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Educação para a Cidadania no Actual Contexto do Ensino Básico Português

2. EDUCAR PARA A CIDADANIA EM CONTEXTO ESCOLAR: PERSPECTIVAS

2.2. Educação e Cidadania: Perspectivas sobre a Educação para a Cidadania

2.2.3. Educação para a Cidadania no Actual Contexto do Ensino Básico Português

Antes de nos debruçarmos sobre os documentos legais e oficiais que conformam a educação para a cidadania no ensino básico, em Portugal, neste início de século, faremos

uma breve referência histórica à forma como a formação dos súbditos, mais tarde cidadãos, esteve sempre presente como uma finalidade da educação, desde a criação do sistema de ensino português com Marquês de Pombal. Para um melhor enquadramento dos princípios legais que conformam a educação para a cidadania em a reorganização curricular do

ensino básico, optámos, ainda, por analisar a Constituição da República Portuguesa, a Lei

de Bases do Sistema Educativo, bem como os documentos legais da reforma do ensino básico, ocorrida na década de noventa, pois considerámos que tal análise nos permitiria uma melhor compreensão de como é entendida hoje em termos de política educativa a educação para a cidadania.

De acordo com Fernandes (1998), o sistema escolar português emergiu no período histórico nacional conhecido por Pombalismo, sendo que “na base do sistema, é criado em 1772, o que podemos chamar o ensino primário português: - Trata-se das Escolas de Ler, Escrever e Contar, nas quais se ensinaria a leitura, a escrita, o cálculo, a caligrafia e a ortografia, a doutrina cristã e a civilidade” (p. 29). No século XIX, a Revolução Liberal de 1820 trouxe modificações importantes ao ensino público, que na Constituição Política, datada de 23 de Setembro de 1822, surge com a seguinte finalidade: “Artigo 237.º Em todos os lugares do reino onde convier haverá escolas suficientemente dotadas em que se ensine a mocidade portuguesa, de ambos os sexos a ler, escrever e contar, e o catecismo das obrigações religiosas e civis” (Ribeiro, 1891-1892, citado por Carvalho, 1986, p. 533). Destacamos, como inovação, a instituição do ensino da Constituição nas escolas elementares (Fernandes, 1998). Seguiu-se, entretanto, um período conturbado na História de Portugal que “não permitiram a actividade criativa e organizadora da governação” (Carvalho, 1986, p. 548), e que culminou com o fim do absolutismo. Contudo, e continuando a seguir o mesmo autor, “os liberais, em vez de se entreajudarem, partidarizam-se e hostilizam-se”, emergindo duas facções liberais, uma que “proclamam a soberania do povo” e outra que defendia a Carta Constitucional de D. Pedro, na qual eram concedidos poderes ao monarca e que tinha sido “imposta sem recurso à opinião dos cidadãos” (p. 548). No plano educativo, estas correntes liberais defendiam, obviamente, políticas de instrução diferentes, embora em ambos os casos houvesse consenso relativamente à necessidade urgente de reduzir o analfabetismo. Relativamente às prioridades em matéria de instrução “uns davam-nas à instrução primária e ao combate generalizado ao analfabetismo porque entendiam ser urgente, antes de mais, preparar cidadãos conscientes dos seus deveres cívicos, defensores da ideologia liberal, capazes de elegerem, no actos eleitorais, os homens que nas Câmaras, mais adequadamente soubessem

defender os interesses do povo” outros defendiam que a prioridade deveria ser dada ao ensino técnico, “que arrancasse o país à situação rotineira em que vegetava há séculos” (Carvalho, 1986, p. 549). Mais tarde, com a Reforma Educativa de 1836 de Passos Manuel, serão instituídos os liceus nacionais, podendo ler-se no Preâmbulo do Decreto fundador da Reforma que não podia existir “ilustração geral e proveitosa, sem que as grandes massas de Cidadãos, que não aspiram aos estudos superiores, possuam os elementos científicos e técnicos indispensáveis aos usos da vida no estado actual das sociedades” (Fernandes, 1998, p. 35). Esta nova perspectiva que traduz, em nosso entender, a preocupação de que a escola deve visar a integração dos cidadãos na sociedade, reflectiu-se ainda ao nível do Plano de Estudos, que de acordo com Carvalho (1986) revela a sua [Passos Manuel] “(…) permanente preocupação de promover o ensino das matérias científicas e técnicas, (…), representante convicto da necessidade de implantar uma nova consciência nacional, que integrasse o homem no topo da sociedade, valorizada pelo trabalho” (p. 571).

Após a reforma de Passos Manuel, outras se lhe seguiram, à medida que se verificaram alterações de natureza política no governo da Nação. Estas alterações reportaram-se, no plano educativo, a aspectos organizativos do Sistema de Ensino Português, bem como ao pendor da componente científica e da componente humanística no currículo. Os apologistas da formação escolar de uma mentalidade científica, de tipo utilitário, defendiam ser esta “a mais adequada ao progresso social e à integração do indivíduo no seu tempo” (Carvalho, 1986, pp. 596, 597), ao passo que os que “lutavam pela valorização dos estudos humanísticos” defendiam “o poder persuasivo da palavra e da escrita, e o domínio do espírito sobre a matéria” (Carvalho, 1986, p. 596).

Apesar de não terem sido implementadas, consideramos relevante, no âmbito do presente trabalho, destacar as propostas de Reforma Educativa de Alexandre Herculano e as de Oliveira Pimentel e Latino Coelho. Em 1838, Herculano afirma que “instrução geral elementar; instrução geral superior; eis os fundamentos da futura felicidade do país, da felicidade do Estado e dos indivíduos” (Ferreira, 1975, citado por Carvalho, 1986, p. 574). De acordo com Carvalho (1986):

A ideia basilar contida nestes reduzidos termos é a de que todos os homens devem beneficiar de duas qualidades de instrução: uma eminentemente social que integre o homem na sua sociedade como cidadão esclarecido, capaz de eleger conscientemente aqueles que hão-de orientar os destinos da Nação; outra, que atenda ao indivíduo, aproveitando-lhe as faculdades pessoais e que, embora de suma importância para a pessoa, deve ser posta num plano secundário em relação às exigências sociais. Primeiro o cidadão; depois o indivíduo (pp. 574, 575).

Em 1857, o ministro Fontes Pereira de Melo atribui à Academia das Ciências a tarefa de redigir um relatório que serviria de “tema à discussão pública sobre a reforma e o

melhoramento do ensino nacional” (Carvalho, 1986, p. 591). De acordo com Oliveira Pimentel e Latino Coelho, relatores do referido relatório “a educação só pode ter dois fins – diziam –, «educar o homem social e formar o cidadão», em primeiro lugar; prepará-lo para uma profissão, em segundo lugar. O primeiro fim deverá abranger todos os portugueses sem excepção, e será alcançado por intermédio de um conjunto de conhecimentos «indispensáveis a todo o homem civilizado», …, por meio da aplicação da inteligência aos preceitos escritos da moral e da religião (Catecismo da Doutrina Cristã, História Sagrada, Regras da Moral e da Civilidade). Seguir-se-ia o «estudo elementar da forma social, dos deveres que ela impõe e dos direitos que confere», após o que viriam a Gramática, a História, a Física, a Química, etc.” (Carvalho, 1986, pp. 591, 592). Carvalho (1986) salienta o facto de nesta proposta “antes da aquisição do saber deverá atender-se, na educação do indivíduo, às regras de comportamento social” (p. 592), sendo estas últimas as que a sociedade de então impunha.

No seio das contestações à política cartista, emergem as primeiras manifestações do pensamento republicano em Portugal, sendo que “um dos principais vectores da propaganda republicana em que cristalizavam as esperanças de ressurgimento nacional aliadas a este movimento foi a sua acção em prol da educação do povo” (Proença, 1998, p. 51). De acordo com a autora, os principais dirigentes republicanos defendiam que “a instrução do povo era condição indispensável à sua consciencialização cívica e à sua elevação moral e espiritual” (p. 51). Assim, embora tivessem estabelecido a divulgação do ensino primário como “a base inicial para o desenvolvimento de cidadãos mais instruídos e mais conscientes” (p. 51), consideraram que a mesma não era suficiente para a consecução dos objectivos educativos (consciencialização cívica, elevação moral e espiritual), pelo que além das aulas ocorriam sessões de divulgação cultural ministradas por professores, escritores e artistas. Nestas sessões, discutiam-se temas de “história política, geografia, ciências naturais, literatura nacional, questões políticas nacionais e internacionais, além de outros temas relacionados com a vida quotidiana das populações” (Proença, 1998, pp. 51, 52).

De acordo com a autora, a educação cívica e a formação de cidadãos constituíram a espinha dorsal do sistema educativo implementado pelos republicanos em 1910, quando tomaram o poder; sendo que para Pintassilgo (1998), a grande finalidade dos republicanos, quer na educação em geral quer na educação cívica em particular, era preparar os cidadãos para viverem de acordo com os princípios de um regime democrático. De facto, é “inegável a importância atribuída à educação cívica e moral no currículo formal da escola

primária republicana”. A preocupação em promover a formação de cidadãos estava, também, patente no currículo informal dessa mesma escola: “é o caso do culto da pátria e dos heróis, a ele associados, cultos da bandeira, do hino e dos heróis nacionais” (p. 153). Ainda segundo o autor, a instituição da educação cívica no currículo tinha como finalidade a salvaguarda do regime republicano, consagrando “a República como alternativa credível à recém-deposta Monarquia” (p. 114). Neste sentido, “a educação cívica tornava-se assim num instrumento indispensável com vista à estabilização de um regime cujas bases ainda não estavam seguras” (p. 115). Para os republicanos, e continuando a seguir o mesmo autor, “a escola primária da república não deveria ser neutra do ponto de vista político- filosófico (…), ela devia contribuir activamente (…) para a difusão dos ideais e dos valores do republicanismo, contribuindo, dessa forma para a formação de cidadãos republicanos e patriotas” (p. 118).

Com a reforma republicana do ensino primário, e de acordo com Carvalho (1986), a religião é banida da escola, mas a Moral não foi esquecida, figurando nos programas dos três graus de ensino primário: “aquisição de hábitos morais pelo exemplo e pelo ensino, no 1.º grau; à moral prática, como meio de formação do carácter, no 2.º grau; e organizando- se em disciplina escolar, no 3.º grau, sempre orientada no sentido social, e com exclusão de quaisquer implicações religiosas” (p. 675). No Preâmbulo do Decreto que reforma a instrução primária (citado por Carvalho, 1986) podia mesmo ler-se: “dela [escola] se banirão todas as religiões, menos a religião do dever que será o culto eterno desta nova igreja cívica do Povo”, e mais adiante, ainda no mesmo documento, seria feita referência ao papel do professor no âmbito da Educação Moral “ser o árbitro dos destinos morais da Pátria” (p. 675).

Em 28 de Maio de 1926, um golpe militar pôs fim à 1.ª República, tendo-se estabelecido um regime de ditadura militar, ditadura que se manteve, mas que a partir de 1933 se denominou Estado Novo, que iria durar até à Revolução de 1974, sendo que no contexto da História da Educação, de acordo com Carvalho (1986) e mais concretamente no âmbito da educação para a cidadania, defendemos nós, assume particular relevo, como não podia deixar de ser, a política educativa de Oliveira Salazar. De facto, e contrariamente ao que sucedia até ao golpe militar de 28 de Maio, Salazar defendia que era “mais urgente a constituição de vastas elites do que ensinar o povo a ler. É que os grandes problemas nacionais têm de ser resolvidos, não pelo povo, mas pelas elites enquadrando as massas” (Mónica, 1978, citada por Carvalho, 1986, p. 728). No entanto, para resolver a questão do analfabetismo, problema endémico da sociedade portuguesa, Salazar opta por proporcionar

escolas a todos, mas baseadas no princípio de que as crianças apenas precisavam de “saber ler, escrever e contar”. No entanto, esta ‘cedência’ implicava controlar as suas leituras inclusive as dos livros escolares, tornando-se, assim, necessário, e de acordo com Carvalho (1986), que “se impusessem regras de educação moral e cívica, tão precisas e tão bem aplicadas que anulassem, na raiz, os virtuais perigos que a leitura e a escrita acarretavam” (p. 738). Neste âmbito, foram publicadas em Decreto do Diário do Governo, em 1932, um conjunto de frases de carácter moral que obrigatoriamente foi incluído nos livros de leitura adoptados oficialmente. Mais tarde, num Documento que estabeleceu a Remodelação do Ministério da Instrução Pública, podia mesmo ler-se “ «nos estabelecimentos de ensino de todo o País, com exclusão do superior, haverá um único compêndio para cada ano ou classe das disciplinas de História de Portugal, história geral e filosofia, bem como […] «de educação moral e cívica» […]” (Carvalho, 1986, p. 754). Continuando a seguir o mesmo autor, o Estado estava deste modo a instrumentalizar a educação, utilizando-a como “arma fundamental para a imposição do seu ideário político, criando uma História, uma Filosofia e uma Educação Moral e Cívica para a sua expressão particular” (pp. 754, 755). No mesmo Documento podia, ainda, ler-se “em todas as escolas públicas do ensino primário, infantil e elementar existirá, por detrás e acima da cadeira do professor, um crucifixo, como símbolo da educação cristã determinada pela Constituição” (pp. 755, 756). Foi o regresso da religião à escola.

Em 1974, a revolução de 25 de Abril fez emergir um regime democrático, pondo fim à ditadura implantada em 1926. A Constituição de 1976 definia, de acordo com Grácio (1981, citado por Menezes, 1995, p. 14), três objectivos básicos da educação: “promover o desenvolvimento pessoal, promover o desenvolvimento e progresso da comunidade nacional e reforçar a coesão social e um sentimento colectivo de identidade. Especificamente, a educação deveria contribuir para o progresso de uma sociedade democrática e socialista (Art.º 73.º) ”. Seguiu-se um período de debate em torno da questão do papel da educação escolar na educação para a cidadania (Santos, 1981, 1984, citada por Menezes, 1995) e sobre a questão do doutrinamento ideológico, debate que foi desaparecendo e se reactivou em torno da Lei de Bases do Sistema Educativo, promulgada em 1986.

As componentes cívica e moral da educação para a cidadania fizeram parte das finalidades educativas desde a criação do sistema educativo português, no século XVIII, até aos dias de hoje. A emergência do regime democrático em 1974 torna indispensável o questionamento do conceito de cidadania e do papel da educação na formação de cidadãos

integrados numa nova vivência político-social. Neste sentido, passamos, de seguida, à análise dos documentos legais e oficiais relativos às políticas educativas actuais no âmbito da educação para a cidadania, desde a publicação da Lei de Bases do Sistema Educativo em 1986 até ao Decreto-Lei n.º 6/2001, dando maior destaque à educação para a cidadania que emana da reorganização curricular do ensino básico de 2001, por ser, neste contexto, que se inscrevem as questões de investigação que norteiam este trabalho, bem como a realização do estudo empírico integrado na presente investigação. Comecemos, pois, pela Constituição da República Portuguesa, de 1976, e vejamos o que nos diz sobre a educação em Portugal.

Na Constituição da República Portuguesa, actualizada de acordo com a Lei Constitucional n.º 1/2005, de 12 de Agosto, no Capítulo III – Direitos e deveres culturais – no artigo 73.º n.º 2 estabelece-se que: “o Estado promove a democratização da educação e as demais condições para que a educação, realizada através da escola e de outros meios formativos, contribua para a igualdade de oportunidades, a superação das desigualdades económicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidade e do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de solidariedade e de responsabilidade, para o progresso social e para participação democrática na vida colectiva” (2007). Os valores democráticos, da tolerância, da compreensão mútua, da solidariedade, da responsabilidade e da participação são, assim, em Portugal, valores constitucionais que a escola deve promover, bem como o desenvolvimento da personalidade e do progresso social. Constitucionalmente falando, em Portugal, a escola deve promover uma educação para a cidadania democrática e participativa.

A 14 de Outubro de 1986 é promulgada a Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE), Lei n.º 46/86, que é ainda hoje a Lei-quadro do Sistema Educativo Português. A LBSE estipula, no artigo 2.º, que o sistema educativo contribui “para o desenvolvimento pleno e harmonioso da personalidade dos indivíduos, incentivando a formação de cidadãos livres, responsáveis, autónomos e solidários e valorizando a dimensão humana do trabalho” (n.º 4) e que a educação “promove o desenvolvimento do espírito democrático e pluralista, respeitador dos outros e das suas ideias, aberto ao diálogo e à livre troca de opiniões, formando cidadãos capazes de julgarem com espírito crítico e criativo o meio social em que se integram e de se empenharem na sua transformação progressiva” (n.º 5). Assim, de acordo com a LBSE emergem como competências essenciais à formação de cidadãos autónomos, responsáveis, participativos e agentes de transformação, o pensamento crítico e criativo.

Nos Princípios organizativos, artigo 3.º da LBSE, afirma-se que

O sistema educativo organiza-se de forma a: a) Contribuir para a defesa da identidade nacional e para o reforço da fidelidade à matriz histórica de Portugal, através da consciencialização relativamente ao património cultural do povo português, no quadro da tradição universalista europeia e da crescente interdependência e necessária solidariedade entre todos os povos do Mundo; b) Contribuir para a realização do educando, através do pleno desenvolvimento da personalidade, da formação do carácter e da cidadania, preparando-o para uma reflexão consciente sobre os valores espirituais, estéticos, morais e cívicos e proporcionando-lhe um equilibrado desenvolvimento físico; c) Assegurar a formação cívica e moral dos jovens; d) Assegurar o direito à diferença, mercê do respeito pelas personalidades e pelos projectos individuais da existência, bem como da consideração e valorização dos diferentes saberes e culturas; e) Desenvolver a capacidade para o trabalho e proporcionar, com base numa sólida formação geral, uma formação específica para a ocupação de um justo lugar na vida activa que permita ao indivíduo prestar o seu contributo ao progresso da sociedade em consonância com os seus interesses, capacidades e vocação; f) Contribuir para a realização pessoal e comunitária dos indivíduos, não só pela formação para o sistema de ocupações socialmente úteis, mas ainda pela prática e aprendizagem da utilização criativa dos tempos livres. Nos Objectivos do ensino básico, a LBSE, estipula no artigo 7.º, os seguintes:

a) Assegurar uma formação geral comum a todos os portugueses que lhes garanta a descoberta e o desenvolvimento dos seus interesses e aptidões, capacidade de raciocínio, memória e espírito crítico, criatividade, sentido moral e sensibilidade estética, promovendo a realização individual em harmonia com os valores da solidariedade social; b) Assegurar que nesta formação sejam equilibradamente inter-relacionados o saber e o saber fazer, a teoria e a prática, a cultura escolar e a cultura do quotidiano; e) Proporcionar a aquisição dos conhecimentos basilares que permitam o prosseguimento de estudos ou a inserção do aluno em esquemas de formação profissional, bem como facilitar a aquisição e o desenvolvimento de métodos e instrumentos de trabalho pessoal e em grupo, valorizando a dimensão humana do trabalho; f) Fomentar a consciência nacional aberta à realidade concreta numa perspectiva de humanismo universalista, de solidariedade e de cooperação internacional; g) desenvolver o conhecimento e o apreço pelos valores característicos da identidade, língua, história e cultura portuguesas; h) Proporcionar aos alunos experiências que favoreçam a sua maturidade cívica e sócio-afectiva, criando neles atitudes e hábitos positivos de relação e cooperação, quer no plano dos seus vínculos de família, quer no da intervenção consciente e responsável na realidade circundante; i) Proporcionar a aquisição de atitudes autónomas, visando a formação de cidadãos civicamente responsáveis e democraticamente intervenientes na vida comunitária; n) Proporcionar, em liberdade de consciência, a aquisição de noções de educação cívica e moral.

No Capítulo VI, Administração do sistema educativo, artigo 43.º da LBSE, no número 1, pode ler-se: “A administração e gestão do sistema educativo devem assegurar o pleno respeito pelas regras de democraticidade e de participação que visem a consecução de objectivos pedagógicos e educativos, nomeadamente no domínio da formação social e cívica”.

No Capítulo VII, Desenvolvimento e avaliação do sistema educativo, o artigo 47.º, da LBSE, consagrado ao desenvolvimento curricular, estipula:

1- A organização curricular da educação escolar terá em conta a promoção de uma equilibrada harmonia, nos planos horizontal e vertical, entre os níveis de desenvolvimento físico e motor, cognitivo, afectivo, estético, social e moral dos alunos; 2- os planos curriculares do ensino básico incluirão em todos os ciclos e de forma adequada uma área de formação pessoal e social, que pode ter como componentes a educação ecológica, a educação do consumidor, a educação familiar, a educação sexual, a prevenção de acidentes, a educação para a saúde, a educação para a participação nas instituições, serviços cívicos e outros do mesmo âmbito.

O artigo 48.º da LBSE Ocupação dos tempos livres e desporto escolar é estipulado que “estas actividades de complemento curricular visam, nomeadamente, o enriquecimento cultural e cívico, a educação física e desportiva, a educação artística e a inserção dos educandos na comunidade” (n.º 2).

Em síntese, de acordo com a LBSE é função da escola formar cidadãos simultaneamente integrados e transformadores na/da sociedade, através: da compreensão das características socioculturais portuguesas (identidade nacional) no plano europeu e mundial; do desenvolvimento da personalidade e da formação do carácter; da reflexão sobre os valores; da formação cívica e moral; da educação multicultural; da educação para o mundo do trabalho.

Na sequência da publicação da LBSE, iniciou-se em Portugal uma reforma do sistema de ensino, com a promulgação de novos programas e de novas áreas que começou

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