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No referido capítulo traremos a atenção para a concepção de educação em saúde e

educação do sujeito em seus aspectos referentes e formação humana e moral. Faremos um percurso e um olhar mais apurado, sobre os grandes educadores desde a Grécia antiga até os dias de hoje, que entendemos são inspiradores mesmo que informalmente do modelo de estudo sistematizado dos Doze Passos nas salas de AA. Traremos a atenção para quatro teóricos que na nossa perspectiva estão mais alinhados com o que se pratica de forma educativa nas salas com o referido programa. Caminharemos então com educação mediada de Feuerstein (1994), a democracia e a liberdade de Dewey (1959), a autonomia e a criticidade de Freire (1987) e a educação coletiva de Makarenko (1975).

2.1- Educação em Saúde

O conceito moderno de promoção da saúde desenvolveu-se nos últimos trinta anos em uma reação ao aumento vertiginoso da cultura da medicalização em massa com ínfimos resultados em detrimento de seu investimento. O primeiro documento oficial a usar o conceito de promoção em saúde, onde a educação faz seu papel, e a colocá-lo como prioridade nas políticas de saúde foi o Relatório Lalonde21 em 1974 no Canadá. Dentro do relatório são descritas quatro determinantes de saúde/doença, 01 - biologia (genes, idade,

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O Relatório Lalonde, foi um relatório produzido em 1974 no Canadá, sob o nome de A new perspective on the health of Canadians (uma nova perspectiva da saúde de canadenses). É considerado o primeiro relatório governamental moderno no mundo acidental a reconhecer que a ênfase em assistência médica sob um ponto de vista biomédico é errada, e que é necessário olhar além do sistema tradicional de saúde.

sexo); 02 - ambiente (físico, ar, água, radiação, agentes infecciosos; social e econômico; pobreza, classe social, educação, emprego, desigualdades); 03 - estilo de vida (álcool, tabaco, drogas, nutrição, exercício, atitudes sexuais) e 04 – serviços de saúde (acesso, equidade, serviços, saúde pública, medicamentos, cuidados primários). Dentro dessas determinantes nos voltaremos para a determinante “ambiente”, onde a educação cumpre seu papel.

A Carta de Ottawa22 define Promoção de Saúde como “o processo que visa aumentar a capacidade dos indivíduos e das comunidades para controlarem a sua saúde, no sentido de a melhorar”. Nesse mister a Carta de Ottawa assume a definição do conceito de saúde declarado pela Organização Mundial da Saúde - OMS em 1968 onde define “Educação para a Saúde” - “uma ação exercida sobre os indivíduos no sentido de modificarem os seus comportamentos, adquirirem e conservarem hábitos saudáveis, aprenderem a usar os serviços de forma criteriosa e estarem capacitados para tomada de decisões que implicam a melhoria do seu estado de saúde”. Buss (1999), traz a atenção para a questão da educação em saúde quando afirma que a mesma, tem sido reconhecida como ferramenta importante para a promoção da saúde de indivíduos e da comunidade. Diante deste quadro, fica patente o valor da educação na promoção da saúde e por isso o referido processo no qual nos debruçamos agora tem como centro de atenção a Educação em Saúde, a educação como um bem semi-público de caráter individual e coletivo. Por sua vez os agentes do processo aqui estudado estão em situação de vulnerabilidade social, ou podemos chamar de pessoas que se encontram em condições sociais desfavoráveis, haja visto serem um grupo de homens e mulheres de diferentes faixas etárias e classe social, adoecidos de forma grave e sem suporte adequado, acessível e eficaz pelo sistema.

Nesse momento a Pedagogia Social faz eco quando procura alcançar aqueles que são esquecidos e objetivam a socialização do sujeito, a educação do homem em uma perspectiva humanística. O grande educador Pestalozzi (1969) por sua vez, reconhece a necessidade de contemplar as questões humanitárias, filosóficas e políticas em sua

22 Carta de Ottawa é um documento apresentado na primeira Conferência Internacional sobre Promoção as Saúde, realizado em Ottawa, Canadá, em novembro de 1986.

pedagogia, em uma clara indicação do quanto a educação tem papel a cumprir no processo de construção humana.

Importante lembrar que a dependência química é uma doença de múltiplas causas e por isso pede também um olhar e um tratamento multidisciplinar e a educação vem a esse socorro.

2.2 - Teóricos Inspiradores a prática educativa nas salas de Alcoólicos Anônimos

Debruçando-me sobre os educadores que fizeram história, da Grécia antiga aos dias de hoje, foi possível identificar particularidades em cada um deles em que o estudo dos Doze Passos se assenta, mesmo que de forma empírica, já que o referido modelo de estudo, dentro desse contexto, é consideravelmente jovem, com cerca de 81 anos. No entanto e possível observar na sua filosofia e práticas pedagógicas, muitos desses grandes educadores, a exemplo:

Sócrates (469-399 a. C), o grande filósofo grego, traz a atenção para o valor da busca da verdade e o ato do homem se voltar para si mesmo, para seu interior a fim de chegar a sabedoria. O aforismo escrito no templo de Delfos “conhece a ti mesmo”, era para ele o ponto mais importante a ser cultivado. Algo tão antigo e ao mesmo tempo tão atual! O programa dos Doze Passo tem como ponto central o olhar honesto para si mesmo a fim de descortinar as demais fragilidades que contribuem para o adoecimento da dependência química, como também o trabalho de mediação feito pelos coordenadores de grupo, tem sua ressonância na maiêutica socrática do parto das ideias, que diz respeito a levar os seus discípulos a reconstrução de conceitos a fim de a frente, poder parir as próprias ideais. Em Aristóteles (384-322 a. C), o defensor da instrução para a virtude, onde a mesma é conquistada através da prática e o exercício diário é visto nos membros do AA, quando estão sempre atentos e trabalhando em prol do dia a dia, do seu cotidiano e isso fica patente quando do uso comumente o termo “só por hoje”, que nos leva ao poema de Horácio (65-8 a.C), que traz a expressão Carpe diem, e o estímulo a vive-lo. A prática sendo estimulada a fim de desenvolver ações virtuosas no dia a dia.

Brachtendorf, J. (2008), traz a atenção a Santo Agostinho (354-430), o idealizador da revelação divina. Ele afirmava que o homem só tem acesso ao conhecimento quando iluminado por Deus. A concepção espiritual do AA é descrita na sua literatura, quando fala sobre o chamam de despertar espiritual 23, descrito no 12º passo. No livro Confissões, Santo Agostinho, narra a própria conversão, trazendo o princípio da confissão, onde encontramos similaridade no trabalhado no 8º, 9º e 10º passo subsequentemente: “Fizemos uma relação de todas as pessoas a quem tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados”; “ Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem”; e “ Continuamos fazendo o inventário pessoal e quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente”.

Em Tomás de Aquino (1225-1274), o pregador da razão e da prudência, podemos identificar no 9º Passo - “Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem”, bem como a ênfase que dava ao mundo real e ao aprendizado pelo raciocínio. Para o filósofo, há dois tipos de conhecimento; a sensível, captado pelos sentidos, e o intelectivo, que se alcança pela razão. Lauand (2013), destaca que Tomás de Aquino, chama de inteligência ativa, em complemento a inteligência passiva, com o qual cada um pode formar seus próprios conceitos. Ele introduz assim um princípio pedagógico moderno e revolucionário para sua época, onde diz que o conhecimento é construído pelo estudante e não somente pelo professor. Todo o programa de Doze Passos foi construído por um grupo de pessoas, os mesmos que se beneficiam deles. Por esse motivo não há nas publicações do AA um autor, uma personalidade e sim um grupo.

Em Lutero (1483-1546), vemos o conceito da utilidade social da educação, intensamente trabalhado nos grupos de AA. Em Montaigne (1533-1592), o estímulo para que o indivíduo viesse a ser investigador de si mesmo, cultivando a interiorização é encontrado nos grupos de estudo de AA. O referido filósofo e jurista, fazia crítica ao trabalho das escolas que era de encher as memórias, deixando o entendimento e as

23 Momento descrito pelos membros de AA, em que o indivíduo entrou em contato consciente com uma

consciências vazias. Dele é a famosa frase “uma cabeça bem-feita vale mais do que uma cabeça cheia”. A referida expressão “cabeça bem-feita”, foi mais tarde escolhida por Morin (2005) para título de um dos seus livros. Aqui vemos a ressonância nos grupos de AA quando todo o trabalho está voltado para a consciência e aprofundamento das coisas a serem trabalhadas dentro das salas.

Lago (2002) destaca a obra de John Locke (1632-1704) o explorador do entendimento humano, quando ele dizia que os homens não são bons ou maus, úteis ou inúteis, tudo diz respeito a educação dos mesmos. Aqui novamente vemos a ressonância valiosa do processo educativo para formação humana. Trabalho exaustivamente realizado nos grupos de AA.

Em Rousseau (1712-1778), a liberdade como valor supremo é a sua máxima. Um dos princípios fundamentais de toda a sua obra diz respeito a afirmar que o homem é bom por natureza, mas está submetido à influência corruptora da sociedade. Com o entendimento de que o alcoolismo é uma doença e não um defeito de caráter e que as dificuldades do alcoólatra estão intimamente relacionadas com sua doença e com a forma como se relaciona com ela e a influência do meio, traz nesse momento a ressonância do filósofo. Pissarra (2006) destaca que o filósofo Rousseau preconizava um mergulho interior por parte dos indivíduos rumo ao autoconhecimento, mas isso não se dá por meio da razão, e sim da emoção, e traduz-se numa entrega sensorial à natureza. Importante notar que no 12º passo é possível observar especificamente essas particularidades da filosofia do referido pensador quando diz: “Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes Passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades”.

O educador suíço Pestalozzi (1746-1827), chega trazendo o afeto na prática pedagógica. Para ele os sentimentos tinham o poder de despertar o processo de aprendizagem autônoma na criança. Incontri (1996), destaca que a escola idealizada por Pestalozzi deveria oferecer uma atmosfera de segurança e afeto. Indiscutivelmente esse é o ambiente nas salas de AA. Um lugar onde cada membro se sente plenamente seguro e receptor de muito afeto, haja vistos àqueles que chegam pela primeira vez no grupo, lhe é dito que ele é naquele dia a pessoa mais importante, mais valiosa. O sentimento de afeto é

relatado por todos os membros como sendo um dos fatores responsáveis pelo retorno e permanência dos mesmos ao grupo.

O surgimento do que veio a ser chamado de sociologia da educação, tem na figura do sociólogo Durkheim (1967) a referida concepção. Para ele o homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela. A influência do meio surge como fator preponderante a ser considerado quando se fala em educação. Todo o trabalho da filosofia dos Doze Passos, está intimamente relacionada com a maneira de viver e agir consigo e com a sociedade. Uma educação social para o meio é o objetivo de todo o trabalho desenvolvido nas salas de AA. Aprender a viver em sociedade e viver bem, sem causar danos a si e aos outros. Encontramos também Dewey (1959), onde a democracia, liberdade e a prática em foco, encontra ressonância nos grupos de estudo dos Doze Passos nas salas de AA, e do qual dedicaremos mais a frente um capitulo detalhado da sua contribuição à dinâmica nas salas.

Na pesquisadora italiana Montessori (1870-1952), encontramos a valorização do aluno e a crença no potencial de aprender de cada um. Para ela objetivo da escola é a formação integral do jovem, uma educação para a vida destaca. Machado (1986) destaca que o principal legado da italiana Montessori foi afirmar que as crianças trazem dentro de si o potencial criador que permite que elas mesmas conduzam o aprendizado e encontrem um lugar no mundo. É o que Montessori chamou de “ajude-me a agir por mim mesmo”. No estudo da filosofia dos Doze Passos é possível observar o trabalho constante para esse fim, pois o estímulo a consciência e a ação comprometida de cada um, bem como o estímulo a autonomia é a tônica dentro das salas de AA.

Encontramos na teoria da emoção e a educação integral de Wallon (1879-1962), contribuições valiosas que se repercute nas salas de AA. Oliveira (1992), traz a atenção para a construção do eu na teoria de Wallon, que depende essencialmente do outro, seja para ser referência, seja para ser negado. Tal relação é observado de forma patente quando no estudo dos seguintes passos: o 5º- “Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas”; o 8º - “Fizemos uma relação de todas as pessoas a quem tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados”; o 9º-“Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre

que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem” ; e o 12º “Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes Passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades”. Em Makarenko (1888-1939), o mestre ucraniano e professor do coletivo, iremos nos debruçar mais detalhadamente em um capítulo mais a frente, visto ter o mesmo, muitas contribuições

valiosas para a prática do estudo dos Doze Passos, nas salas de AA. Em Freinet (1896-1966), encontramos uma pedagogia do bom senso, pela qual a

aprendizagem resulta de uma relação dialética entre ação e pensamento, ou teoria e pratica. Para ele todo conhecimento é fruto do que chamou de tateamento experimental - a atividade de formular hipóteses e testar a sua validade. Nada mais parecido do que acontece nos grupos de AA, quando se formula a hipótese de viver de outra maneira e com essa experimentação se certificar de sua validade. A questão da cooperação e não competição, quando do estímulo ao espirito colaborativo, a afetividade e o valor do eu e a questão do bom senso, tão defendida por ele, é bem claro quando do trabalho com o 9ºpasso: “Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem”.

Elias (2002) descreve quatro eixos no qual se fundamenta a pedagogia de Freinet e do qual podemos observar uma similaridade nas práticas em salas de AA, vejamos: O primeiro eixo - a cooperação - para construir o conhecimento comunitariamente - aspecto permanente nos grupos de AA, onde se propaga a necessidade do outro no processo de conhecimento; o segundo e o terceiro eixo - a comunicação - para formalizá-lo, transmiti- lo e divulga-lo - e a documentação - com o chamado livro da vida , para registro diário dos fatos históricos. Exatamente que acontece nos grupos anônimos que diz respeito a comunicar, criando laços e fortalecendo o entendimento com os depoimentos e narrativas das histórias de vida em grupo, bem como com a publicação de folhetos, revistas e livros; o quarto e último eixo - a afetividade - com vínculo entre pessoas e delas com o conhecimento. O apadrinhamento, prática exercida nos grupos para com os membros que ingressão, a fim de oferecer suporte e orientação, mostra claramente esse eixo sendo aplicado.

Em Vygotsky (1896-1934), o ensino como processo social e com ele as correntes pedagógicas chamadas de socioconstrutivismo ou sociointeracionismo, mostra o papel preponderante das relações sociais e a compreensão de que o aprendizado decorre da compreensão do homem como um ser que se forma em contato com a sociedade. Oliveira (1998) destaca que para Vygotsky, a formulação do conhecimento se dá numa relação dialética entre o sujeito e a sociedade ao seu redor. Para ele o que interessa é a interação que cada pessoa estabelece com determinado ambiente, a chamada experiência pessoalmente significativa. Exatamente o que acontece nos grupos de AA, onde o trabalho vinculado a relação com o meio e a forma de se relacionar com o mesmo, tão bem apresentado no roteiro dos Doze Passos, tem papel preponderante no processo de recuperação de um alcoólatra. A relação com a experiência é patente assim como Dewey a defende, bem como a relação com o significado e o fazer sentido como os membros do AA descrevem, alinham com a referida teoria. Para Vygostky, o saber que não vem da experiência não é realmente saber. Outra contribuição significativa diz respeito ao conceito chave de mediação, onde mais a frente iremos dissertar com a EAM de Feuerstein.

Em Skinner (1904-1990), o cientista do comportamento e da aprendizagem, temos conceitos complexos em virtude da carga de cientificismo ao comportamento, mas é possível identificar sua a ressonância no comportamento em especial do dependente químico em processo de recuperação através da educação em saúde, com o conceito “condicionamento operante”, uma formulação acrescida ao conceito de “reflexo condicionado”, formulado pelo cientista Ivan Pavlov. Skinner (1984) defende que o condicionamento operante é um mecanismo que premia uma determinada resposta de um indivíduo até ele ficar condicionado a associar a necessidade da ação. A diferença entre reflexo condicionado e o condicionamento operante é que o primeiro é uma resposta a um estímulo puramente externo; e o segundo, o hábito gerado por uma ação do indivíduo. A teoria do reflexo condicionado de Pavlov e o condicionamento operante de Skinner consegue responder muitas facetas do adoecimento da dependência química, ela também oferece subsídios para o tratamento quando do exercício visando o condicionamento contrário e isso se dá quando há o que Skinner chama de reforço positivo, onde ao aluno é dado ênfase nos resultados positivos de determinada ação. Fica patente tal condicionamento aplicado nos grupos de AA quando do estudo do 12º passo - “Tendo experimentado um

despertar espiritual, graças a estes Passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades”.

Em Freire (1921-1997), e sua teoria da educação para a consciência, a pedagogia da autonomia e do oprimido, iremos dissertar mais detalhadamente a fim de trazer suas contribuições significativas ao trabalho desenvolvido nos grupos de AA. Em Morin (2013), encontramos o conceito de complexidade e o saber passa a não mais ficar estanque a uma forma. Ele traz o conceito de vários saberes. A compreensão da complexidade humana e do seu saber corrobora com a prática pedagógica que o grupo de AA se debruça, pois, para um adoecimento que tem múltiplos fatores, se faz necessário uma abordagem multidisciplinar - conceito desenvolvido pelo autor e aplicado nas salas de AA pelo modelo Minnesota e na condução do estudo sistematizado dos Doze Passos.

É possível ver que epistemologicamente falando, os trabalhos educativos desenvolvidos nos grupos de AA apresentam em suas práticas elementos e princípios em maior ou menor grau de diversos pensadores da educação, mesmo muito antes e/ou muito depois do modelo de trabalho nas salas com os Doze passos terem sido desenvolvidos, conforme explicitado acima. No entanto é importante notar que aqueles que iniciaram e construíram o que é hoje o programa dos Doze Passos, não registram em nenhuma obra por eles publicadas ou registros de declarações mesmo que informal, a menção sobre qualquer teórico que poderiam dizer tiveram como referência para construção do programa. As declarações acerca do tema estão sempre relacionadas a uma construção coletiva a partir das práticas, do ensaio e erro e do conhecimento tácito.

Não há escola ou teóricos a seguir, no entanto é possível observar que há em muito do seu fio condutor, teóricos e teorias que se desenvolveram depois do programa dos Doze Passos ser criado e desenvolvido, que traz similaridades nas práticas em salas do AA. Fica a pergunta no ar sobre como o referido modelo educativo tomou corpo e se desenvolveu sem apontar para nenhuma referência teórica, embora comporte tantas delas, ainda mais quando é sabido que o referido programa dos Doze Passos não sofreu modificações no que cerne a filosofia, prática e forma de condução.

2.3 - Educação mediada na perspectiva de Reuven Feuerstein

O surgimento da experiência de aprendizagem mediada se deu entre 1950 e 1963, por Reuven Feuerstein, psicólogo israelense que desenvolveu o conceito de Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM). A referida concepção surgiu a partir da experiência de Feuerstein, quando incumbido de ajudar na educação das crianças do pós-guerra que apresentavam desvantagens intelectuais e baixo rendimento escolar.

Feuerstein (1994) afirma que duas são as formas de aprendizagem humana. Uma delas é a experiência direta de aprendizado - que é a interação dos organismos com o meio

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