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Meme 3. Política do Café com Leite

2.3 Facebook: vilão ou herói digital?

2.3.1 Efeito Bolha

Esses círculos digitais de amizade digital e interesse mútuo, que se tornou o mundo da internet, são feitas várias postagens, que podem ser compartilhadas, curtidas e comentadas, propagando opiniões para pessoas com os mesmos interesses, fomentando o conceito de bolha digital.

Ao primeiro olhar, a internet parece um mundo livre, possibilitando informações diversas, sem amarras e burocracias governamentais, aproximando pessoas de várias partes do mundo, mas a partir de uma análise mais fria se perceberá que as coisas não funcionam dessa maneira, as possibilidades engendradas pela rede mundial de computadores e também pelas redes sociais podem na verdade ser induzidas. Eli Pariser (2012), explica que sites como o Facebook, por exemplo, pode deixar os internautas presos em bolhas invisíveis, onde empresas podem mostrar apenas o que elas entendem como aspiração de visualização. Isso acontece por conta do banco de dados que armazena informações do usuário para através da inteligência artificial delinear seus perfis

e selecionar seus possíveis interesses. O algorítimo24 de busca do Facebook é

chamado de EdgeRank, que mede a relevância das publicações pessoais para determinar o que será exibido no feed de notícias.

Essa exibição de informação se dá para os perfis nas mídias sociais digitais, que para pesquisador em Comunicação Social Fábio Malini (2016), um perfil seria uma conta pessoal virtual, uma representação informacional de contas online, cujas publicações são sempre produzidas e programadas por uma ou mais pessoas.

24 Os algoritmos podem ser definidos como “uma sequência finita de passos (instruções) para

resolver um determinado problema” (FERRARI E CHECHINEL, 2018). Eles estabelecem um padrão com o objetivo de alcançar o resultado de um problema.

No livro de Eli Pariser (Ativista político e da internet, além de ser cofundador do site Avaaz.org), O filtro invisível: o que a internet está escondendo

de você (2012), se dá um destaque para a chamada “bolha de filtros”, ou seja,

exatamente a discussão que se deu anteriormente, mas com uma ampliação, já que o autor demonstra existir “filtros invisíveis” para cada usuário, que são as personalizações dos interesses nas mais variadas plataformas. Na palestra que Eli Pariser ministrou na TED (Technology, Entertainment, Design, que é uma organização sem fins lucrativos dedicados à difusão de ideias, promovendo

diversos tipos de palestras curtas),25 demonstrou ideias do livro que iria ser

lançado no outro ano. O autor discute que ao usar plataformas como o Google, Netflix, Facebook, dentre outras, há uma formação de um filtro invisível, personalizando o que chega de informação para o usuário. Portanto, uma simples pesquisa no Google sobre o Egito, por exemplo, pode gerar um alcance de informação diferente, por conta da distinção de interesses dos usuários.

No caso do Facebook, Pariser (2012) diz que existem três itens mais relevantes que determinam o que será mostrado para o usuário dentro da plataforma digital. Primeiramente seria a questão de afinidade, ou seja, conforme a interação e proximidade com certas pessoas, suas atualizações podem aparecer mais, no segundo item está o peso dos conteúdos, que são aqueles que chamam mais atenção e geram mais interesse, dependendo do conteúdo que se dá mais importância dentro da rede social, e por último estão as postagens mais recentes, que geralmente são priorizadas em detrimento das mais antigas.

Abaixo podemos ver o filtro invisível, formado pela personalização de conteúdo dos usuários:

25 PARISER, Eli. The Filther Bubble. TED11. 2011.

https://www.ted.com/talks/eli_pariser_beware_online_filter_bubbles?language=pt-br. Acesso em: 15/10/2018.

Figura 4. Filtro invisível de Eli Pariser26

Segundo o autor, “por não escolhermos os critérios que os sites usarão para filtrar os diversos assuntos, é fácil intuirmos que as informações que nos chegam através de uma bolha de filtros sejam imparciais, objetivas, verdadeiras” (Pariser, 2012, p. 15), com isso se demonstra que as informações ao chegar até nós não são neutras, já que podem estar atrelados a interesses comerciais, políticos ou de corporações.

No entanto, Pariser diz que existe uma boa razão para que filtros personalizados sejam tão fascinantes e, inicialmente importantes, já que nos tempos atuais há uma sobrecarga de informações, ou seja, os filtros podem nos ajudar a encontrar informações que queremos conhecer ou que estejam próximas ao nosso desejo. Outra questão que acaba por incidir nesse filtro são exatamente os grupos de informações formados pelas bolhas digitais, haja vista

que interesses iguais fazem com que “a informação compartilhada pelo grupo

tenda a ser homogênea e, frequentemente, redundante, pois os nós dentro do grupo têm acesso às mesmas fontes que trocam e reforçam o mesmo conjunto de informação” (RECUERO, BASTOS & ZAGO, 2015, p.81).

Kristina Lerman (2007) comenta que esses filtros se baseiam em processos de filtragem social, onde as redes costumam realizar uma espécie de banco de dados com o que elas consideram como importante, desprezando o

26 Disponível em: https://faesadigital.com/2018/05/25/filtro-bolha-entenda-o-que-ha-por-tras-do-

restante. Além do que foi dito, existe outro conceito para esses tipos de relações e proposições, que é o de “câmaras de eco” do autor Cass Sunstein (2011), referente a grupos fechados ao redor de determinadas ideias, impedindo que opiniões antagônicas sejam recebidas, reforçando pensamentos e crenças preexistentes dentro da câmara, ou seja, ficam circulando ideias semelhantes em grupos, propiciando o fenômeno de polarização, que se destaca nas discussões políticas.

Essas questões são importantes de se destacar e muitas pessoas estão inseridas, mesmo que sem saber. Em sala de aula, por exemplo, é comum ouvir relatos de alunos comentando sobre os filmes que costumam ver no Netflix, que é uma plataforma digital que disponibiliza filmes ou mesmo no Youtube, e nesses relatos percebe-se que o que se mostra para eles está relacionado aos filtros invisíveis, fechando o conteúdo numa bolha. Outro fato que se pode observar é que o próprio discurso de alguns alunos se relaciona a esse conteúdo visto na

rede mundial de computadores, como conceitos deturpados sobre o Nazismo27,

que se propagam dentro dessas bolhas digitais.