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PARTE I – QUADRO TEÓRICO

1.1. Absentismo Organizacional

1.1.5. Efeitos do Absentismo

Os efeitos do absentismo podem ser positivos ou negativos consoante os intervenientes, podendo as suas consequências refletirem-se ao nível individual, social e organizacional (Harrison & Martocchio, 1998).

Ao nível individual, um comportamento de ausência que se repercuta num distanciamento temporário do indivíduo pode ser positivo quer para o trabalhador (Smulders & Nijhuis, 1999), quer para a organização (Miguez, 1994). Para o trabalhador pode funcionar como um mecanismo libertador do stress causado pelo desempenho da sua função, permitindo-lhe restabelecer o equilíbrio emocional, enquanto para a organização pode ajudar a minimizar a tensão com os outros e a manter a motivação. Por outro lado, este comportamento pode ser negativo no sentido em que pode representar uma diminuição de salário, influenciar o reconhecimento ou até, em casos extremos, originar o despedimento (Harrison & Martocchio, 1998). Alguns estudos referem que o absentismo é utilizado pelos trabalhadores como um

mecanismo de coping para gerir o stress e não somente como uma reação à insatisfação com o trabalho, ou seja, o absentismo pode funcionar como uma solução alternativa no caso de trabalhadores que não tenham mecanismos de ajustamento (Ex: controlo do trabalho) (Johns, 1991; Johns, 1997).

O impacto de uma ausência a nível organizacional pode repercutir-se de diferente modo consoante a área em que é produzida. Isto é, segundo Miguez e Bonami (1988), uma ausência no setor administrativo não terá certamente o mesmo peso que no setor operacional. Porém, segundo Cunha et al. (2010), os efeitos do absentismo são, normalmente, nefastos para as organizações, uma vez que a ausência dos trabalhadores gera custos diretos e indiretos, representados pela nula produtividade do empregado ausente, deterioração do clima organizacional e prestação de um mau serviço ao cliente.

A nível social as consequências das ausências manifestam-se, fundamentalmente, no relacionamento com os colegas e chefias, na medida em que são os colegas que, geralmente, tem que efetuar o trabalho a cargo do indivíduo ausente. Tal pode dar origem a sentimentos de desigualdade ou injustiça, influenciar negativamente o desempenho diminuindo a produtividade e até mesmo ao aumento do absentismo (Rhodes & Steers, 1981; Geurts et al., 1999).

Também Mallada (1996) se refere ao absentismo como sendo responsável por uma série de problemas de ordem diversa. De ordem organizacional, em que o trabalhador enfrenta, muitas vezes, problemas de cansaço ou fadiga, tarefas monótonas e repetitivas que diminuem consideravelmente o interesse e a motivação, podendo levar a situações de alienação; de ordem social, em que o trabalhador se depara com situações como a crise económica, esforçando-se por reduzir a taxa de absentismo, como instinto primário de conservação; de ordem económica, em que o trabalhador percebe que a relação trabalho-vencimento não é satisfatória, o que conduz a uma maior desmotivação na realização das suas tarefas.

A literatura refere que os custos do absentismo são geralmente elevados e de difícil quantificação, podendo ser agrupados em custos diretos e indiretos. Os primeiros referem-se, habitualmente, a custos associados a eventuais substituições, a realização de horas extraordinárias, a quebras de produção, entre outros. Os últimos englobam a baixa produtividade, o ambiente de trabalho, problemas de ordem moral e disciplinar, stress, quebra de qualidade do produto e/ou serviço, interrupção do trabalho, etc. (Tylczak, 1993).

Segundo um estudo sobre a prevenção do absentismo no trabalho levado a cabo pela Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho (2010), embora o peso dos custos com o absentismo não esteja dividido de forma equitativa pelas diferentes partes – entidades governamentais, empresas, empregados, seguradoras e a própria economia nacional – de uma forma ou de outra todos suportam uma parte desses custos.

O empregado e os seus dependentes sofrem uma redução dos seus rendimentos como consequência de faltas por doença, especialmente em casos de ausências prolongadas. Nesses casos, o trabalhador poderá ainda ter que arcar com despesas adicionais como o pagamento de serviços médicos e o seu bem-estar pode ser afetado pela dor e pelo sofrimento moral ou físico. Acresce ainda o facto do absentismo frequente ou de longa duração poder, em circunstâncias extremas, conduzir à perda do emprego ou afetar as relações com os colegas e superiores hierárquicos.

As empresas, por sua vez, são afetadas pela natureza imprevisível do absentismo no trabalho, que obriga a ajustamentos de horários ou a tomar medidas para substituir o trabalhador ausente. Acresce ainda o facto de o absentismo aumentar os custos da empresa (subsídio de doença, perda de produtividade, qualidade inferior, etc.) e, por conseguinte, ter um efeito negativo na sua posição concorrencial.

As companhias de seguros, muitas vezes, seguram, simultaneamente, o risco do absentismo e a saúde dos trabalhadores e das suas famílias. Geralmente têm de pagar os subsídios, em caso de absentismo, e os custos dos cuidados de saúde nos casos de doença dos colaboradores.

O absentismo no trabalho tem também um efeito negativo ao nível da economia nacional, em consequência da perda de produção potencial devido à redução da força de trabalho disponível e ao aumento dos custos com tratamentos médicos e segurança social.

As entidades governamentais têm portanto interesse em manter um baixo nível de absentismo e em limitar os custos da segurança social e as despesas com os cuidados de saúde, na medida em que o Estado não pode suportar os elevados custos da invalidez e das reformas antecipadas. Para a sociedade, é importante que as pessoas possam trabalhar com saúde até à idade da reforma e que possam contribuir ativamente para o incremento do produto interno bruto.

Em síntese, o problema do absentismo é também um problema de rentabilidade (Tylczak, 1993). Torna-se portanto fundamental compreender a importância do fenómeno social que representa o comportamento absentista, tendo em vista a implementação de medidas de gestão que permitam prevenir e controlar este problema.