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3. Relações familiares

4.3 Efeitos do divórcio

Com o divórcio a consequência imediata é a dissolução do casamento, cessando, com efeitos ex nunc, os efeitos da relação conjugal, sem prejuízo dos que já foram produzidos 229.

Relativamente aos efeitos pessoais, extinguem-se os deveres de coabitação, cooperação, respeito (enquanto dever positivo) e fidelidade supra referidos. Permanece o dever de respeito enquanto dever de carácter geral, bem como a eventual prestação de alimentos, compreendida no dever de assistência 230. Relativamente ao nome, o cônjuge

227 Com esta cláusula geral o tribunal ganha uma maior margem de apreciação, e uma necessidade acrescida de fundamentação, acerca

dos factos que mostram uma efectiva ruptura do casamento.

228 A respeito do divórcio sem consentimento de um dos cônjuges foram tidos em conta os ensinamentos de Rosa Martins, professora na

Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, e Paulo Guerra, Juiz Desembargador e Docente do CEJ, proferidos no Curso breve de Pós-Graduação em Divórcio, já mencionada supra.

229 Francisco Pereira Coelho / Guilherme de Oliveira, Curso de Direito da Família, Vol. I, 4.ª Edição, Coimbra Editora, 2008, p. 665. 230 A respeito do dever de alimentos, ter em conta o Ac. do Tribunal da Relação de Lisboa de 17 de Setembro de 2013, processo n.º

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que adoptou nome do outro pode conservá-lo se este consentir ou na eventualidade de o Conservador ou o Juiz entenderem que há motivo ponderoso para tal. Cessa, nos termos legalmente previstos, a presunção de paternidade em favor do marido da mãe 231. Dissolvido que está o casamento, os divorciados podem casar novamente, extinto que está o impedimento à celebração de novas núpcias.

Quanto aos efeitos patrimoniais, há que ter em conta, mais atentamente, o disposto no artigo 1789.º do CCiv, nos termos do qual o divórcio tem os mesmos efeitos da dissolução por morte, que se produzem a partir do trânsito em julgado da sentença mas retrotraem à data de propositura da acção, relativamente às relações patrimoniais entre os cônjuges.

Ora, o facto de o divórcio produzir efeitos semelhantes aos da dissolução por morte sofre várias excepções 232, como se pode apontar a forma como se faz a partilha dos

bens, uma vez que no divórcio nenhum cônjuge pode receber mais do que receberia se o casamento tivesse sido celebrado segundo o regime de comunhão de adquiridos 233,

enquanto na dissolução por morte a partilha se faz seguindo o regime de bens vigente, mesmo que seja o da comunhão geral de bens. Outra excepção é o facto de o divorciado não ser herdeiro legítimo ou legitimário, contrariamente ao que sucede ao cônjuge sobrevivo não divorciado 234. Os efeitos relativamente à casa de morada de família são também diferentes, uma vez que o arrendamento para habitação não caduca por morte do arrendatário quando lhe sobreviva o cônjuge 235: com o divórcio, o destino da casa de morada de família, sendo arrendada, é decidido por acordo, podendo haver concentração num dos cônjuges ou transmissão; sendo a casa de morada de família um bem próprio de um dos cônjuges ou um bem comum, o tribunal pode dá-la de arrendamento a qualquer um deles a seu pedido, tendo em conta as suas necessidades e o interesse dos eventuais filhos do casal.

sua subsistência, sendo que não se provando que a Autora procurou activamente emprego para se sustentar, não lhe devem ser concedidos alimentos.

231 Artigo 1826.º do CCiv. 232 Artigo 1788.º do CCiv. 233 Artigo 1790.º do CCiv.

234 Artigo 2133.º n.º 1 a) e 2157.º do CCiv.

235 Cfr. a este respeito os artigos 1105.º e 1793.º, relativos à dissolução por divórcio, e os artigos 1106.º e 2103.º-A do CCiv, quanto à

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Outro efeito patrimonial é que com o divórcio cada um dos cônjuges perde os benefícios recebidos ou que haja de receber do outro cônjuge ou terceiro, em vista do casamento ou em consideração do estado de casado, quer a estipulação seja anterior ou posterior à celebração do casamento, tal como dispõe o artigo 1791.º do CCiv.

Instituto diferente é o previsto no artigo 1792.º do CCiv, relativo à reparação de danos pedida por um cônjuge contra o outro, a qual é feita nos termos gerais da responsabilidade civil, nos tribunais comuns 236.

Outra consequência deriva do artigo 1676.º n.ºs 2 e 3 do CCiv, nos termos do qual se um dos cônjuges contribuir para os encargos da vida familiar de forma consideravelmente superior, dado ter renunciado excessivamente à satisfação dos seus próprios interesses em prol da vida em comum, daí resultando prejuízos patrimoniais importantes, esse cônjuge tem direito a exigir do outro, no momento da partilha, a correspondente compensação.

O principal efeito patrimonial do divórcio, sendo também ele gerador de um grande número de discórdias nos processos de divórcio, é a partilha dos bens, já referida de modo breve supra. Ora, havendo acordo quanto à partilha, esta irá ser efectuada extra- judicialmente em escritura pública notarial. Estando em causa um divórcio por mútuo consentimento 237 há que notar a existência do Balcão da Herança e Divórcios com Partilha do Património Conjugal, tal como disposto no DL n.º 324/2007, de 28 de Setembro, pelo que se procederá à partilha nos termos dos artigos 272.º-A a 271.º-C do CRC. Não havendo acordo quanto à partilha há que recorrer ao processo de inventário 238. Este processo é da competência dos cartórios notariais, a escolha dos interessados, sendo que o juiz mantém controlo geral do processo 239. Começa com a apresentação do requerimento pelos

236 De notar que quando o fundamento do divórcio tenha sido a alteração das faculdades mentais por período superior a um ano, há um

dever de reparar os danos não patrimoniais ao cônjuge portador da dita alteração (1792.º n.º 2 do CCiv). Portanto, será preferível requerer o divórcio, nesses casos, com base na separação de facto por período superior a um ano, se verificados os respectivos pressupostos, não se verificando assim o dever de reparação de danos.

237 Cfr. Artigo1775.º do CCiv.

238 Regulado pela Lei n.º 23/2013, de 5 de Março, que identifica como função do inventário o colocar um termo à comunhão de bens

entre os cônjuges, tal como dispõe o artigo 2.º n.º 3.

239 Cfr. João Queiroga Chaves um quadro em jeito de síntese, que de forma breve esquematiza os diversos efeitos patrimoniais, presente

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interessados na partilha 240, havendo posteriormente marcação de uma audiência dos interessados 241, destinada à adjudicação dos bens. Cumpridas as formalidades previstas há lugar ao despacho sobre a forma de partilha 242.

240 Artigos 4.º n.º 1 a) e 6.º n.º 1 da Lei n.º 23/2013. 241 Artigos 49.º e ss.

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Capítulo III

Planeamento fiscal no âmbito das relações jurídicas familiares