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5. Possibilidade de planeamento fiscal no âmbito das relações jurídicas familiares

5.3 A filiação como instrumento de planeamento fiscal

5.3.1 Vantagens

Retomando o já mencionado supra acerca do cálculo do IRS, repetimos as etapas de determinação da matéria colectável (artigos 22.º e ss): 1) Apurar o rendimento líquido de cada categoria, subtraindo ao rendimento bruto as deduções específicas da categoria correspondente; 2) Apurar o rendimento global líquido, mediante o englobamento dos rendimentos das várias categorias; 3) Apurar o quociente familiar, nos termos supra expostos; 4) Efectuar as possíveis deduções à colecta.

Ora, para determinação da colecta são efectuadas deduções variadas, relativas a dependentes do agregado familiar e ascendentes que vivam em comunhão de habituação com o sujeito passivo, relativamente a despesas gerais familiares, de saúde e com seguros de saúde, de educação e formação, importâncias respeitantes a pensões de alimentos, encargos com lares, com imóveis, quanto a pessoas portadoras de deficiência, no que tange à dupla tributação internacional e aos benefícios fiscais 297.

Importa-nos ter em conta as deduções com os dependentes do sujeito passivo, mais especificamente, com os seus filhos 298. Podem os sujeitos passivos deduzir à colecta as despesas que tenham com estes a nível de saúde, educação e formação, dentro dos limites legalmente estabelecidos, que têm em conta o escalão de rendimento colectável.

296 Diogo Leite Campos / João de Costa Andrade, Autonomia Contratual e Direito Tributário (A Norma Geral Anti-Elisão), Almedina,

2008, pp. 69 a 82.

297 Artigo 78.º n.º 1 do CIRS.

298 Teremos, portanto, como referência o conceito de dependente, referido no artigo 13.º n.º 4, ou seja, filhos ou adoptados menores, os

filhos ou adoptados maiores que estão sujeitos à tutela dos sujeitos passivos, com idade inferior a 25 anos, que não aufiram rendimentos anuais superiores ao valor da retribuição mínima mensal garantida, e que tenham frequentado no ano a que respeita o imposto o 11.º, 12.º, estabelecimento de ensino médio ou superior. Por último, são tidos em conta filhos ou adoptados maiores, inaptos para o trabalho e para angariar meios de subsistência, quando não aufiram rendimentos superiores ao salário mínimo nacional mais elevado e continuem sob tutela do sujeito passivo.

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Dispõe o artigo 78.º-A do CIRS que é deduzido por cada dependente um montante fixo de 325 euros, acrescendo uma dedução de 125 por cada dependente que não ultrapasse três anos de idade até 31 de dezembro do ano a que respeita o imposto 299.

Vamos então ter em conta as despesas tidas com os dependentes que podem ser deduzidas. Quanto às despesas gerais familiares 300 é dedutível um montante correspondente a 35 % do valor suportado por qualquer membro do agregado familiar, com o limite global de 250 euros para cada sujeito passivo, que conste de faturas que titulem prestações de serviços e aquisições de bens comunicadas à Autoridade Tributária e Aduaneira nos termos do Decreto-Lei n.º 197/2012, de 24 de Agosto, ou emitidas no Portal das Finanças.

Relativamente às despesas de saúde 301 pode ser deduzido à coleta do IRS um montante correspondente a 15 % do valor suportado a título de despesas de saúde por qualquer membro do agregado familiar, com o limite global de 1 000 euros, nos seguintes casos:

a) Que conste de faturas que titulem prestações de serviços e aquisições de bens, isentos de IVA ou tributados à taxa reduzida, comunicadas à Autoridade Tributária e Aduaneira ou emitidas no Portal das Finanças, nos sectores de actividade de saúde humana, comércio a retalho de produtos farmacêuticos, médicos e ortopédicos em estabelecimentos especializados;

b) Prémios de seguros e contribuições pagas a associações mutualistas ou a instituições sem fins lucrativos que tenham por objeto a prestação de cuidados de saúde que, em qualquer dos casos, cubram exclusivamente os riscos de saúde pagos por aquele ou por terceiros, desde que, neste caso, tenham sido comprovadamente tributados como rendimento do sujeito passivo;

c) Despesas de saúde objecto de comunicação nos termos do artigo 78.º-C n.ºs 2 a 5.

299 O que demonstra a prática de políticas de protecção fiscal da família, em particular nos primeiros anos de vida.

300 Artigo 78.º-B do CIRS. De destacar que os adquirentes que pretendam beneficiar da dedução à coleta devem exigir ao emitente a

inclusão do seu número de identificação fiscal nas faturas.

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No que tange às despesas com a educação e formação 302 pode deduzir-se um montante correspondente a 30 % do valor suportado, com o limite global de 800 euros, cumpridos os respectivos requisitos legais. De notar que se consideram despesas com educação e formação, os encargos com o pagamento de creches, jardins-de-infância, lactários, escolas, estabelecimentos de ensino integrados no sistema nacional de educação ou reconhecidos como tendo fins análogos pelos ministérios competentes, bem como outros serviços de educação e despesas com manuais e livros escolares.

Cabe referir que a soma das referidas deduções à colecta não pode exceder os limites estabelecidos no n.º 7 do artigo 78.º, que faz uma discriminação do limite tendo em conta o escalão de rendimento colectável: num escalão até aos 7 000 não há limite; entre os 7 000 e os 80 000 o limite resulta da fórmula contida no artigo 78.º n.º 7 b); para rendimentos superiores a 80 000 o limite são 1000 euros. De ter em conta que os agregados com três ou mais dependentes a cargo, têm majoração de 5 % por cada dependente ou afilhado civil. Resulta ainda do n.º 11 do mesmo artigo que nas situações de sujeitos passivos casados ou unidos de facto, quando o valor das deduções à coleta é determinado por referência ao agregado familiar, não havendo opção pela tributação conjunta, esses valores são reduzidos para metade, por sujeito passivo.

Ora, utilizando as deduções referidas, que são um instrumento que dentro da legalidade permitem obter uma poupança fiscal, os contribuintes podem conseguir uma situação fiscal mais favorável. De facto, as despesas tidas com o médico, os medicamentos, os infantários/creches, escolas, universidades e directamente conexas com estas, que tenham o referido enquadramento legal, podem ser deduzidas à colecta, pagando o contribuinte menos IRS. O planeamento reside em conseguir alcançar o enquadramento legal necessário a obter a dedução. Por exemplo, se se opta por um estabelecimento de ensino não integrado no sistema nacional de ensino, não se espera obter a correspondente dedução, pelo que a opção por um estabelecimento público será fiscalmente mais favorável. No mesmo sentido, as despesas são comprovadas por facturas com número de contribuinte, devidamente comunicadas ou introduzidas no portal das Finanças, pelo que se não se cumprirem as formalidades necessárias não poderá haver direito à dedução. Questão pertinente é conjugar as deduções com o regime de tributação a que os contribuintes

302 Artigo 78.º-D do CIRS.

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casados ou unidos de facto escolham. Exemplificativamente, as deduções à colecta efectuadas naquele que aufere rendimentos mais altos podem traduzir-se numa maior poupança fiscal 303.

Certo é que existem limites a estas deduções, mas também é claro que tais limites se alargam quando há um maior número de descendentes a cargo, dadas as maiores despesas inerentes.