOLA ESTADUAL CÉSAR LOMBROSO

No documento marcosfernandesrafael (páginas 64-69)

2 A INSERÇÃO DE ESCOLAS NO SISTEMA PRISIONAL

2.6 INFREQUÊNCIA DOS ALUNOS ESCOLA ESTADUAL CÉSAR LOMBROSO

A educação cumpre um papel importante na sociedade, dado que, além de formar cidadãos conscientes, constrói pessoas mais sensíveis e preparadas para assumirem seus papeis na coletividade, além de possibilitar a formação de profissionais para atividades importante para o desenvolvimento da organização social. Entretanto, atualmente, no Brasil, o maior problema encontrado para a educação atingir seu objetivo é a infrequência.

Para Costa, Guimarães e Rocha (2015), a infrequência estabelece um conflito com a legislação brasileira, pois há uma necessidade de manter o acesso e permanência na escola. Inclusive, este conflito vem exposto na Constituição Federal no seu artigo 205, quando põe como responsabilidade do Poder Público zelar, junto com os profissionais da educação e a família pela permanência do aluno.

A questão da infrequência, conforme apontado por Costa, Guimarães e Rocha (2015), prejudica o aprendizado, porque o aluno tem compreensão fragmentada pelo longo tempo de ausência. A infrequência dificulta também o cumprimento das atividades em contínuo, já que as atividades são dadas e o professor fica no dilema entre avançar e voltar em algum tópico da matéria programada para a compreensão do aluno infrequente.

Diante disso, a infrequência surge como uma questão que deve ser enfrentada pelo Estado, educadores e família, posto que cria dificuldades para a educação alcançar sua finalidade.

A questão da infrequência é vivida, diariamente, nas dependências da escola com sede na penitenciária José Maria Alkimin, que teve, em 2017, o registro de 59% dos alunos com infrequência, sendo que no segundo endereço da escola, na unidade José Martinho Drummond, a infrequência atingiu 15% dos alunos.

Inicialmente, a diferença acentuada de infrequência está ligada ao perfil das unidades prisionais, pois a sede tem a presença de apenados com saídas temporárias e penalidades menores. Inclusive, a própria dinâmica de atendimentos e funcionamento da unidade impede que o aluno esteja presente na aula, já que há sempre uma necessidade de contato com advogados, idas aos fóruns, enfermaria, psicólogos. Em contrapartida, o perfil da segunda unidade é a de abrigar em sua maioria apenados com penas maiores e no regime fechado, o que pode contribuir para que os alunos permaneçam mais dentro da escola, já que a própria dinâmica da unidade favorece uma menor infrequência.

Um fato importante é que a escola é percebida pelos alunos como uma escola “comum”, como aquelas fora dos muros da unidade penitenciária, e eles querem aproveitar a oportunidade de frequentar esse ambiente e seguir um caminho de mudanças, o que também possibilita um alto índice de frequência. Por outro lado, há grupos de alunos que veem a escola como mecanismo para diminuição de pena e, assim, não perdem a oportunidade de frequentar as aulas. A Tabela 1, a seguir, apresenta a relação geral de matrículas e infrequência na escola entre 2013 e 2017:

Tabela 1 - Relação Geral de matrícula por infrequência na Escola Estadual César Lombroso 2013 - 2017

Fonte: Elaborada pelo autor (2019).

A Tabela 1 demonstra a relação de matrículas e infrequência, e percebe-se que, na maioria dos anos, o índice ultrapassa os 50% dos matriculados; porém, em 2017, a escola teve um número maior de alunos devido ao seu segundo endereço. Em 2015, teve o menor número de infrequentes; isso é reflexo da chegada de novos agentes nomeados pelo concurso de 2013, que entraram em exercício na unidade e foram somados aos agentes penitenciários contratados. Dessa forma, a unidade ficou com um número maior de agentes, o que possibilitou a retirada dos alunos das celas com mais segurança, contribuindo para o aumento da frequência escolar.

Todavia, o número de agentes foi reduzido gradativamente entre 2016 e 2017 com a dispensa dos agentes contratados, o que acarretou o fechamento de um turno da escola no ano de 2018. Neste período, houve as reclamações por parte dos alunos em relação a não retirada da cela para escola, o que, por consequência, contribuiu para o aumento da infrequência.

Vale destacar que cada ambiente da escola, como foi mostrado no Esquema 1 do mapa da escola, tem uma particularidade em relação à infrequência dos alunos que irá depender do regime do privado de liberdade e dos benefícios que já possui, como, por exemplo, a saída temporária.

Na parte da escola chamada de alojamento existem cinco salas de aula, onde os privados não ficam trancados em celas. Nesta parte ficam 120 sentenciados divididos em oito alojamentos, sendo que eles trabalham na própria unidade, durante o dia, prestando serviços na horta, curral, na fábrica de processamento de alho, na olaria, criação de porcos e ovelhas.

Na Tabela 2, a seguir, são apresentadas a relação entre matrícula e infrequência dos alunos do alojamento:

Ano Quantitativo de matrículas Infrequência

2013 454 56%

2014 392 55%

2015 460 36%

2016 471 53%

Tabela 2 - Relação matrícula por infrequência no alojamento da Escola Estadual César Lombroso 2013- 2017

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

Neste ambiente, não são usadas algemas e não existe a mesma disciplina que nos pavilhões da Sede, ou seja, os privados de liberdade podem andar livremente, sem cercas, estando vigiados apenas por dois agentes penitenciários. Um fator que agrava a infrequência neste espaço é a autonomia dada aos apenados, porque estes preferem realizar outras atividades a participar das aulas.

A Tabela 3, a seguir, exibe a matrícula e infrequência do espaço chamado de anexo, que possui 3 salas de aula, sendo uma para cada nível de ensino, e atende apenados sentenciados que trabalham fora da unidade durante o dia e retornam à noite, condenados no regime semiaberto.

Tabela 3 - Relação matrícula por infrequência no anexo da Escola Estadual César Lombroso 2013 - 2017

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

A Tabela apresenta percentuais mais baixos de infrequência devido à conscientização por parte do aluno da necessidade dos estudos para o trabalho fora da prisão e dos estudos acelerarem sua saída através da remição de pena por dia estudado. A Tabela 4, a seguir, mostra a situação da sede durante o período estudado em relação à infrequência dos alunos.

Ano Quantitativo de matrículas Infrequência

2013 85 45%

2014 70 52%

2015 90 48%

2016 102 55%

2017 95 65%

Ano Quantitativo de matrículas Infrequência

2013 68 30%

2014 60 45%

2015 70 30%

2016 65 28%

Tabela 4 - Relação matrícula por infrequência na sede da Escola Estadual César Lombroso - 2013 a 2017

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

A sede é o espaço de maior atendimento de alunos da escola, como mostrado na Tabela 4. Neste espaço, a locomoção do aluno entre a cela e a sala depende exclusivamente do agente penitenciário.

Em relação às Tabelas anteriores, o alojamento é o espaço de maior percentual de infrequência; já o anexo é o espaço com menor percentual de infrequência devido à importância dos estudos para os internos, além do estudo representar um fato interessante para reduzir o tempo de prisão. Outro fator a ser considerado no anexo é que o número de salas são apenas três.

Pelos dados apresentados, a sede é o local com maior número de alunos e taxas mais elevadas de infrequência; por se tratar de pavilhões, a disciplina por parte da segurança é mais rígida; além disso, o contato com o agente penitenciário é mais hostil que nos outros ambientes. Existem outros dificultadores para a frequência dos alunos, como, por exemplo, o horário de banho de sol, que é no mesmo horário de aula, além da exigência dos cabelos e barba cortados e atendimentos de técnicos aos alunos.

Diante desse cenário complexo da sede em relação aos outros espaços e à frequência do aluno na escola, foi determinado como sendo os “lócus” para desenvolvimento da pesquisa; aliado a isso, há também o fato de que é o espaço onde o acesso é mais liberado e sua complexidade, tanto em nível espacial como organizacional e subjetiva, traz diversos elementos desafiadores para a pesquisa.

Ano Quantitativo de matrículas Infrequência

2013 301 52%

2014 262 54%

2015 240 30%

2016 304 53%

3 EDUCAÇÃO NA PRISÃO: O PONTO DE VISTA DE QUEM ESTÁ INSERIDO NO

No documento marcosfernandesrafael (páginas 64-69)