• Nenhum resultado encontrado

1. Inteligência Espiritual

1.2 Inteligência Espiritual, Espiritualidade e Religião

1.2.2 Efeitos da Inteligência Espiritual na Saúde

Da revisão de literatura salienta-se a ausência de estudos onde se correlacione este tipo de inteligência com a saúde, sendo que os seus potenciais benefícios são para já hipotéticos e meramente teóricos.

A mais recente definição de saúde da OMS proclama a saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social (WHO, 1946 cit. In Fleck, 2000). No entanto, alguns médicos e profissionais de saúde começam a ver a doença de uma forma mais holística e diferente da visão newtoniana atual. Consideram-na como “an integral part of the dynamic equilibrium that we ordinarily think of as health” (Jobst, Shostak & Whitehouse, 1999, p. 495), uma chamada de atenção para algo nas nossas vidas que necessita de ser mudado, ou caso contrário, dará lugar a perturbações físicas, emocionais ou espirituais e até mesmo à morte (Zohar & Marshall, 2004). Para os defensores deste novo paradigma, as atitudes e o estilo de vida estarão em maior grau associados à doença do que propriamente os desequilíbrios químicos.

Algumas pessoas pertencentes a grupos de profissionais de saúde, de comércio e investigadores desde há algum tempo têm vindo a discutir este novo paradigma. Em 1998, um pequeno grupo de pessoas pertencentes às classes referidas anteriormente reuniu-se em Washington, D. C. no IAF [Institut of Alternative Futures] para discutir e explorar estas ideias e em Junho de 1999, num encontro internacional na Grã-Bretanha, em Dartington Hall, diversos médicos, doentes e cientistas reuniram-se também com o mesmo intuito, chegando à conclusão que grande parte do nosso sofrimento, mesmo as doenças físicas crónicas, consiste em «doenças de sentido». Os delegados desta conferência alegaram até que a instituição médica e científica pode contribuir para a prevalência das «doenças de sentido» ignorando as causas mais profundas de cada doença, continuando a instituir maioritariamente tratamentos farmacológicos (Zohar & Marshall, 2004; Jobst et al, 1999).

Entre estas doenças denominadas «doenças de sentido» podemos encontrar a depressão, o cancro, a doença coronária, doenças autoimunes e neuro degenerativas, demência e condições tais como genocídio, violência comunitária e o problema da devastação ambiental. Os problemas são sérios e a OMS postula que no próximo milénio estas «doenças de sentido» serão as responsáveis pela maior faceta do sofrimento e morte em todo o mundo (Jobst, Shostak & Whitehouse, 1999).

É urgente, na opinião de Jobst e colaboradores (1999), que este novo paradigma ganhe mais adeptos e a conceção tradicional do paradigma biomolecular caia para segundo plano, uma vez que a doença, na visão destes autores, é uma manifestação da saúde, uma expressão saudável de um sentido restrito de significado e compreensão na vida, muitas vezes com raízes no passado distante da pessoa ou da sua família – a sua herança genética. A consideração do exposto poderá conduzir a tratamentos, prevenção e a uma compreensão mais alargada de comportamentos e doenças que levam à violência e destruição ambiental.

Uma das condições hipotéticas mais importantes para a explicação das «doenças de sentido» é o condicionamento. Por exemplo, qualquer estímulo que evoque o medo irá causar

15

alterações fisiológicas sistémicas. Se perpetuadas, estas alterações crónicas podem-se refletir somaticamente numa série de estados de doença variando de hipertensão e enxaqueca, até cancro, doença intestinal, tensão pré-menstrual, perturbações do sistema imunológico e artrite. O significado para indivíduos de qualquer evento ou estímulo - de ver um corvo negro no horizonte ou uma mão levantada ou ouvir o som de uma pistola para perceber as implicações de pesticidas em frutas ou modificação genética de alimentos - adquire consequências reais psicofisiológicas. Assim, o que é percebido como doença reflete a interiorização das metáforas adotadas por indivíduos e comunidades (Jobst et al, 1999). Mas o condicionamento não é a única condição que nos faz ficar doentes «de sentido». As pressões políticas, económicas e as políticas sociais; o acelerado desenvolvimento tecnológico da sociedade; a manipulação intencional de sistemas científicos, sociais, económicos e políticos, sustentando a ignorância do significado em sistemas de saúde por motivos financeiros e políticos; o foco no individual e a negligência da contribuição do ambiente para a saúde e para as relações dos seres humanos com outras formas de vida na biosfera são também possíveis causadores/contribuidores para a criação de «doenças de sentido» (Jobst et al, 1999).

A perceção do próprio conceito de doença pode ter implicações no tratamento da mesma. Se um indivíduo conceber a doença como inevitável e apenas podendo ser erradicada cirurgicamente, bloqueada farmacologicamente ou geneticamente modificada e, vier a alterar esta perceção para uma perceção de doença diferente, um cenário de cura diferente pode emergir (Jobst et al, 1999). Já dizia Einstein: “Os problemas significativos que enfrentamos não podem ser resolvidos no mesmo nível de pensamento que estávamos quando os criámos.”

É sobretudo neste tipo de doenças que se supõe que a IEs possa ter um efeito positivo, não apenas como auxiliar ao tratamento, mas como um aspeto preventivo, porque a IEs além de nos incentivar na procura de um significado para a vida, permite-nos ter a capacidade de resolução de problemas de forma criativa, alterar regras e situações, trazendo um leque de possibilidades diferentes (Zohar & Marshall, 2004). Segundo Zohar e Marshall (2004), o mundo atual vive sedento de um sentido e as doenças que se afloram e crescem exponencialmente neste século, são maioritariamente «doenças de sentido» fruto de condicionamentos de toda a ordem: social, pessoal, comunitários… Por exemplo, o excesso de peso é uma doença comum atualmente e é provocada por uma motivação distorcida. As pessoas comem para encher um «vazio». A IEs faz-nos questionar esse desejo superficial e procurar uma resposta para o desejo de comer em excesso. Quando se segue padrões programados promovidos pela cultura ou pelos hábitos desadequados, pouca coisa nos detém ou faz refletir sobre essa necessidade, mas se formos espiritualmente inteligentes, certamente nos questionaremos acerca desses padrões, certamente não teremos receio de ser diferentes ou pouco convencionais/consensuais com as maiorias (Zohar & Marshall, 2004).

16

A IEs parece ser assim uma promessa de esperança para a prevenção das «doenças de sentido». Mas será que este «recente» tipo de inteligência merece consideração por parte da comunidade científica? Será que este «recente» tipo de inteligência encontra fundamentos empíricos e teóricos a seu favor?

17