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Efeito do PBF sobre as parcelas de dispêndio em diferentes classes de

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.4. Impacto do PBF sobre as parcelas de dispêndio

5.4.2. Efeito do PBF sobre as parcelas de dispêndio em diferentes classes de

O procedimento adotado para o cálculo do efeito da introdução do PBF no Brasil sobre as parcelas de dispêndio foi o mesmo utilizado para calcular o efeito sobre as categorias, ou seja, realizou-se o propensity score para 2002 e para 2008, separadamente. Então, foi feito o pareamento com base em duas técnicas: Nearest neighbor Mactching e Kernel Macthing. Em seguida, efetuou-se o Diferenças em Diferenças, considerando que a estrutura dos dados é de um SUR.

Na Tabela 14 encontram-se os resultados do impacto do PBF sobre as parcelas de dispêndio nos domicílios com renda per capita até R$140,00 e entre R$140,00 e R$400,00. Verifica-se que, na primeira faixa de renda, que consiste no público alvo do PBF, houve alteração significativa da proporção da renda destinada para alimentação, fumo, habitação, higiene, recreação e saúde, de acordo com o NNM.

Considerando o KM, o PBF foi significativo para alterar parcelas de dispêndio distintas do método NNM, pois por ele, apenas as parcelas relacionadas à educação e ao vestuário não sofreram alteração significativa diante do PBF.

As famílias beneficiadas dessa faixa de renda, por definição, são famílias pobres ou extremamente pobres. Por isso, acredita-se que sejam pessoas desprovidas ou insuficientemente providas de bens necessários, como alimentos.

Portanto, diante de um incremento da renda, esperava-se, com base em trabalhos como de Maluccio e Flores (2004), Baptistella (2012), Ferrario (2013) e Attanasio et al. (2012), que a parcela de gastos com alimentos aumentasse, visto que a melhoria do padrão de vida desse tipo de família está condicionada, principalmente, ao aumento da quantidade e/ou qualidade de alimentos.

Nesse sentido, trabalhos como Angelucci e Attanasio (2013), Attanasio e Lechene (2002), Angelucci et al. (2012), Schady e Rosero (2008) e Macours et al. (2008) perceberam que, no caso de muitos programas de transferência de

104 renda, o consumo de alimentos cresce na mesma proporção (se não, mais do que proporcionalmente) que o gasto total.

Tabela 14: Efeito do PBF sobre as parcelas de dispêndio para os domicílios com renda per capita até R$140,00 e entre R$140,00 e R$400,00, no período 2002- 2008

Renda per capita até R$140,00 Renda per capita entre R$140,00 e R$400,00 Parcelas Nearest Neighbor

Matching Method Kernel Matching Method Nearest Neighbor Matching Method Kernel Matching Method Alimentação -0,0586*** -0,0533*** -0,0254*** -0,0203*** (0,0071) (0,0048) (0,0082) (0,0056) Despesas diversas 0,0020NS 0,0025*** -0,0023NS -0,0037*** (0,0015) (0,0010) (0,0021) (0,0014) Educação -0,0010NS 0,0010NS -0,0004NS -0,0025*** (0,0010) (0,0007) (0,0015) (0,0009) Fumo -0,0037** -0,0029*** 0,0005NS 0,0001NS (0,0015) (0,0009) (0,0014) (0,0010) Habitação 0,0576*** 0,0449*** 0,0416*** 0,0376*** (0,0060) (0,0039) (0,0070) (0,0047) Higiene -0,0060*** -0,0036*** 0,0053*** 0,0047*** (0,0017) (0,0011) (0,0020) (0,0013) Recreação 0,0044*** 0,0031*** -0,0023NS 0,0020** (0,0008) (0,0005) (0,0014) (0,0010) Saúde 0,0059** 0,0121*** -0,0031NS -0,0049* (0,0027) (0,0020) (0,0039) (0,0026) Serviços pessoais 0,0001NS 0,0013*** 0,0028*** 0,0033*** (0,0007) (0,0004) (0,0008) (0,0006) Transporte -0,0035NS -0,0071** -0,0044NS -0,0055NS (0,0046) (0,0032) (0,0067) (0,0046) Vestuário 0,0027NS 0,0019NS -0,0122*** -0,0107*** (0,0028) (0,0018) (0,0035) (0,0025) Nº de observações 8547 8547 5113 5113

Fonte: Dados da pesquisa.

***significativo a 1%. **significativo a 5%. *significativo a 10%. NS: Não Significativo. Os valores entre parênteses se referem aos erros-padrão.

Notas:

(1) Valores em R$ e a preços constantes de 15/01/2009, deflacionados pelo IPCA-15.

(2) Os valores referentes à renda dos domicílios beneficiários não incluem as transferências de renda dos programas Bolsa Família, Bolsa Escola, Auxílio Gás e PETI.

Contudo, os resultados encontrados aqui demonstram que, para os domicílios brasileiros com renda per capita até R$140,00, o PBF representou uma redução da proporção dos gastos com alimentos, em termos per capita, em

105 relação às despesas de consumo, de 5,86% (NNM) ou 5,33% (KM). Nos domicílios com renda per capita entre R$140,00 e R$400,00, a queda nos gastos com alimentação foi de 2,54% e 2,03%. Esta redução pode se dever a diversos fatores, como a redução dos preços dos alimentos no período ou, ainda, o aumento dos demais custos do domicílio que não podem ser controlados diretamente pelas famílias, como transporte e aluguel, dentre outros, e que obrigam os domicílios a cortar gastos com outras categorias. Dado que a alimentação representa uma das principais parcelas dos gastos domésticos, como visto na Tabela 13, as famílias veem aí um lugar para se cortar despesas, o que proporcionalmente leva a uma redução dessa parcela diante das despesas de consumo.

Houve ainda uma redução das parcelas de dispêndios com fumo e higiene nos domicílios beneficiários. Esse resultado pode ser visto como positivo quando se trata do fumo, pois indica que os indivíduos tem destinado uma proporção menor da sua renda para esse item. Além disso, esse resultado rebate as críticas de que os domicílios destinam a renda do PBF para esse tipo de bens e aponta que os recursos estão sendo empregados em “bens mais desejáveis”. Por outro lado, destaca-se o aumento das parcelas de dispêndio relativas à habitação (5,76%), recreação (0,44%) e saúde (0,59%).

Quando se analisa o impacto do PBF sobre os domicílios com renda per capita entre R$140,00 e R$400,00, verifica-se que as parcelas relativas às despesas diversas, educação, fumo, recreação, saúde e transporte não se mostraram significativas. As parcelas que sofreram alterações significativas foram: alimentação (2,54%), habitação (4,16%), higiene (0,53%), serviços pessoais (0,28%) e vestuário (-1,22%).

Nos domicílios com renda per capita entre R$140,00 e R$400,00 também houve redução da parcela destinada à alimentação, 2,54%. Isso indica uma tendência dos domicílios e pode se dever a outros fatores não controlados neste estudo, como, o preço dos alimentos. O mesmo pode estar ocorrendo com os itens de vestuário. Esses resultados contradizem aos encontrados por Resende e Oliveira (2008) no que se refere à alimentação, pois, segundo elas, o impacto do

106 Bolsa Escola também era maior sobre os gastos com alimentação. Além disso, elas mostraram que ao ampliar a faixa de renda, a proporção desses gastos se reduziam.

Contudo, Attanasio et al. (2012), num estudo sobre o impacto do Familias en Acción, programa de transferência de renda colombiano, também encontrou evidências de que o aumento de renda proporcionado pelo programa reduziu os gastos com alimentação. A justificativa dos autores para esse efeito foi de que, para a faixa de renda considerada, alimentação consistia em bens de primeira necessidade e, portanto, de acordo com a lei de Engel, ao aumentar a renda havia uma redução da parcela de dispêndio com alimentação. Essa mesma justificativa pode se aplicar a esse trabalho, visto que as faixas de renda consideradas são as mais pobres.

Resende e Oliveira (2008) concluíram também que havia impactos significativos do Bolsa Escola sobre os gastos com vestuário e educação. Entretanto, a análise delas se limitava a dados cross section e, portanto, não consideravam dois pontos no tempo, como a metodologia deste trabalho contempla. Com isso, pode ser que ao comparar tratados e controle num mesmo período do tempo eles apresentem uma determinada diferença. Porém, ao acompanhar esses grupos ao longo do tempo pode ser que essa diferença se altere, devido a diversos fatores, como os preços.

A Tabela 14 permite concluir ainda que a alteração mais expressiva tanto para os domicílios cuja renda respeita o limite legal para se tornar beneficiário, como para aqueles com renda per capita entre R$140,00 e R$400,00, refere-se à habitação. Na análise do impacto do PBF sobre os valores destinados às categorias de dispêndio da seção anterior também se constatou que, na maioria das vezes, a categoria que recebeu um volume maior de recursos provenientes do PBF foi habitação. Esses dois resultados analisados em conjunto apontam que a categoria habitação, cujo item principal é o aluguel, está se tornando cada vez mais representativa nos domicílios beneficiários do PBF, o que pode indicar que eles estão tendo mais acesso, devido ao programa, a esses itens ou, ainda, um

107 aumento do custo. O fato é que boa parte do benefício está sendo destinado aos gastos com habitação.

A análise das parcelas de dispêndio pode ser mais uma vez justificada, pois, de acordo com a seção anterior todas as categorias, em maior ou menor grau, receberam recursos do PBF. Não obstante, em termos relativos, algumas categorias reduziram sua participação nas despesas de consumo, enquanto outras ampliaram sua participação diante do PBF. Ou seja, enquanto lá, houve aumento dos valores brutos despendidos em cada categoria, aqui, algumas parcelas apresentaram queda, dentre elas, surpreendentemente, a alimentação. Portanto, os resultados absolutos e relativos nem sempre caminham na mesma direção quando se trata de valor despendido com as categorias de consumo.

Outros grupos que hipoteticamente apresentam distinções na alocação da renda são os domicílios rurais e urbanos. Dada suas realidades historica e geograficamente distintas, eles possuem necessidades diferentes. Na Tabela 15, observa-se como o PBF alterou as parcelas de dispêndios no meio rural e urbano, nos domicílios beneficiários, entre 2002 e 2008.

Mais uma vez, ficam evidentes as diferenças entre o meio urbano e o meio rural, bem como a importância das análises em termos absolutos e relativos, pois as variações foram distintas nas parcelas do meio rural e do urbano.

Embora a literatura aponte que haja maior insegurança alimentar no meio rural, a parcela de dispêndio destinada à alimentação sofreu redução de 4,89%, nos domicílios beneficiados pelo PBF no meio rural e 8,46%, no meio urbano.

Com isso, pode-se concluir que, as famílias do meio rural podem não ter a percepção de que precisam investir mais em alimentação e, assim, não tenham alterado suas alocações nesse sentido, diante do PBF.

Esse resultado se contrapõem ao apontado por Silveira et al. (2005), que indicam que as famílias do meio rural destinam uma parcela maior da renda para alimentação, em detrimento de habitação e outras despesas correntes, em relação às famílias dos domicílios metropolitanos e urbanos. Ainda, segundo Silveira et al. (2005), no meio urbano, os custos de transporte e habitação pressionam os gastos alimentares. Porém, os resultados apresentados na tabela 15 não indicam

108 variação significativa da parcela destinada ao transporte. E a proporção das despesas de consumo relativa à habitação não sofreu variação significativa no meio rural. Contudo, nos domicílios urbanos houve um aumento de 7,40% da parcela destinada à habitação.

Tabela 15: Impacto do PBF sobre as parcelas de dispêndio dos domicílios rurais e urbanos com renda per capita até R$140,00

Parcelas Rural Urbano Nearest Neighbor Matching Method Kernel Matching Method Nearest Neighbor Matching Method Kernel Matching Method Alimentação -0,0489*** -0,0520*** -0,0846*** -0,0512*** (0,0120) (0,0082) (0,0087) (0,0060) Despesas diversas -0,0010NS 0,0010NS 0,0026NS 0,0028** (0,0026) (0,0018) (0,0016) (0,0011) Educação 0,0025* 0,0037*** -0,0026** -0,0017* (0,0015) (0,0011) (0,0013) (0,0009) Fumo 0,0453*** -0,0010NS -0,0025NS -0,0020NS (0,0097) (0,0012) (0,0019) (0,0013) Habitação -0,0015NS 0,0399*** 0,0740*** 0,0402*** (0,0021) (0,0063) (0,0077) (0,0051) Higiene -0,0070*** -0,0026NS -0,0060*** -0,0049*** (0,0027) (0,0018) (0,0021) (0,0014) Recreação 0,0045*** 0,0036*** 0,0013NS 0,0025*** (0,0012) (0,0008) (0,0011) (0,0007) Saúde 0,0158*** 0,0192*** 0,0146*** 0,0078*** (0,0052) (0,0037) (0,0033) (0,0023) Serviços pessoais 0,0005NS -0,0005NS 0,0019** 0,0020*** (0,0009) (0,0005) (0,0008) (0,0005) Transporte -0,0046NS -0,0073NS -0,0009NS 0,0017NS (0,0084) (0,0058) (0,0052) (0,0035) Vestuário -0,0057NS -0,0038NS 0,0023NS 0,0030NS (0,0048) (0,0032) (0,0034) (0,0023) Nº de observações 3523 3523 5107 5107

Fonte: Dados da pesquisa.

***significativo a 1%. **significativo a 5%. *significativo a 10%. NS: Não Significativo. Os valores entre parênteses se referem aos erros-padrão.

Notas: (1)

Valores em R$ e a preços constantes de 15/01/2009, deflacionados pelo IPCA-15.

(2) Os valores referentes à renda dos domicílios beneficiários não incluem as transferências de renda dos programas Bolsa Família, Bolsa Escola, Auxílio Gás e PETI.

Por outro lado, os resultados encontrados neste trabalho não permitem afirmar que haja distinções entre o comportamento dos domicílios rurais e

109 urbanos diante do recebimento do benefício do PBF, com relação ao consumo de itens relacionados à educação, despesas diversas, higiene, saúde, transporte e vestuário.

Os domicílios rurais aumentaram a parcela dos dispêndios com educação em 0,37%, enquanto os domicílios urbanos apresentaram redução de 0,17%, com base no KM. Portanto, os domicílios apresentaram comportamentos diferentes diante do PBF, conforme sua localização geográfica no que tange a essa parcela.