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COMPETITIVIDADE DO

BRASIL

RAFAEL LUCCHESI

RESUMO EXECUTIVO

O presente texto trata de uma reflexão sobre as oportunidades de se

construir uma educação aplicada, significativa e que possua uma escola que dialogue com o universo profissional.

O Brasil avançou tardiamente no seu sistema educacional, alcançando a universalização do acesso ao ensino fundamental apenas no início do século XXI. Mesmo com essa conquista, o país tem 6,9 milhões de jovens entre 18 e 24 anos que não trabalham nem estudam. Apenas 11,1% dos alunos do ensino médio estão cursando educação profissional e somente 15% da população entre 25 e 64 anos tem o ensino superior completo. Esses números impactam diretamente na inserção dos brasileiros no mercado de trabalho e nos níveis de produtividade e inovação.

O país possui uma reduzida articulação entre a universalização da educação e os ganhos de produtividade. A baixa qualidade da educação bra- sileira, associada às distorções da matriz educacional, pela reduzida parcela de jovens que trilham a educação profissional, não propiciam os ganhos de produtividade esperados, como os alcançados nas revoluções educacionais ocorridas nos países desenvolvidos e em alguns emergentes. Além disso, limi- tam a empregabilidade de quem não vai para universidade e reduzem a pro- dutividade do trabalho.

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O esforço educacional sem o correspondente ganho de produtividade cria uma armadilha para o país, com o rápido esgotamento da capacidade de financiamento do próprio sistema educacional.

O reduzido diálogo entre educação e os projetos individuais dos jovens limitam a capacidade de uma cunha de inclusão social mais ampla, baseada na identidade social conferida pelo sistema educacional.

O Brasil precisa estabelecer novas políticas públicas educacionais para enfrentar o desafio de preparar jovens e adultos para um mercado de trabalho em profunda mutação tecnológica e organizacional. Para promover a competitividade, a qualificação dos brasileiros deve acompanhar os avanços e a sofisticação dos processos produtivos. A educação precisa ser eleita como agenda estratégica de país.

É preciso que autoridades públicas, educadores, pais e estudantes trabalhem juntos, desde já e nos próximos anos, para valorizar a formação técnica e profissional criando oportunidades de inserção dos nossos jovens e adultos no mercado de trabalho. Esse é o nosso desafio. Ganhará não apenas a geração que vai ingressar na educação profissional nos próximos anos, mas o País, que terá cidadãos e trabalhadores mais qualificados.

INTRODUÇÃO

A educação é o fator mais relevante para o desenvolvimento de um país. Os paí- ses que se desenvolveram rapidamente nas últimas décadas foram exatamente aqueles que mais investiram na educação de qualidade para sua população.

O Brasil, no entanto, avançou tardiamente no seu sistema educacio- nal, alcançando a universalização do acesso ao ensino fundamental apenas no início do século XXI, quando em 2015 atingiu a marca de 97,7% da população de 6 a 14 anos, matriculada nesse nível de escolarização (Gráfico 1).

A melhora nas taxas de matrícula, no desempenho dos alunos e no fluxo esco- lar da etapa fundamental sustentou o aumento da taxa líquida de matrícula do ensino médio, que alcançou 62,7% em 2015. Contudo, aproximadamente 1,5 milhão de jovens de 15 a 17 anos, que deveriam estar cursando essa etapa da formação educacional, encontram-se fora da escola, trazendo ao Brasil o desafio de ampliar o acesso ao ensino médio.

Alguns números refletem o desafio que atinge o ensino médio brasileiro: 12% dos que têm acesso são reprovados e quase 7% abandonam os estudos. Apenas 58,5% dos alunos que iniciam o ensino fundamental concluem o ensino médio. Nesse funil da educação, somente 18% dos nossos jovens vão para a universidade. Somos indiferentes a esse contingente populacional que

não ingressa na universidade, sobretudo àqueles que são economicamente mais frágeis. A eles é negado o direito a uma profissão, a uma identidade social, reservados apenas aos que chegam ao ensino superior. O restante luta para ingressar no mercado de trabalho sem as competências exigidas.

gráFico 1. Percentual de crianças de 06 a 14 anos matriculadas no ensino fundamental – Taxa líquida de matrícula, 2007 – 2015

Fonte: OBSERVATÓRIO DO PNE, 2017b, com base em dados da Pnad/IBGE. nota: Em 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não realizou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), em função da realização do censo demográfico.

Esse cenário propicia ao país uma reduzida articulação entre a uni- versalização e os ganhos de produtividade. A baixa qualidade do sistema edu- cacional, associada à reduzida parcela de jovens que trilham a educação profis- sional, não assegura os ganhos de produtividade esperados, como os alcançados nas revoluções educacionais dos países desenvolvidos e alguns emergentes.

O esforço educacional sem o correspondente ganho de produtivi- dade cria uma armadilha ao país com o rápido esgotamento da capacidade de financiamento do próprio sistema educacional.

As distorções da matriz educacional brasileira, pelo reduzido contin- gente de jovens na educação profissional, limita a empregabilidade de quem não vai para a universidade e reduz a produtividade do trabalho.

A educação brasileira padece de problemas estruturais, com reflexos sociais e efeitos nocivos sobre as condições de funcionamento do sistema produ- tivo. Trabalhadores pouco qualificados, restrições ao desenvolvimento tecnoló- gico e níveis de produtividade reduzidos são algumas das consequências diretas dos problemas educacionais enfrentados pelo país no que tange à competitividade.

A desigualdade de renda associa-se, em grande medida, à falta de oportunidade de acesso à educação, que restringe as possibilidades de obten- ção de empregos de melhor qualidade e maiores níveis de remuneração de parcela da população.

Um dos desafios do Brasil, neste momento, é oferecer a todos os bra- sileiros uma escola que dialogue com o universo profissional.

Com o novo ensino médio, o Brasil iniciou um processo para alinhar o sistema de educação brasileiro às melhores experiências internacionais, ao flexibilizar e diversificar o currículo regular. Outra modernização impor- tante foi a possibilidade de o jovem optar pela formação técnica e profissional. Desde 2008, a maioria dos países desenvolvidos passou a investir em educação profissional como uma das maneiras de responder aos abalos do mercado de trabalho. Em 2005, 30% dos jovens de 15 a 17 anos na Finlândia, por exemplo, faziam educação profissional junto com o ensino médio regular. Após forte investimento governamental, em 2015, eram mais de 70%. Na Alemanha, metade do aprendizado dos jovens é feito em parceria com as empresas e den- tro do ambiente laboral. No Brasil, apenas 11,1% dos alunos do ensino médio estão cursando educação profissional1.

Estamos diante da oportunidade de construir uma educação aplicada, significativa e que coloque o estudante como protagonista do seu futuro, ao per- mitir que ele escolha o itinerário formativo que mais atenda às suas vocações. O que falta ao país é eleger a educação profissional como agenda estratégica de nação. Pesquisas da PUC do Rio demonstram que, entre dois indivíduos com a mesma escolaridade, aquele que tem um ano de educação profissional terá 18% a mais de renda. Além disso, várias carreiras técnicas competem muito bem com formações de nível superior em termos salariais.

A escolha pela educação profissional deve ser vista como uma agenda de sustentação de renda, de geração de oportunidades para a juventude, de competitividade para o ambiente de negócios e um compromisso social, pois pode ajudar o Brasil a ser um país mais equânime.

O jovem estudante necessita de um sistema de aprendizado que articule o ambiente escolar ao empresarial, criando oportunidades de defi- nição de trajetórias de estudo e profissionalização concretas. Programas de aprendizagem profissional constituem-se em importantes ferramentas para a implementação desse tipo de estratégia.

No Brasil, a Lei da Aprendizagem prevê que empresas de médio e grande porte contratem, por até dois anos, jovens com idade entre 14 e 24 anos como aprendizes. No entanto, o crescente caráter assistencialista da política de aprendizagem profissional nem sempre se traduz em uma efetiva estraté- gia de transformação econômica e social.

1 Esse indicador considera apenas as matrículas concomitantes e integradas ao ensino médio no Brasil.

A reestruturação do ensino médio aponta para a oportunidade de reestruturação do marco legal da aprendizagem profissional, que deve avan- çar no sentido de fazer com que os resultados dos programas de contratação de jovens aprendizes conciliem o relevante aspecto social com as demandas do mercado de trabalho.

Outro fator de destaque é a Educação de Jovens e Adultos (EJA), des- tinada a indivíduos que não frequentaram ou que abandonaram a escola, dei- xando de ter acesso ao ensino fundamental ou médio na idade apropriada. Trata-se de uma etapa escolar marcada por diferentes expectativas de apren- dizagem e de desenvolvimento de habilidades, que precisa valorizar saberes e conhecimentos já adquiridos pelo indivíduo.

Além das dificuldades decorrentes da situação socioeconômica dos alunos, a carência de metodologias adequadas ao público adulto, o despreparo dos professores para lidar com esse perfil de aluno e a falta de conexão dos cursos com o mundo do trabalho são fatores que concorrem para explicar os elevados níveis de evasão na EJA e a resistência do público-alvo em aderir a essa oportunidade de formação.

Uma alternativa para aumentar a atratividade dessa modalidade de ensino e assegurar a maior participação de jovens em situação de risco social é sua articulação com a educação profissional e tecnológica, conforme previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).

AÇÕES PARA O BRASIL