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Se comparada a outras dimensões da sociedade, a educação tem um lugar de destaque. Seu valor se mantém estável mesmo que a prática esteja conectada com um cenário de grandes transformações em variados setores e instâncias sociais. Todavia continuamente se tem referências a momentos difíceis permeando o alcance de uma educação de qualidade.

Nesse sentido, Gadotti (2006, p.19) afirma: “Tem-se falado sempre que a educação está em crise[...].” Evidenciar o caminho percorrido como forma de compreendê- la, é dar-lhe a necessária interpretação capaz de explicar por queessa crise se faz presente na história da educação brasileira, se, por ela, é entendido possibilidade de superação para os limites socialmente colocados. O que se tem refletido sobre esta realidade? O cerne econômico é indicado como forte contribuinte para o estabelecimento de tal situação.

Com base no princípio econômico, que dita as regras de grande parte das nações, Chaves (2008) nos diz que uma Nova Ordem Econômica Mundial, com origens em meados de 1944, com representantes de 44 países, define e cria duas importantes instituições: o Fundo Monetário Internacional - FMI e o Banco Internacional para a Reconstrução do Desenvolvimento - Bird, hoje Banco Mundial. A nova prática política entra em exercício após o colapso econômico advindo da crise do petróleo em 1973.

Nesse período, as grandes potências têm um quadro de déficits públicos, balanças comerciais negativas e inflação. Segundo Chaves (2004), surge uma nova geopolítica mundial fundamentada no neoliberalismo, como possibilidade de libertar o Estado de suas atribuições como provedor, deixando-o apenas como responsável pela preservação da ordem política e econômica. Assim, o livre comércio permitiu novo crescimento da economia e do desenvolvimento dos países agora, sem o embate entre o capitalismo e o socialismo e seus distintos modos de entender a sociedade e sua pretensa lógica.

Enquanto um reafirmava a necessária intervenção estatal na economia, metas cooperativistas, o outro se dava pela competitividade mercantil, metas individualistas e excludentes. Nesse novo desenho mundial, relacionou-se, por muito tempo, à hegemonia neoliberal sob a liderança do G8, conjunto de países com maior desenvolvimento econômico, ou, dito de outra forma, os mais ricos. Freitas (2004) diz que esse grupo decide

caminhos que o mundo deve seguir. Sua força política exerce grande influência junto às organizações mundiais. Todos se intitulam como nações democráticas. Nossa dúvida: sob qual perspectiva? No ponto de vista registrado na Constituição ou no ideário econômico?

Independente de qual seja a perspectiva, o que se apresenta hoje é que a busca pelo lucro, como fim maior, acarreta problemas de consequências irreversíveis. A hipótese é que os últimos investimentos se deram apenas na parte material esquecendo-se a ética e a valorização humana. Esse convívio diário com uma realidade social, traduzida nos noticiários sob a forma de violência e exclusão, contribuiu para gerar, de forma maciça, na população, o medo e a desconfiança. Daí decorrem modificações no cenário social, constituindo para uns progresso e evolução humana, e para outros, um quadro de desafios à ação educativa quando solicitada a melhorar seus índices de qualidade. Afinal, esta pode ser ingrediente de harmonização entre progresso material e desenvolvimento social.

Entendemos que, mesmo no cenário de metamorfoses sociais, o valor da educação está como os poucos sentidos que não foram alterados. Muitos elementos relacionados à esperança convergem-se para ela, numa proporção inversa, aos limites impostos a realidade social. Talvez por desde cedo, ser comum ouvir a afirmação de sua relevância. É sabido por todos que educação é condição para o desenvolvimento de qualquer nação. Escutamos isso frequentemente. Ninguém se opõe. Esse valor insinua particularidades. Fischiman (2003) faz alusão a um perfil característico da educação quando associa a “noção de crise da profissão docente”, discorrendo sobre o fato de ela também abarcar, em sua estrutura, outras possibilidades. Ceticismo, diferentes ideologias e, principalmente um caráter “redencionista”. No momento de “esquizofrenia”, atual espaço de onde, para Fischiman (2003, p.150), simultaneamente incidem ferozes críticas bem como, esperança de mudanças milagrosas, tem-se que: “a maior parte dos discursos atuais sobre professor@s está organizada seguindo o estilo esquizofrênico de narrativa dos velhos contos redencionistas, começando com pecado-crise-fracasso-trauma e terminando com absolvição-recuperação-sucesso-redenção”.

A não alteração do valor educativo, mesmo ele inserido em espaço ora situado no extremo da crise, ora no extremo da redenção, com fins distintos, nós, profissionais da educação, alicerçados na crença de uma prática educativa libertadora, aproximamo-nos da extremidade cujo discurso se dá pela forma redencionista. Entendemos a educação como possibilidade de acesso às conquistas anunciadas nos documentos legais da sociedade democrática que, estabelece a educação, como primeiro valor social.

Estando a escola inserida na sociedade do tempo presente e, hoje descrita, principalmente, por sua considerável ineficiência qualitativa, aproximamos do que é pensamento de Oliveira (2003). Ela situa a escola como sendo um importante espaço de socialização e, portanto, de regulação social, enquanto agência estatal. Diz a autora:

[...] conceber a educação como política pública no capitalismo, implica necessariamente compreendermos a gestão dessa sociedade por um Estado que possui relativa autonomia, ou, ainda, implica o reconhecimento de que há em tal sociedade espaços hegemônicos do capital e, por sua vez, a possibilidade de contra-hegemonia e, assim a educação seria um espaço em constante disputa. (OLIVEIRA, 2003, p.17).

Entendendo a escola em suas dimensões redencionista e ao mesmo tempo de disputa, reforça nossa confiança de que não é razoável tentarmos estabelecer uma discussão, no referente à qualidade no contexto da educação básica, se não partirmos do contexto real, no qual se estabelecem os fins e as condições concretas da educação nacional, ou seja, as políticas públicas educacionais e seus desdobramentos.

Por esta realidade, esperamos que, pela pesquisa, algo se destaque e sugira explicações para o cenário em que vivemos. Como fruto de todo um processo histórico, ainda temos um cenário submerso em crises, em diferentes instâncias sociais. Isso, apesar de todas as conquistas científicas, tecnológicas e digitais, além, da permanência do valor da educação e o que a ela está subjacente. Apesar da busca do conhecimento não apresentar limites e dada sua importância na evolução social e humana, como o fato de que, ainda hoje, a sociedade mesmo imersa em conhecimentos, não sabe ao certo como traduzi-los em benefícios da totalidade de seus cidadãos, que nela tentam sobreviver?

A análise vem mostrando que o percurso evolutivo se dá por meio de diferentes indagações e suposições. As teorias que explicaram a vida foram importantes marcas gravadas em nosso “dna cultural” muito em virtude do domínio territorial de diferentes espaços. Pelas grandes navegações; o nascimento da industrialização e sua sistemática evolutiva, hoje representada pela era digital e, por fim, o ato de possuir e consumir sistematicamente, interligando-nos, cada vez mais, ao mundo do tempo presente.

Sucessivas etapas que se encerram e, a partir delas próprias, recriam-se novas formas sem, contudo, perder a origem de sua razão de se constituir originou, conforme declarado, muitas consequências. Mas, não só negativas. Lipovestky (2007) analisa a sociedade atual e denomina-a de “civilização do desejo”.

Para ele esse tempo não encerra apenas limitações. Ao contrário, traz “elementos de positividade” à medida que simboliza o desejo humano. E, não sendo possível alcançá-los, pode-se, a cada instante, reiniciar a busca. Diz ele que, hoje, o mais importante é o agora.

Logo, natural se faz o eterno recomeçar. Lipovetsky (2007, p. 20) concorda com esse movimento de eterna busca:

No entanto, cedo ou tarde, chegará o momento de sua superação, que inventará novas maneiras de produzir, de trocar, mas também de avaliar o consumo e de pensar a felicidade. Em um futuro distante, uma nova hierarquia de bens e de valores virá à luz. A sociedade de hiperconsumo terá morrido, cedendo espaço a outras prioridades, a um novo imaginário da vida em sociedade e do bem viver. Para um mundo melhor? Para maior felicidade da humanidade?

Não é possível ou necessário respondermos às indagações do autor. Somente a vivência e as interconexões a serem estabelecidas no tempo presente, as quais fogem ao nosso controle, poderiam a isso responder. Contudo, pela educação, o homem ao dominar diferentes conhecimentos se pauta por eles, para conquistar uma melhor qualidade de vida.

Mesmo que científica e tecnologicamente estejamos cientes dos limites da realidade contemporânea, pelo não acesso a grande maioria dos cidadãos em analogia ao que constantemente é produzido e ofertado, também estamos cientes do valor da educação. Ela, hoje, relativiza-se em função do seu padrão de qualidade, o certo é que educação de qualidade é, pois, atualmente uma prioridade a ser alcançada seja pelos anseios da sociedade, ou ainda, pelo discurso da política.