• Nenhum resultado encontrado

Efeito da Orientação do Corte Sobre a Qualidade da Madeira Serrada 30

3.   REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 12

3.4   SISTEMAS DE DESDOBRO 24

3.4.3   Efeito da Orientação do Corte Sobre a Qualidade da Madeira Serrada 30

Segundo Acosta (1995), toras de E. grandis, com diâmetro médio entre 25 e 30 cm e comprimento máximo de 3,5 a 4,5 m, devem receber o primeiro corte em uma serra de fita dupla para a retirada de duas costaneiras simultaneamente. Tal sistema de corte promove a liberação por igual das tensões de crescimento. Após, então, o bloco central, com no mínimo 67% do diâmetro da tora, passa por serras de fita ou circulares múltiplas.

Garcia (1995) salienta que, no caso da peça que pode ser obtida por um corte duplo seguido de um corte múltiplo, se observa que o encanoamento diminui e a flecha do encurvamento tende a aumentar com o aumento da distância da peça em relação à medula. O autor afirma que tal peça, em razão da sua menor inércia, pode ser retificada na secagem mediante a aplicação de cargas transversais, mas, nesse caso, guardará tensões residuais que poderão manifestar-se por ocasião de cortes longitudinais posteriores. Recomenda, então, que suas dimensões sejam as mais próximas possíveis daquelas necessárias ao seu uso final.

Pandey et al. (1984) realizaram um estudo comparando o rendimento utilizando um sistema de corte que favoreceu a retirada de peças cortadas tangencialmente (figura 23) e outro radialmente. Os autores relataram de encurvamento das peças tangenciais durante a operação de desdobro. Explicaram o encurvamento devido a tendência do centro da tora estar sujeito a compressão em alongar-se e as partes periféricas submetidas a tração em encurtar-se. Como resultado perceberam também rachaduras acentuadas, atribuídas ao desequilíbrio de forças atuantes sobre a madeira. Apesar disso os autores concluíram que esse tipo de corte privilegia as larguras das peças serradas, dando maior versatilidade ao material.

Já o corte radial apresentou peças serradas com rachaduras. Porém os autores ressaltaram que a técnica é inviável em toras inferiores a um metro de diâmetro, pois envolve quartear da tora, o que resultaria em peças de larguras menores (Figura 14). Esta técnica resultou peças com forte tendência ao arqueamento. Finalizam dizendo que o desdobro radial resulta em uma onerosa movimentação da tora o que reduziu a produtividade.

(A) (B)

FIGURA 14 – SISTEMA DE DESDOBRO USADO POR PANDEY ET AL. (1984) (A) OBTEÇÃO DE PEÇAS TANGENCIAIS, (B) OBTEÇÃO DE PEÇAS RADIAIS MODELO QUARER SAW OU MODELO DE DESDOBRO QUARTEJADO

FONTE: Pandey et al. (1984)

Sharma et al. (1988) comparando um desdobro de peças tangenciais, (Figura 15) com o sistema radial de Pandey et al. (1983). Encontrou rendimento médio de 70,4% para o sistema tangencial contra 55,3% do desdobro em peças radiais.

Sharma et al. (1988) informam que ao serrar as peças tangencialmente as tensões presentes nas toras provocaram o empenamento da tábua durante o

desdobro (gerando encurvamento e arqueamento). Consequentemente, a porção de madeira fixada ao carro porta toras, tende a encurvar-se no sentido oposto. Segundo Sharma et al. (1988) o uso dos cortes balanceados reduziu essa tendência a empenamentos. Apoiam essa afirmação na menor variação de espessura das tábuas quando comparadas com as constatadas por Pandey et al. (1983). Sharma et al. (1989) também informam que usando o desdobro tangencial balanceado, a porção central da tora torna-se crítica e tende a apresentar rachaduras.

FIGURA 15 - MODELO DE CORTE UTILIADO POR SHARMA ET AL. (1983) FONTE: Sharma et al. (1988)

Del Menezzi e Nahuz (1998) citam o desdobro tangencial realizado por Ferrand (1983)1 (Figura 16). Os autores afirmam que as peças obtidas dessa forma apresentam tendência ao encurvamento, contudo esse pode ser mitigado através do correto empilhamento da madeira. Todavia esse sistema de desdobro foi tido como oneroso do ponto de vista da execução, pois a cada novo corte era necessário girar a tora em 90o para obtenção do bloco.

FIGURA 16 - DESDOBRO UTILIZADO POR FERRAND (1983) FONTE: Ferrand et al (1983)

1 Ferrand, J. Ch. Les contraintes de croissance El leurs consequences em matière de sylviculture et de sciage. Revue Forestier e Française, Nancy. V. 35, n. 5, 1983 p327-346.

No estudo realizado por McKimm et al. (1988) na Austrália, os autores utilizaram um sistema de desdobro que procurou retirar o mesmo numero de peças orientadas tangencialmente quanto radialmente, (Figura 17). Os autores desdobraram toras de E. nitrens de 42 cm de diâmetro, não foram capazes de diferenciar estatisticamente o efeito da orientação da madeira.

FIGURA 17 - MODELO DE CORTE UTILIZADO POR MCKIMM ET AL. (1988) FONTE: McKimm et al. (1988)

No Brasil um dos importantes trabalhos na comparação dos sistemas de desdobro para Eucalyptus foi realizado por Rocha (2000). O autor comparou dois sistemas, um que obtinha peças serradas orientadas radialmente e outro que confeccionava peças serradas orientadas tangencialmente aos anéis de crescimento. (Figura 18 e Figura 19).

FIGURA 18 - SISTEMA DE DESDOBRO UTILIZADO POR ROCHA (2000) PARA OBTENÇÃO DE PEÇAS SERRADAS DE ORIENTAÇÃO TENGENCIAL. UTILIZANDO PERFILADORES PICADORES (A E B) E SERRA CIRCULAR DE DOIS EIXOS (C)

FIGURA 19 - SISTEMA DE DESDOBRO UTILIZADO POR ROCHA (2000) PARA OBTENÇÃO DE PEÇAS SERRADAS ORIENTADAS RADIAMENTE, USANDO SERRA FITA TANDEM (A), SERRA CIRCULAR DE UM EIXO (B) E REFILADEIRA SIMPLES (C).

FONTE: Rocha (2000)

Posteriormente, Rocha e Tomaselli (2001) estudaram o efeito do modelo de desdobro sobre a qualidade da madeira serrada de E. dunnii e E. grandis. As conclusões dos autores indicam que as tábuas de orientação das peças serradas influencia diretamente a qualidade do material serrado. Os autores notaram que no desdobro tangencial as peças serradas tinham maior tendência a rachaduras. Mais de 93% das tábuas nesta orientação apresentaram o defeito, contra apenas 40,44% das peças orientadas radialmente. O encanoamento só apareceu nas peças cortadas tangencialmente. Já a orientação radial das peças favoreceu o encurvamento. O índice de encurvamento foi de 2,26 mm/m para o desdobro tangencial e de 3,79 mm/m para o radial. O desdobro radial apresentou índice de arqueamento de 4,8 mm/m e apenas 0,23 mm/m no desdobro tangencial.

Rocha e Tomaselli (2002) investigaram as dimensões das peças serradas resultantes de modelos de desdobro radial e tangencial em E. dunnii e E. grandis. Os autores obtiveram como resultados tábuas de maiores dimensões quando desdobraram as toras em cortes tangenciais, e a espessura foi em média 1 mm maior no desdobro radial. Os autores ainda comentam, na discussão dos seus resultados, que os modelos de corte foram influenciados pelos tipos de equipamentos e pelos ajustes realizados durante as operações de desdobro. Como conclusão apontaram o modelo de obtenção de peças serradas tangenciais como mais vantajoso, pois as peças serradas apresentaram maiores dimensões finais.

Rocha e Trugilho (2006) examinaram a qualidade da madeira serrada de E. dunnii em dois métodos de desdobro. Os autores verificaram que as peças tangenciais apresentaram maiores larguras quando comparados as peças serradas radialmente. Os resultados dos defeitos indicaram menores arqueamentos nas tábuas tangenciais (0,04 mm/m) e se compara com as radiais (8,50 mm/m). Os autores constataram comportamento oposto para o encurvamento, 6,68 mm/m para peças tangenciais e 4,90 mm/m para tábuas radiais. Rocha e Trugilho (2006) argumentam que durante a execução do modelo tangencial, a retirada simultânea de duas costaneiras provocou um forte encurvamento nas peças. Já o semi-bloco resultante quando processado em serra circular originou peças praticamente sem arqueamentos. No modelo de corte radial o semi-bloco resultante da retirada das costaneiras foi serrado na região da medula resultando em pranchões altamente encurvados, que posteriormente foram processados em serra circular múltipla originando peças arqueadas.

Rocha & Trugilio (2006) indicam que no sistema de corte tangencial, usando E. dunnii as rachaduras foram maiores bem como o encanoamento que teve seus efeitos potencializados por ocasião da secagem.

A técnica de cortes radiais proporcionou menor contração, menor encanoamento e fendilhamento, (Rocha e Trugilio, 2006). O mesmo pode ser encontrado no trabalho de Rocha e Tomaselli (2002) que trabalharam com E. grandis e E. dunnii encontrando rachaduras acentuadas no desdobro tangencial e valores de empenamento superiores nesse sistema.

Nos cortes tangenciais, sequenciados ou alternados (CTB), foi desenvolvida uma técnica para reduzir as distorções quanto ao desbitolamento em função dos empenamentos que ocorrem nas tábuas obtidas e no bloco remanescente. Tal técnica consiste na utilização de uma régua guia (fine bar).

Waugh (1998) comenta um sistema que utiliza uma a régua guia com 6 m de comprimento colocada à frente do carro porta toras, em paralelo com a serra. Desta forma o operador pode controlar de forma mais precisa a bitola. O uso da régua permite um controle apurado das dimensões reduzindo o problema do desbitolamento.

Outra forma de se reduzir os defeitos na madeira serrada de Eucalyptus é o desdobro do tipo SSR - serra, seca, resserra, o qual foi desenvolvido pelo Forest Products Laboratory com o intuito de se reduzir os empenamentos. Este método

consiste em processar as toras em cortes paralelos e simultâneos, onde são obtidas pranchas de espessuras maiores, que serão secas e posteriormente resserradas nas dimensões finais desejadas.

Del Menezzi (1999) testando o método SSR em toras de E. grandis e E. cloeziana, concluiu que tal método promoveu uma redução pronunciada para as duas espécies na frequência do arqueamento e do encurvamento e do empenamento duplo (arqueamento + encurvamento), sendo de maneira mais pronunciada a redução no arqueamento. Desta forma, o autor recomenda a utilização deste método de desdobro para ambas as espécies. Como vantagens desse método, o autor indica que o empenamento pode ser reduzido pelo correto empilhamento das pranchas e o arqueamento é drasticamente reduzido pela sobremedida das peças.