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De âmbito mundial, foi lançado em Jomtien, Tailândia, em 1990, na Conferência Mundial de “Educação para Todos”, patrocinada e acompanhada por quatro agências internacionais: Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO); Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF; Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD); Banco Mundial (BM) e o Fundo de População das Nações Unidas (FNUAP), esta última incorporada oficialmente em 1998. Adotando uma visão ampliada da educação básica – crianças, jovens e adultos, dentro e fora da escola, ao longo de toda a vida, fixou seis metas a serem atingidas até o ano 2000: 1) acesso universal e conclusão da educação primária ou de um nível maior considerado básico; 2) reduzir o analfabetismo à metade da taxa de 1990; 3) expandir os programas de desenvolvimento da criança; 4) melhorar os resultados da aprendizagem, garantindo pelo menos 80% das aprendizagens essenciais; 5) ampliar o atendimento da educação básica e de capacitação de jovens e adultos; 6) divulgar informações relevantes à população no intuito de contribuir com a melhoria da qualidade de vida. O EPT foi avaliado em 2000, no Fórum Mundial de Educação em Dakar, Senegal, e concluiu-se que as metas não tinham sido totalmente atingidas, decidiu-se, então, por ampliar o prazo para o alcance das mesmas até 2015.

Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, das Nações Unidas e da maioria das constituições dos países, a educação é vista como um direito de toda pessoa. Entretanto, mesmo com todos os esforços realizados ao redor do planeta, os indicadores persistem em mostrar-nos que:

x mais de 100 milhões de crianças, das quais pelo menos 60 são meninas, não têm acesso à educação primária;

x mais de 960 milhões de adultos, dois terços deles mulheres, são analfabetos; e, além disso, em todos os países, tanto os desenvolvidos como os que trilham esse processo, o analfabetismo funcional é uma questão preocupante;

x mais de um terço dos adultos do mundo não tem acesso ao conhecimento letrado e às novas habilidades e tecnologias que poderiam melhorar a qualidade de suas vidas;

x mais de 100 milhões de crianças e muitos adultos não conseguem completar a educação, e muitos dos que a completam não adquirem os conhecimentos e habilidades essenciais (DECLARAÇÃO MUNDIAL DE EDUCAÇÃO PARA TODOS, Jomtien, Tailândia, 1990).

Esses e outros problemas têm levado a grandes retrocessos da educação principalmente na década de 1980. Por outro lado, vivemos um momento ímpar na história em que os avanços da ciência e a efetivação dos direitos de alguns setores tornam-se fatos palpáveis, como os direitos da mulher, junto com os avanços propiciados e a experiência acumulada após múltiplas tentativas de reforma, fazem da educação básica um objetivo possível. (Declaração Mundial de Educação para Todos, 1990).

A satisfação das necessidades básicas de aprendizagem, entendidas como a aquisição dos instrumentos essenciais de aprendizagem (leitura, escrita, expressão oral, aritmética, resolução de problemas) e seus conteúdos básicos, necessários para que as pessoas sejam capazes de sobreviver, desenvolvam suas capacidades, vivam e trabalhem com dignidade, participem plenamente do desenvolvimento, melhorem a qualidade de suas vidas, tomem decisões conscientes e continuem aprendendo, é o foco do “Marco de Ação para Satisfazer as necessidades Básicas de Aprendizagem – NEBA”. Entendido como uma referência e um guia para a formulação dos planos de execução da EPT, a qual fixou seis metas a serem atingidas até o ano 2000.

No decorrer da década de 1990, o Foro Consultivo Internacional sobre Educação para Todos, formado para acompanhar o andamento da EPT, realizou três reuniões de acompanhamento da EPT. A primeira foi em Paris, de 4 a 6 de dezembro de 1991; a segunda em Nova Delhi, de 8 a 10 de setembro de 1993, e a terceira em Amman, de 16 a 19 de junho de 1996. Todas elas acompanharam de perto, a partir de dados enviados pela maioria dos países, o andamento das seis metas propostas.

Sem dúvida, na América Latina e no Caribe, um importante precedente à Declaração de Jomtien é o Projeto Principal de Educação (PPE), que orientou as políticas educativas da região entre 1980 e 2000. Os objetivos deste projeto eram muito similares aos que, em 1990, foram definidos para a EPT em Jomtien: universalizar a educação básica de oito anos; acabar com o analfabetismo e melhorar a qualidade e a eficiência dos sistemas educativos.

Um aspecto fundamental de Jomtien foi o fato de ter provocado uma mudança no modo de pensar a educação. Inovou-se na visão e no alcance do conceito de educação básica e consensuaram-se novas estratégias para atingir as metas propostas. Entre estas, a da satisfação das necessidades básicas de aprendizagem, uma maior atenção às aprendizagens mais do que aos aspectos formais da educação, a execução de ações conjuntas e a convocação de novos atores para implementar as políticas educativas (UNESCO. Informe Regional e Sub-regional das Américas e América Latina: avaliação da educação para todos, 2000).

A centralidade das aprendizagens e a importância das estratégias adotadas tiveram um profundo impacto na América Latina. Neste sentido, a reunião do PROMEDLAC-IV, realizada em Quito, Equador em 1991, marcou um ponto de inflexão importante nos acordos sobre políticas educativas entre os países da região, ao reconhecer o esgotamento dos modelos educativos implementados até então e a necessidade de construir estratégias diferentes pelo menos para três linhas de ação, inspiradas na Declaração de Jomtien:

x Do ponto de vista das estratégias políticas, é introduzida a dimensão do longo prazo na formatação das mudanças e reformas educacionais, para o que se coloca a importância dos consensos nacionais, das alianças para

implementar políticas de Estado mais do que de governo, e a convicção de incorporar novos atores no debate e na aceitação de novas responsabilidades na condução da educação.

x Do ponto de vista das estratégias administrativas, reforçou-se a lógica da descentralização e desconcentração do sistema para apoiar um modelo de administração e gestão a que se vinculam os maiores graus de autonomia dos centros educativos com uma maior responsabilidade pelos resultados. x Do ponto de vista das estratégias pedagógicas, foram promovidas as reformas curriculares para modificar os conteúdos do ensino, de modo a torná-los mais adequados às necessidades básicas de aprendizagem da população; passando de uma ênfase na instrução para outra em favor da formação em valores, de aquisição de conhecimentos e construção da habilidade de aprender a aprender (Idem.).

Ainda como conseqüência da Declaração de Jomtien, podem ser acrescentados outros elementos:

x A declaração de Jomtien tornou-se um instrumento de consenso

mundial que reflete as prioridades nacionais e internacionais em educação e que facilitou uma maior destinação de recursos para implementar as mudanças educativas da região.

x Uma maior presença das agências internacionais para apoiar técnica e financeiramente novas políticas educativas.

x Uma maior participação dos diversos setores da sociedade civil na educação: ONGs, parlamentos, empresariado, igrejas.

x A confirmação em todas as Cúpulas Mundiais, Hemisféricas e Ibero- americanas, e nas Conferências Mundiais sobre educação e outras temáticas relevantes para desenvolvimento, referente ao compromisso com a educação para a promoção do desenvolvimento integral das populações (Idem).