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3 O EFEITO CONCRETISTA DAS DECISÕES DO STF EM MANDADO DE

3.2 Efeitos das decisões em mandado de injunção: as correntes não concretistas e

Questão bastante controvertida, tanto em âmbito doutrinário quanto jurisprudencial, diz respeito ao efeito das decisões em sede de mandado de injunção, havendo divergências dentro do próprio Supremo Tribunal Federal, que ao longo do tempo vem modificando o seu entendimento acerca do efeito dessas decisões.

No que tange ao nível de eficácia alcançado pelo pronunciamento jurisdicional em sede de mandado de injunção, ou seja, em relação à produção de efeitos concretos por parte de uma decisão judicial, existem duas grandes correntes: a corrente não-concretista e a corrente concretista.

Consoante a doutrina pregada pela corrente não concretista, os órgãos judiciários, quando da prolação da decisão em sede de mandado de injunção, podem apenas reconhecer a mora do legislador em elaborar a norma regulamentadora de direito constitucional, sem contudo poder definir meios para o imediato exercício do direito subjetivo objeto do writ.

O principal argumento utilizado pelos defensores da posição não concretista é o de que, se o Poder Judiciário atuasse concretamente, regulamentando por meio de sua decisão o modo pelo qual seria exercido o direito subjetivo objeto do writ em comento, ele estaria exercendo uma função normativa atípica e inconstitucional, uma vez que estaria usurpando a função institucional do Poder Legislativo.

Tal corrente, que inicialmente foi a que predominou no âmbito do Supremo Tribunal Federal, hodiernamente é adotada por uma parcela da doutrinária amplamente minoritária, sendo alvo de muitas críticas por parte dos autores mais modernos.

Por sua vez, a corrente concretista, levando em consideração o nível de abrangência dos efeitos gerados pela decisão em mandado de injunção, se divide em

outras três espécies: a corrente concretista geral; a corrente concretista individual; e a corrente concretista intermediária (que pode ser individual ou geral).

Consoante a corrente concretista geral, a decisão proferida em sede de mandado de injunção possui um efeito erga omnes, regulamentando não somente o direito subjetivo discutido na ação injuncional, como também o direito de todos aqueles que se encontram em situação semelhante.

Ao se referir a essa corrente, Gilmar Ferreira Mendes (2009, p. 1258) expõe que: “Segundo essa concepção, o constituinte teria dotado o Tribunal, excepcionalmente, do poder de editar normas abstratas, de modo que essa atividade judicial apresentaria fortes semelhanças com a atividade legislativa.”

Nesse mesmo diapasão, ao tratar da corrente concretista geral, explana Uadi Lammêgo Bulos:

A sentença, proferida na injunção, é erga omnes, tem eficácia ampla, abrangendo a todos, pois o Judiciário implementa o exercício do direito, mediante uma deliberação irrestrita, que vigorará até o dia em que o Poder Legislativo sanar o estado de inércia constitucional. Aqui o Supremo Tribunal pode legislar no caso concreto, ou seja, pode proferir sentença substituindo aquilo que deveria constar na lei. (BULOS, 2011, p. 770) Esta corrente, apesar de ter sido alvo de fortes críticas doutrinárias, possui uma importância fundamental para o presente trabalho monográfico, uma vez que, conforme se verá adiante, é a posição atualmente adotada pelo Supremo no tocante aos mandados de injunção envolvendo o direito de greve dos servidores públicos.

A corrente concretista individual direta, à semelhança da corrente concretista geral, prega ser possível ao poder judiciário competente normatizar o exercício do direito subjetivo objeto do instrumento injuncional. Todavia, essa normatização, ao invés de produzir um efeito “erga omnes”, produz apenas efeito “inter partes”, ou seja, aplicável apenas ao caso individual específico objeto do mandado.

Nesse sentido é a conceituação dada por Marcelo Novelino, que ao tratar desta corrente explica que:

Nesta concepção, quando a ausência de norma regulamentadora inviabilizar o exercício de um direito constitucionalmente assegurado, o Poder Judiciário está autorizado a suprir a lacuna apenas para aqueles que impetraram o mandado de injunção. (NOVELINO, 2011, p. 331)

Por fim, a corrente concretista intermediária como o próprio nome indica, adota um posicionamento intermediário entre as outras duas correntes supranalisadas, uma vez que pode produzir tanto efeitos erga omnes como também efeitos inter partes, dependendo do caso concreto.

Esta corrente defende que, ao julgar o mandado de injunção, não pode o órgão judiciário imediatamente criar uma solução normativa para o exercício do direito. Deve, antes, fixar um prazo razoável para que o Poder Legislativo regularmente o direito subjetivo objeto do writ injuncional.

Definição precisa sobre esta corrente pode ser encontrada na doutrina de Uadi Lammêgo Bulos, o qual explicita que:

Julgado procedente o mandado de injunção, o Poder Judiciário estabelece prazo para o Congresso Nacional elaborar a norma regulamentadora. Se, após o término desse prazo, o Legislativo não tomar nenhuma providência, permanecendo a inércia inconstitucional, o impetrante do writ passa a ter assegurado o seu direito. (BULOS, 2011, p. 770)

Portanto, segundo esta corrente, caso o legislador não venha a editar uma norma reguladora do direito subjetivo discutido via mandado de injunção dentro do prazo previsto pelo órgão judicial, tal direito poderá vir a ser imediatamente exercido, dentro das condições fixadas na decisão judicial. Tal decisão poderá produzir, dependendo do caso concretamente analisado, efeito apenas inter partes (corrente concretista intermediária individual), ou efeito erga omnes, aplicável a todos que se encontrem em situação semelhante (corrente concretista intermediária geral).

Feita esta breve síntese acerca das principais correntes doutrinárias que se debruçam sobre os efeitos da decisão judicial em sede de mandado de injunção, passa-se agora a análise de como se deu a aplicação destas diferentes correntes no âmbito da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal em sede dos mandados de injunções impetrados com o fito de obter a regulamentação do direito de greves dos servidores públicos.

3.3 O direito de greve dos servidores públicos: a evolução