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INTRODUÇÃO

De forma geral, os documentos oficiais relativos à educação afirmam que é objetivo do ensino preparar o indivíduo para um exercício consciente da cidadania.

Em uma sociedade democrática, o exercício consciente da cidadania passa, necessariamente, pelo engajamento do indivíduo na busca por soluções de problemas que afligem a toda a comunidade na qual está inserido e na adoção de comportamentos que atendam aos interesses do grupo social do qual faz parte.

Ações dessa natureza, que envolvem a tomada de decisão, exigem muito mais do que dados e informações; requerem, fundamentalmente, conhecimento.

Angeloni (2003), citando Davenport (1998), corrobora essa ideia apresentando distinção entre dados, informações e conhecimento. Para a autora, dados se constituem em matéria-prima da informação, já que não possuem significados em si mesmos. Por serem peças elementares são componentes básicos e descontextualizados, sem relação direta com a realidade. Por outro lado, quando se tem um conjunto de dados a partir dos quais se pode contextualizar a realidade de tal forma a se poder construir, com eles, uma solução para determinada situação, então temos uma informação.

Com relação ao conhecimento, Davenpot (opus cit), o considera extremante valioso, por entender que se constitui no conjunto de informações que é utilizado pelos indivíduos em suas ações.

Portanto, nessa interpretação o conhecimento é

um processo de compreender e internalizar as informações recebidas, possivelmente combinando-as de forma a gerar mais conhecimento (MERTON apud GONÇALVES, 1995, P. 311)

Vale destacar, portanto, que

Desta forma, o conhecimento não pode ser desvinculado do indivíduo; ele está estritamente relacionado com a percepção do mesmo, que codifica, decodifica, distorce e usa a informação de acordo com suas características pessoais, ou seja, de acordo com seus modelos mentais. (ANGELONI, 2003, p. 18).

A esse respeito, Santos & Mortimer (2001), destacam que nas décadas de 60 e 70, devido às preocupações com armas químicas nucleares e com os problemas ambientais, surgiu um movimento denominado CTS (Ciência-Tecnologia-Sociedade) que se contrapôs à visão que deposita na Ciência uma crença cega de que ela pode resolver todos os problemas que afligem nossa sociedade.

Dessa forma, o movimento CTS impôs ao ensino de Ciências o desafio de produzir o letramento científico, ou seja, fazer com que os cidadãos possam utilizar as informações geradas pela Ciência e pela Tecnologia para poderem resolver problemas cotidianos e atuar com responsabilidade social.

Nessa direção, para que os objetivos educacionais possam se estabelecer e a escola atenda, de fato, aos impositivos atuais e urgentes de produzir um cidadão capaz de atuar na sociedade com responsabilidade social é preciso que as informações recebidas se transformem em conhecimento gerando tomadas de decisão efetivas que contribuam para a resolução de muitos problemas que enfrentamos no dia-a-dia.

Um desses problemas, sem dúvida, diz respeito ao uso racional e eficiente da energia elétrica.

Muitas iniciativas tais como apostilas e folders informativos são distribuídos, ações educacionais em estabelecimentos de ensino e campanhas publicitárias são propostas e implementadas no sentido de tornar o cidadão mais consciente com relação à sua responsabilidade social. Entretanto, as pesquisas mostram que todas essas mobilizações não têm sido eficientes para comprometer, por um tempo maior do que sua duração, os cidadãos com uma tomada de decisão capaz

de contribuir com ações que possam ser consideradas racionais e eficientes em relação ao uso da energia elétrica.

A nosso ver, isso, necessariamente, não se deve à falta de informação.

Contudo, entendemos que, além da informação, há necessidade do estabelecimento de contingências sociais que mantenham o comportamento de conservação de energia mesmo após as campanhas.

Atualmente, a cultura de sala de aula, na maioria de nossas escolas, ainda estabelece o limitado processo de transmissão e recepção de dados e de informações, fato que não motiva os alunos a uma mudança de comportamento em função das informações que recebeu.

Portanto, desenvolver um ensino voltado à mudança de comportamento, de forma a comprometer os alunos com a tomadas de decisão socialmente responsáveis envolve uma mudança na cultura escolar e na maneira como agem diretores, coordenadores, professores, funcionários e, enfim, alunos.

Nesse sentido, todos comprometidos com a aplicação de dados, informações e consequencias comportamentais para para o uso racional de energia no contexto da escola poderão gerar um contínuo reforço social, tendo em vista a valoração sociocultural desse tipo de atitude.

A nosso ver é possível implementar uma mudança desse tipo de cultura escolar envolvendo os professores em pesquisas colaborativas no sentido de se investigar como novas práticas na escola podem envolver o desenvolvimento de aspectos axiológicos que comprometam todos com tomadas de decisão socialmente responsáveis, como por exemplo, o uso eficiente de energia elétrica.

Para tanto, é preciso que os professores possam ter à disposição diferentes recursos para a implementação de ações pedagógicas que comprometam os alunos com a responsabilidade de identificar, estudar e encontrar soluções para problemas reais que permeiam suas vidas. Nesse sentido, os diferentes componentes curriculares deverão ser organizados de forma interdisciplinar de modo a não somente possibilitar informações e dados que ajudem os alunos a encontrarem as soluções para os problemas identificados e estudados, mas,

inclusive, comprometer os alunos com tomadas de decisão que envolvem, muitas vezes, mudanças de atitudes em relação ao meio social em que vive.

Como a implementação dessa nova abordagem de ensino envolverá conflitos, pois modifica padrões há muito estabelecidos, os professores deverão investigar processos de adequação dessas novas propostas, levantado aspectos próprios da realidade escolar que precisarão ser adaptados para essa realidade.

Nesse sentido, os docentes precisarão estar munidos de ferramentas e metodologias de pesquisa para implementarem o processo investigativo no contexto escolar, buscando pavimentar trajetórias que facilitem a tarefa na cultura da escola.

Como produto dessas ações teremos um manual de atividades e propostas didáticas que problematizem aspectos discutidos e apresentados no material

“Natureza da Paisagem” e “Energia que transforma”. Esse manual conterá diferentes propostas de atividades que poderão envolver, de maneira interdisciplinar, diferentes componentes curriculares de forma a mobilizar os alunos à tomada de decisão socialmente responsável em relação ao uso consciente e eficiente de energia elétrica.

Além disso, será desenvolvido um livro que ofereça indicações seguras sobre o processo de implementação de mudanças na organização da cultura escolar para que um ensino voltado para incentivar a tomada de decisão socialmente responsável por parte dos alunos.

OBJETIVOS:

 Propor práticas educacionais para melhor utilização dos materiais “natureza da paisagem” e “energia que transforma” por parte de alunos das escolas do ensino fundamental e médio visando o desenvolvimento de um repertório comportamental consistente com o uso parcimonioso, racional e eficiente de energia elétrica.

 Desenvolver uma pesquisa colaborativa com professores do ensino fundamental e médio para que as práticas educacionais possam ser desenvolvidas e avaliadas.

 Envolver professores da educação básica ao ponto de que eles possam incorporar essa prática educativa em seu fazer pedagógico.

 Caracterizar a autonomia docente e avaliar o seu desenvolvimento e a sua evolução ao longo das etapas desenvolvimento e implementação da pesquisa colaborativa;

 Avaliar e propor alterações no material “natureza da paisagem” e “energia que transforma”.

 Avaliar como as ações contribuíram para uma mudança de comportamento de alunos e professores envolvidos.

DESCRIÇÃO DA PROPOSTA

A proposta estabelece ações nos seguintes níveis de atuação:

 Primeiro nível: apresentação dos projetos “Natureza da paisagem” e

“Energia que transforma” aos professores – a intenção é propor aos professores do ensino básico que busquem, juntamente com os professores universitários, desenvolver práticas educacionais, ao longo do ano, que explorem a temática dos projetos.

 Segundo nível: avaliação das práticas desenvolvidas em situação de sala de aula. Os professores da educação básica deverão ser orientados sobre procedimentos metodológicos de pesquisa para coletar e analisar dados relativos ao material e às práticas desenvolvidas. Nesse sentido, desenvolveremos não apenas materiais pedagógicos, mas uma prática pedagógica, colaborativamente com os professores.

 Terceiro nível: caracterização e avaliação da evolução da autonomia docente. Concomitante aos dois níveis anteriores do desenvolvimento da proposta, caracterizaremos e avaliaremos a evolução da autonomia docente dos professores envolvidos. A autonomia dos professores, a nosso ver, pode ser definida como sendo uma competência profissional relativa à capacidade do professor em “ver” e lidar com as interdependências às quais o exercício de sua profissão está submetido. Assim, podemos supor que o professor, dependendo de sua autonomia profissional, vê algumas interdependências, mas não enxerga outras. Ou, mesmo vendo, não sabe lidar com elas. A intenção desse nível é observar como ações da pesquisa colaborativa podem contribuir para o desenvolvimento de uma autonomia, ajudando professores a implementar novas práticas educativas em seu fazer profissional atendendo aos condicionantes aos quais estão submetidos.

Observação: transversalmente aos três níveis de atuação e no transcurso da programação prevista em cronograma para três anos, na medida em que as ações em curso e os dados coligidos sugerirem ou possibilitarem, poderão ser acrescentadas novas estratégias ou tecnologias para a maximização dos objetivos de educação para a eficiência energética.

CRONOGRAMA

PRIMEIRO ANO

Encontro mensal com professores para apresentação dos projetos

“Natureza da paisagem” e “Energia que transforma”, bem como o desenvolvimento de materiais e práticas que contribuam com a aplicação desses projetos no contexto de sala de aula.

Os professores trabalharão em grupos visando o desenvolvimento de determinado material: textos de apoio, experimentos, métricas de avaliação, animação e simulação computacional, jogos educativos, site de apoio na internet, projetos com os alunos (desenvolvimento de pbl). Cada grupo receberá apoio dos professores universitários com diretrizes teóricas de pesquisa que orientem as ações na confecção desses materiais.

SEGUNDO ANO

Encontro mensal com professores para avaliar a aplicação dos materiais desenvolvidos.

Nesse aspecto, os professores serão divididos em grupos para estudar e avaliar diferentes aspectos: motivação dos alunos; aprendizagem de conceitos dos alunos; desenvolvimento de habilidades e competência dos alunos; mudança de comportamento dos alunos em relação ao uso da energia elétrica;

comprometimento dos alunos com sua aprendizagem e outros.

Cada grupo de professores será orientado por um professor universitário que ficará responsável por dar as indicações metodológicas para a coleta e análise de dados.

TERCEIRO ANO

Encontro mensal com os professores para a reformulação dos materiais desenvolvidos em função do resultado das pesquisas realizadas.

Esse material a ser produzido será:

 livro didático contendo diferentes atividades para a exploração interdisciplinar dos conteúdos relativos aos materiais: “Natureza da paisagem” e “Energia que transforma”.

 livro de metodologia didático-pedagógica contendo orientações e reflexões sobre o melhor uso das atividades desenvolvidas.

REFERÊNCIAS:

ANGELONI, M.T. Elementos intervenientes na tomada de decisão. Ciência da informação, v.32, n. 1, 2003.

DAVENPORT, T. H. Ecologia da informação: por que só a tecnologia não basta para o sucesso na era da informação. São Paulo: Futura, 1998.

GONÇALVES, M. A. Os papéis do gerente e a qualidade da informação gerencial. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 19., 1995, João Pessoa.Anais... Rio de Janeiro, 1995. v. 1, p. 309-325.

SANTOS, W.L.P. ; MORTIMER, E.F. Tomada de decisão para ação social responsável no ensino de ciências. Ciência & Educação, v.7, n.1, p.95-111, 2001.

para o desenvolvimento cognitivo decorre dessa fundamentação e foi discutida por Vigotski em vários trabalhos (e.g. VIGOTSKI, 1998, 2001a, b, c).

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