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A educação popular e o audacioso plano cultural de Dix-sept Rosado: a

5.1 A COLEÇÃO MOSSOROENSE E A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DE DIX-SEPT

5.1.5 A educação popular e o audacioso plano cultural de Dix-sept Rosado: a

Para a Coleção Mossoroense, Dix-sept Rosado era um homem preocupado com a educação popular. Neste sentido, de acordo com Galvão (1982, p.13), à frente do poder municipal de Mossoró, realizaria a “promoção de um vasto plano de cultura”.

Nascimento (2002b, p.06) também exalta os feitos dele “pela cultura oestana”, ressaltando a construção de 20 (vinte) escolas municipais “de uma só vez”.

Essa dedicação à cultura foi batizada com o título de a “Batalha da Cultura”. “[...] ‘Batalha da Cultura’ foi como o escritor oestaduano Hélio Galvão batizou os esforços mossoroenses, do Governo Municipal e de alguns moços de boa vontade, pelo alevantamento (sic!) cultural da nossa gente; Os soldados que convocamos desde primeiro instante continuam na primeira linha e outros novos já vieram trazer a sua adesão magnífica a campanha que iniciamos apenas cinco dias depois de empossados, para que não vivesse em Mossoró, ‘o cego de espírito quando Santa Luzia, sua padroeira, é a santa das doces claridades visuais’, no conceito feliz de Luiz da Câmara Cascudo [...]” (MAIA, 1991, p.10)

Essa preocupação com a educação popular vai ser uma temática muito explorada em sua época, e Dix-Sept Rosado filia-se ao lado daqueles que buscavam a alfabetização popular. Seu intuito era fornecer acesso à cultura ao homem pobre. Nisto, estaria comprovando, mais uma vez, de acordo com Galvão (1982), sua dedicação às camadas populares.

Nos raros textos escritos por Dix-Sept Rosado Maia (1978), ele realmente refere-se à construção de uma Biblioteca para fornecer ao homem pobre o acesso ao livro. Seu objetivo, escreve, nesta ocasião, era de aprimorar a cultura do homem pobre trabalhador, o despertar para as letras e para as ciências, como também o

aperfeiçoamento do profissional pobre30: “[...] E ficaram na história local, paradoxos como este: um prefeito que não era culto, foi o maior incentivador das atividades culturais e educacionais [...]” (ROSADO, 1978a, p.58)31.

Em outro folheto escrito por Dix-sept Rosado Maia (1991, ele demonstra o sucesso da Biblioteca em promover o acesso e o gosto pela leitura. De primeiro de março de 1949 a 28 de fevereiro de 1950, Dix-sept Rosado afirma que foram lidas 14.721 obras. Com uma média mensal de 1.226 obras, superava a média passada de 990. O folheto referia-se às atividades culturais de seu segundo ano de mandato na prefeitura de Mossoró. O mesmo se passava com o Museu: com uma média de visitação de 71 pessoas, alcançou uma média de 149 pessoas mensais. Nele, Dix- sept Rosado comenta, também, que estudantes, domésticas, auxiliares do comércio, comerciantes e funcionários públicos eram os maiores leitores da Biblioteca.

Sobre a criação da Biblioteca Municipal, Vingt-un Rosado escreve da seguinte forma:

[...] O Decreto Executivo número 4 criou a Biblioteca Pública Municipal de Mossoró. Um Capitão da Indústria e do Comércio, um homem de luta, que não era culto, mas dono de uma bela inteligência e de uma marcante sensibilidade para todos os problemas, iniciava o maior programa cultural de uma administração municipal em Mossoró, em qualquer tempo [...] (ROSADO, 1978b, p.5)

Nota-se aqui, neste trecho de Rosado (1978), o caráter de invariabilidade referida por Hobsbawm e Ranger (1997) sobre as tradições inventadas. O programa cultural da administração municipal de Dix-sept Rosado, em Mossoró, seria o maior em qualquer tempo. Essa é uma visão flagrantemente não-histórica.

É uma constante nas obras da Coleção Mossoroense chamar a atenção para o fato de Dix-sept Rosado não ter formação acadêmica. Porém, não para diminuir sua importância, mas, ao contrário, realçar a sua inteligência, uma vez que, sem formação acadêmica ou literária, percebia os problemas do povo, era sensível às soluções dos problemas mais difíceis, de uma oratória invejável32 a qualquer político e que alcançou, por todos esses qualificativos, a prefeitura de Mossoró e o governo do Estado em tão pouco tempo de carreira política.

30 Neste mesmo artigo, Dix-Sept Rosado refere-se à construção do Museu Municipal com o objetivo,

dentre outros, de cultivar a memória local.

31 Em outra oportunidade Rosado (2001, p.03) escreve: “[...] Não era culto, mas inteligente e sensível

[...]”.

32 “[...] A palavra era-lhe fácil e espontânea e impressionava pela sinceridade [...]” (ROSADO, 1978a,

[...] A sua universidade [de Dix-sept Rosado] foi o trabalho incansável de todas as horas e de todos os momentos [...]. Menino e rapaz dotado de extrema vivacidade, pouco interessado nos estudos, não terão sido raras às vezes em que Jerônimo Rosado recebia denúncia de seu filho [...]. As soluções práticas dos problemas do homem e da terra sempre foram preocupação de Dix- sept, muito mais do que o seu estudo teórico. O seu currículo escolar não foi brilhante. Inteligência penetrante, sabendo ver com rapidez e decisão o âmago das questões nunca foi seu desejo adquirir cultura literária e cientifica. Concluíra o curso ginasial por insistência da família. A natureza de São Sebastião, a poeira e as águas ricas de cálcio, a insolação extraordinária, que ajudam a formar os fortes, o árduo trabalho das minas de gesso, deram a Dix- sept a saúde magnífica que ele possuía. Nessa armadura que parecia de ferro, abrigavam-se o coração generosíssimo e o cérebro invejável. (ROSADO, 1978b, p.59).

Nascimento (2001) também destaca as características físicas de Dix-sept Rosado como a de vivacidade e energia. Algo semelhante encontra-se em Serejo (2001) ao referir-se à fisionomia dele com “os traços da firmeza máscula” (p.06) e Soares (2001, p.03) sobre a sua “figura jovem e esportiva”. Dix-sept Rosado é descrito sempre como uma pessoa de porte físico invejável. Como ele foi esportista e vaqueiro das derrubadas de gado, é provável que tivesse um porte físico forte33.

Dix-sept Rosado seria esse homem, então, sem um diploma universitário, mas que, por isso mesmo, era mais voltado para as pessoas simples, para as atividades práticas, um homem para quem o trabalho duro – mãos calejadas? – não era estranho e, neste sentido, por toda essa situação, seria um homem sensível às soluções práticas dos problemas do povo do seu lugar.

E um desses problemas do povo humilde era o analfabetismo. A Biblioteca Pública Municipal viria para tentar sanar essa lacuna. Poucos anos separam a morte de Dix-sept Rosado das iniciativas mais relevantes de educação popular, como os da década de 60 do século passado, de Djalma Maranhão e Paulo Freire.