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Efeito do PBF sobre os dispêndios com as categorias de consumo

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.3. Impacto do PBF sobre os dispêndios com as categorias de consumo

5.3.1. Efeito do PBF sobre os dispêndios com as categorias de consumo

Para analisar o impacto do PBF sobre os dispêndios com as categorias de consumo dos beneficiários, eles foram divididos em duas faixas de renda. A primeira compreende aqueles que apresentavam a renda per capita familiar limite para receber o benefício, ou seja, renda familiar per capita de até R$140,00. Já a outra faixa agrega aqueles que recebiam o beneficio, mas possuíam renda per capita familiar até R$400,00. Vale lembrar que a existência de domicílios com renda per capita acima do limite legal para receber o tratamento pode ocorrer porque esses domicílios possuem rendimentos instáveis, sendo que boa parte advém de fontes informais que não são consideradas no Cadastro Único. Além disso, mesmo que o domicílio passe a auferir uma renda

90 formal que o torne inelegível ao programa, não há incentivos para ele procure os gestores do programa para fornecer esta informação, pois nessa situação seu benefício seria bloqueado. Ressalta-se que a obrigatoriedade de atualizar os dados do cadastro é a cada 2 anos.

Ademais, a comparação do valor destinado às despesas de consumo se dá entre os beneficiários do PBF, em 2008, vis a vis, os beneficiários do Bolsa Escola, Auxílio Gás e PETI, em 2002.

Na Tabela 10 é reportado o efeito médio do tratamento, obtido através do estimador de Diferenças em Diferenças, para os domicílios das duas faixas de renda.

Para os domicílios com renda per capita até R$140,00, a variação das despesas de consumo atribuída ao PBF, no período analisado, foi de R$34,61, de acordo com a técnica Nearest neighbor Matching (NNM). Além disso, conforme a Tabela 2, o benefício médio, em 2002, para os domicílios com renda per capita até R$140,00, era de R$42,47, enquanto, em 2008, o benefício médio passou a ser R$94,08. Portanto, em média, o benefício sofreu uma elevação de R$51,61. Com isso, conclui-se que, cerca de, 67% do benefício foi destinado às despesas de consumo.

Já nos domicílios com renda per capita entre R$140,00 e R$400,00, o Programa Bolsa Família fez com que houvesse uma ampliação das despesas de consumo mensais em R$36,61 per capita, pelo NNM. Nesses domicílios, a variação do benefício médio foi de R$40,28, sendo que, em torno de, 91% foi destinado às despesas de consumo.

Considerando as duas técnicas de matching, o PBF foi significativo para alterar o dispêndio com todas as categorias, exceto com educação, que não foi significativa pelo método do vizinho mais próximo nos domicílios com renda per capita até R$140,00. Os dispêndios com alimentação e habitação foram os que mais se elevaram diante do PBF, R$6,64 e R$12,35, de acordo com o NNM.

Tabela 10: Efeito do PBF sobre os dispêndios com as categorias de consumo para os domicílios com renda per capita até R$140,00 e entre R$140,00 e R$400,00, no período 2002-2008

Categorias

Renda per capita até R$140,00 Renda per capita entre R$140,00 e R$400,00

Nearest Neighbor Matching Method Kernel Matching Method Nearest Neighbor Matching Method Kernel Matching Method

Despesas de consumo 34,61*** 35,96*** 36,61*** 21,61*** (3,15) (2,08) (7,22) (4,24) Alimentação 6,64*** 7,47*** 1,45NS 1,72NS (1,54) (1,04) (2,97) (2,16) Despesas diversas 1,29*** 1,25*** -0,16NS 0,18NS (0,25) (0,14) (0,61) (0,41) Educação 0,18NS 0,43*** 0,72NS 0,26NS (0,17) (0,08) (0,51) (0,25) Fumo 0,71*** 0,48*** 0,42NS 0,41** (0,17) (0,09) (0,26) (0,19) Habitação 12,35*** 12,80*** 19,70*** 14,47*** (1,15) (0,89) (2,98) (1,58) Higiene 0,53** 1,02*** 1,83*** 1,81*** (0,25) (0,16) (0,52) (0,35) Recreação 0,81*** 0,75*** 0,91** 0,83*** (0,12) (0,07) (0,36) (0,27) Saúde 2,76*** 3,28*** 2,18* -0,96NS (0,43) (0,31) (1,12) (0,73) Serviços pessoais 0,48*** 0,49*** 0,97*** 0,77*** (0,07) (0,05) (0,19) (0,11) Transporte 6,59*** 5,27*** 10,61*** 1,98NS (1,14) (0,72) (3,49) (1,81) Vestuário 2,28*** 2,72*** -2,02** 0,14NS (0,35) (0,23) (0,88) (0,58) N. de observações 8549 8549 5113 5113

Fonte: Dados da pesquisa.

***significativo a 1%. **significativo a 5%. *significativo a 10%. NS: Não Significativo. Os valores entre parênteses se referem aos erros-padrão.

Notas: (1) Valores em R$ e a preços constantes de 15/01/2009, deflacionados pelo IPCA-15.(2) Os valores referentes à renda dos domicílios beneficiários não incluem as transferências de renda dos programas Bolsa Família, Bolsa Escola, Auxílio Gás e PETI.

Em uma análise semelhante, Baptistella (2012) encontrou um valor de R$146,74 para o efeito médio do tratamento para as despesas com alimentação anuais dos beneficiários (ou R$12,22 por mês). No entanto, o corte de renda utilizado por ela foi entre R$69,00 e R$171,00. Apesar dos resultados da Tabela 10 incluirem também os extremamente pobres (renda per capita até R$70), que são os que destinam uma maior proporção da renda pra alimentação, os dois resultados podem ser considerados parecidos.

Por outro lado, Ferrario (2013), utilizando o NNM, encontrou um efeito do tratamento de R$0,91 mensais per capita dos programas de transferência de renda sobre as despesas com alimentos. A diferença dos resultados encontrados por ela e os obtidos neste trabalho pode ser atribuída à metodologia empregada, visto que, aqui, são consideradas as diferenças existentes entre os grupos na POF de 2002-2003, enquanto Ferrario (2013) calcula o efeito médio do tratamento considerando apenas os dados da POF de 2008-2009.

Além disso, baseando-se na média de gastos dos domicílios brasileiros, a principal categoria para a qual as famílias brasileiras destinam renda também foi uma das mais afetadas pelo PBF, qual seja, alimentação.

O aumento dos gastos com alimentação nos domicílios com renda per capita até R$140,00 foi de R$6,64, considerando o NNM, enquanto nos domicílios com renda per capita entre R$140,00 e R$400,00, não houve variação significativa. Isso indica que, quanto menor a renda per capita domiciliar, maior o montante destinado à alimentação. Esse resultado confirma o apontado por Menezes et al. (2008), na medida em que, segundo eles, 87% dos recursos do PBF são destinados à alimentação, sendo que na região Nordeste esse percentual chega a 93%.

O fato dos domicílios direcionarem mais renda para alimentação, quando se tornam beneficiários do programa, pode indicar uma limitação dos domicílios dessas faixas de renda no que diz respeito à aquisição de bens dessa categoria, em termos de uma demanda reprimida por falta de renda. Portanto, uma política de incentivo do consumo desses bens, por meio de uma redução de impostos

93 sobre a cesta básica, por exemplo, talvez surtisse efeitos semelhantes ou ainda melhores.

Além disso, quanto maior a renda per capita domiciliar dos beneficiários, mais recursos são destinados às outras categorias, com exceção de vestuário, que, nos domicílios com renda per capita entre R$140,00 e R$400,00, se reduziu. Ademais, ao ampliar a faixa de renda, a variação dos gastos com despesas diversas, saúde e transporte deixou de ser significativa, considerando as duas técnicas de matching, indicando que esses domicílios preferiram destinar a renda adicional, proveniente do PBF, para outras categorias de dispêndio. Ou, ainda, que o consumo com essas categorias era satisfatório mesmo na ausência do programa.

Tanto para os domicílios com renda per capita até R$140,00, como para aqueles com renda per capita entre R$140,00 e R$400,00, o que chama a atenção é a ausência, ou impacto pouco expressivo, sobre a categoria educação. Isso porque se esperava que, diante de um programa que tem como condicionalidade a frequência escolar das crianças e adolescentes, o consumo de bens relacionados à educação se ampliasse. Por outro lado, como existe um empenho muito grande dos governos federais, estaduais e municipais em melhorar os índices da educação, tem havido um investimento crescente no sentido de fornecer aos estudantes: material didático gratuitamente, subsídios ao transporte escolar, a mensalidades, a taxas escolares, etc.; o que provavelmente induz as famílias a terem um gasto menor com esses itens.

A relação entre os gastos com educação e os programas de transferência de renda não podem ser estabelecida com muita precisão, visto que Ferrario (2013) verificou que o efeito médio do tratamento sobre os dispêndios com educação, em 2008, foi negativo, - R$0,44 pelo método de Kernel, embora o efeito sobre livros e artigos escolares tenha sido positivo, R$0,18.

Assim, embora os gastos com a categoria possam variar pouco diante dos programas de transferência de renda, os itens inseridos em cada categoria podem ter sofrido impactos distintos.

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5.3.2. Influência da mulher na alocação de recursos nos domicílios