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5 CAPÍTULO II: Avaliação in vitro de extratos polares livres e veiculados das raízes

5.7.2 Efeitos dos extratos polares livres e veiculados das raízes de T toxicaria sobre a

Os resultados observados nestes estudos vão ao encontro de muitos relatos da literatura, em que as plantas possuem efeitos antagônicos a nematoides e são promissoras para o controle alternativo, podendo ser utilizadas em rotação de culturas, plantio intercalar ou aplicadas como tortas ou extratos vegetais. Portanto, a probabilidade de controle de fitonematoides com extratos botânicos ou óleos essenciais com propriedades nematicidas é bastante estudada em todo o mundo, testando-se metabólitos e componentes químicos de muitas plantas para o controle do nematoide das galhas (CHITWOOD, 2002; FERRIS; ZENG, 1999). Acrescenta-se ainda que o uso adequado de extratos botânicos causa poucas perturbações à microfauna e macrofauna do solo por estes serem de origem natural e apresentarem maior biodegradabilidade (ALTIERI, 2009).

Nestes ensaios foi possível constatar que houve efeito significativo dos extratos aquosos e hidroalcoólicos das raízes de T. toxicaria nas suas formas livres e veiculadas em carreador SNEDDS sobre a eclosão e a mortalidade de juvenis J2 de Meloidogyne enterolobii e M.

javanica.

Observa-se na Figura 4A, que a eclosão foi reduzida em 64% na concentração de 0,1%, alcançando a total inibição da eclosão a partir da concentração de 0,2%, enquanto a mortalidade (Figura 4B) alcançou 37% na concentração de 0,1% e 100% de mortalidade a partir de 0,2% no extrato aquoso livre de T. toxicaria. Enquanto para o extrato hidroalcoólico livre não houve eclosão (Figura 4C) de juvenis J2 a partir da concentração de 0,1% e a mortalidade (Figura 4D) foi de 83% na concentração de 0,1%, alcançando total mortalidade a partir da concentração de 0,2%. Não houve diferença de resposta entre os nematoides

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estudados. Portanto nos dados apresentados na Figura 4 verifica-se que os extratos hidroalcoólicos de T. toxicaria apresentaram efeitos mais fortes em relação ao extrato aquoso tanto na inibição da eclosão quanto na mortalidade de juvenis.

Figura 4. Eclosão (A, C) e mortalidade (B, D) de juvenis J2 de Meloidogyne enterolobii e M.

javanica no extrato aquoso (A, B) e hidroetanólico (C, D) livres obtido das raízes de Tephrosia toxicaria.

Sabe-se que muitas plantas possuem fitoquímicos com atividade nematicida contra uma vasta gama de nematoides parasitas de plantas CHITWOOD (2002), incluindo nematoide das galhas (Meloidogyne spp.) (JOURAND et al., 2004; HUSSAIN et al., 2011). Em estudo com os extratos aquosos de C. sativa e Z. alatum observou-se atividade contra M. incognita, sendo

C. sativa o mais tóxico (MUKHTAR et al., 2013). Extratos aquosos de C. sativa provocaram

ainda a morte de juvenis J2 de nematoide Heterodera cajani MOJUMDER et al. (1989) e outros nematoides fitopatogênicos (Tylenchorhynchus brassicae, Hoplolaimus indicus,

Rotylenchulus reniformis) como relataram (HASEEB et al., 1978). Nestes estudos, as

propriedades nematicidas de C. sativa são creditadas aos canabinoides presentes nos extratos foliares.

Pelos resultados observados, em nossos ensaios e do conhecimento das atividades larvicidas e inseticidas presentes nos extratos de T. toxicaria Vasconcelos (2010), sugere-se que os compostos flavonoídicos estão correlacionados a estas atividades biológicas apresentadas sobre M. enterolobii e M. javanica, o que corrobora com a atividade nematicida aqui estudada (CHEN et al., 2017; TOUQUIER et al., 2014).

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Neste sentido, verifica-se que os flavonoides podem ser úteis em uma estratégia de manejo de pragas e doenças de plantas, pois estes desempenham um papel importante na proteção contra insetos fitófagos e também contra herbívoros (ACHEUK; DOUMANDJI, 2013). Tanto os flavonoides como os isoflavonoides protegem a planta contra as pragas, influenciando no seu comportamento, crescimento e desenvolvimento Simmonds e Stevenson (2001); Diwan e Saxena (2010) constataram que os flavonoides glicosilados isolados de T.

purpurea mostraram propriedades inseticidas contra Callosobruchus maculatus. Já em T. vogelii (quimiotipo I) Stevenson et al. (2012) verificaram a presença dos rotenoides

deguelina, tephrosina e rotenona, com atividade larvicida, enquanto no quimiotipo II, pela ausência destes e outros flavonoides relacionados, previamente identificados, foi considerado inativo quanto à ação larvicida (BELMAIN et al., 2012). Estes mesmos flavonoides foram observados em T. toxicaria (VASCONCELOS, 2010), com atividades larvicidas e inseticidas. A quercetina e glicosídeos de rutina em Arachis hypogaea (amendoim) causaram aumento da mortalidade da lagarta Spodoptera litura (MALLIKARJUNA et al., 2004). Acrescenta-se ainda que os flavonoides do extrato de A. hypogaea também apresentaram atividade larvicida contra vetores de arboviroses como chikungunya e malária. Em arroz (Oryza sativa), Acheuk e Doumandji (2013) relatam que os isoflavonoides e pró- antocianidinas são classes de flavonoides responsáveis para proteção de plantas contra pragas e encontraram ainda três flavonoides glucosídeos que inibem a digestão em insetos e funcionam como agentes de dissuasão em Nilaparvata lugens. Já a naringenina procianidina foi relatada com ação inibidora do desenvolvimento de Aphis craccivora (ACHEUK; DOUMANDJI, 2013). A mistura quercetina/azadiractina mostrou-se eficiente e segura, apresentando atividade inseticida contra Euphaedra orientalis e adequada ambientalmente, pois é facilmente biodegradável (KUMAR et al., 2015). Em estudo realizado por Santos et al. (2016) estes verificaram que Tagetes erecta e T. patula possuem compostos fitotóxicos (flavonoides) que podem aludir seu uso como um pesticida natural, enquanto Moreira e Ferreira (2015) obsevaram redução populacional de M. enterolobii com a incorporação da biomassa de T. patula. Goławska e Łukasik (2012) mostraram os efeitos da isoflavona genisteína e flavona luteolina no comportamento alimentar do Acyrthosiphon pisum e Goławska et al. (2010); Goławska et al. (2012) ressaltaram comportamento semelhante dos glicosídeos flavonoides de Medicago sativa contra o pulgão (A. pisum). Os extratos de T.

purpurea (KUMAR et al., 2012) e de T. vogelii (MATOVU; OLILA, 2007) e extrato

etanólico de raízes, folhas e ramos de T. villosa (NONDO et al., 2011) provocaram 100% de mortalidade de larvas de mosquitos vetores de arboviroses.

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Comparando os dados observados dos efeitos biológicos dos extratos de T. toxicaria sobre os nematoides das galhas, verificamos que em outras espécies os extratos também apresentaram atividade nematicida, conforme se verifica em Azadirachta indica, Calotropis

procera, Datura stramonium e Tagetes erecta que causaram reduções significativas no

número de galhas, massas de ovos e fator de reprodução, sendo diretamente proporcionais às concentrações Hussain et al. (2011), com maiores reduções observadas em A. indica e D.

stramonium. O efeito nematicida da nim é atribuído a substâncias químicas que ocorrem

naturalmente, tais como: azadiractina, nimbina, salanina, nimbidina, tionona, quercetina e outros, sendo estes altamente ativos contra nematoides e insetos (DEVAKUMAR et al., 1985). Enquanto a atividade nematicida de D. stramonium é devida a alcaloides e hioscina, com mortalidade de 100 e 90%, respectivamente, que foram testados para ação nematicida em

Hoplolaimus indicus, Helicotylenchus multicinctus e M. incognita (QAMAR et al., 1995).

Ainda nesta mesma perspectiva, a atividade antihelmíntica de Artermisia absinthium contra as espécies da classe Trematoda (Clonorchis sinensis, F. hepatica e Schistosoma

japonicum) deve-se a presença de artemisinina, além de uma mistura complexa de compostos,

incluindo cetona e t-anetole (OLAH et al., 1998; FATHY, 2011). O extrato de A. absinthium induziu 71% de mortalidade de juvenis J2 de M. incognita após 24 horas de exposição (DIAS

et al., 2000). Já Samaliev et al. (2017) mostraram que o extrato alcoólico de A. absinthium

possui atividade nematicida contra P. penetrans in vitro. No entanto, o efeito do A.

absinthium diminuiu para 24-56% após a lavagem e incubação em água, com os nematoides

recuperando a mobilidade, sendo, portanto, apenas um efeito nematostático. Os testes de eclosão de juvenis J2 são úteis na triagem de extratos botânicos para atividade nematicida, porque a contagem de juvenis eclodidos é precisa. Extratos vegetais que inibem o movimento, a orientação e o comportamento alimentar dos nematoides podem reduzir a sua penetração nas raízes e interferir negativamente sobre a sua reprodução.

Já foi comprovada a atividade larvicida de extratos de T. toxicaria contra o mosquito

Aedes aegypti, o que tem reforçado a utilização desta espécie como uma fonte de substâncias

com potencial inseticida e justificam a sua utilização como defensivo agrícola. Diversos trabalhos sugerem que as atividades defensivas devem estar relacionadas à presença de flavonoides, tais como: iso-obovatina, obovatina, 6a,12a-desidro-β-toxicarol, 6a,12a-desidro- α-toxicarol e α-toxicarol reportados por Vasconcelos et al. (2009), e deguelina, tephrosina, sumatrol/11-hidroxi-rotenona, villosinol (JANG et al., 2003; TOUQEER et al., 2013; CHEN

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A solubilidade dos compostos secundários presentes nos extratos aquosos e hidroalcoólicos podem explicam os resultados obtidos para eclosão e mortalidade dos J2 de M.

enterolobii e M. janvanica. Pois devem apresentar composições diferentes de princípios ativos

devido à polaridade dos solventes utilizados (CHITWOOD, 2002). Isso pode explicar o efeito mais intenso dos extratos hidroalcoólicos sobre a eclosão e mortalidade dos J2.

Coltro-Roncato et al. (2016) verificaram que o extrato hidroalcoólico de Crambe

abyssinica provocou redução de 96,8% na eclosão e mortalidade de 93,2% em M. incognica.

Por outro lado Reis (2014) não observaram diferenças entre os extratos aquosos e hidroalcoólicos de Agave sisalana sobre o número de galhas (60,7 e 55,4%) e massa de ovos (51,7 e 59,7%), respectivamente, em M. javanica.

O extrato metanólico derivado de Crotalaria juncea apresentou resultados superiores aos observados para o extrato aquoso sobre a mortalidade de J2, acredita-se que os compostos com propriedades nematicidas presentes nessa espécie são mais solúveis em metanol do que em água, devido às suas propriedades hidrofóbicas (AMARAL et al., 2002); já o extrato metanólico obtido a partir de raízes de Panicum maximum cv. Guiné provocou redução da eclosão dos nematoides M. javanica e Heterodera glicynes (DIAS-ARIEIRA et al., 2003); e os extratos metanólicos de folhas de barbatimão (Stryphnodendron adstringens) foi efetivo sobre a mortalidade de J2 in vitro de M. javanica (LOPES, 2017)

Para os extratos de Origanum majorana e Tagetes erecta observou-se a influência na redução populacional de M. incognita em comparação com o nematicida sintético comercial, mostrando-se equivalentes, como vantagem e maior segurança do ponto de vista ambiental (MERVAT et al., 2012). O efeito desta redução populacional sobre o desevolvimento da videira pode ser expressa em produção, características da baga e aumento do tamanho e capacidade de absorção do sistema radicular. Os autores correlacionam este resultado à presença de compostos ativos de O. majarana como timol, inalol e alcavacrol e em T. erecta os compostos limoneno, linalol, tagetona, ocimeno, α-felandreno, cineol e α-tertenil Freitas et

al. (2014), conforme resultado semelhante observado por Moreira e Ferreira (2015) para T. patula em tomate.

Asif et al. (2017) observaram mortalidade de J2 de 95,6 e 90,4% e inibição da eclosão de 98,8 e 95,9% sobre M. incognita expostos a 72 horas de incubação com extratos de A.

conyzoides e C. grandis respectivamente. A caracterização fitoquímica permitiu a

identificação de um grande número de compostos bioativos, como flavonoides, saponinas, taninos, gomas, glicosídeos, carboidratos, esteroides e alcaloides nas diferentes partes das

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plantas, caule e folhas, sugerindo-se que estes compostos foram os responsáveis pela atividade nematicida.

Em outro estudo Baldin et al. (2012) verificaram que o extrato de sementes de R.

communis e a manipueira são promissores no controle do nematoide das galhas em cenoura.

É atribuido tal feito da manipueira (subproduto da industrialização da mandioca), ao ácido cianídrico e cianetos, apresentando ação nematicida, enquanto em R. communis, pode ser justificado pela presença de compostos nematicidas, como a ricina e ricinina. Já El-Nagdi e Youssef (2013) estudando a eficácia dos extratos aquoso de bulbos de Allium ceppa e de sementes de R. communis contra M. incognita infectando plantas de tomate, verificaram efeito dose-dependente, reduzindo a densidade populacional do nematoide. Conforme relatam Tibugari et al. (2012) o extrato aquoso de sementes de R. communis, rico em ricina e ricinina, pode ter sido o responsável pelo efeito nematicida. Quanto ao alho, atribui-se a redução ao ácido pirúvico e amônia, de forma sinergística com dissulfeto dialil, substâncias que são tóxicas a nematoides.

Verifica-se ainda em Singh et al. (2015) a eficácia de nematicidas botânicos de

Adhatoda vasica e Andrographis affinis contra M. incognita, onde o extrato bruto de A. vasica

foi capaz de inibir a eclosão dos J2, causar mortalidade e redução da população em plantas de tomate. Os autores atribuem tal feito à presença de compostos nematicidas em A. affinis e A.

vasica como metabólitos secundários, das classes dos alcaloides e flavonoides, que já foram

referidos como possuidores de propriedades nematicidas contra M. incognita e ainda ovicida/larvicida. Outro trabalho de prospecção de atividade nematicida, Katoll et al. (2010), utilizando um extrato das folhas e sementes de R. comunnis contra M. incognita em feijão e pepino, observaram uma redução no número de galhas e na população de nematoide no solo, além disso, detectaram um crescimento proporcional das plantas de pepino e feijão, em função do aumento das concentrações dos extratos.

Apesar destes vários resultados satisfatórios da atividade nematicidas de muitos extratos botânicos, os mecanismos de ação dos extratos e seus componentes ainda não foram elucidados. Vários extratos de plantas têm mostrado inibir a atividade da acetilcolinesterase em insetos (RYAN; BYRNE, 1988). Como a acetilcolina também serve como um neurotransmissor em nematoides, estes podem afetar adversamente o sistema nervoso. Outra possibilidade é que extratos de plantas e óleos essenciais causem ruptura da membrana celular dos nematoides e afetem negativamente sua permeabilidade. Este mecanismo também tem sido sugerido para explicar a atividade fungicida e antimicrobiana de óleos essenciais e extratos de plantas antagônicas. Estes compostos, isoladamente ou em conjunto, contribuem

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para muitos processos biológicos. Eles também afetaram atividades como atração e repulsão de nematoides, estímulo ou inibição da eclosão de J2 e mostraram possuir propriedades nematicidas (CHITWOOD, 2002). Entretanto mesmo diante da grande quantidade de resultados positivos observados, a aplicação de extratos vegetais não substituirá de imediato os nematicidas sintéticos, em vista a sua rápida eficácia e cadeia produtiva. Os extratos exigirão estratégias diferentes, como múltiplas aplicações em momentos críticos durante as épocas de renovação das raízes (SAMALIEV; STOYANOV, 2008) ou sincronizadas com a eclosão dos J2 e quando as densidades populacionais forem muito elevadas. No entanto, tem a vantagem do apelo do consumidor por agroquímicos menos tóxicos e ambientalmente amigáveis.

Nos extratos aquosos veiculados nos SNEDDS, observa-se que a eclosão (Figura 5A) ocorreu até a concentração de 0,05% para Meloidogyne enterolobii não havendo eclosão para

M. javanica. Sendo que a partir da concentração de 0,1% não houve mais eclosão para

nenhuma das espécies em comparação ao controle (água destilada) que apresentou média de 85% e o veículo SNEDDS com 86%.

Figura 5. Eclosão (A) e mortalidade (B) de juvenis J2 de Meloidogyne enterolobii e M.

javanica no extrato aquoso veiculado em sistema coloidal SNEDDS, obtido das raízes de Tephrosia toxicaria.

Enquanto a mortalidade (Figura 5B) foi total para ambas as espécies a partir da concentração de 0,05%, com mortalidade alcançando os 30% na concentração de 0,025%.

Como se obervou nestes ensaios, os extratos polares de T. toxicaria encapsulados por nanotecnologia em SNEDDS foram de obtenção simplificada e proporcionaram resultados excelentes.A nanoencapsulação traz benefício para o uso, como a facilidade de manuseio para

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a dosagem e aplicação dos extratos, tornando-os mais eficiente como biopesticidas, reduzindo as doses necessárias para a atividade e contribuindo para assim para o manejo de pragas e doenças de maneira ecologicamente correta e sustentável. Com o avanço da nanotecnologia, a aplicação da química verde na síntese de nanomateriais utilizando extratos de plantas vem reduzindo o uso de solventes tóxicos e garante a proteção ecológica dos cultivos. Portanto, a nanotecnologia, em conjunto com a biotecnologia, ampliou significativamente a aplicabilidade dos nanomateriais na proteção das culturas, devido às suas propriedades físicas e químicas únicas. Com exceção das limitações mínimas, os nanomateriais têm um elevado potencial para tornar as metodologias de proteção de cultivos econômicas e adequadas ao meio ambiente (CHOWDAPPA; GOWDA, 2013).

A atividade larvicida de nanoemulsões foi estudada contra C. quinquefasciatus, com elevada mortalidade de suas larvas (>85%). A formulação de nanoemulsão com razão 1:3 apresentou 86% de mortalidade na concentração de 100 mg L−1 após 24 h de exposição. As formulações de nanoemulsões com proporções de 1:1,5 e 1:0,30 mostraram 73 e 48% de mortalidade após 24 horas de exposição. Observou-se ainda a atividade larvicida do óleo de nim foi baixa, enquanto o Tween 20 não exibiu efeito larvicida. Quanto aos tamanhos das gotículas das nanoemulsões com proporções de 1:3, 1:1,5 e 1:0,30 foram de 31,0, 93,0 e 251,43 nm, respectivamente (ANJALI et al., 2012). A nanoemulsão de óleo de nim com o menor tamanho de gotícula mostrou-se mais eficaz no controle da umidade média comparada aos maiores tamanhos de gota. O tamanho reduzido e o espalhamento uniforme das partículas podem estar correlacionados com o aumento da eficácia larvicida. Provavelmente este fator seja um dos responsáveis pelo efeito dos SNEDDS dos extratos sobre a inibição da eclosão e mortalidade de J2, observada neste trabalho, pois mesmo em concentrações muito mais baixas em relação aos extratos livres, estas mantiveram a ação biológica.

Ainda segundo Anjali et al. (2012), a nanoemulsão contendo óleo de nim, Tween 20 e água deionizada foi otimizada com sucesso pelo método de alta energia. A atividade larvicida da nanoemulsão do óleo de nim com baixo teor de azadiractina contra C. quinquefasciatus ainda é limitada. A concentração de azadiractina foi de 0,068% p/v, enquanto na maioria dos trabalhos, observam-se valores superiores a 0,15% p/v de azadiractina. A nanoemulsão do óleo de nim é facilmente acessível, economicamente viável e, além disso, menos tóxica que os pesticidas sintéticos e pode ser uma alternativa para o controle de vetores de arboviroses e outros agentes causais de pragas agrícolas.

Como um dos grandes entraves da aplicação dos extratos livres é sua rápida perda no ambiente, seja por volatilização, percolação, dentre outros, faz-se necessário uma tecnologia

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capaz de suplantar este entrave. Para solucionar este problema, que é aplicar o pesticida de forma eficaz nas raízes, a nanotecnologia levou ao desenvolvimento de sistemas de entrega inteligentes que podem ser adaptados para fornecer pesticidas de maneira controlada e direcionada Nuruzzaman et al. (2016) semelhante à nanomedicina em humanos (WILHELM

et al., 2016). Os nanomateriais usados como transportadores têm vantagens sobre os

pesticidas comumente usados tais como biodegradabilidade aumentada, estabilidade térmica, permeabilidade, dispersibilidade, molhabilidade e rigidez (BORDES et al., 2009). Quando nanoestruturas carregadas com pesticidas são distribuídas uniformemente sobre solo, suas grandes áreas de superfície aumentam a afinidade com os alvos (pragas, doenças e raízes das plantas daninhas) e reduzem a dose necessária para ação efetiva (YAN et al., 2005). Além disso, o encapsulamento em nanoestruturas protege o composto ativo contra a biodegradação prematura e a fotólise, e ainda isola a natureza tóxica do pesticida.

Outra razão para este efeito superior dos extratos veiculados é a presença do tensoativo, pois este em formação de microestruturas em soluções aquosas contribui para um fenômeno comum de auto-organização molecular, como forma de atingir a estabilidade termodinâmica (FORMARIZ et al., 2005). Além disso, o tensoativo é particularmente usado por apresentar baixa toxicidade às membranas celulares, baixa irritabilidade, elevada estabilidade química e por promover maior permeabilidade, sendo por estas razões o tensoativo considerado importante para esta finalidade produzindo um efeito prolongado sobre o organismo alvo (DAMASCENO et al., 2011; NAJJAR, 2012). Neste sentido, os polissorbatos formados por ésteres de sorbitano etoxilados, representam um grupo de tensoativos não iônicos com aplicações em cosméticos, detergentes, produtos farmacêuticos formulações agroquímicas e alimentos (FRISON; SPORNS, 2001). São compatíveis com outros tipos de tensoativo e apresentam um pH neutro, estabilidade térmica, às variações de pH e às elevadas concentrações de eletrólitos.

Nas duas últimas décadas, a nanotecnologia tem atuado com grande abrangência em diferentes campos, como medicina, eletrônica, catálise, cosméticos, remediação, alimentação e agricultura. As nanoestruturas têm morfologia específica, tamanho, alta área de superfície e alta reatividade, o que lhes confere propriedades químicas, físicas e ópticas únicas (CHHIPPA, 2017). Na agricultura, a nanotecnologia forneceu novas ferramentas na forma de nanofertilizantes, nanopesticidas e nanossensores às práticas agrícolas convencionais (GONZALES et al., 2015; CHHIPA; JOSHI, 2016). Estas nanoestruturas mostraram degradação lenta e liberação controlada do ingrediente ativo por longo tempo. As

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propriedades de nanopesticidas acima referidas tornam-nas ambientalmente seguras e menos tóxicas (CHHIPA, 2017).

Sistemas nanotecnológicos com encapsulamento de produtos agroquímicos como fertilizantes, reguladores de crescimento e outras substâncias ativas usando polímeros, dendrímeros, ligações iônicas superficiais e outros mecanismos podem ser usados em liberação controlada e lenta, que permitem a absorção de ingredientes ativos e, por sua vez, reduz a quantidade de aplicações, minimizando o desperdício e as possibilidades de contaminações ambientais (CHOWDAPPA; GOWDA, 2013). A nanoentrega em veículos carreadores aumenta a eficácia, ligando-se firmemente à superfície da planta e reduzindo a quantidade a ser aplicada, evitando o escoamento, percolação e lixiviação (JOHNSTON, 2010; CHEN; YADA, 2011). Os nanomateriais também desempenham um papel importante na promoção da agricultura sustentável e fornecem melhores alimentos em todo o mundo (GRUÈRE, 2012). Nos países em desenvolvimento, a nanotecnologia tem aplicação importante para melhorar a produtividade agrícola, juntamente com outras tecnologias emergentes, como biotecnologia, incluindo genéticas, melhoramento de plantas, controle de doenças, tecnologia de fertilizantes, agricultura de precisão e outros campos relacionados (SASTRY et al., 2010; JHA et al., 2011). Como se verificou nos ensaio no qual o extrato aquoso foi encapsulado em SNEDDS, a utilização de um veículo carreador dos extratos nanoestruturado proporcionou resultados mais contundentes, com diminuição das concentrações efetivas, o que colabora para menor gasto de matéria prima na obtenção das formulações.

Já para o extrato hidroalcoólico veiculado em sistema SNEDDS, houve total inibição da eclosão (Figura 6A) em todas as concentrações avaliadas e mortalidade total (Figura 6B) a partir da concentração de 0,050%, não havendo diferença entre as duas espécies de nematoides estudadas.

112 Figura 6. Eclosão (A) mortalidade (B) de juvenis J2 de Meloidogyne enterolobii e M.

javanica no extrato hidroalcoólico veiculados em sistema coloidal SNEDDS, obtido das

raízes de Tephrosia toxicaria.

As formulações que vem ganhando mais destaque são as nanoemulsões, um tipo de formulação do grupo das emulsões, tendo em vista a sua facilidade de obtenção por diferentes métodos e versatilidade (FERNANDES, 2014). Segundo Irache et al. (2011) essas nanoemulsões apresentam uma série de vantagens, como maior estabilidade, penetração por membranas, biodisponibilidade, incremento da solubilidade em água de substâncias pouco solúveis e liberação controlada de substâncias. Outra vantagem é que as nanoemulsões podem

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