• Nenhum resultado encontrado

Efeito de privação hídrica de 24 horas na ingestão de sacarose 2%

4.4.1 Ingestão de água e sacarose pelo grupo AS (água/sacarose) após o protocolo de privação hídrica/reidratação

Como esperado, os ratos que passaram pela privação hídrica de 24 horas, ingeriram quantidade de água maior durante as duas horas de oferta (período de reidratação) que os mesmos animais que não haviam sido privados de água (Controle privação) [p<0,05], o que pode ser observado pela ingestão cumulativa de água durante os primeiros 120 minutos (Figura 25 A). Após o período de reidratação, quando os bebedouros de sacarose 2% foram colocados, os animais privados/reidratados consumiram mais água [p<0,05] (Figura 25 B) e sacarose [p<0,05] (Figura 25 C) que o grupo controle. O volume total (água + sacarose) cumulativo ingerido também foi maior para o grupo que passou pela privação em relação à quantidade ingerida pelo controle [p<0,05] (Figura 26).

32 T e m p o (m in ) V o lu m e ( m L ) 0 1 5 3 0 6 0 9 0 1 20 0 5 1 0 1 5 2 0 2 5 * * * * * A : Á g u a 0 -1 2 0 m in T e m p o (m in ) V o lu m e ( m L ) 1 20 1 3 5 1 50 1 80 2 10 2 40 0 .0 0 .2 0 .4 0 .6 0 .8 1 .0 * * * * B : Á g u a 1 2 0 -2 4 0 m in T e m p o (m in ) V o lu m e ( m L ) 1 20 1 35 1 50 1 80 2 10 2 40 0 5 1 0 1 5 2 0 2 5 P riv a d o s C o n tro le * * * * * C : S a c a r o s e 2 % 1 2 0 -2 4 0 m in

Figura 25: Ingestão cumulativa de A: água na fase de reidratação (0 a 120 minutos de experimento); e de água (B) e sacarose (C) após o oferecimento concomitante de água e sacarose 2% (120 a 240 minutos), em ratos privados ou não (controle) de água e sacarose 2% por 24 h. N=20. *Diferente do controle. T e m p o (m in ) V o lu m e ( m L ) 1 20 1 35 1 50 1 80 2 10 2 40 0 5 1 0 1 5 2 0 2 5 P riv a ç ã o C o n tro le * * * * * V o lu m e to ta l

Figura 26: Volume total (água + sacarose 2%) cumulativo ingerido após a colocação dos bebedouros água e de sacarose 2% (120 a 240 minutos) em ratos previamente privados ou não (controle) de água e sacarose 2% (24 h). N=20. *Diferente do controle.

33

A análise da ingestão por períodos demonstra que a ingestão de água durante a fase de reidratação se concentrou nos primeiros 60 minutos [p< 0,05], não sendo diferente da ingestão de água dos animais que não passaram por privação (controle) nos demais tempos (Tabela 5). Após a fase de reidratação, quando sacarose também foi oferecida aos animais, não houve diferenças para a ingestão de água (Tabela 5) em nenhum dos períodos analisados, porém a ingestão de sacarose foi maior que a do controle nos tempos 135 e 240, ou seja, nos primeiros 15 min e nos últimos 30 min de experimento [p<0,05] (Tabela 5).

Tabela 5: Ingestão de água (mL) e sacarose 2% (mL) em intervalos de 15 ou 30 min (períodos/intervalos: 120 a 135; 135 a 150; 150 a 180; 180 a 210; 210 a 240 min) ao longo dos últimos 120 minutos de medida de ingestão em ratos previamente submetidos à privação hídrica (24 h) ou não (controle). Tratamento Fase de reidratação Tempo (minutos) 0-15 15-30 30-60 60-90 90-120 Á gu a Privação hídrica 9,8 ± 0,6* 2,5 ± 0,4* 0,9 ± 0,2* 0,3 ± 0,1 0,2 ± 0,1 Controle 0,6 ± 0,2 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 Fase de teste da ingestão

de sacarose 2% Tempo (minutos) 120-135 135-150 150-180 180-210 210-240 Á gu a Privação hídrica 0,1 ± 0,0 0,1 ± 0,1 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,1 ± 0,1 Controle 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 S aca rose Privação hídrica 3,2 ± 0,5* 0,9 ± 0,3 0,3 ± 0,1 0,5 ± 0,3 1,1 ± 0,4* Controle 1,3 ± 0,3 0,5 ± 0,2 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 N=20. *Diferente do controle.

4.4.2 Ingestão de água, sacarose 2% e salina (NaCl 1,8%) pelo grupo ASS (água/sacarose/salina) após a privação hídrica

Assim como os animais do grupo AS, a privação hídrica de 24 horas induziu aumento na ingestão de água do grupo ASS durante o período de reidratação em relação ao controle [P< 0,05], o que é demonstrado por meio da ingestão cumulativa de água durante os primeiros 120 minutos (Figura 27 A).

34

Após o período de reidratação, quando os bebedouros de sacarose e NaCl 1,8% foram também oferecidos, o consumo de água foi similar ao do grupo controle [p>0,05] (Figura 27 B). Em relação às soluções oferecidas, a ingestão cumulativa de sacarose 2% e a ingestão cumulativa de NaCl 1,8% foram maior no grupo ASS após a privação e reidratação [p<0,05] (Figura 27 C e D). O volume total cumulativo ingerido entre os tempos de 120 e 240 minutos foi maior no grupo previamente privado em relação ao controle [p<0,05] (Figura 28). Quando comparadas entre si, a ingestão de sacarose foi maior que a ingestão de salina [p<0,05] (Figura 29) no grupo privado/reidratado.

T e m p o (m in ) V o lu m e ( m L ) 0 1 5 3 0 6 0 9 0 1 20 0 5 1 0 1 5 2 0 2 5 * * * * * A : Á g u a 0 -1 2 0 m im T e m p o (m in ) V o lu m e ( m L ) 1 20 1 35 1 50 1 80 2 10 2 40 0 .0 0 .2 0 .4 0 .6 0 .8 1 .0 P riv a ç ã o C o n tro le B : Á g u a 1 2 0 -2 4 0 m in T e m p o (m in ) V o lu m e ( m L ) 1 20 1 35 1 50 2 10 2 40 1 20 0 5 1 0 1 5 2 0 2 5 * * * * * C : S a c a r o s e 2 % 1 2 0 - 2 4 0 m in T e m p o (m in ) V o lu m e ( m L ) 1 20 1 35 1 50 1 80 2 10 2 40 0 5 1 0 1 5 2 0 2 5 * * * * * D : S a lin a 1 ,8 % 1 2 0 -2 4 0 m in

Figura 27: Ingestão cumulativa de A: água na fase de reidratação (0 a 120 minutos do experimento); e de água (B), sacarose 2% (C) e salina 1,8% (D) após o oferecimento concomitante de água, sacarose 2% e salina 1,8% (120 a 240 minutos) em ratos privados ou não (controle) de água, sacarose 2% e salina 1,8% por 24 h. N=12. *Diferente do controle.

35 T e m p o (m in ) V o lu m e ( m L ) 1 20 1 3 5 1 50 1 80 2 10 2 40 0 5 1 0 1 5 2 0 2 5 P riv a ç ã o C o n tro le * * * * * V o lu m e to ta l

Figura 28: Volume total (água + sacarose 2% + NaCl 1,8%) cumulativo ingerido após a colocação do bebedouro de sacarose e NaCl 1,8% (120 a 240 minutos) em ratos previamente privados de água/sacarose/salina 1,8% (24 h) ou não (controle). N=12. *Diferente do controle.

T e m p o (m in ) V o lu m e ( m L ) 1 20 1 3 5 1 50 1 80 2 10 2 40 0 5 1 0 1 5 2 0 2 5 S a c a r o s e S a lin a * * * * *

Figura 29: Comparação entre o volume (mL) ingerido de salina (NaCl 1,8%) e sacarose (2%) após a privação hídrica de 24h e a fase de reidratação. N=12. *Diferente de salina (NaCl 1,8%).

A análise da ingestão por períodos demonstra que a ingestão de água se concentrou na primeira hora de reidratação [p< 0,05], não sendo diferente da ingestão de água do controle nos demais tempos analisados (Tabela 6). Após a fase de reidratação, quando sacarose e salina também foram oferecidas aos animais, não houve diferenças para a ingestão de água (Tabela 6) em nenhum dos períodos analisados, porém tanto a ingestão de sacarose, quanto a ingestão de salina, após a privação e

36

reidratação foram maior que a ingestão do controle no tempo 135 (15 minutos após a oferta das soluções de sacarose e salina) [p<0,05] (Tabela 6).

Tabela 6: Ingestão de água (mL), sacarose 2% (mL) e salina 1,8%(mL) em intervalos de 15 ou 30 min (períodos/intervalos: 120 a 135; 135 a 150; 150 a 180; 180 a 210; 210 a 240 min) ao longo dos últimos 120 minutos de medida de ingestão em ratos previamente submetidos à privação hídrica (24 h) ou não (controle). Tratamento Fase de reidratação Tempo (minutos) 0-15 15-30 30-60 60-90 90-120 Á gu a Privação hídrica 11,6 ± 0,7* 1,8 ± 0,4* 0,9 ± 0,2* 0,3 ± 0,1 0,2 ± 0,1 Controle 0,2 ± 0,1 0,1 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 Fase de teste da ingestão de sacarose Tempo (minutos) 120-135 135-150 150-180 180-210 210-240 Á gu a Privação hídrica 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 Controle 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 S aca rose Privação hídrica 4,1 ± 0,7* 0,9 ± 0,5 0,4 ± 0,2 2,4 ± 1,1 0,9 ± 0,4 Controle 0,7 ± 0,4 0,1 ± 0,0 0,1 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 S al ina Privação hídrica 1,5 ± 0,5* 0,1 ± 0,1 0,2 ± 0,1 0,0 ± 0,0 0,2 ± 0,1 Controle 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,0 ± 0,0 N=12. *Diferente do controle.

4.4.3 Comparação entre os grupos AS e ASS

A ingestão cumulativa de água durante o período de reidratação foi similar entre os grupos AS e ASS [p>0,05] (Figura 30 A). Porém, após a reidratação o grupo AS apresentou ingestão de água cumulativa superior à ingestão do grupo ASS [p<0,05] (Figura 30 B) com similar ingestão de sacarose entre eles [p>0,05] (Figura 30 C). Em relação ao volume total cumulativo ingerido entre 120 e 240 minutos de experimento, o grupo ASS ingeriu quantidade maior que a quantidade ingerida pelo grupo AS [p<0,05] (Figura 30 D).

37 V o lu m e ( m L ) 0 5 1 0 1 5 2 0 2 5 A : A g u a (0 -1 2 0 m in ) V o lu m e ( m L ) 0 .0 0 .2 0 .4 0 .6 0 .8 1 .0 A S A S S B : Á g u a (1 2 0 - 2 4 0 m in ) * V o lu m e ( m L ) 0 5 1 0 1 5 2 0 2 5 C : S a c a r o s e 2 % (1 2 0 - 2 4 0 m in ) V o lu m e ( m L ) 0 5 1 0 1 5 2 0 2 5 * D : V o lu m e to ta l (1 2 0 -2 4 0 m in )

Figura 30: Comparação do comportamento ingestivo entre os grupos AS e ASS para a ingestão cumulativa de A: água na fase de reidratação (primeiros 120 minutos do experimento); B: água após o oferecimento concomitante de água e sacarose 2% ou água, sacarose 2% e salina 1,8% (120 a 240 minutos); C: sacarose 2% após o oferecimento concomitante de água e sacarose 2% ou água, sacarose 2% e salina 1,8% (120 a 240 minutos) D: volume total ingerido (mL) (120 a 240 minutos) em ratos privados ou não (controle) de água e sacarose 2% ou água, sacarose 2% e salina 1,8% por 24 h. AS (N=20) e ASS (N=12).*p<0,05.

38 5 Discussão

Os resultados mostraram um envolvimento da angiotensina II na regulação da ingestão de sacarose. As três doses de angiotensina II centralmente injetadas estimularam a ingestão de sacarose tanto em animais habituados quanto em animais não habituados a ingerirem sacarose, fato que demonstra uma provável participação de angiotensina II central na ingestão de sacarose. Dados da literatura já demonstraram que angiotensina II atua no sistema nervoso central modulando outros comportamentos ingestivos, como aumento da ingestão de água e de sódio e a redução da ingestão de alimentos (Lind et al., 1982; Fitzsimons, 1998; Porter et al., 2003; Porter et al., 2004). Um efeito clássico da ação da Ang II central é induzir ingestão de água (Fitzsimons, 1998), entretanto após a injeção de angiotensina II em ambos os grupos, não foi observado uma indução da ingestão de água, mas sim uma ingestão aumentada de sacarose, sugerindo uma possível preferência pela ingestão da solução de sacarose frente à de água, induzida pela angiotensina II. O efeito da angiotensina II sobre a modulação periférica da palatabilidade à sacarose já havia sido demonstrado por Shigemura et al. (2013), quando verificaram que a administração periférica de Ang II gerou aumento da resposta do nervo corda do tímpano quando sacarose foi oferecida. É provável que o mesmo comportamento seja observado frente a outras substâncias com sabor doce, pois perifericamente, Ang II também aumenta a resposta do nervo corda do tímpano à glicose e a dois diferentes tipos de adoçantes, sacarina e SC45647, porém em menor proporção quando comparados à sacarose, contudo o mesmo não é observado para as respostas ao sabor azedo, amargo ou umami (Shigemura et al. 2013). Além do aumento da ingestão de sacarose, outro efeito comum entre os grupos habituado e não habituado foi que em ambos a maior ingestão de sacarose ocorreu nos primeiros 15 minutos de oferta, dado que pode ser observado na análise de ingestão por períodos, sugerindo que o efeito da Ang II na ingestão de sacarose tem um início rápido e seria de curta duração. Este efeito pode estar relacionado com o tempo de meia vida da angiotensina II injetada i.c.v. (aproximadamente 25 minutos) ou seria possível que a medida que o animal ingerisse sacarose, vias de saciedade fossem ativadas, freando o comportamento ingestivo. Afinal, as informações periféricas, como as relacionadas com distensão gástrica, assim como as gustativas, chegam ao SNC via núcleo do trato solitário, que é uma área envolvida com os mecanismos de saciedade (Mccaughey, 2008; Mungarndee et

39

Apesar dos efeitos comuns citados, diferenças foram encontradas entre os grupos habituados e não habituados. Considerando a análise da ingestão de sacarose, ao final dos 120 minutos de experimento o grupo habituado bebeu mais sacarose quando PBS ou a menor dose de Ang II (0,1nmol/μL) foram microinjetados, sugerindo uma predisposição dos mesmos a ingerirem sacarose, uma vez que os animais se habituaram a ingerirem sacarose sempre naquele horário. Esta maior ingestão no grupo habituado já era esperada, pois a habituação envolve aprendizado, que é um fator que comprovadamente modifica o comportamento de ingestão e até mesmo a percepção de palatabilidade e recompensa (Norgren, Grigson, Hajnal e Lundy, 2003; Mccaughey, 2008). Entretanto, para as doses maiores de Ang II (0,4 e 0,8nmol/μL) a quantidade de sacarose ingerida foi similar entre os dois grupos, independente de terem sidos habituados ou não a ingerirem sacarose, mostrando que a Ang II não apenas aumenta (grupo habituado) como induz (grupo não habituado) ingestão de sacarose. Uma vez que não houve diferenças na ingestão de sacarose entre as maiores doses de Ang II é possível inferir que se atingiu o limite de ingestão, possivelmente, por uma saturação do sistema angiotensinérgico ou vias inibitórias que poderiam estar sendo estimuladas para limitarem a ingestão. Não houve diferença quanto à ingestão de água nem quanto ao volume total de líquido ingerido (ao final dos 120 minutos de experimento) entre os grupos habituados e não habituados, independente do tratamento utilizado (PBS, Ang 0,1; 0,4 ou 0,8nmol/μL).

Sabendo que os grupos habituado e não habituado partiam de um basal diferente, pois os habituados já estavam treinados e nas duas horas já ingeriam sacarose, independente da administração de Ang II (PBS habituado: 7,6 ± 2,3 mL/120min vs PBS não habituado: 2,8 ± 1,0 mL/120 min), foi verificada a quantidade real de ingestão que estaria sendo estimulada pela injeção de Ang II em ambos os grupos. Para tanto, foi realizado o cálculo da diferença (Δ) entre o valor da ingestão induzida por Ang II e o valor ingerido pelo controle (PBS) ao final de 120 minutos de experimento. Os resultados mostraram que não houve diferenças significativas entre os grupos habituados e não habituados a ingerirem sacarose. Estes dados reforçam a ideia exposta anteriormente, na qual haveria um limite para a ingestão de sacarose estimulada pela Ang II.

40

Mediante os resultados obtidos tem-se que a administração central de Ang II estimula a ingestão de sacarose, levando ao questionamento de qual receptor angiotensinérgico poderia estar envolvido neste efeito. Para tanto, utilizou-se os animais não habituados (por estarem mais próximos do que seria fisiológico e eliminando a variável aprendizado) e investigou-se a associação dos antagonistas de receptores AT1 e AT2 com a Ang II (0,4 nmol, pois com esta dose já se atingiu a máxima ingestão de sacarose). Os resultados encontrados demonstraram que a ingestão de sacarose estimulada pela angiotensina II central é dependente tanto dos receptores AT1 quanto AT2.

Ao bloquear-se o receptor AT1 por meio da injeção de losartana, quase todo o efeito de angiotensina II sobre a ingestão tanto de água quanto da solução de sacarose foi abolido assim como o efeito de Ang II sobre o volume total ingerido. Em relação à sacarose este dado está de acordo com o estudo de Shigemura et al (2013) que demonstraram a participação dos receptores AT1 no aumento da resposta do nervo corda do tímpano, promovido pela Ang II, quando sacarose era oferecida. Ademais estudos anteriores já haviam demonstrado a participação dos receptores AT1 em outros comportamentos ingestivos regulados pela Ang II, sendo que losartana foi capaz de abolir o efeito dipsogênico central da angiotensina II, bem como seu efeito sobre o apetite ao sódio, além de reduzir o efeito anorexígeno (Rowland et al., 1992; Sato et al., 1996; Porter et al., 2003; Porter et al., 2004; Wright et al., 2011; Nakano- Tateno et al., 2012).

Ao bloquear o receptor AT2 por meio da microinjeção do antagonista PD 123319 observou-se uma redução do efeito de angiotensina II sobre a ingestão de sacarose, sugerindo um envolvimento do receptor AT2 na ingestão de sacarose induzida por Ang II central. PD 123319 reduziu ainda o volume total ingerido, o que condiz com outros estudos que demonstraram a redução do efeito dipsogênico da angiotensina II após o bloqueio do receptor AT2, bem como a redução da ingestão de sódio e alimento (Rowland et al., 1992; Sato et al., 1996; Porter et al., 2003; Porter et al., 2004; Wright et al., 2011; Nakano-Tateno et al., 2012). Entretanto ao observar-se os dados da ingestão de água, quando o PD foi injetado em associação a Ang II, houve um aumento da ingestão de água. Seria possível que ao se injetar Ang II haja a ativação de duas vias distintas, uma para a ingestão de água e outra para de sacarose, sendo

41

que a ingestão de sacarose se sobressairia à ingestão de água. Assim, o PD na dose utilizada pode ter sido suficiente para inibir o efeito sobre a ingestão de sacarose, mas não o suficiente para inibir a via de ingestão da água. Ao inibir a via da ingestão de sacarose pode ter havido uma facilitação da ingestão de água, diferentemente do losartana, que inibiria as duas vias, abolindo o efeito de Ang II sobre a ingestão de água e de sacarose.

Os resultados apresentados até então são decorrentes de uma administração exógena central, e demonstram que a Ang II foi capaz de induzir a ingestão de sacarose 2% tanto em animais habituados quanto em animais não habituados. Todavia, ficou a dúvida se a mesma liberada endogenamente também poderia ter um papel no controle da ingestão de sacarose, assim, foi feito o protocolo de privação hídrica de 24 h, no qual há um aumento dos níveis endógenos de Ang II (Luca et al., 2002). Os dados mostraram um aumento do consumo de sacarose em relação ao controle após a privação hídrica de 24 horas seguida de reidratação, o que nos leva a acreditar que o aumento de Ang II estimulado pela privação hídrica neste estudo, poderia estar levando ao aumento da ingestão de sacarose por um mecanismo provavelmente independente da via da sede. Esse fato corrobora com dados da literatura que mostraram que o bloqueio do receptor AT1 (com CV11974) reduziu o número de lambidas para as soluções de sacarose com baixas concentrações (10 a 100 mM) quando a produção de Ang II endógena foi estimulada pelo protocolo de privação hídrica (Shigemura et al., 2013). O protocolo de privação hídrica/reidratação também é conhecido por estimular o apetite ao sódio. Portanto, para verificar se a ingestão de sacarose observada não foi um comportamento inespecífico, ou seja, os animais beberam sacarose devido ao não oferecimento do sódio, foi realizado, o protocolo de privação hídrica seguido por reidratação em animais que receberam salina 1,8%, além de sacarose. O resultado obtido foi que após a reidratação os animais ingeriram a salina (apetite ao sódio), como era esperado, mas não deixaram de ingerir nem reduziram a ingestão da solução de sacarose, sugerindo que a ingestão de sacarose provavelmente também independe do apetite ao sódio observado. Todavia, para se certificar que esta ingestão de sacarose nos animais privados/reidratados é dependente de Ang II estudos com antagonistas AT1 e AT2 deverão ser realizados.

42 6 Conclusão

Baseando-se nos resultados obtidos, pode-se concluir que angiotensina II central, atuando via receptores AT1 e AT2, está envolvida na regulação da ingestão de solução de sacarose 2%.

43 7 Bibliografia

ARNONE, M. et al. Selective inhibition of sucrose and ethanol intake by SR 141716, an antagonist of central cannabinoid (CB1) receptors. Psychopharmacology v. 132(1), p. 104-106, 1997.

BERNE, R. M. et al. Physiology. 5aedição. Charlottesville: Mosby/Elsevier. 2004. p.1-

1024.

BERTHOUD, H.-R. Metabolic and hedonic drives in the neural control of appetite: who is the boss? Current Opinion in Neurobiology, v.21(6) p. 888-896, 2011.

COLANTUONI, C. et al. Evidence That Intermittent, Excessive Sugar Intake Causes Endogenous Opioid Dependence. Obesity Research, v.10, p. 478-488, 2002.

DE KLOET, A. D.; KRAUSE, E. G.; WOODS, S. C. The renin angiotensin system and the metabolic syndrome. Physiology & Behavior , v. 100(5), p. 525-34, 2010.

DE LUCA L.A. JR, DAVID R.B., MENANI J.V. Homeostasis and Body Fluid Regulation: An End Note. In: DE LUCA L.A. JR, MENANI J.V., JOHNSON A.K. editores.

Neurobiology of Body Fluid Homeostasis: Transduction and Integration. Boca Raton

(FL): CRC Press/Taylor & Francis; 2014. Capítulo 15. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK200958/

FIGLEWICZ, D. P. et al. Insulin acts at different CNS sites to decrease acute sucrose intake and sucrose self-administration in rats. American Journal of Physiology -

Regulatory, Integrative and Comparative Physiology, v. 295(2), 2008.

FIGLEWICZ, D. P. et al. Intraventricular insulin and leptin decrease sucrose self- administration in rats. Physiology & Behavior, v. 89(4) p. 611-616, 2006.

FIGLEWICZ, D. P. et al. Leptin reverses sucrose-conditioned place preference in food- restricted rats. Physiology & Behavior, v. 73(1-2), p. 229-234, 2001.

FITZSIMONS, J. T. Angiotensin, Thirst, and Sodium Appetite. Physiological reviews, v. 78, p. 583-686, 1998.

44

FORMENTI, S.; COLOMBARI, E. Mecanismos neuro-hormonais envolvidos na regulação do apetite ao sódio: alguns aspectos. Arquivos Brasileiros de Ciências da

Saúde, v. 36(3), 2011.

FYHRQUIST, F.; SAIJONMAA, O. Renin-angiotensin system revisited. Journal of

internal medicine, v. 264(3), p. 224-236, 2008.

KAWAI, K. et al. Leptin as a modulator of sweet taste sensitivities in mice. Proceedings

of the National Academy of Sciences, v. 97(20), p. 11044-9, 2000.

LENT, R. Neurociência da Mente e do Comportamento. 1aedição. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan. 2008. p. 1-372

LENT, R. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurosciência. 2aedição. Rio de Janeiro: Atheneu. 2010. p 1-786.

LEVINE, A. S.; KOTZ, C. M.; GOSNELL, B. A. Sugars and fats: the neurobiology of preference. The Journal of nutrition, v. 133(3), p. 831-834, 2003.

LEVINE, A. S.; KOTZ, C. M.; GOSNELL, B. A. Sugars: hedonic aspects, neuroregulation, and energy balance. The American Journal of Clinical Nutrition, v. 78(4), p. 834-842, 2003.

LIND, R. W.; JOHNSON, A. K. Subfornical organ-median preoptic connections and drinking and pressor responses to angiotensin II. Journal of Neuroscience, v. 2(8), p. 1043-51, 1982.

LOWE, M. R.; BUTRYN, M. L. Hedonic hunger: A new dimension of appetite?

Physiology & Behavior, v. 91(4), p. 432-439, 2007.

LUCA, L. A. D. et al. Water deprivation-induced sodium appetite: humoral and cardiovascular mediators and immediate early genes. American journal of physiology

- Regulatory, integrative and comparative physiology, v. 282(2), p. 552-559, 2002.

LUNDY, R. F. Gustatory hedonic value: Potential function for forebrain control of brainstem taste processing. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, v. 32(8), p. 1601- 1606, 2008.

45

MAGNI, P. et al. Feeding behavior in mammals including humans. Annals of the New York Academy of Sciences, v. 1163, p. 221-232, 2009.

MARCHI, M. P. D. Angiotensina II e Angiotensina 1-7: Ação anoréxica central em ratos

privados de alimento. 2014. 70f. Dissertação (Mestrado). Escola de Nutrição,

Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto. 2014.

MCCAUGHEY, S. A. The taste of sugars. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, v. 32 (5), p. 1024-1043, 2008.

MUNGARNDEE, S. S.; LUNDY, R. F.; NORGREN, R. Expression of Fos during sham sucrose intake in rats with central gustatory lesions. American Journal of Physiology -

Regulatory, Integrative and Comparative Physiology. v.295, p.751-763. 2008.

NAKANO-TATENO, T. et al. Prolonged effects of intracerebroventricular angiotensin II on drinking, eating and locomotor behavior in mice. Regulatory Peptides, v. 173(1- 3), p.86-92, 2012.

NORGREN, R. et al. Motivational modulation of taste. International Congress Series, v. 1250, p. 319-334, 2003.

PORTER, J. P. et al. Effect of central angiotensin II on body weight gain in young rats.

Brain research, v. 959, p. 20–28, 2003.

PORTER, J. P.; POTRATZ, K. R. Effect of intracerebroventricular angiotensin II on body weight and food intake in adult rats. American Journal of Physiology - Regulatory,

Integrative and Comparative Physiology. v. 287, p. 422-428, 2004.

ROWLAND, N. E. et al. Effect of Nonpeptide Angiotensin Receptor Antagonists on Water Intake and Salt Appetite in Rats. Brain Research Bulletin, v. 29, p. 389-393, 1992.

SATO, M. A.; YADA, M. M.; LUCA, L. A. J. D. Antagonism of the renin-angiotensin system and water deprivation-induced NaCl intake in rats. Physiology & Behavior, v.60(4), p. 1099-1104, 1996.

SHIGEMURA, N. Angiotensin II and taste sensitivity. Japanese Dental Science

46

SHIGEMURA, N. et al. Angiotensin II Modulates Salty and Sweet Taste Sensitivities.

The Journal of Neuroscience, v. 33(15), p. 6267-6277, 2013.

WRIGHT, J. W.; HARDING, J. W. Brain renin-angiotensin: a new look at an old system.

Progress in Neurobiology, v. 95(1), p. 49-67, 2011.

YAMAMOTO, R. et al. Angiotensin II Type 1 Receptor Signaling Regulates Feeding Behavior through Anorexigenic Corticotropin-releasing Hormone in Hypothalamus.

Journal of Biological Chemistry, v. 286(24), p. 21458-21465, 2011.

YOSHIDA, T. et al. Angiotensin II reduces food intake by altering orexigenic neuropeptide expression in the mouse hypothalamus. Endocrinology, v. 153(3), p. 1411-1420, 2012.

ZHENG, H.; PATTERSON, C.; BERTHOUD, H.-R. Fourth ventricular injection of CART peptide inhibits short-term sucrose intake in rats. Brain Research, v. 896 p. 153–156, 2001.

Documentos relacionados